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30/07/2016 20h47

Refugiados

Integrantes do time de refugiados projetam participação simbólica nos Jogos

Atletas da Síria e do Congo contam com a torcida de todo planeta para levar o tema dos expatriados a um novo patamar e se mostram confiantes em bons resultados

A equipe que possivelmente conta com a maior torcida dos Jogos Rio 2016 foi apresentada, neste sábado (30.07), no Centro de Mídia do Parque Olímpico da Barra da Tijuca. Atletas da Síria e do Congo do primeiro Time Olímpico de Refugiados (TOR) a disputar a competição expressaram o orgulho de participar dos Jogos e, ao mesmo tempo, dar visibilidade simbólica a um problema que afetava 65,3 milhões de pessoas em 2015, de acordo com dados da Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). O time ainda conta com cinco sul-sudaneses e um etíope.

Entrevista coletiva com quatro dos dez atletas do time de refugiados nos Jogos Rio 2016. Foto: Gabriel Fialho/Brasil2016.gov.br

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"Claro que queríamos representar o nosso pais, mas estamos representando a maior bandeira, que é a de todos os países", disse a nadadora síria Yusra Mardini, 18 anos, em referência à bandeira do Comitê Olímpico Internacional. Ela fugiu do país natal com a irmã, em agosto do ano passado, por causa da guerra. "Cheguei à Alemanha sem equipamentos, nem touca tinha. Eu disse que era nadadora e se poderiam me ajudar". Atualmente, a atleta treina em um clube de Berlim. "Conheci pessoas que me acolheram bem como refugiada. Eles tentam se colocar no meu lugar e hoje são minha família".

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Apesar da tristeza em não poder competir pela Síria, Rami Anis destaca a oportunidade de poder mostrar em um megaevento da dimensão da Olimpíada o problema dos refugiados. "Obviamente que os Jogos são o evento esportivo mais importante e estou orgulhoso em participar dele. Há um pouco de tristeza por não disputar como sírio. Lógico que todos os atletas desejam competir por seus países, mas nós representamos pessoas oprimidas, que passaram por injustiças. Esperamos que essa situação acabe. Não queremos mais guerras e que todos possam representar suas bandeiras", disse o nadador de 25 anos, que há cinco anos fugiu para a Turquia e hoje vive na Bélgica.

Recepção

A compatriota de Anis contou que se está acostumando à rotina na Vila dos Atletas e que foi bem recebida por todos. "Estou me acostumando. É uma honra estar aqui com campeões olímpicos. Todo mundo pergunta quem somos, quem estamos representando... A gente representa todos os refugiados do mundo e a esperança. Todas as pessoas foram simpáticas e estamos contentes com isso", contou Mardini.

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Yusra e Anis, refugiados sírios no Cristo Redentor. Jogos são vistos como oportunidade de dar visibilidade à questão dos refugiados em todo o mundo. Foto: Getty Images

Quem está acostumado ao Brasil são os congoleses, Yolande Mabika, 30 anos, e Popole Misenga, 24 anos, lutadores de judô que treinam no Instituto Reação, no Rio de Janeiro. "Eu cheguei ao Brasil em 2013 para competir no Mundial de judô e depois fiquei. Tive dois anos difíceis, mas Deus me deu força para voltar a competir. Vou representar a bandeira do comitê, vou representar todos os refugiados do mundo. Vamos mostrar que somos capazes de fazer como qualquer outra pessoa. O sonho de todos esportistas é um dia disputar as Olimpíadas", revelou Mabika.

A vida dos judocas mudou depois que começaram a ser treinados pelo ex-técnico da seleção brasileira Geraldo Bernardes, na ONG fundada pelo medalhista de bronze em Atenas 2004, Flávio Canto. Popole, que também ficou no Brasil após o Mundial de 2013, pensou que não voltaria mais a lutar, até entrar no Instituto Reação. "O esporte transformou minha vida. Se eu não fosse esportista, não poderia estar aqui hoje", afirmou. "A medalha deles já está ganha. Eles estarem aqui já é um grande prêmio. O que vier agora é adicional", afirmou Geraldo Bernardes.

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Popole treina com o técnico Geraldo Bernardes no projeto criado pelo medalhista olímpico Flávio Canto. Foto: Getty Images

Campanha

Popole aproveitou e fez campanha pelo Time de Refugiados: "Estou preparado e vou chegar na Olimpíada para buscar a minha medalha. Vocês todos têm que torcer por mim". Perguntado se gostaria de mandar uma mensagem para seus familiares no Congo, Popole, que não tem contato com eles desde que saiu do país, se emocionou ao dizer que estava lutando para poder trazer seus irmãos.

O Time Olímpico de Refugiados é composto por dez atletas: os congoleses Yolande Mabika (judô feminino, peso médio) e Popole Misenga (judô masculino, peso médio), os nadadores sírios Ramis Anis (100m livre e 100m borboleta masculino) e Yusra Mardini (100m borboleta feminino), os sul-sudaneses do atletismo Paulo Lokoro (1.500m), Yiech Pur Biel (800m), James Nyang (400m), Anjelina Nadai (1.500m) e Rose Lokonyen (800m), além do etíope Yonas Kinde, que disputará a maratona.

Gabriel Fialho - brasil2016.gov.br