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Judô

01/08/2017 10h20

Brasil de Ouro

Há 25 anos, Rogério Sampaio chegava à redenção em Barcelona

Na caminhada rumo ao ouro olímpico nos Jogos de 1992, judoca encarou boicote da Confederação Brasileira de Judô e superou a trágica perda do irmão

Rogério Sampaio teve pouco tempo para comemorar aquela que, até ali, tinha sido a maior façanha de sua carreira. O clima de euforia era enorme na arena Palau Blaugrana, em Barcelona. Em delírio, a torcida fazia um enorme barulho nas arquibancadas e, à beira das cadeiras, na área de competição, Rogério era abraçado pelos colegas de equipe e pelo técnico da Seleção Brasileira de judô, Paulo Wanderlei. Em meio àquela festa, Rogério sentiu uma mão em seu ombro e as palavras que se seguiram o trouxeram de volta ao mundo real: “Vamos lá para o aquecimento! Vamos brigar pelo ouro!”, gritava Aurélio Miguel.

Rogério, no topo do pódio olímpico em Barcelona 1992: capacidade de reação diante das adversidades foi recompensada com uma medalha de ouro histórica. Foto: reprodução

Era fim de tarde em 1º de agosto de 1992, na Espanha, e toda a excitação se justificava. Minutos antes, Rogério Sampaio havia derrotado, na segunda semifinal dos Jogos Olímpicos de 1992, o alemão Udo-Gunter Quellmalz, então campeão mundial. Com isso, estava na decisão da categoria meio-leve (até 65kg) das Olimpíadas de Barcelona.

Na pior das hipóteses, aquele santista, nascido em 12 de setembro de 1967, já havia repetido os feitos de Douglas Vieira – o primeiro judoca do país a disputar uma final olímpica, em Los Angeles 1984, quando terminou com a prata – e de Aurélio Miguel, que, quatro anos antes, nos Jogos Olímpicos de Seul 1988, havia chegado à final e dado um passo adiante, entrando para a história como o primeiro brasileiro a conquistar um ouro olímpico na modalidade.

Em Barcelona, Rogério, perto de completar 25 anos, havia se transformado, com a prata já assegurada, em um medalhista olímpico e, assim, realizado seu maior sonho. Mas ainda havia um último capítulo a ser escrito na Espanha, desta vez diante do húngaro Jozsef Csak.

Um professor especial

Na trilha que o levou à glória nas Olimpíadas de 1992, Rogério Sampaio se viu diante de duas situações completamente fora de seu controle que tornaram a conquista ainda mais impressionante. A primeira foi uma questão política que teve impactos diretos na preparação. A segunda foi uma tragédia familiar devastadora. Mas, na verdade, a história toda começou de uma maneira especial.

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O roteiro da oitava medalha de ouro brasileira teve início quando, então com quatro anos e meio, Rogério Sampaio Cardoso, seguindo os passos do irmão Ricardo, iniciou, em Santos, os treinamentos na modalidade com aquele que seria seu grande mentor: Paulo Duarte. Aquele era um professor especial, cuja própria história de vida já era uma lição para todos os alunos.

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O pequeno Rogério, ao lado do irmão Ricardo e da irmã Valéria: início no judô aos 4 anos e meio. Foto: Rogério Sampaio/arquivo pessoal

“O professor Paulo Duarte não tem uma perna”, conta Rogério. “Ele a perdeu no Hospital de Base, em Brasília, após uma cirurgia. Ele teve infecção hospitalar e precisou amputá-la. Aí, ele veio para Santos, acompanhando o pai, que havia sido transferido”, prossegue. “Ele começou a dar aulas de judô e foi com ele que comecei, em 1972. O professor Paulo Duarte tinha uma perna mecânica, uma prótese. Mas você imagina isso em 1972. Era uma coisa muito diferente de hoje”, continua.

Talvez para superar a deficiência, Paulo Duarte adquiriu uma habilidade que se tornaria fundamental para o sucesso de Rogério Sampaio e que ligaria seu atleta mais famoso a uma técnica cujo domínio foi determinante para o histórico triunfo em Barcelona: o o-soto-gari. Trata-se de um golpe aplicado frontalmente ao rival, no qual o judoca transfere o peso do oponente para a perna que será atacada. Quando bem executado, costuma resultar em ippon, o equivalente, no judô, ao nocaute no boxe.

“O meu professor era detalhista, estudioso, perfeccionista”, conta Rogério. “Quando a gente tinha 8, 9, 10 anos, ele ficava estudando o nosso biotipo. Isso foi comigo, com o meu irmão e com outros companheiros de treino. A partir desse estudo, ele procurava ver qual a técnica que se encaixava melhor a cada aluno. Na verdade, eram duas coisas: o biotipo e a característica de luta. Eu tinha boa postura e boa movimentação. E tinha um biotipo longilíneo e de pernas compridas. Então, ele procurou estudar para que eu desenvolvesse alguma técnica que me fizesse ser um atleta diferenciado. E foi aí que entrou o o-soto-gari”, explica.

