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Atletismo paralímpico

11/09/2016 00h47

Atletismo

Shirlene confirma favoritismo e conquista o ouro no lançamento de dardo da classe F37

Porta-bandeira do país na Cerimônia de Abertura, a atleta também é a primeira mulher do país a subir ao alto do pódio no Rio. Rodrigo Parreira fatura bronze nos 100m T36

O paradesporto foi generoso com o Brasil ao encontrar Shirlene Coelho, que conquistou neste sábado (10.09) o bicampeonato olímpico na prova de lançamento de dardo da classe F37. Ela acabou sendo a primeira mulher do país a subir ao topo do pódio nesta edição dos Jogos. "Não cheguei ao esporte paralímpico. Foi ele que chegou a mim, me abraçou e não largou", resumiu. A goiana alcançou o ouro com a marca de 37m57, mas venceria a prova com qualquer uma de suas cinco tentativas válidas. A pior delas superaria em mais de dois metros o resultado de 30m18 da chinesa Na Mi, que ficou com a prata e superou a compatriota Qianqian Jia (29m47), terceira colocada.

A afinidade com o lançamento de dardo, além dos ouros no Rio e em Londres 2012, quando ela obteve o atual recorde mundial (37m86), ainda rendeu uma prata em Pequim 2008. A relação foi tão intensa que, sem sequer treinar na modalidade, ela bateu o recorde brasileiro na primeira competição que disputou. "Em 2006 fiz um teste no atletismo paralímpico, mas no lançamento de disco. Com três meses de treino fui para minha primeira competição, um regional em Uberlândia. O meu técnico falou: 'Disco é a sua prova. Dardo e peso você vai brincar'. E nesta brincadeira conheci o dardo um dia antes de viajar. Então peguei gosto e estou aqui hoje", resume Shirlene com uma simplicidade que não se vê frequentemente em multicampeões.

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Atleta foi tão superiora às adversárias que venceria a disputa com qualquer uma das suas cinco tentativas no Engenhão. Foto: Danilo Borges/Brasil2016.gov.br

O amor pela modalidade cresceu no ano seguinte, quando veio o ouro no lançamento de dardo e as pratas no arremesso de peso e na prova do disco durante o Parapan de 2007, no Rio, no mesmo Estádio Olímpico em que ela competiu na noite deste sábado. O reconhecimento pelo desempenho veio na escolha de Shirlene para ser a porta-bandeira do país na Cerimônia de Abertura das Paralimpíadas de 2016. Ela foi eleita em votação realizada entre os próprios atletas da delegação brasileira.

"Carregar a bandeira e subir ao pódio me emocionaram. Nunca tinha acontecido de uma mulher brasileira carregar a bandeira em Cerimônia de Abertura. E agora a medalha de ouro. As duas emoções são inexplicáveis"
Shirlene Coelho

"Carregar a bandeira e subir ao pódio me emocionaram muito. Nunca tinha acontecido de uma mulher brasileira carregar uma bandeira em Cerimônia de Abertura de Paralimpíada. E agora a medalha de ouro. As duas emoções são inexplicáveis. Eu posso dizer que tudo está perfeito", disse a atleta, que comemorou muito a vitória com a torcida. "Este estádio lotado, gritando meu nome... sou Shirlene Coelho, conhecida pelo público". Ela ainda disputará as provas de arremesso de peso e de lançamento de disco nos Jogos Rio 2016.

Insistência

A atleta sofreu paralisia cerebral durante a gestação da mãe. Com um ano de vida, a família da bicampeã paralímpica se mudou de Corumbá para Samambaia, cidade satélite de Brasília, em busca de um tratamento na Rede Sarah, onde ela recebe acompanhamento até hoje. Foi na estrutura voltada às pessoas com deficiência da capital federal que o esporte encontrou Shirlene.

