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27/01/2015 11h10

Os Jogos do Rio têm tudo para ser um sucesso absoluto, diz embaixador britânico no Brasil

Em entrevista ao brasil2016.gov.br, Alex Ellis ressalta a transformação e o legado deixados pelos Jogos de 2012 para Londres e aposta na organização brasileira para 2016

Embaixada do Reino Unido
Embaixada do Reino Unido#Alex Ellis: "Nunca houve uma parceria tão próxima entre governos de dois países e de suas cidades-sede como agora"
Alex Ellis: "Nunca houve uma parceria tão próxima entre governos de dois países e de suas cidades-sede como agora"
Mesmo com a experiência de já ter sediado duas edições olímpicas, em 1908 e 1948, a cidade de Londres foi alvo de desconfiança por parte de alguns setores locais ao ser escolhida para receber os Jogos de 2012. Uma das alegações era de que a capital britânica jamais seria capaz de superar a organização dos Jogos de Pequim, realizados em 2008. O desafio foi superado e a cidade tornou-se a primeira do planeta a sediar três vezes o evento.

As vantagens conquistadas para a população continuam a ser contabilizadas. Da revitalização de áreas abandonadas até o incremento no turismo, que fez com que, em 2013, Londres ultrapassasse Paris pela primeira vez como a cidade mais visitada do mundo, diversos foram os legados deixados pelos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Para o embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, algumas das mais importantes conquistas têm a ver com a mentalidade da população: o trabalho voluntário, por exemplo, que estava em queda, cresceu cerca de 40% após o evento. Além disso, a visão da sociedade em relação aos deficientes físicos também foi positivamente afetada.

Em entrevista ao brasil2016.gov.br, o representante britânico comenta diversos legados proporcionados pelo maior evento esportivo do mundo. E aposta: “O Rio realizará Olimpíadas fantásticas.”

Confira a entrevista com o embaixador Alex Ellis

Como era a expectativa do país antes da realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2012?

Tínhamos sediado as Olimpíadas pela última vez em 1948. Foram quase 55 anos de espera até 2012. Muitas gerações não tinham experimentado a sensação de receber todas as nações olímpicas e paraolímpicas em casa. Quando Londres foi nomeada como cidade-sede, em 2005, muita gente se animou e festejou a notícia. Por outro lado, houve também reações negativas e comparações com outras cidades-sede. Alguns setores da sociedade, principalmente a imprensa britânica, diziam que Londres não poderia superar Pequim, mas no final, provamos que estavam errados nas suas suposições. Inevitavelmente houve muita ansiedade, inclusive sobre transporte, na reta final das preparações, antes da abertura oficial. É normal e compreensível.

Essa visão inicial foi transformada após a realização dos Jogos?

Apesar dos nervos antes do evento, o país inteiro viu e participou do sucesso dos Jogos de Londres. É impossível negar que eles foram benéficos para a cidade, a população, o comércio e para o Reino Unido. Os Jogos foram memoráveis e as pessoas reconhecem isso.

Os Jogos Paraolímpicos contaram com um grande público em todas as provas. Isso surpreendeu?

De certa forma surpreendeu, pois foram quebrados todos os recordes de bilheteria até então. Cerca de 2,7 milhões de ingressos foram vendidos, sendo que a maioria dos eventos se esgotou. Também quebramos todos os recordes relacionados à transmissão pela televisão e de repercussão em mídias sociais.  Porém, o que mais me surpreendeu não foi o sucesso de bilheteria, mas, sim, o impacto que os Jogos Paraolímpicos tiveram na percepção dos britânicos sobre as pessoas com deficiência.

Poderia citar um exemplo?

Uma pesquisa realizada pela British Paralympic Association (BPA) revelou que os Jogos Paraolímpicos tiveram um efeito profundo nas crianças de todo o Reino Unido: cerca de sete entre dez crianças pesquisadas disseram que os Jogos mudaram a forma como elas enxergavam os deficientes físicos. Essa é uma grande conquista e mostra como um evento esportivo pode ser transformador para a sociedade. Nesse sentido estabelecemos um acordo desde 2011 entre o governo do Reino Unido, o Comitê Paralímpico Brasileiro e o Ministério do Esporte para que nossos jovens atletas paraolímpicos e os brasileiros pudessem competir juntos. Em setembro do ano passado, os atletas brasileiros participaram dos Jogos Escolares de Sainsbury´s, na Inglaterra. Já em novembro, foi vez da delegação britânica participar das Paraolimpíadas Escolares do Brasil, sendo a única delegação estrangeira.

Além dessa mentalidade, quais outros legados percebidos na cidade e no país?