Nasce o espírito Olímpico

Quando tinha 13 para 14 anos, Rogério Sampaio descobriu que havia uma competição que era diferente de todas as outras. Aquilo, para ele, teve significado profundo e mudou sua maneira de encarar os treinamentos.

“Essa vontade de se tornar atleta de alto nível, na verdade, veio pelo meu irmão. Ele era quatro anos mais velho e se destacava, já conquistava o Campeonato Paulista e estava entre os melhores do Brasil”, recorda Rogério, referindo-se a Ricardo, que representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Seul 1988. “Mas em 1980, na ocasião dos Jogos Olímpicos de Moscou, foi a primeira vez que eu acompanhei mais de perto os Jogos Olímpicos. Foi a primeira vez que eu vi atletas brasileiros representando o país”, diz o judoca.

“Em 1984, aí, sim, isso veio de uma maneira mais forte, porque passou muita coisa na televisão”, continua Rogério. “A luta do Douglas Vieira (na categoria -95kg), que foi a primeira vez que o judô brasileiro disputou uma final olímpica, passou ao vivo e pude acompanhar. Vi a prova em que o Ricardo Prado conquistou a prata (na natação, nos 400 metros medley) e pude acompanhar a prova do Joaquim Cruz”, destaca, quase que com uma deferência.

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Joaquim Cruz: ídolo e primeira grande referência olímpica. Fotos: Getty Images

“Eu sempre falo que o Joaquim acabou se tornando um dos grandes ídolos que tive. Foi a primeira vez que pude ver um atleta brasileiro conquistando uma medalha de ouro, embora não fosse na minha modalidade, e, depois, dando aquela volta olímpica na pista. Aqueles Jogos de Moscou e de Los Angeles foram fundamentais para minha formação”, afirma.

Uma vez tocado pelo sonho de um dia representar o Brasil nos Jogos Olímpicos, Rogério tratou de treinar cada vez mais forte, sempre ao lado do irmão, que se seguia se destacando no cenário nacional.

“Com 13 para 14 anos, eu comecei a treinar com mais ênfase no desenvolvimento do o-soto-gari”, lembra Rogério. “E aí vem o segundo passo desse desenvolvimento, que foi combinar o o-soto-gari com outras técnicas como o De-ashi-barai (rasteira no pé avançado), que também acabou se tornando uma técnica extremamente forte”, detalha.

Ali começava a ser moldado o judoca que em 1992 desembarcaria em Barcelona sem constar em nenhuma lista de favoritos, mas que, pelos recursos trabalhados ao longo de anos, se mostraria um rival imbatível.

Boicote internacional

A medalha de ouro conquistada por Aurélio Miguel nas Olimpíadas de Seul 1988 teve um impacto determinante em Rogério Sampaio. “Como o judô brasileiro ainda não havia conquistado nenhuma medalha de ouro, isso parecia um sonho distante. E o Aurélio, quando conquistou aquela medalha, mesmo sem falar nada, passou um recado para todos: ‘Olha, conquistar uma medalha de ouro é possível’. Para mim pelo menos esse recado ficou muito claro”, conta Rogério.

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Aurélio Miguel: campeão olímpico em Seul 1988, ele abriu o caminho para o triunfo de Rogério Sampaio em Barcelona quatro anos depois. Foto: Aurélio Miguel/arquivo pessoal

O triunfo de Aurélio, contudo, não se traduziu nas melhorias esperadas na estrutura de preparação, que era precária em comparação com os rivais estrangeiros. Então, no fim de 1989, vários atletas, entre eles Rogério Sampaio e Aurélio Miguel, deram início a um boicote contra a administração de Joaquim Mamede, à época presidente da Confederação Brasileira de Judô.

“Eu vinha numa crescente em 1989. Era o meu segundo ano no adulto, eu estava com 22 anos, e aí, dez dias antes do Mundial, nós demos início a um movimento contra os dirigentes da Confederação Brasileira. Esse movimento pleiteava uma melhor estrutura. Nós nos afastamos em outubro de 1989 das competições internacionais e falamos que enquanto o presidente fosse o Mamede e não aceitasse as nossas reivindicações não iríamos voltar a participar de competições no exterior”, lembra Rogério.

Rogério (à esquerda nas duas fotos): conquistas no Brasil e no exterior moldaram o caminho até a consagração em Barcelona. Foto: Rogério Sampaio/arquivo pessoal

O boicote durou bem mais do que todos imaginavam e o impasse só foi resolvido no início de 1992, já no ano dos Jogos de Barcelona. “Voltamos a competir no exterior apenas em janeiro de 1992. Quando me afastei por esses dois anos e meio, meu processo de desenvolvimento ficou comprometido. Quando voltamos, o objetivo era adquirir a forma física e o ritmo de competição internacional. Naquela época, eu fiquei competindo apenas no Brasil. Houve uma grande dificuldade para adquirir esse ritmo de competição internacional, porque a gente tinha pouco tempo para os Jogos Olímpicos e nesse processo eu tive uma lesão, então foi um processo doloroso”, detalha.

