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07/09/2017 00h01

Um ano dos Jogos Paralímpicos

Um ano depois, o legado imaterial é de "carne e osso"

A realização dos Jogos Paralímpicos no Rio foi o ponto de partida para transformar espectadores em novos atletas e permitir o surgimento de fãs do esporte adaptado no país

Enquanto Rick Tissenbaum afina os golpes de seu forehand numa mesa da Associação de Deficientes de Curitiba (PR), Patrick Souza mantém o ritmo das rotações na handbike que conduz pelas ruas do Lago Norte, em Brasília (DF), e Darley de Oliveira ajusta os dribles do futebol de cinco no Centro de Treinamento Paralímpico de São Paulo. Rotina que eles repetem algumas vezes por semana. Rotina que não existia antes dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, que tiveram a abertura há um ano, em 7 de setembro de 2016.

 

Os cadeirantes Patrick e Jady, Rick, Danyel, Guilherme Costa e a família de André com Verônica Hipólito: retratos de como é ampla a repercussão dos Jogos Rio 2016

 

Rick, Patrick e Darley são versão em carne e osso do que os especialistas em megaeventos costumam chamar de legado imaterial. São representantes de um impacto não verificável em novas estruturas físicas nem em material esportivo. São pessoas que, inspiradas pelo que presenciaram no Rio de Janeiro, viram pela televisão ou ouviram em narrativas de colegas, decidiram trilhar caminhos similares aos dos 4.328 atletas que disputaram 528 medalhas na capital fluminense.

 

 

Um universo que transcende o ambiente dos novos praticantes. Inclui, por exemplo, André Nogueira, sua esposa Karla e o filho Felipe, que passaram a olhar com lupa para o calendário do CT Paralímpico de São Paulo em busca de eventos para prestigiar. Envolve o pequeno Luca, de quatro anos, que substituiu no seu hall da fama particular Michael Phelps para ter como referência o multimedalhista Daniel Dias e ficar amigo dos integrantes da equipe nacional de natação paralímpica. Ou Danyel Christian, vice-campeão da Superliga de Vôlei pela equipe de Campinas, que se redescobriu no esporte, renovou a auto-estima e voltou às quadras "convencionais" após uma experiência transcendente com o atletismo paralímpico.

"Foram 2,1 milhões de ingressos vendidos 13 milhões que assistiram pela televisão. Não tenho dúvidas de que isso contribuiu para um dos principais objetivos do movimento paralímpico, que é a consolidação do esporte e da cultura paralímpica no Brasil"
Mizael Conrado, presidente do CPB

"Foram 2,1 milhões de pessoas comprando ingresso para assistir aos Jogos no Rio, mais uma estimativa de 13 milhões que assistiram pela televisão. São números bastante expressivos. Não tenho dúvidas de que isso contribuiu de maneira decisiva para um dos principais objetivos do movimento paralímpico, que é a consolidação do esporte e da cultura paralímpica no Brasil", afirmou o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado, lembrando que cerca de 25% da população brasileira têm algum tipo de deficiência.

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Da arquibancada para a mesa

 

Resolvedor de problemas dos computadores dos amigos e conhecidos, vascaíno doente, amante do esporte. Esses três apostos podem ser usados ao lado do nome do técnico de informática Ricardo Tissenbaum Fisbein, de 29 anos. E, desde junho de 2017, o desafio é acrescentar “mesatenista classificado para os Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020” à lista.

“Nasci com a síndrome de Worster Drought, uma má formação congênita numa área do cérebro que afetou fala, deglutição e motricidade fina”, explica Rick, como é conhecido pelos amigos. A incapacidade de falar não diminui a desenvoltura para se comunicar, seja por mensagens escritas em velocidade impressionante no teclado do celular, por gestos ou sinais.

Ativo em vários esportes desde criança, Rick já praticou judô, basquete, futebol e boxe. No entanto, teve que dar um tempo nos exercícios após duas cirurgias no cotovelo esquerdo em 2015 e 2016. Mesmo assim, não hesitou em partir para o Rio de Janeiro para assistir in loco os Jogos Olímpicos em agosto de 2016. "Vi partidas de vôlei de praia, vôlei de quadra e futebol, além de competições do judô", conta Rick, explicando que o Rio é sua segunda casa, pois sua mãe é carioca e ele sempre visitava o avô na cidade.

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Rick em ação, observado pelo técnico Bene Oliveira. Foto: Danilo Borges/rededoesporte.gov.br

 

Mas foram os Jogos Paralímpicos que mais marcaram a viagem. Além de torcer por judocas brasileiros na Arena Carioca 3 e pelos nadadores no Estádio Aquático do Parque Olímpico da Barra, Rick acompanhou nas arquibancadas do Pavilhão 3 do Riocentro um esporte que era paixão antiga: o tênis de mesa.