John Huet/COI
John Huet/COI#"O trabalho voluntário em geral, que vinha diminuindo desde 2005, foi muito incentivado e cresceu cerca de 40% após os Jogos", conta o embaixador
"O trabalho voluntário em geral, que vinha diminuindo desde 2005, foi muito incentivado e cresceu cerca de 40% após os Jogos", conta o embaixador
Temos várias áreas em que o legado de Londres é explorado, entre elas o crescimento econômico – Londres provou que as cidades-sede podem sim crescer economicamente. Os Jogos renderam 14,2 bilhões de libras em investimentos e parcerias comerciais ao Reino Unido e atingiram a sua meta em dois anos, sendo que o objetivo inicial era atingir 11 bilhões de libras em quatro anos. Outro aspecto foi a oportunidade de usar o espírito olímpico e paraolímpico para unir as comunidades na crença de que o esporte pode unir as pessoas para melhorar a sociedade. Pudemos contar com voluntários dentro das arenas, os Game Makers (foto), mas também nas ruas auxiliando turistas, os Team London Ambassadors. O trabalho voluntário em geral, que vinha diminuindo desde 2005, foi muito incentivado e cresceu cerca de 40% após os Jogos.

Em relação ao turismo, como os Jogos influenciaram a visita de novas pessoas à cidade?

O turismo em Londres, que já era alto, não foi nada subestimado e recebeu uma grande atenção desde o início do planejamento. O resultado foi excelente: em 2013, Londres teve um aumento de 1,3 milhão de turistas internacionais, batendo um recorde histórico e ultrapassando Paris pela primeira vez, ao se tornar a cidade mais visitada do mundo.

Algumas áreas da cidade, como a do Parque Olímpico, foram revitalizadas para as competições. Em que isso alterou a realidade das comunidades locais?

Tanto para Glasgow em 2014 (Commonwealth Games) quanto para Londres em 2012, foi elaborado um plano de legado para trabalhar o uso das estruturas olímpicas pela comunidade local, auxiliando no desenvolvimento de novos atletas, estimulando ações profissionalizantes e educativas, e proporcionando mais um espaço de lazer e esportes para a comunidade local. Especialmente no leste de Londres, onde está o Parque Olímpico, o resultado foi excelente (foto abaixo). Para citar algumas das melhorias: 3.000 árvores plantadas, remoção de mais de 15 toneladas de lixo de rios, canais e parques, mais de 7.000 m² de novos jardins e a revitalização de mais de 50 locais abandonados. Essa mudança na qualidade de espaços que, anteriormente, não eram atrativos auxiliou ainda outros setores, como turismo, infraestrutura e saúde. Além disso, os 2.800 apartamentos usados como hospedagem para os atletas nas Olimpíadas de Londres 2012 foram transformados em apartamentos residenciais.

London Legacy Development Corporation

Como o senhor analisa a preparação do Rio de Janeiro e do Brasil para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos?

Fiquei extremamente impressionado com o sucesso das organizações da Copa do Mundo. No fim, o Brasil mostrou que realiza com excelência eventos de grande porte. Os Jogos do Rio têm tudo para ser um sucesso absoluto e os atletas britânicos estão muito animados com o que já viram da cidade em visitas até hoje. Estou convencido de que o Rio realizará Olimpíadas fantásticas. As paisagens das áreas olímpicas são de beleza incomparável, nenhuma cidade-sede pode competir com o Rio nesse quesito. Medalhistas das Olimpíadas de Londres, como Pete Reed (remo), Luke Patience (vela) e Tom Daley (saltos ornamentais), já passaram pelo Rio participando de visitas técnicas e todos ficaram maravilhados com a beleza.

Que experiências Londres pode transmitir para o Rio de Janeiro nesta reta final de preparação?

Temos uma parceria ótima com o governo brasileiro, o governo do estado, a prefeitura do Rio e com o Comitê Organizador Rio 2016 para colaborarmos com os Jogos do Rio. Desde 2009, mais de 40 departamentos do governo do Reino Unido e do Brasil têm se engajado em trocas relacionadas às Olimpíadas, contando com ao menos 160 missões internas e externas, workshops, seminários e eventos. Em 2012, o governo brasileiro, em parceria conosco, criou o “Programa de Observadores Governamentais dos Jogos Olímpicos Londres 2012”, em que 300 participantes foram a Londres com objetivo de estudar e analisar todas as ações desenvolvidas. Após os Jogos, passamos o bastão oficialmente para o Brasil e temos realizado diálogos olímpicos e paraolímpicos com regularidade, ocasiões em que os organizadores de Londres compartilham sua experiência e seu legado com os organizadores dos Jogos Rio 2016. Nunca houve uma parceria tão próxima entre governos de dois países e de suas cidades-sede como agora.

Ana Cláudia Felizola – brasil2016.gov.br