Tragédia familiar

O boicote, entretanto, não foi a parte mais complicada. Em 1991, enquanto ainda lidava com o fato de não poder defender o Brasil nos torneios no exterior, a família Sampaio viveu um pesadelo inimaginável. No dia 28 de abril, abalado por profunda depressão, Ricardo tirou a própria vida. E o que seguiu foi um choque nunca antes experimentado por Rogério e seus familiares. “Foi o momento mais doloroso e mais dolorido da minha vida. Ele era um ídolo. Além da relação de irmão, tinha essa relação de ídolo. Meu Deus, você não imagina a dor que foi. E foi complicado, porque eu chegava em casa e via meu pai, minha mãe e minha irmã naquele sacrifício. E para mim a dor aumentava ao chegar em casa e ver aquilo tudo”, lembra Rogério.

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Rogério e o irmão Ricardo: melhor amigo e fonte de inspiração nos tatames. Foto: Rogério Sampaio/arquivo pessoal

“Esse período foi extremamente doloroso para mim, porque ficar afastado das competições internacionais era muito duro, porque era a coisa que eu mais amava fazer na minha vida, que era treinar, ir para o exterior e viver aquele sonho de ir para uma Olimpíada. E nesse período houve a perda do meu irmão, que para mim foi uma surpresa muito grande. Só depois foi que a gente percebeu que ele estava depressivo. A depressão é uma doença, ele estava doente e a gente não percebeu. Percebemos até que ele estava triste, mas não pensávamos que fosse tomar uma atitude dessas”, continua.

A redenção veio dos tatames. E Rogério mergulhou como nunca no esporte. “Eu me lembro que uns dez dias depois do falecimento dele eu pensei assim: ‘Puxa, eu preciso fazer algo que me faça bem, porque senão eu vou me enterrar aqui que nem o meu pai, minha mãe e minha irmã e minha vida não vai para frente’”, conta o judoca.

“Aí eu falei: ‘O que é que me faz bem?’. E pensei: ‘Me faz bem treinar judô’. Então eu decidi voltar a treinar com aquele afinco que treinava antes da briga com a confederação. Naquela época, com o boicote, eu treinava para disputar as competições no Brasil. Era um treino mais light do que se eu tivesse treinando para uma competição internacional. Mas aí, quando aconteceu isso com o meu irmão, eu falei: ‘Preciso voltar a treinar com aquele afinco, com aquela determinação’”, revela.

Rogério e Ricardo, com os pais, Sidney e Neusa. Foto: Rogério Sampaio/arquivo pessoal

“Eu treinava todos os dias, duas vezes por dia, e jogava ali no treinamento toda aquela dor que eu estava sentindo. Tem uma coisa que aconselho a todos: todo mundo ao longo da vida tem seus momentos de dificuldade. E esse é um momento em que a pessoa tem que olhar para frente e falar: ‘Eu preciso fazer o que me faz bem’. Porque se a pessoa se jogar na bebida, nas drogas, na noite, isso são coisas que só vão te puxar para baixo e te jogar ainda mais para trás”, ensina.

Enfim, Barcelona

No dia 25 de julho de 1992, uma espetacular festa no Estádio Olímpico de Montjuic abriu oficialmente os Jogos de Barcelona. Para chegar até ali, Rogério Sampaio, aos 24 anos, tinha percorrido um caminho desafiante. Contratou pela primeira vez um preparador físico (Fernando Terras, que trabalhava nas categorias de base do Santos) e superou a seletiva nacional para a definição dos atletas que formariam a Seleção Brasileira na Espanha. Rogério conquistou a vaga na categoria meio-leve (até 65kg) ao superar Sérgio Pessoa, Marcos Barbosa, Henrique Guimarães, Marco Antônio Costa e Luiz Henrique Vilalba. Mas ainda havia uma última batalha antes de pisar no tatame olímpico pela primeira vez.

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Fogos explodem na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 1992 em Barcelona: momento inesquecível para Rogério Sampaio: Foto: Getty Images

“Cheguei a Barcelona uns três quilos acima do peso. A minha preocupação, a todo momento, era treinar e descansar e perder peso”, lembra. “Foi uma emoção enorme chegar à Vila Olímpica. E nós fomos à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, que também é algo inesquecível. Meu Deus do céu... Que momento...”, diz, com saudades.

“Do lado do estádio olímpico, a gente tinha o ginásio de Montjuic. Então, todas as delegações foram se alojando dentro do ginásio e por ordem alfabética a organização ia encaminhando os países para o desfile no estádio, que estava lotado. Me lembro do acendimento da pira olímpica, daquela grande bandeira dos Jogos Olímpicos sobre todos os atletas no campo e foi um momento mágico. E teve também aquela coisa de conviver com todos os outros atletas dentro da Vila Olímpica. Então para mim foi inesquecível”, detalha.