"No Rio 2016, os brasileiros puderam ver todas as modalidades olímpicas e paralímpicas. Muitos, como o Ricardo, descobriram o esporte dessa maneira"
Bene Oliveira, técnico de Rick

"Depois disso tomei a iniciativa de procurar um esporte paralímpico que meu cotovelo lesionado permitisse. Aí encontrei aqui em Curitiba a Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP), onde fui muito bem acolhido por todos os atletas e pelo técnico Bene de Oliveira", explica Rick.

"Comecei a treinar o Ricardo há pouco tempo, mas tenho certeza de que vocês vão ouvir esse nome. Ele certamente estará na seleção que participará dos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Está iniciando e tem uma vontade louca de ser um grande atleta", aposta Bene de Oliveira, que descobriu e lapidou talentos do tênis de mesa paralímpico como o campeão pan-americano Claudiomiro Segatto e os campeões brasileiros Eziquiel Babes e Maria Luiza Pereira Passos. "No Rio 2016, os brasileiros puderam ver todas as modalidades olímpicas e paralímpicas e conheceram os esportes. Muitos, como o Ricardo, descobriram o esporte dessa maneira", completa o treinador.

Quando perguntado quem é seu ídolo no esporte, Rick responde imediatamente: Guilherme Costa, medalhista de bronze por equipes no tênis de mesa classes 1-2. "Assisti à medalha do Guilherme pela TV. Fui no Facebook dele e mandei uma mensagem dando os parabéns. Ele respondeu e começou uma amizade", conta Rick, fã do canal Vai Curupira, onde Guilherme e o também medalhista Aloísio Lima contam histórias sobre o universo das pessoas com deficiência de maneira leve e engraçada. 

A primeira competição de Rick no caminho para a realização do sonho paralímpico será o Campeonato Brasileiros de Verão, onde fará sua classificação funcional pela primeira vez e saberá em qual classe se encaixará. O torneio será entre 4 e 8 de outubro, em Toledo (PR). Além da experiência esportiva, será a oportunidade de conhecer pessoalmente Guilherme Costa.

 

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Iranildo, Aloísio e Guilherme: bronze paralímpico com múltiplos significados. Foto: Francisco Medeiros/ME

 

Difícil mensurar

 

Guilherme, por sua vez, experimentou mudanças físicas e simbólicas desde o fim dos Jogos do Rio. Trocou Brasília, onde treinava na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB-DF), por São Paulo. A ideia é cumprir toda a preparação para Tóquio no Centro de Treinamento Paralímpico, principal legado de estrutura esportiva do esporte adaptado resultante dos investimentos para a Rio 2016.

No plano simbólico, Guilherme passou a ser acionado com frequência para narrar em palestras sua impressionante história de vida. Aos 14 anos, ele foi atropelado em Brasília por um carro a 105km/h. Foram dois meses de UTI, quatro meses internado no Hospital SARAH, duas paradas cardíacas, sete cirurgias, sete bactérias hospitalares, 20 dias em coma, perdeu 30 quilos e ficou tetraplégico. Vencidas os múltiplos desafios para sobreviver, encontrou no tênis de mesa um novo foco e saiu do Rio com o bronze.

"É difícil, não sei mensurar o significado dessa medalha na minha vida. De vez em quando aparecem situações como essa, que me pegam de surpresa. Quando o Rick apareceu falando que era meu fã, eu falei: 'Não, cara, você não é meu fã, você é meu amigo'. Eu fico emocionado, honrado. Na minha terra, fizeram um campeonato com meu nome. Quando tiro a medalha em lugares públicos, o pessoal se arrepia. Não sei se vou saber mensurar um dia. Só agradeço, trabalho e tento fazer o que é correto para continuar sendo espelho para as pessoas, para não deixar esse espelho se quebrar", resumiu.

 

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Patrick em ação com sua handbike: sonho de chegar a uma Paralimpíada. Foto: Arquivo pessoal

 

Pedaladas com as mãos

 

O brasiliense Patrick Souza tem história similar de idolatria e amizade. No caso dele, os dois sentimentos surgiram no mesmo momento: ao conversar informalmente com a atleta paralímpica Jady Malavazzi enquanto ela treinava com sua handbike, recebeu o incentivo para a prática de seu novo esporte favorito.

