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Vela

20/08/2015 12h23

Aquece Rio

Pela “vontade de participar”, medalhistas olímpicos atuam como voluntários no evento-teste de vela

Alex Welter, ouro em Moscou 1980, está na comissão de regatas da classe Nacra 17. Clínio de Freitas, bronze em Seul 1988, é membro da equipe de segurança

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Ficar de fora da primeira edição dos Jogos Olímpicos em casa não era uma opção para Alex Welter e Clínio de Freitas. Os tempos de atleta ficaram para trás para os dois medalhistas olímpicos brasileiros, mas isso não significa ausência no Rio 2016. A solução encontrada por eles para não perder a oportunidade foi fazer a inscrição para atuar como voluntários.

“Eu me inscrevi pelo portal, participei da entrevista. Não me identifiquei como medalhista. Fui como um brasileiro querendo participar desta festa que é um momento único”, explicou Welter, que ganhou a primeira medalha de ouro da vela brasileira em Jogos Olímpicos, junto com o sueco naturalizado Lars Sigurd Bjorkstrom, na classe Tornado, em Moscou-1980.

“Se não dava para participar velejando, eu vim de voluntário”, disse Clínio, bronze em Seul-1988 na classe Tornado, junto com Lars Grael. “Eu me inscrevi no site. Quando você tem um contato com algum esporte, eles te fornecem um código na inscrição para que eles te encontrem mais fácil”, acrescentou.

Clínio de Freitas: do pódio olímpico em Seul 1988 a voluntário no Rio 2016. Foto: Carol Delmazo/brasil2016.gov.br

Os dois foram selecionados para a atuação no Aquece Rio Regata Internacional de Vela, evento-teste da modalidade que teve início em 15 de agosto e prossegue até o próximo sábado (22.08) na Marina de Glória, no Rio de Janeiro. Clínio havia participado do evento-teste de 2014 ainda velejando pela classe Nacra 17, junto com a esposa Cacau Swan. Mas o casal decidiu parar de competir no fim do ano passado. Em 2015, a função de Clínio como voluntário é na segurança das raias. Ele fica a cerca de 300 metros da área de competição, para impedir que pessoas de fora interfiram nas regatas.

“A gente coloca as boias e fica ali orientando. A pessoa que está de fora não sabe o que está acontecendo. Pode atrapalhar a regata e interferir no resultado’, explicou. Mas, segundo ele, nem sempre é fácil. “Aqui a gente conseguiu contornar, mas alguns já tentaram cruzar. Navio não sai nem do porto, mas os barcos menores saem. Você chega com um bote e tem que convencer a pessoa do que você está falando, mas não sou autoridade naval. Em última instância, você fala que vai chamar a Capitania.”

O papel de Alex Welter é diferente. Ele faz parte da comissão de regatas da classe Nacra 17 e agora vê a competição sob um outro ponto de vista. “Colocamos a raia, que é demarcada por boias e por barcos, para que os barcos (dos atletas) possam fazer a competição. Fazemos também a sinalização. Sempre conheci a comissão de regatas como velejador. Agora estou em contato estreito com um juiz internacional da Nova Zelândia, e também com o chefe da comissão de regatas da Nacra. Estou aprendendo muito e estou vendo a regata de outro ângulo”, contou.

Alex Welter participa do evento-teste de vela como parte da comissão de regatas da classe Nacra 17. Foto: Carol Delmazo/brasil2016.gov.br

Conquistas olímpicas

Welter é de uma época em que os velejadores não eram profissionais. Mas isso não o impediu de fazer história, trazendo para casa o primeiro dos seis ouros do Brasil da vela em Jogos Olímpicos. Era também o retorno de um brasileiro ao lugar mais alto do pódio após 24 anos, quando Adhemar Ferreira da Silva sagrou-se bicampeão olímpico no salto triplo, em 1956.

“Na nossa época, éramos amadores, éramos proibidos de ter vínculo com alguma empresa, exceto os atletas dos países da ´Cortina de Ferro´, que sempre utilizaram o esporte de uma forma até de propaganda de governo. Os competidores do leste europeu se dedicavam de uma forma bem mais intensa, porque o governo propiciava isso pra eles”, contou.