Briga com a balança

“Na véspera do meu dia de lutar, fiquei na Vila Olímpica porque tinha de perder peso. Dei uma corrida pela manhã e depois fiquei no meu quarto, deitado, para resguardar as pernas e descansar. Tive que dar outra corrida no fim da tarde. Foram seis quilômetros pela manhã e seis à tarde. Foi duro”, narra.

Quando a noite chegou, as angústias estavam lá. “Não tive um sono tranqüilo, muito pelo fato da preocupação com o peso. Mas também tinha a preocupação com a competição. Eu cheguei a Barcelona depois de 20 anos de prática de judô. Você fica pensando: ‘Tantos anos de dedicação, tanta coisa vivida até aqui... Eu não posso não me apresentar bem’. Essa era uma grande preocupação. Acabei dormindo um pouco, é claro. Mas não foi um sono tranquilo. Foi picado, preocupado, ansioso, um misto de emoções”.

1º de agosto de 1992

Depois do esforço da véspera, o dia 1º de agosto, um sábado, finalmente chegou. “Eu acordei mais ou menos 6h30 ou 7h. A pesagem era às 10h. Dei aquela enroladinha, fui verificar meu peso (ele tinha que pesar no máximo 65 quilos). E aí veio a hora da pesagem. Eu subi na balança e pesei 64,980 quilos. Ou seja: 20 gramas abaixo. Eu sabia que era a última vez que iria bater aquele peso, pois já tinha decidido que depois dos Jogos Olímpicos iria mudar de categoria”, conta Rogério.

As competições de judô em Barcelona terminariam no domingo, 2 de agosto. E como até aquele sábado nenhum atleta brasileiro havia subido ao pódio – o campeão olímpico Aurélio Miguel havia perdido nas quartas de final para o húngaro Dmitry Sergeyev – a imprensa brasileira cobrava resultados.

“Quando saí da pesagem, estava com o técnico da Seleção Brasileira, que era o Paulo Wanderlei, hoje o presidente da Confederação Brasileira de Judô. Fomos para o refeitório e na saída tinha uma quantidade enorme de jornalistas querendo entrevistar o Paulo Wanderlei. Ele virou para mim disse: ‘Vai para lá e deixa que eu converso com os jornalistas’. Eles estavam pressionando a comissão técnica brasileira porque já era o penúltimo dia de competições no judô e o Brasil ainda não tinha conquistado medalha. Naquele dia iriam lutar eu e a Patrícia Bevilacqua e na avaliação deles a gente não tinha a mínima chance”, lembra Rogério. “O Paulo me poupou de um momento que me tiraria da minha tranquilidade, da minha concentração, porque eu já estava pronto para a competição. Esse foi um momento que eu me lembro que foi extremamente importante naquele dia”, frisa.

“Eu fui para o quarto, deitei, tentei descansar, descansei até meio-dia e pouco e então fui para o ônibus para ir para o ginásio. Acompetição começava às 14h. Me lembro bem do ônibus. Quando entrei, sentei e ele acelerou eu pensei: ‘Agora não tem mais como fugir'”, continua. “Me lembro de entrar no ginásio, me trocar e ir direto para a área de aquecimento. Procurei ficar suando, porque quando você aquece bem isso te dá tranquilidade. Você joga ali toda a tensão e procurei ficar tranqüilo”.

Feito isso, restava esperar o momento de entrar em ação e, finalmente, realizar o sonho de lutar nos Jogos Olímpicos. Daqui para frente, cabe ao próprio Rogério Sampaio narrar como, 24 anos depois, ele ainda se lembra de cada um dos cinco combates que o transformaram em um campeão olímpico.

Em ação contra o português Augusto Almeida, na estreia dos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992. Foto: reprodução

Rogério Sampaio x Augusto Almeida (Portugal)

“Eu nunca tinha lutado contra aquele atleta, mas sabia que era superior a ele tecnicamente, pois já o tinha visto lutar. Como ninguém me enxergava como favorito, nem meus adversários, para mim foi tranquilo. Eu já era um cara experiente e sabia que pelo fato de ter perdido muito peso eu tinha que procurar manter o ritmo da luta sem deixar o meu batimento cardíaco subir muito. O mais importante no judô não é o tempo de luta. É o quanto o seu batimento cardíaco vai lá em cima e quanto tempo ele se mantém lá. Então consegui manter esse ritmo. Fui lutando com tranquilidade, não dando espaço para ele, não deixando o adversário crescer na luta. Ele foi se sentindo incomodado com a minha movimentação. Então consegui fazer um yuko, que era um ponto médio e hoje é o ponto mínimo, pois naquela época ainda tinha o koka. Fui mantendo o ritmo e ele ainda levou uma punição. Aí, quando tinha uns dois minutos e quarenta, eu o projetei por ippon (com o o-soto-gari). Foi uma luta tranqüila. E tirou o peso da estreia.