“Durante uma sessão de fisioterapia no Hospital Sarah Kubitschek, no Lago Norte (bairro de Brasília) este ano, falei com um professor de educação física que tinha comprado uma handbike e estava esperando chegar. Ele comentou que conhecia a Jady e que eu deveria procurá-la. Por coincidência, nesse mesmo dia, passei por ela quando estava voltando de carro para casa e ela estava treinando. Conversamos rapidamente e, então, combinamos de nos encontrar”, conta Patrick, que perdeu os movimentos da perna ao levar um tiro durante uma abordagem policial enquanto atravessava uma rua, em janeiro de 2013. Foram semanas em coma. O projétil passou ao lado da medula e causou um inchaço que afetou os movimentos dos membros inferiores.

“Eu ficava acompanhando na TV. Achei interessante ver os cadeirantes competindo, buscando o melhor. Botei na cabeça que queria experimentar todos os esportes para ver com qual me identificava"
Patrick Souza

Após as primeiras pedaladas em conjunto, Jady o ajudou indicando profissionais que deram apoio com prescrição de treinamento específico. “Ela me ajudou muito e até me emprestou a bicicleta. Passou a rota, o circuito de treino e ensinou o que eu precisava fazer. Gostei muito da modalidade. Agora estou pedalando com ela e treinando. Quero sempre buscar o melhor de mim, dar o meu melhor. Ela falou que vai me colocar para competir com ela. Devagarinho, estou indo”, conta Patrick, sempre elogiando a nova amiga, que ficou em sexto na prova de contrarrelógio H-1-2-3 e em décimo na prova de ciclismo de estrada H1-2-3-4, disputadas na praia do Pontal, durante a Rio 2016.

O interesse pelo ciclismo havia surgido após acompanhar várias modalidades dos Jogos Paralímpicos pela televisão, em sua casa em Sobradinho (DF). O foco, na época do megaevento, era conhecer o maior número de esportes para acrescentar ao rol de modalidades praticadas. “Eu ficava acompanhando na TV. No começo, estava mais parado, só em casa. Achei interessante ver os cadeirantes competindo, treinando, buscando o melhor. Aí botei na cabeça que queria experimentar todos os esportes para ver com qual me identificava. Fui experimentando, gostei de todos”, explica Patrick, enumerando vela, stand up paddle, parapente e até motociclismo. “Adaptaram uma moto para mim lá no kartódromo do Guará. Antes de 2013, eu adorava andar de moto. Foi ótimo pilotar um pouquinho de novo”, relembra Patrick.

Há três semanas, Patrick participou de sua primeira prova de ciclismo. Foi a Goiânia e pedalou a handbike reserva de Jady na Copa Brasil, disputada no autódromo da capital goiana. “Ela me incentivou muito para ir, ganhar experiência, ver como era. Foi interessante, gostei muito. Pessoas novas, diferentes. Aprendi mais sobre o esporte e sobre montagem da bike. Na prova, o rendimento foi bom. Me elogiaram bastante pelo desempenho”, afirma Patrick.

 

Os sons dentro e fora de campo no futebol de cinco durante os Jogos Rio 2016 encantaram Darley. Foto: Danilo Borges / Brasil2016

 

Dos sons "fora de hora" aos dribles

 

O futebol de cinco, para deficientes visuais, demanda um silêncio respeitoso das arquibancadas para que os atletas possam escutar o guizo dentro da bola, essencial para que eles se orientem em campo. Mas, definitivamente, não foram essas as lembranças que encantaram Darley Souza quando ele esteve nas arquibancadas do Complexo de Tênis do Parque Olímpico da Barra para assistir a um dos jogos da campanha de ouro do Brasil no Rio.

"Eu me lembro como se fosse hoje porque me apaixonei. A torcida não se aguentava, começava a vaiar o outro time, era uma energia gostosa. Ali, só fiquei imaginando que poderia estar dentro de campo um dia"
Darley de Oliveira

"Eu me lembro como se fosse hoje quando fui no futebol, porque me apaixonei completamente. A torcida não se aguentava, começava a vaiar o outro time, era uma energia muito gostosa. Ali, naquela hora, só fiquei imaginando que poderia estar dentro de campo um dia", afirmou Darley, de 23 anos, que é cego total desde que tinha um ano de idade.

Após a experiência nos Jogos do Rio, ele manteve o sonho no plano das potencialidades. Estava terminando a faculdade de Administração e trabalhando, o que deixava pouco tempo livre. Formado no fim de 2016, resolveu achar uma brecha para experimentar o futebol de cinco. "Sempre gostei de futebol, sou palmeirense apaixonado, mas nunca tinha tido oportunidade de jogar com a galera com deficiência visual", disse. Em função disso, passou por um estranhamento inicial depois de experimentar os primeiros dribles no CT Paralímpico de São Paulo.

