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Futebol

20/01/2016 14h05

Virada Olímpica

Uma dupla de novos talentos alimenta o sonho de exorcizar os 7 x 1

Seleções masculina e feminina de futebol apostam no fator casa para buscar o inédito ouro

Se a preparação das seleções masculina e feminina de futebol do Brasil seguir o curso natural, o paulista Gabriel Fernando de Jesus, 18 anos, e a gaúcha Andressa Cavalari Machry, 20, terão a chance de buscar, no Rio de Janeiro, o único título que ainda falta para o país na modalidade. A conquista, na primeira edição das Olimpíadas na América Latina, pode ainda servir para reduzir o trauma da Copa do Mundo de 2014, quando a seleção masculina foi derrotada pela Alemanha na semifinal, por 7 x 1.

“Temos grandes jogadores e teremos reforços de atletas com a idade acima. É uma responsabilidade grande, a imprensa e a torcida vão pressionar, mas, como eu disse, estaremos preparados para tudo e faremos o impossível para o Brasil ter orgulho de nós”, diz o atacante Gabriel, que desde o ano passado joga no time profissional do Palmeiras.

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“O Brasil, por ser considerado o país do futebol, busca muito essa medalha de ouro, e para a gente seria muito bom, um passo a mais para o futebol feminino e uma conquista histórica. A gente está feliz por ser no nosso país, é uma oportunidade única. A gente está se preparando muito bem e esperamos trazer uma medalha, usar a torcida a nosso favor, sem colocar um peso nas costas”, diz Andressinha, ouro nos Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015.

No caso do masculino, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) define que apenas três jogadores em cada seleção olímpica podem ter idade acima de 23 anos durante a disputa dos Jogos. Gabriel Jesus terá 19 durante o torneio. “Quero fazer parte disso. Sabemos que temos uma boa equipe. Agora é continuar o trabalho forte no meu clube e estar preparado. Tenho fé de que tudo dará certo e de que vamos fazer bonito”, projeta.

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Aos 18 anos, Gabriel de Jesus se tornou ídolo no Palmeiras e figura habitual nas seleções de base. Foto: Getty Images

Convocado para a seleção olímpica pela primeira vez no ano passado, Gabriel Jesus viu a sua carreira dar um salto significativo em 2015. De promessa da base do Palmeiras, passou a revelação do futebol brasileiro e xodó dos torcedores. “Foi um ano especial e importantíssimo para mim. Consegui me firmar no Palmeiras, fui campeão da Copa do Brasil na minha primeira temporada como profissional e acabei convocado para as Seleções Sub-20 e Olímpica”, conta.

Pela seleção olímpica, marcou gol logo em seu primeiro jogo, um amistoso diante da República Dominicana que acabou 6 x 0 para o Brasil. “Jogar pela Olímpica foi legal, pois a idade é 23 anos e eu tinha (e tenho) 18. O gol só deixou o momento melhor ainda. Como sempre falo, buscar o ouro no meu País é um objetivo enorme e estarei preparado para ajudar os meus companheiros e a minha pátria”.

Fã de basquete, ele já sonha até em ver de perto alguns de seus ídolos na Vila Olímpica. “Gosto de NBA e me imagino perto de nomes como LeBron James, Stephen Curry... Tem o (Usain) Bolt também, que é uma lenda viva. Enfim, tem essa parte boa também. Quero desfrutar de tudo e no final conquistar o ouro e ficar marcado na história”, diz Gabriel.

Aprendizagem

Para Andressinha, 2015 também foi marcante. Ela se firmou na seleção feminina, disputou o Mundial, foi campeã no Pan e jogou nos Estados Unidos pelo Houston Dash. “Acho que 2015 foi o ano em que eu mais aprendi. Disputei competições importantes e conheci o futebol nos EUA, que é muito profissional e valorizado. Espero voltar a jogar lá em breve”, diz.