“Estavam lá o Aurélio Miguel, o Castropil (Wagner Castropil, à época judoca da Seleção Brasileira, que foi médico da Confederação Brasileira de Judô entre 2001 e 2008 e que hoje atua com medicina esportiva no Instituto Vita na especialidade de ombro e joelho). Eu, o Aurélio e o Castropil temos uma relação de irmão e estavam lá os dois torcendo. Tinha uma quantidade muito pequena de jornalistas do Brasil ali quando eu me classifiquei para segunda luta, contra o coreano”.

Rogério Sampaio x Kim Sang-Moon (Coreia do Sul)

“A segunda luta eu já sabia que seria complicada porque os orientais são atletas de boa movimentação e de muita velocidade. São judocas extremamente perigosos porque têm habilidade para projetar por ippon os adversários. Ele era um adversário canhoto e eu sempre tive mais dificuldade de lutar com os canhotos do que os destros”, recorda.

“Aí começou uma luta dura, muita disputa na pegada, e com mais ou menos um minuto, um minuto e quinze, ele me projetou por yuko. Saí perdendo, o que é sempre perigoso nos Jogos Olímpicos, tamanho o equilíbrio. Continuou a luta, com aquela briga pela pegada, e dali a pouco ele fez novamente um ataque e quase me projetou. A luta foi para o canto, o juiz deu matê (comando de parar o combate) e aí passou como um flash pela minha cabeça. Passou uma coisa assim: ‘Eu não estou lutando bem. Preciso lutar melhor, ser mais agressivo’. Quando voltei para o meu lugar e o juiz deu o comando de reinício, eu já segurei mais agressivo no quimono, caminhei para o lado, fiz o de-ashi-barai e o projetei por koka”, narra.

“Quando eu o projetei, o juiz deu matê. E quando levantei, olhei no olho dele. A sensação que tive me lembro até hoje. Pode ser que eu estivesse errado, mas eu vi o sul-coreano inseguro e surpreso com a minha movimentação e com o fato de eu o ter projetado mesmo que fosse por um ponto menor. Eu vi a insegurança e essa preocupação no olhar dele. Quando a gente levantou e o juiz deu o reinício do combate, continuei com a mesma agressividade. E aí, na troca de pegada, eu consegui aplicar o o-soto-gari e foi ippon, com dois minutos e dez, dois minutos e quinze de luta”.

Rogério Sampaio x Francisco Morales (Argentina)

“Com o Morales eu também nunca havia lutado. Mas já o tinha visto competir. Ele havia sido campeão dos Jogos Pan-Americanos de Havana (em 1991) e era um atleta fortíssimo e competitivo. Mas não era um atleta técnico. Do ponto de vista técnico, eu falo que era até grosseiro. Mas era forte fisicamente. Então, dentro desse modo grosseiro tecnicamente de lutar, era eficiente e perigoso”, conta.

“Foi uma luta duríssima. Eu não consegui projetar o Morales e a luta seguiu empatada, sem punição para ninguém. Aí, com dois minutos e meio, o combate foi para o solo. Fiz um ataque, ele caiu de bruços e fui atrás. Eu dei início a um movimento no solo que tinha por objetivo pegar o estrangulamento com as pernas, que a gente chama de sankaku-jime. Eu fui para fazer esse estrangulamento com as pernas, ele se fechou. Quando se fechou, dei continuidade ao mesmo movimento para pegar a imobilização. E acabei tendo êxito. Encaixei a imobilização e quando ele tentou sair eu encaixei ainda mais. Venci por ippon uma luta dura e para mim foi extremamente importante ter um desgaste pequeno. Eu venci as três primeiras lutas por ippon e pude chegar à semifinal mais tranqüilo e menos desgastado fisicamente”.

Rogério Sampaio x Udo-Gunter Quellmalz (Alemanha)

“O Quellmalz havia sido vice-campeão mundial em 1989, campeão do mundo em 1992 e ali era eu e ele. Tivemos um intervalo de uma hora e meia entre a terceira luta e a semifinal, porque era o momento em que ocorriam as repescagens. Eu fui para a área de aquecimento, deitei lá em uma espreguiçadeira, botei uma toalha no rosto e aí foi uma batalha emocional interna. Tinha um lado que falava assim: ‘Puxa, já está bom, já ganhei três lutas por ippon, se perder vou disputar o bronze, o cara é o campeão do mundo...’. E tinha um outro lado otimista, que falava assim: ‘Não! Você já ganhou dele uma vez (em 1989) e dá para ganhar novamente!’ E então passei por essa batalha. Foi o momento mais duro da minha carreira do ponto de vista emocional”.

