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Geral

24/06/2016 23h03

Revezamento da Tocha

Tocha tem dia especial no Pantanal e na Chapada dos Guimarães

Mato Grosso se despede do tour em dois dos principais destinos de turismo ecológico do país

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Luís Carlos, 15 anos, conduziu a tocha de canoa num dos trechos alagados que representam o Pantanal. Foto: Ivo Lima/Brasil2016.gov.br

No cardápio de belezas do Mato Grosso, há de tudo um pouco. O estado abriga, a 90 km da capital Cuiabá, a porta de entrada para a porção norte do Pantanal, com sua vegetação alagadiça e seu desfile de incontáveis espécies animais. A 130 km da capital, fica a cidade de Nobres, uma versão menos domesticada de Bonito (MS). Mais perto da cidade, seguindo pela MT-251, paira um dos planaltos mais espetaculares do país: a Chapada dos Guimarães. E foi na sua trajetória de viajante que a chama olímpica visitou, nesta sexta (24.06), alguns dos principais destinos de turismo ecológico do país.

A missão olímpica começou quando o sol raiou. Passavam poucos minutos das 6h quando o nadador Felipe Lima já se posicionava diante de um nascer do sol em meio a uma discreta revoada de pássaros. O céu azul se abriu na visita da chama ao Pantanal matogrossense.

Por lá, ele e outros quatro condutores fizeram conduziram a chama de barco numa várzea onde os jacarés dormiam sob a água, numa cavalgada e durante a condução de uma boiada - com direito ao toque de berrante para anunciar a chegada da tocha na condução.

Revezamento Tocha - Pantanal Mato Grosso

Em um refúgio de araras azuis, embrenhado na Transpantaneira, rodovia que conecta a cidade de Poconé à planície inundada, Felipe Lima esperava para conduzir a tocha sobre um mirante. Cuiabano, o atleta é bicampeão pan-americano e terceiro no mundial na prova de 100m peito, e já foi semifinalista olímpico, em Londres, 2012.

"A tocha é o espírito olímpico que todo atleta quer ter dentro de si". Não foi a primeira vez que ele exerceu o papel de condutor. Em 2007, quando os Jogos Pan-Americanos foram realizados no Rio de Janeiro, Felipe foi convidado para ser guardião da chama em Cuiabá. "Desta vez foi uma experiência nova de carregar no Pantanal, diante do nascer do sol espetacular. Vai ficar marcado na minha vida", afirmou.

Ele entregou a chama ao poconeense Luís Carlos Macedo, de 15 anos. "Fui escolhido porque nasci e fui criado na fazenda. Sou bom aluno e quando não tenho transporte, vou de bicicleta", afirmou. O adolescente embarcou em uma canoa e passeou com o símbolo esportivo por um lago em que jacarés tomam sol às suas margens à medida que a temperatura aumenta, ao longo do dia.

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Patrícia da Silva, formada em educação física, conduz a boiada com a tocha. Foto: Ivo Lima/Brasil2016.gov.br/ME

Amazona pantaneira

Foi no lombo de uma égua branca sem sela e com a tocha erguida que Patrícia da Silva mostrou o poder da amazona no Pantanal matogrossense. Criada numa família de três filhas, ela e as irmãs aprenderam a lidar com o campo desde cedo. Acorda às 5h e muitas vezes passa o dia à base de guaraná ralado. No Pantanal, são poucas as mulheres que atuam como Patrícia. Por lá, garante, não há distinção de gênero quando o assunto é tocar a boiada.

Formada em educação física, a matogrossense, que gosta de jogar handebol, garante que todo pantaneiro é um esportista nato. "No Pantanal você é praticamente um atleta. O pantaneiro tem a resistência e a força de qualquer bom atleta pelo esforço físico e o condicionamento exigido diariamente."

Foi no portal do Pantanal que a rainha da cavalhada Aline Ribeiro passou por entre cavaleiros mouros (de vermelho) e cristãos (de azul) para a despedida da tocha olímpica na deslumbrante área do Mato Grosso que já foi tema de filmes e de uma das novelas de maior sucesso do país.

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Rainha da Cavalhada, Aline Ribeiro passa com a tocha no Portal do Pantanal. Foto: Ivo Lima/Brasil2016.gov.br

Chuvisco na Chapada

À tarde, a chama seguiu para a região da Chapada dos Guimarães. Um dos municípios mais antigos do estado, com 17 mil habitantes, a região tem altitude elevada e clima ameno. Localizado no centro geodésico da América do Sul (ponto equidistante do continente), o lugar esbanja biodiversidade e coleciona cachoeiras, formações rochosas incomuns, sítios rupestres e comunidades tradicionais. "É um lugar riquíssimo, em natureza e de diversidade cultural ", salientou Fernando Xavier, guia de turismo e coordenador regional do Instituto Chico Mendes (ICMBio).

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A cantora Tetê Espíndola e o fotógrafo Izan Petterle durante a passagem da tocha na Chapada dos Guimarães. Foto: Ivo Lima/Brasil2016.gov.br

O revezamento por lá teve início no destino mais conhecido da região, a cachoeira Véu de Noiva. A queda tem 86 metros de altura e sua águas se debruçam sobre um vale profundo e verde, cercado por um paredão de arenito.

Quem desceu a escadaria de pedra em direção ao mirante da cachoeira foi a cantora e compositora campograndense Tetê Espíndola, de 62 anos. Como nasceu antes da divisão dos dois estados - que ocorreu em 1979 -, ela se considera dos dois lugares. Há 40 anos, mudou-se para a casa de um irmão em Cuiabá e descobriu a Chapada. "É um lugar que me inspira e que quero que continue assim, reservado, preservado, lindo, para minha inspiração e para o bem do planeta", destacou. O lugar foi eternizado em uma música composta por ela e por Carlos Rennó, chamada Chuvisco na Chapada.

Revezamento Tocha - Chapada dos Guimarães

National Geografic

O envolvimento de Izan Petterle com a Chapada dos Guimarães vai além da fotografia: como o de Tetê, passou a ser de vida. Foi da cantora que ele recebeu a chama olímpica e fez o beijo das tochas com a cachoeira do Véu da Noiva ao fundo. Os dois, a propósito, são amigos, o que fez Izan se lembrar do dia em que estavam juntos na Cidade de Pedra - outro visual deslumbrante por onde a tocha também passou. Tetê começou a cantar e um grupo de araras que moram nos paredões da Chapada sobrevoou a cantora, que desenvolveu um trabalho em que imita o som dos pássaros.

Fotógrafo da National Geografic desde 2000, o gaúcho trabalha em São Paulo e mora na Chapada. Veterinário de formação, se tornou fotógrafo profissional em 1998. Explora e documenta aspectos da cultura e da geografia da América Latina e, nos últimos anos, começou a fotografar com um aparelho de celular. A forma, apesar de restritiva, o permitiu assumir um novo olhar da fotografia e permitir trabalhar em meio à invisibilidade. "Na verdade eu não fotografo a Chapada. Eu fotografo a minha viagem aqui, as minhas experiências oníricas e metafísicas."

Neste sábado (25.06), a chama olímpica viajará para o Mato Grosso do Sul. O roteiro começará bem cedo, em outro ponto turístico tradicional do cerrado brasileiro: a cidade de Bonito. Campo Grande receberá o revezamento da tocha à tarde.

Mariana Moreira e Hédio Ferreira Júnior, de Poconé e do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (MT)