Mas ele e Lars Sigurd Bjorkstrom foram imbatíveis na classe Tornado, mesmo em uma disputa em pleno leste europeu, nas águas de Tallin, atual capital da Estônia. “A vivência que nós tivemos lá foi o auge. Nada como você ganhar a Olimpíada. Foi muito marcante também até a presença do pessoal que estava trabalhando lá como voluntário e isso também de certa forma me inspira para estar aqui”, disse.

Clínio e a esposa, Cacau Swan, aposentaram-se das competições no fim do ano passado. Foto: Ricardo Pedebos/Divulgação

Clínio também ganhou a medalha de bronze na classe Tornado, oito anos depois. Ele contou que foram três alegrias reunidas na mesma experiência na Coreia do Sul, em 1988. “É sempre uma lembrança agradável. Quando a gente se classificou pra a Olimpíada, foi uma primeira emoção. Lá, era um pouco difícil porque era longe, (a vela estava) em uma cidade a 400 quilômetros de Seul. Eu consegui participar do desfile de abertura, foi o máximo. E completei indo para o pódio. Marquei três pontos inesquecíveis”, brincou. Clínio também disputou os Jogos de Barcelona-1992 como atleta da Tornado junto com Lars Grael, foi técnico em Atlanta-1996 e atuou como dirigente em Sydney-2000.

Velhos amigos

Para a atuação no evento-teste, Clínio teve que deixar o consultório de dentista de lado por uma semana. O mesmo ocorre com Alex, que é engenheiro mecânico e tem uma empresa que lida com maquinas para a indústria. Além do prazer em participar da competição e do ciclo olímpico, o evento-teste é uma oportunidade de rever amigos que o esporte proporcionou a eles ao longo dos anos.

“Conheço muita gente, colegas muito antigos, até internacionais. Vira e mexe eu cruzo com pessoas da minha geração que hoje estão como chefes de equipe ou como técnicos. Foi um encontro fantástico porque eu não tinha visto esses velejadores há décadas”, disse Welter, cuja presença também trouxe lembranças a atletas ainda em competição, como Robert Scheidt.

“É muito bom ter o Alex aí, meu grande amigo do Yacht Club Santo Amaro e tenho certeza de que ele vai contribuir muito para a Nacra”, elogiou. Welter foi um dos velejadores que inspirou o bicampeão olímpico brasileiro.  “Em 1980, eu tinha sete anos e estava no Yacht Club Santo Amaro quando ele chegou com a medalha de ouro no carro de bombeiro. Eu pedi autógrafo para ele”, lembrou.

Segundo Clínio, o time de medalhistas olímpicos brasileiros em torno da organização das competições de vela é ainda maior. “É super legal. Aqui tem mais alguns medalhistas olímpicos. O Nelson Falcão (bronze em Seul na classe Star) é do Comitê Rio 2016. O Bruno Prada (prata na Star em Pequim-2008 e bronze na mesma classe em Londres-2012) também vai entrar como voluntário. Todo mundo quer participar”, disse.

Saindo do foco

A polêmica questão da qualidade da água, que costuma tirar o foco da competição da vela, entristece os velejadores. “Lamento. A água está ótima, mas é um risco. Felizmente tem estado uma maré bem limpinha”, disse Clínio de Fretias.

“Para nós brasileiros é uma preocupação grande. Muitas vezes a situação da poluição é deprimente, e não só da Baía de Guanabara. É um motivo de decepção com a realidade. Por outro lado, falando especificamente da vela e das condições de sediar uma Olimpíada na Baía de Guanabara, eu não vejo problema”, disse.

Eles torcem por um evento de sucesso em 2016 e, assim como no evento-teste, não querem ficar de fora. “É a primeira vez na história que os Jogos serão no continente Sul-Americano, nesta cidade maravilhosa cheia de sol e de vento. Vou torcer muito pra ser bárbaro. Sinto que é uma coisa que está dando certo no Brasil”, encerrou Alex Welter.

Carol Delmazo - brasil2016.gov.br