“A semifinal ocorre uma de cada vez. E a minha era a segunda. A primeira semifinal era entre o húngaro Jozsef Csak e o cubano Israel Hernandez. O Hernandez era um atleta que eu não queria pegar. Ele era tático, como todo cubano. O atleta tático primeiro entra para te neutralizar. E depois que te neutraliza ele fica esperando o momento em que você vai cometer um erro e ele vai vencer. Eu não queria lutar com ele. E aí digo que um atleta para ser medalhista olímpico ou campeão olímpico tem que ter sorte. Não que você vá conquistar uma medalha de ouro na sorte, porque isso não existe. Mas a sorte, para mim, veio naquele momento. Quando eles entraram, eu estava me aquecendo e vendo a luta. O Hernandez fez um movimento grosseiro no quimono do adversário como se estivesse falando: ‘Eu vou entrar’. E quando ele fez o uchi-mata (golpe que visa desequilibrar o rival para a frente, quando o lutador gira o corpo, encaixa uma perna entre as pernas do adversário, levanta-a e puxa o oponente com os braços sobre o quadril), ele cantou a bola para o húngaro e levou o contra-golpe. Foi ippon e ele perdeu a luta”.

Rogério, em ação e confirmado como o vitorioso diante do alemão Udo-Gunter Quellmalz, na semifinal em Barcelona: triunfo mais difícil da carreira. Foto: reprodução

“Aquela vitória do Jozsef Csak me encheu de ânimo. Olhei para ele e falei: ‘Caramba, aquele húngaro é tudo aquilo que eu queria pegar numa final olímpica’. Porque ele era destro, mais baixo, se movimentava, ou seja, era a minha especialidade de adversário. Então, entrei para a luta contra o Udo Quellmalz agressivo e confiante. E aí, com 20 segundos de luta, ele pisou fora da área de competição e levou uma punição. Na época, a punição por pisar fora equivalia a um yuko. Então, eu saí com um yuko no placar. E veio mais um flash na minha cabeça. Eu sempre fui fraco para segurar resultado. E faltava quase a luta inteira. Então a primeira coisa que me passou foi pensar assim: ‘Faz de conta que está 0 x 0’. E lutei como se estivesse”.

“Foi uma luta duríssima, com um ritmo altíssimo. Com três minutos e meio eu quase o joguei e me lembro que teve uma hora, mais para o final da luta, que o juiz interrompeu o combate para a gente arrumar o quimono. Eu olhei no placar, estava vencendo por yuko ainda com aquela punição, e faltava um minuto e 36 segundos. Minha perna já estava pesada, a mão já não fechava direito no quimono de tão cansado. Aí eu lembrei de uma frase do Aurélio Miguel: ‘Quando você estiver cansado, olhe para o seu adversário e pense que ele também está’. E olhei para o Quellmalz e ele estava ofegante. Estava com os olhos saltados, vidrados, e eu falei: ‘Meu, esse cara está cansado também’. E pensei comigo: ‘Só vou sair daqui morto. Eu não vou entregar esse negócio aqui não. A luta está dura e vai ficar assim até o final’”.

“Hoje, olho para trás e vejo que em uma competição como os Jogos Olímpicos é extremamente importante, fundamental, não fraquejar. A cabeça não pode fraquejar. Se em algum momento passar pela sua cabeça que está difícil, que não vai dar, acabou. O seu emocional fraqueja. Então aquele foi um ponto crucial naquela vitória porque eu não fraquejei”.

A festa pela vitória na semifinal

Com aquele triunfo, o Brasil, pela terceira vez em sua história, tinha um judoca em uma final olímpica. E Rogério não demorou a perceber que já havia feito algo extraordinário. “Quando eu terminei a terceira luta contra o Morales, não tinha quase nenhum jornalista brasileiro ali dentro. Mas quando voltei para a semifinal, tinha uma arquibancada verde e amarela, todos com aquelas camisetas do Banco do Brasil e com o Dartagnan... Eles embandeiraram aquilo lá, tinha banda, tinha não sei mais o quê, e tinha jornalista de tudo o quanto era local do Brasil. Aí foi um choque”, conta Rogério.

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Rogério é abraçado após a vitória na semifinal sobre Udo-Gunter Quellmalz: vaga garantida na decisão em Barcelona. Foto: reprodução

“Eu saí daquela luta e fui para a arquibancada e era aquela festa. Mas eu já saí com o pensamento de que havia uma luta final e que eu tinha que brigar pelo ouro. E ao mesmo tempo o Aurélio já vinha na minha orelha: ‘Vamos lá para o aquecimento! Vamos brigar pelo ouro!’ Então, embora tenha tido toda aquela comemoração e logicamente que fiquei feliz, pois ali eu já tinha conquistado uma medalha olímpica, eu tinha esse sentimento de que dava para brigar pelo ouro. Principalmente quando eu olhava para o meu adversário, que era fortíssimo, mas que o jogo encaixava para mim.”