"O futebol de cinco é diferente do que eu pensava. Eu imaginava um jogo mais individual, mas é muito coletivo. Sofri no início por tender a ser individualista e porque é um esporte de contato físico. Quando eu jogava com a galera sem deficiência, eles estavam me vendo, e havia pouco contato. No futebol de cinco tem muito, a parte física pega bastante", afirmou.

Para ele, que vive em São Caetano e se desloca com completa independência por São Paulo, a vivência de pouco mais de seis meses no futebol de cinco já trouxe melhorias. "Já melhorou muito a parte coletiva, em pensar o trabalho em equipe. Eu nunca tive muito contato com pessoas com deficiência visual por morar longe, estudar em escola pública. Foi uma coisa que gostei bastante. Se soubesse que temos uma estrutura tão boa aqui no CT Paralímpico, onde a gente treina, teria começado antes", disse.

No "plano de voo" para o futuro, Darley tem dois sonhos encadeados. "Um no futebol de cinco, que com certeza é jogar pela seleção e disputar uma Olimpíada, de preferência sendo campeão. O outro é sentir que chegou o momento de perceber que a mídia olha para a gente com a mesma visibilidade dos esportes convencionais", disse. Na opinião dele, a performance nacional nos Jogos Rio 2016 deixou clara a dedicação dos atletas paralímpicos. "Nós mostramos para o mundo que temos capacidade de realizar tudo igual a uma pessoa sem deficiência ou às vezes melhor. A gente joga mais com o coração do que propriamente alguns outros esportes sem deficiência", disse.

 

Fãs de carteirinha do Centro de Treinamento

 

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André e o filho Felipe no CT: presença frequente. Foto: acervo familiar.

O esporte sempre fez parte das prioridades de André Nogueira e da esposa Karla Cunha. Moradores de São Paulo, eles se programaram para conferir os Jogos Olímpicos do Rio in loco. Nesse meio tempo, o filho deles, Felipe, foi diagnosticado com autismo. A descoberta fez com que, naturalmente, crescesse na família também o interesse pelo esporte paralímpico. "Passamos a ver com outros olhos. Nos dedicamos a conhecer mais as classes, os tipos de deficiência, e acompanhamos a Paralimpíada pela televisão. Vimos o atletismo, a natação, descobrimos um monte de esportes novos ali", afirmou André.

Passado o período dos Jogos, a família descobriu que o CT de São Paulo passaria a ser referência do movimento paralímpico no Brasil, para treinamentos e eventos. Assim, aos poucos, o local se tornou um dos principais pontos de lazer da família para os fins de semana. "Viemos assistir no fim do ano passado aos Jogos Universitários. Conhecemos o espaço, acompanhamos a competição e foi paixão à primeira vista, tanto pelo espaço, quanto pelas competições quanto pelas pessoas que estavam aqui. Sempre fomos muito bem recebidos", disse André. 

Estamos sempre de olho na agenda. É difícil achar uma estrutura com o nível de coisas que tem aqui no CT Paralímpico. Fora o fato de que muitos equipamentos usados nos Jogos Olímpicos estão aqui
André Nogueira

Desde então, um dos hábitos frequentes da família é conferir o calendário de eventos no CT. "Já viemos aqui no Circuito Caixa, em Jogos Pan-Americanos, não perdemos uma. Estamos sempre de olho, sempre presentes. A gente conhece estádios por aí, mas é difícil achar uma estrutura com o nível de coisas que tem aqui. Fora o fato que muitos equipamentos usados nos Jogos Olímpicos estão aqui. Isso é muito legal. O pessoal adora falar mal, mas a gente vê muita coisa sendo muito usada aqui".

O filho do casal, Felipe, já pratica esportes regulares com frequência, como judô, futebol e natação. E, para eles, o momento esperado é quando o CT abrir as portas para escolinhas e formação de atletas da base. "O Felipe, quando chega aqui, fica bem confortável, à vontade. O difícil é segurá-lo para ele não ir para o meio da pista de atletismo competir. Ele é apaixonado pela quadra de futebol de cinco. Conversamos recentemente e parece que há a possibilidade de criarem uma escolinha. Seremos os primeiros da fila", brincou André. 

De acordo com o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Mizael Conrado, está de fato nos planos do CPB a abertura de vagas para a iniciação no esporte. "Temos aqui a melhor estrutura poliesportiva paralímpica da América Latina, que suporta o treinamento em altíssimo rendimento para 15 esportes, tem um complexo residencial para 300 atletas e vai contar com um centro de Ciência do Esporte para propiciar inovações e evoluções dos nossos atletas. Além disso, é nossa intenção criar oportunidades para a iniciação de vários atletas, por meio de escolinhas. Pretendemos atender crianças dos municípios do entorno e dar oportunidade para todos vivenciarem as modalidades paralímpicas", disse o dirigente.

