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06/01/2016 16h22

Antidopagem

Passo a passo: como será feito o controle de dopagem nos Jogos Rio 2016

Consultor internacional da ABCD, Luis Horta detalha o processo da análise das amostras e explica como os atletas são monitorados também fora das competições

Ao longo dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, estima-se que serão realizadas 5.500 análises de amostras para controle de dopagem. Os exames serão guiados por uma lista de substâncias proibidas elaborada pela Agência Mundial Antidopagem (WADA, em inglês), em vigor desde 1º de janeiro de 2016. A lista em português pode ser acessada no site da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD).

Para esclarecer o funcionamento do processo, o brasil2016.gov.br conversou com o doutor em medicina esportiva e consultor internacional da ABCD, o português Luis Horta. O especialista detalhou passo a passo o que já está sendo feito e o que está previsto para os Jogos Olímpicos em termos de controle de dopagem.

 

Para Horta, é importante reforçar que doping não significa necessariamente um resultado adverso em uma análise de amostra. “O Código Mundial Antidopagem fala de outras violações. Uma delas é o resultado adverso. Mas há outras, como se recusar a fazer o controle e estar em posse de substâncias proibidas”, cita o médico.

Além disso, o controle não é feito apenas durante as grandes competições, como os Jogos Rio 2016. “Há diversas fases. Uma delas está a decorrer e começou no ano passado. Tanto as federações internacionais quanto as autoridades de controle de dopagem de cada país estão intensificando os controles fora de competição de seus melhores atletas. É um processo que vai se intensificar ao longo de 2016”, explica Horta.

A partir do momento em que as Vilas Olímpicas e Paralímpicas são abertas, a jurisdição passa para o Comitê Olímpico Internacional (COI) e para o Comitê Paralímpico Internacional (IPC, em inglês).

Da coleta à análise

A partir do momento em que o atleta é notificado de que foi selecionado para o controle de dopagem, o oficial de controle de dopagem ou o escolta que fez a notificação o acompanha ao longo de todos os procedimentos.

A primeira etapa é a coleta, em que o atleta tem o sangue ou a urina coletados e preenche um formulário. Até que o material recolhido seja lacrado, o atleta tem por obrigação mantê-lo sob observação constante.

Após o lacre, as amostras são transportadas sob um rigoroso procedimento que garante a segurança e a manutenção das características do material coletado até que chegue a um laboratório credenciado pela Agência Mundial Antidopagem. No caso dos Jogos Rio 2016, será o Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), reacreditado pela WADA em 2015. O LBCD contará com uma equipe formada por diversos especialistas na área, tanto do Brasil quanto do exterior.

Em caso de resultado positivo

Durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, o COI e o IPC são os responsáveis pela gestão dos resultados das análises. Caso haja um resultado positivo, os comitês seguem alguns procedimentos específicos. “O LBCD envia o resultado para o comitê, que tem uma comissão médica própria e vai analisar o caso. Se estiver tudo nos conformes, vai notificar o atleta e o comitê olímpico nacional do país”, detalha Luis Horta.

Após o resultado positivo, o atleta tem um prazo de 24h a 48h para se pronunciar se quer ou não realizar a contraprova. “Se a contraprova confirmar o resultado da amostra A, o atleta é ouvido pelo COI ou pelo IPC em uma audiência para apresentar sua defesa”, diz o especialista português.

Tomada a decisão do comitê, o atleta, em caso de confirmação de dopagem, tem o resultado das competições invalidado e é obrigado a deixar imediatamente a Vila Olímpica ou Paralímpica. “Depois, a comissão médica do comitê manda o caso para a federação internacional, que faz o resto do processo todo”, acrescenta Luis Horta, citando a responsabilidade da sanção ao atleta pego no controle de dopagem.

Sistema ADAMS

Para manter os principais nomes do esporte sob constante controle, as federações internacionais de cada modalidade definem um grupo alvo de testes. Estes atletas fazem parte do Anti-Doping Administration and Management System (ADAMS), sistema que reúne informações como a localização do atleta, os testes realizados e o passaporte biológico.

De acordo com o doutor Luis Horta, os atletas precisam informar onde estarão a cada trimestre e um período diário em que poderão ser testados. “Para cada dia, eles têm que informar um período de 60 minutos em que estarão disponíveis para os testes, entre 5h e 23h”, detalha Horta, ressaltando que são os próprios atletas que determinam o horário.

Em situações normais, as visitas dos oficiais de controle de dopagem só podem ocorrer no horário determinado pelo atleta. No entanto, em caso de investigações e informações de inteligência que levantem a suspeita de que um ou mais atletas estejam se dopando, há a possibilidade de inspeções surpresa.

Além dos atletas selecionados para o grupo alvo de testes, as autoridades de controle de dopagem de cada país podem também criar seus próprios grupos, acrescentando o nome de outros atletas. “Neste momento a ABCD tem o seu grupo alvo e as obrigações são idênticas”, revela Luis Horta.

Autorização de Uso Terapêutico (AUT)

Em casos de atletas que precisem fazer tratamentos médicos que envolvam alguma das substâncias proibidas pela WADA, entra em cena a Autorização de Uso Terapêutico (AUT). A medida permite aos atletas usar o medicamento que contenha a substância proibida, desde que siga os critérios do padrão internacional estabelecido pela WADA.

Entre as regras exigidas, o atleta precisa provar que a medicação em questão é necessária para tratar um problema crônico e que ameace sua integridade física, que seja improvável que ele tenha uma melhora de performance, que não haja tratamento alternativo e que o problema não seja originário do uso de substâncias proibidas.

“Cada organização antidopagem tem que ter uma Comissão de Autorização de Uso Terapêutico. Ela é formada por cinco médicos, todos com experiência em medicina do esporte. Os atletas enviam uma solicitação por formulário à organização, que repassa à comissão. A comissão, de acordo com o padrão internacional, vai definir se autoriza ou não a AUT”, explica Luis Horta.

Vagner Vargas – brasil2016.gov.br