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Futebol

16/06/2016 13h00

Futebol feminino

Símbolo de longevidade e garra, Formiga está pronta para a sexta participação olímpica

A 50 dias da abertura da Rio 2016, meia que esteve em todas as edições olímpicas do futebol traça um retrato da carreira e diz estar com fome de conquistar o ouro que escapou duas vezes

Desde que o futebol feminino passou a integrar o programa olímpico, em Atlanta 1996, há um nome na Seleção Brasileira que é a intersecção de todas as listas de convocadas: Miraildes Maciel Mota. “Não tem diferença, não. Pode juntar as duas, Miraildes e Formiga, que dá uma pessoa só”, brinca a meio-campista, dona de uma disposição física que desmente diariamente o estereótipo de uma atleta de 38 anos.

São cinco participações olímpicas e duas pratas no currículo, em Atenas (2004) e Pequim (2008). Nas duas ocasiões, derrotas na decisão para a sempre forte equipe dos Estados Unidos. Como se diz no futebol, duas bolas na trave. Mas, se depender da dedicação de Formiga e de suas companheiras, o ouro virá no “quintal de casa”.

“Esta será a minha sexta e última Olimpíada. Estou me cuidando e me entregando 100% aos treinamentos para dar o melhor e honrar essa oportunidade de jogar dentro de casa e conseguir essa medalha de ouro tão importante para o futebol feminino do Brasil”, diz a atleta, com mais de 20 anos de serviços prestados à Seleção.

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Formiga durante partida da Seleção Brasileira: intensidade e paixão pelo futebol são duas das marcas da atleta. Foto: Getty Images

A boneca virou bola

A paixão pelo futebol, segundo ela, é daquelas que não tem explicação racional, porque veio impressa no DNA. É do tipo que supera inclusive convenções machistas do que é certo ou errado para meninas. “Uma vez meu padrinho me deu uma boneca. Eu arranquei a cabeça, joguei o corpo longe e saí chutando a cabeça da boneca como se fosse bola”, recorda. “Eu não podia ver uma bola na rua que saía correndo achando que era minha”, diverte-se.

A característica de correr atrás incessantemente, típica de quem atua na contenção dos adversários no meio-campo, foi lapidada desde cedo. “Não nasci em berço rico, muito pelo contrário. Muitas vezes minha mãe tirava um pouco do trocado do pão e do café para que eu pudesse treinar”, diz.

Da mesma forma, a trajetória para ser firmar na modalidade exigiu dribles que transcendem as quatro linhas. Os irmãos não queriam que ela jogasse bola com outros garotos. “E os amigos dos meus irmãos ficavam dizendo que aquilo era feio, coisa de mulher-macho. Tinha esse lado, até porque sou a única mulher no meio de quatro irmãos. Depois de algum tempo, comecei a perceber que era mais preocupação deles”, explica. “Mas continuei jogando bola, insisti em fazer o que amo e hoje meus irmãos são orgulhosos de mim”, acrescenta.

O preconceito racial também já foi obstáculo superado. Para ela, a melhor resposta que já deu para um lamentável episódio foi aceitar tirar uma foto ao lado de um torcedor que a havia agredido verbalmente. “Quando o torcedor xingava a mim e a uma colega, eu pedia calma para ela. Disse para focarmos no que estava acontecendo em campo. Jogamos bem, vencemos o jogo e depois ele quis tirar foto com a gente. E eu tirei”.

Valéria Barbarotto, brasil2016.gov.br