 

Renovação da auto-estima com experiência paralímpica

 

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Danyel em ação pelo Campinas, na Superliga de 2016: reviravolta com protagonismo paralímpico. Foto: Divulgação

Danyel Christian tinha uma curva ascendente no vôlei. Depois de iniciar a carreira em clubes paraenses, foi descoberto pelo Pinheiros, de São Paulo, treinou em clubes de Minas Gerais e foi parar na equipe de Campinas. Tudo ia bem com o líbero, com exceção de alguns episódios de falta de sensibilidade na lateral do corpo. Episódios que começaram a ficar mais frequentes e se manifestaram também em paralisias faciais. Até que, em 2016, meses antes da final da Superliga, acabaram acompanhados de um diagnóstico: esclerose múltipla, aos 22 anos.

"De repente, fui obrigado a repensar em tudo o que ia fazer", contou Danyel. A rotina dele passou a incluir medicações mensais, exames motores rotineiros e incertezas sobre o futuro. "Foram meses de conversa, de choro, de indecisão se devia parar ou não de jogar, de dúvidas sobre o que poderia acontecer no futuro", recordou Danyel. Ele decidiu ir até o fim na preparação para a final da Superliga. Esteve no elenco de Campinas que viajou a Brasília e acabou superado por 3 sets a 1 na final contra o Cruzeiro, em 10 de abril de 2016. 

Depois disso, resolveu, após conversa com os pais e a esposa, dar um tempo no esporte para ver como o corpo reagiria ao tratamento. E foi nesse período, que ele define como uma fase de auto-estima em baixa, que Danyel encontrou a medalhista paralímpica Verônica Hipólito, por meio de um amigo em comum. "Ela me falou do esporte paralímpico. Sugeriu para mim o vôlei sentado. Fiz exames e me encaixava na classificação funcional. Mas acabou que resolvi testar foi o atletismo paralímpico", lembra Danyel. 

Aproveitando que era estudante de Educação Física em Campinas, Danyel se inscreveu numa competição de atletismo paralímpico universitário. Disputou e venceu os 100m, 200m e o salto em distância no CT Paralímpico de São Paulo, em dezembro de 2016.  "A verdade é que ele voltou a treinar, se aventurou e veio correr e saltar nos Jogos. Por ter conhecido o mundo paralímpico, viu que poderia fazer o que quisesse. Voltou a treinar, inicialmente para o atletismo, mas recebeu um convite e agora está jogando vôlei profissionalmente de novo, mas no olímpico", afirmou Verônica, orgulhosa da trajetória do "pupilo".

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Daniel Dias com Lucca: melhores amigos. Foto: arquivo de família.

"Tive experiências fenomenais. Cada pessoa com um tipo de dificuldade diferente. Pessoas que nasceram com deficiência. Aquilo me renovou. Voltei a acreditar que tinha condições de lutar para praticar o vôlei convencional", contou Danyel. Hoje, o líbero atua pela equipe de Atibaia. "Meu corpo vem reagindo bem ao tratamento. Não tive qualquer episódio de fraqueza nos últimos tempos", celebrou. 

 

Phelps? Que nada! Meu ídolo é Daniel!

 

Lucca é um menino de quatro anos que adora natação. Assistiu aos Jogos Olímpicos pela televisão. Ficou assombrado com o desempenho de Michael Phelps. Mas não teve dúvidas em trocar de ídolo rapidamente quando a página da competição virou para a da Paralimpíada. Descobriu ali o multimedalhista brasileiro Daniel Dias. Teve encantamento à primeira vista. A tal ponto que os pais dele resolveram filmar a intensidade com que ele torcia para o velocista na televisão. Mandaram o resultado para o perfil de Facebook do nadador. Daniel Dias viu, respondeu e ali nasceu uma amizade que aproximou Lucca e sua família não só de Daniel, mas de toda a equipe brasileira de natação paralímpica. 

Hoje, Lucca é um quase mascote da delegação nacional. Liga para os atletas, compartilha a piscina, cobra resultados e, nas horas vagas, faz performances como Michael Jackson na beira da piscina, já que decorou a coreografia completa de um dos hits do Rei do Pop.  

Abelardo Mendes Jr., Gustavo Cunha e Luiz Roberto Magalhães, com produção de Breno Barros e Ana Claudia Felizola - rededoesporte.gov.br