Andressa já está com a seleção feminina permanente para o primeiro período de treinos na Granja Comary, em Teresópolis (RJ). “Acredito que até março fico aqui, depois estou vendo se volto para os EUA ou se vou jogar por aqui mesmo”, explica a meia.

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Andressinha diante da Austrália: derrota nas oitavas de final do Mundial transformada em motivação. Foto: Getty Images

Planejamento

As seleções brasileiras masculina e feminina de futebol já têm vaga garantida nos Jogos Olímpicos por conta de o Brasil ser o país-sede. A preparação, no entanto, terá de se adaptar ao calendário Fifa. A entidade prevê dois períodos livres nos próximos meses antes das Olimpíadas, as chamadas “datas Fifa”: entre 21 e 29 de março e entre 30 de maio e 7 de junho. O sorteio oficial dos grupos dos torneios olímpicos está marcado para 8 de abril.

Para o técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão, a escassez de datas prejudica o planejamento ideal. “A gente jogou bem no ano passado e houve um assédio nas nossas jogadoras, que estão todas indo para fora do país. Então a gente vai ter uma seleção permanente, mas com muita gente no exterior. Ano passado a gente tinha três atletas fora do país, hoje temos de 10 a 12. A gente não vai ter as meninas como tivemos no ano passado para ficar um tempo junto”, lamenta o treinador da seleção feminina. 

A criação de uma seleção permanente, com longos períodos de treinos durante o ano, foi um dos fatores que contribuíram para a evolução demonstrada pela equipe brasileira, na opinião de Vadão. “Isso nos deu condição de evoluir bastante. Foi visível. Acho que nós já temos um bom lastro tático, de entrosamento”, avalia.

A única decepção foi a eliminação precoce no Mundial, em que o Brasil foi eliminado nas oitavas de final, ao perder de 1 x 0 para a Austrália. “A gente fez uma primeira fase de 100% de aproveitamento e acabou eliminado no jogo seguinte, quando a gente jogou melhor e fomos surpreendidos no fim do jogo. Isso nos deixou um pouco frustrados, mas fomos para o Pan e sobramos. Ganhamos o ouro com 100% de aproveitamento”, lembra Vadão.

Antes dos Jogos Olímpicos, o planejamento inclui uma competição em Portugal. “É o torneio de Algarve, em março, em que todas serão reunidas para participar. Vamos também aproveitar as datas Fifa, e depois tem aquela fase de preparação de 15 dias antes dos Jogos. Eu vou tentar sempre trazer todo mundo para a gente estar sempre perto, vai depender dos amistosos programados”, conta Vadão.

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Para o técnico Vadão, a criação da seleção feminina permanente significou um avanço tático considerável. Foto: Bruno Domingos/Mowa Press

Na briga pelo topo do pódio olímpico, em agosto, um dos desafios será a pressão das próprias jogadoras, muitas das quais viram o ouro escapar em Atenas-2004 e Pequim-2008, quando o Brasil conquistou a prata. “Nossa expectativa é boa. A gente sabe que vai ter presença dos torcedores, mas ao mesmo tempo existe a pressão de ganhar medalha. Há uma pressão automática e existe uma autocobrança interna de muitas atletas que tiveram uma oportunidade e não ganharam. Cristiane, Marta, Formiga... são atletas que já fizeram demais pelo futebol feminino. A medalha coroaria o trabalho, mas não tem nem o que falar de Marta, de Formiga”, ressalta o técnico.

Na seleção masculina, o único remanescente da decepção de Londres-2012, quando o Brasil perdeu a final para o México por 2 x 1 e ficou com a prata, deve ser Neymar. O técnico Dunga já sinalizou que o atacante do Barcelona deve ser um dos três jogadores acima da idade que serão chamados para reforçar a seleção brasileira. Fora da semifinal contra a Alemanha na Copa do Mundo de 2014 por causa de uma lesão, Neymar poderá quebrar logo dois tabus de uma vez: conquistar o ouro olímpico com o Brasil e fazer a Seleção Brasileira vencer um torneio de nível mundial em casa.

Mateus Baeta, brasil2016.gov.br