Rogério Sampaio x Jozsef Csak (Hungria)

“Teve um intervalo de mais ou menos quarenta minutos entre a semifinal e a final. Logicamente, até você sair da semifinal, chegar até a área de aquecimento, acalmar o batimento cardíaco, baixar a adrenalina, leva aí uns dez minutos. E depois veio a final do feminino e a final entre as mulheres tinha uma espanhola, que foi campeã (Miriam Blasco derrotou a britânica Nicola Fairbrother na decisão). O rei Juan Carlos estava lá no ginásio naquele dia, então tinha toda uma segurança e um clima diferente. A gente foi chamado um pouco antes e por isso eu só tive 15 minutos na área de aquecimento”.

“Lá estavam o Paulo Wanderlei, o Aurélio e o Wagner Castropil. E o Castropil estava louco, alucinado. Parecia que era ele quem tinha ganhado a medalha. Acho que a gente tem uma amizade tão de irmão que tenho certeza de que ele sentiu isso. Aí o pessoal botou ele para fora porque ele estava atrapalhando. Ficamos eu, o Paulo e o Aurélio. E a gente traçou uma tática de luta onde eu iria imprimir um ritmo forte desde o primeiro segundo, tentando desgastar o adversário, lutando fechadinho, para não levar ponto no começo, porque em uma final olímpica se você leva um yuko ou um wazari é duro para tirar”.

Na final olímpica de 1992, contra o húngaro Jozsef Csak: triunfo transformou Rogério Sampaio em um dos heróis do esporte brasileiro. Foto: reprodução

“Então, eu saí dali com essa tática. Entrei extremamente agressivo, pressionando, imprimindo o ritmo de luta, e ele foi cedendo. Quando você entra para lutar e só vai sentindo dificuldade frente ao seu adversário, quando você não encontra uma brecha, você vai fraquejando emocionalmente. E eu senti isso. Ele foi se entregando aos poucos. Aí, com três minutos de luta, eu consegui projetá-lo por wazari e a arquibancada veio abaixo, foi aquela comemoração, e foi o primeiro momento em que me desconcentrei na competição e acabei sendo projetado pelo adversário com um koka, embora eu ache que o juiz errou. Eu achei que foi um yuko. Mas o juiz deu koka, o que foi ótimo para mim”, prossegue.

“Mesmo assim eu estava em vantagem. Tanto é que quando eu caio no chão eu faço sinal com as mãos pedindo calma para todo mundo, porque estavam todos em uma gritaria tão grande que estava me atrapalhando. Levantei, me acalmei um pouquinho, e voltei a pressionar o adversário. Mesmo quando você tem a vantagem no placar, se você recua, dá a oportunidade para o cara encostar na luta. E depois para você se impor novamente é duro. Então, quando passou aquele momento de desconcentração, voltei para o mesmo ritmo: fechadinho e pressionando. Consegui projetá-lo por yuko e aí a luta foi se encaminhando para o final e eu não dei mais oportunidade. Ele já estava desgastado fisicamente no final, o que facilitou. Talvez aquela luta final tenha sido uma das mais tranquilas dos Jogos Olímpicos. Não sei se pelo fato de eu já ter entrado com a prata garantida ou pelo próprio modo como me apresentei naquela final”.

Um novo campeão olímpico

Ao final, Rogério Sampaio, perto de completar 25 anos, havia se transformado em um campeão olímpico e tinha escrito seu nome de forma eterna na galeria dos heróis do esporte brasileiro. “Quando o juiz determinou o final da luta, a primeira coisa que pensei foi: ‘Ganhei o torneio!’ E a segunda coisa, muito imediatamente, é lógico, foi pensar no meu irmão, na minha família, nos meus pais, que um ano depois do falecimento do meu irmão, um ano depois de ter uma emoção de muita tristeza, puderam ter uma emoção de extrema alegria. Não que uma coisa apagasse a outra, porque perder um filho nada apaga, nada substitui. Mas atenua. E aquela vitória ajudou a minha família a atenuar a dor”, recorda.

“Aí, foi essa alegria, meu Deus do céu... Cara, eu me preparei muito para aquilo ali. Não foram só aqueles três meses ou aquele último ano em que o meu irmão faleceu. Foi muito tempo de sacrifício, de dificuldade”, ressalta.

Rogério, no topo do pódio dos Jogos de Barcelona: momento histórico para o Brasil. Foto: reprodução

“Eu lutei aquela Olimpíada com um quimono emprestado, porque eu não tinha grana para comprar quimono. Os quimonos que eu tinha eram nacionais, que muitas vezes rasgavam, minha mãe remendava... E todo mundo quer ir para uma Olimpíada com um quimono de qualidade. Eu tinha que dar aula para poder sobreviver. E tinha um aluno chamado Pablo Covas, que era sobrinho do Mário Covas, que também era aqui de Santos. Ele já era atleta de destaque na categoria juvenil e tinha mais ou menos o meu tamanho. E eu pedi o quimono emprestado para ele. Então eu lutei em Barcelona com o quimono emprestado”.

