Revezamento esquenta o inverno na Serra Gaúcha

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Depois de percorrer 22 cidades do Rio Grande do Sul, a chama olímpica entrou em um dos territórios mais badalados do Sul do país, a Serra Gaúcha. Em sua passagem pela região, nesta sexta-feira (08.07), a tocha despertou o charme natural das cidades por onde passou. Traços das colonizações alemã, italiana e portuguesa, além do prazer da boa mesa, tiveram posição de destaque no tour. As gélidas temperaturas de inverno também marcaram presença durante todo o percurso.

As ruelas enfeitadas por canteiros de hortênsias, chocolaterias, vitrines repletas de couro e casas de arquitetura colonial européia se encheram de turistas e moradores. Todos devidamente agasalhados e, volta e meia, um gaúcho desfilava sua bomba de chimarrão. Fazia seis graus quando o comboio apontou nos arredores do Lago Negro, espelho d'água cercado de flores, percorrido por pedalinhos e um dos principais pontos turísticos da região. 

Em sua primeira visita à Serra Gaúcha, a professora paulistana Neuza Tápias deu sorte: cruzou com a chama em um dos passeios que escolheu fazer. Se não tivesse ocorrido durante as férias, o encontro teria outra data e local. Quando passar pela capital paulista, o símbolo olímpico percorrerá o bairro de Neuza. "Temos que prestigiar. Como educadora, temos que passar isso para os nossos jovens".

Símbolo dos Jogos passa pelo Lago Negro, em Gramado. Foto: Ivo Lima/ME

Vestidas com as cores do Brasil, as estudantes Maria Carolina Perini, de 15 anos e Carolina Rossi, de 16, decidiram incrementar o visual e pintaram o rosto com uma maquiagem inspirada nas cores da bandeira brasileira. "Todo mundo aqui estava bem empolgado, queria ir para rua, se fantasiar", afirmou Maria Carolina. "Muita gente ignora o fato de ser brasileiro e não se orgulha do lugar onde vive, mas acho importante resgatar isso e valorizar onde a gente mora", destacou a amiga.

A poucos metros dali, o professor Renato Moreira, de 66 anos, aguardava para marcar seu nome na história do revezamento. Ele não esperava sozinho: ao seu redor, se enfileirava a legião de meninas cujas vidas ele transforma diariamente. Moreira criou um projeto para levar o futebol de salão a meninas da periferia de São Leopoldo, também no Rio Grande do Sul. Ele começou com 12 meninas inscritas. Hoje, oferece bolsa integral de estudos, alimentação e moradia a 36 delas, que já se sagraram tricampeãs gaúchas sub 14 e campeãs na categoria sub 17. "Levar a tocha é o reconhecimento que tive do meu trabalho", destaca. "Ele é um pai para nós, um mestre", afirma a aluna e jogadora Alice de Oliveira, de 16 anos.

Revezamento passa pela Catedral de Pedra, em Canela, um dos pontos mais visitados da cidade na Serra Gaúcha. Foto: Ivo Lima/ME

Costelada

Minutos depois de se passar por Gramado, a tocha voltou à cena na vizinha Canela. No ponto de partida, no Parque do Palácio, uma churrascaria oferecia nacos de costela de chão, assada em buracos na terra por horas a fio, conforme a tradição local. Sobre uma mesa, cuias de chimarrão fumegante. Por toda parte, homens montados a cavalo, mulheres e crianças com trajes típicos de prendas.

O curto trajeto foi encerrado de forma apoteótica. De uma das janelas da imponente igreja de Nossa Srª de Lurdes, popularmente conhecida como Catedral de Pedra, o gaúcho Sidnei Gross, Papai Noel do tradicional Natal da cidade, fez rapel com a tocha nas mãos. "Você pensa que é mais um rapel, mas quando todos levantam as mãos junto, percebe que é diferente. É como estar nas Olimpíadas", disse ele, logo após descer a estrutura de 65m de altura. Antes de seguir viagem, o fogo olímpico ainda fez uma parada no Parque do Caracol e sua cascata de 115m.

Próxima parada

A chama olímpica passou ainda por Canoas, Esteio, Novo Hamburgo, Nova Petrópolis e Caxias do Sul. Neste sábado, encerra o roteiro pelo Rio Grande do Sul, ao percorrer Bento Gonçalves e Torres, e retorna à Santa Catarina. Em sua segunda passagem pelo estado, a chama visitará Sombrio, Araranguá e fechará o dia em Criciúma.

Mariana Moreira, de Gramado e Canela (RS).