Quando ela foi entregar um currículo em busca de trabalho na Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe), que presta apoio e serviços gratuitos aos deficientes, os profissionais da entidade lhe apresentaram o basquete em cadeira de rodas. "Eles escolheram basquete pelo meu porte físico e altura. Não gostei, preferia o basquete em pé, que eu sempre joguei. Aquele negócio de empurrar a cadeira e quicar a bola, com o meu braço, era complicado", recordou. Em menos de um mês ela conseguiu emprego para fazer serviços gerais em uma empresa e largou o esporte.

No entanto, graças ao seu primeiro técnico, Manuel Ramos, o paradesporto voltou a procurá-la. "Ele não desistiu. Todo esse tempo que eu deixei o basquete ele ficou me ligando. Eu voltei e ele falou: 'Vamos fazer atletismo'. Eu, sem conhecer, achava que atletismo era só correr. Eu disse que não gostava de correr. Então, ele foi lá e pegou um disco e falou: 'É isso que você vai fazer'". Estava consumado o encontro.

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Agora, Shirlene soma uma prata em Pequim (2008) e ouros nas edições de Londres (2012) e Rio 2016. Foto: Danilo Borges/Brasil2016.gov.br

Presente de aniversário

Nas provas noturnas do atletismo, o Brasil ainda conquistou um bronze, a terceira medalha do dia na modalidade. Um dia após completar 22 anos de idade, o também goiano Rodrigo Parreira ganhou um presente mais que especial. Ele terminou a prova dos 100m rasos na categoria T36 em 12s54.

"A emoção maior foi porque ontem foi meu aniversário. Estou há um mês fora de casa treinando e trabalhando duro. Meus companheiros sempre me apoiaram em momentos difíceis e hoje é o momento mais feliz da minha vida. Comemorar o aniversário com meus companheiros é uma grande emoção", disse o atleta, que se surpreendeu com o resultado. "Eu tinha a pior marca de todos os adversários. Mas vim aqui fazer o meu melhor e consegui. É um bronze com sabor de ouro".

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Rodrigo Parreira no pódio dos 100m categoria T36. Foto: Danilo Borges/Brasil2016.gov.br

Rodrigo se classificou para a disputa pelo ouro com o pior tempo entre os finalistas (13s20), mas com a vibração que vinha da arquibancada, conseguiu melhorar. "Você estar em casa, competindo em uma Paralimpíada, é uma grande honra. A torcida gritando o meu nome me deixou ainda mais motivado". O lugar mais alto do pódio ficou com o malaio Mohamad Puzi (12s07). A prata foi do chinês Yifei Yang (12s20).

O estreante em Jogos Paralímpicos volta a competir na próxima segunda-feira (12.09) no arremesso de peso. No último Mundial de atletismo paralímpico, em Doha 2015, ele terminou a prova em quarto. "Agora é trabalhar ainda mais", projeta o atleta, que tem paralisia cerebral que comprometeu funções motoras do lado esquerdo de seu corpo.

A paralisia foi ocasionada por uma queda da mãe de Parreira durante a gestação. O atleta começou no esporte ainda criança, passou pela natação, futebol de 7, halterofilismo e outros esportes, mas se firmou no atletismo em 2013. "Se eu for falar todos os esportes que já pratiquei, vou ficar o dia todo aqui", brincou.

Atletismo - Jogos Paralímpicos Rio 2016 - 10.09.2016  

Outros resultados

Além dos ouros conquistados por Claudiney Batista e por Shirlene Coelho, e do bronze de Rodrigo Parreira, os brasileiros participaram de mais três finais no atletismo, mas não chegaram ao pódio.

Pela manhã, Poliana Jesus competiu no arremesso de peso feminino F54 e terminou na sexta colocação. À tarde, mais duas brasileiras brigaram por medalhas. No lançamento de dardo feminino F56, Raissa Rocha ficou em sexto. Já na final do salto em altura feminino T42, Ana Cláudia Silva terminou em quinto lugar.

Gabriel Fialho e Michelle Abílio – Brasil2016.gov.br