Feliz de Pablo Covas que, depois da façanha de seu professor em Barcelona, ganhou um quimono histórico, correto? Nada disso! “Eu fiquei com aquele quimono e depois dei um quimono zero quilômetro para ele. Nem se ele pedisse eu ia dar”, conta Rogério, às gargalhadas.

“Eu falo que todo atleta olímpico tem uma história de dificuldade e de sacrifício. Se não tem de dificuldade, tem de sacrifício, de superação. E comigo não foi diferente. Por exemplo: essa questão do quimono... O que para alguns seria obstáculo, um motivo para dizer: ‘Poxa, não tenho um bom quimono’, para mim foi mais um passo. Eu pedi emprestado. Nunca me senti diminuído por isso. Mas tem gente que acaba transformando algumas coisas em obstáculo grande. E o que vai chegar mais longe é justamente aquele que aprende a transformar os grandes obstáculos em mais um passo em direção ao seu objetivo, entendeu? Eu olho para trás e vejo isso tudo com muito carinho”, ressalta.

Jogos Olímpicos Rio 2016

No dia 5 de agosto, Rogério Sampaio viverá, mais uma vez, uma emoção olímpica, desta vez como comentarista. E, para ele, esse será mais um momento inesquecível. “Primeiro, sinto uma alegria muito grande de poder ver os atletas do Brasil competindo dentro do nosso país. Tive poucas oportunidades como essa. Naquela época o Brasil nem organizava torneios internacionais de judô. A gente às vezes conquistava alguma coisa no exterior e ninguém via”, recorda.

“Agora os atletas brasileiros vão ter essa oportunidade de competir dentro de casa, diante das famílias, dos amigos... Sinto orgulho pelo Brasil estar organizando um evento como esse. Acho que o Brasil, definitivamente, entrou no circuito internacional de grandes eventos. Nós não podemos, apesar de todas as dificuldades que o Brasil passa hoje, deixar de fazer parte do rol dos países que organizam grandes eventos esportivos. É um grande mercado econômico. Vou participar dos Jogos Olímpicos como comentarista da ESPN. Como foi em Londres (2012), quando eu fiz comentários pela Record dentro do ginásio de competição. A forma que encontrei para continuar participando dos Jogos Olímpicos foi como comentarista. Então me sinto extremamente feliz por estar participando dos Jogos no Brasil, não como atleta, obviamente. Mas vou poder vibrar tanto quanto como se eu fosse”, conta Rogério, que confia em uma participação histórica dos judocas brasileiros no Rio de Janeiro.

Emocionado ao ver a bandeira brasileira ser hasteada no lugar mais alto ao som do Hino Nacional na arena Palau Blaugrana, em Barcelona. Foto: reprodução

“No caso do judô eu estou extremamente confiante. Acho que vamos chegar para brigar por sete medalhas e acho que o Brasil pode sair com umas quatro ou cinco. Mesmo que a gente tropece mais e conquiste três já será um grande resultado. Acho que pela primeira vez a gente está chegando com chances de conquistar mais de uma medalha de ouro. Pode ser que a gente conquiste duas. Estou com essa confiança”, acredita o campeão olímpico.

O valor da humildade

Passado quase um quarto de século daquela conquista em Barcelona, Rogério Sampaio, ao ser perguntado o que é ser um campeão olímpico, deixa uma lição aos futuros heróis dos Jogos Rio 2016 e dos outros que estão por vir:

“Cara, deixa eu falar uma outra coisa para chegar nessa resposta. Uma das coisas mais difíceis quando você é campeão olímpico, e que é uma batalha interior, é você conseguir manter a humildade. Porque todo mundo olha para você e vê uma pessoa insuperável, que conquistou algo que todo mundo quer e poucos conseguem. Enfim, você realizou seu sonho, mas ao mesmo tempo precisa manter a humildade para seguir em frente, não só no esporte, mas na vida, porque você vai conviver com pessoas, amigos, e você tem que continuar agindo da mesma maneira. As coisas mudam à sua volta. Você não pode mudar”.

“Ser campeão olímpico é isso: é alcançar algo que todo mundo quer, mas que é extremamente difícil. É alcançar um sonho que é para poucos. Você se torna referência e isso te traz grande responsabilidade, principalmente em um país como o nosso hoje em dia. E ser campeão olímpico no judô a responsabilidade é maior ainda, porque o judô te cobra uma postura diferenciada, uma retidão, uma correção ímpar. Para mim, ser campeão olímpico significa isso tudo e ao mesmo tempo ser mais um. Eu sei a dimensão daquilo que conquistei, eu sei o significado, mas ao mesmo tempo faz parte da minha história. Eu não vivo todo o dia olhando para aquela medalha e falando: ‘Puxa, sou um campeão olímpico’. Eu tenho orgulho enorme daquilo que consegui, gostaria de ter 20 anos para passar por tudo aquilo de novo, mas passou”.

Luiz Roberto Magalhães – Rededoesporte.gov.br