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24/05/2019 11h55

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O desafio de Zé Roberto para ter time competitivo sem sobrecarregar estrelas

Técnico da seleção de vôlei tenta criar estratégias para manter a equipe com qualidade em todos os torneios sem perder fisicamente o tripé composto por Natália, Tandara e Gabi

O pacote era o típico "perde-perde". Ao fim da segunda partida da Liga das Nações de vôlei feminino, contra a República Dominicana, o técnico José Roberto Guimarães amargou, além da derrota por 3 sets a 1, a sensação de que estava exigindo demais das articulações e do físico de uma de suas atletas de referência. A ponteira mineira Gabi, de 24 anos e 1,80m, foi intensamente demandada na partida disputada no ginásio Nilson Nelson, em Brasília (DF).

"A Gabi deu mais de 100 saltos. Isso é sempre complicado. Além de ficar mais fácil marcar nosso time, ela fica sobrecarregada", comentou o treinador, mais aliviado ao fim da vitória diante da Rússia por 3 sets a 0, a última que o Brasil disputou em solo nacional pela competição.

Diante das russas, a distribuição foi mais diversificada. Gabi, também protagonista nas recepções, anotou nove pontos no jogo, os mesmos da central Mara. A também central Amanda anotou outros sete e a oposta Paula Borgo saiu de quadra como maior pontuadora (17). A seleção fechou o terceiro dos 15 jogos da fase de classificação do torneio com saldo de duas vitórias e uma derrota, na quinta posição, no limite das cinco equipes que se garantem na fase final.

"Fico feliz quando tenho oportunidade de puxar a responsabilidade e sei que nos momentos decisivos serei acionada, mas a cara do Brasil é o conjunto, esse é o nosso diferencial e é isso que o José Roberto tem batido na tecla com a gente. Sabemos que precisamos buscar isso", disse Gabi. A ponteira ganhou holofotes extras em função da contusão de outras duas referências nacionais: a ponteira Natália e a oposta Tandara, campeãs olímpicas em Londres 2012, que estão em fase final de recuperação e podem ser usadas nas semanas finais da Liga das Nações. O quebra-cabeças é parte da rotina de um treinador, mas ganhou ingredientes extras, segundo o técnico, com a mudança de horizontes para o exterior de Natália e Gabi nos próximos meses.

José Roberto: cobertor curto entre a alta performance e a preservação física das atletas. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br
"A Natália e a Gabi vão jogar fora, na Turquia. Isso é preocupante. Aqui no Brasil, temos um cuidado maior na preparação, na fisioterapia, procuramos sempre os reforços musculares. Lá eles não estão muito preocupados. Eles pagam. Se não der certo, trazem outra atleta"
José Roberto Guimarães

"A Natália e a Gabi vão jogar fora do país, na Turquia. Isso é preocupante. Muitas das nossas atletas que jogaram fora se machucaram. Aqui no Brasil, temos um cuidado maior na preparação, na fisioterapia, fazemos questão de o médico estar presente. Procuramos sempre os reforços musculares. Lá eles não estão muito preocupados. Eles pagam. Se não der certo, trazem outra atleta", comparou. Na Turquia, além da Liga Nacional, as atletas jogam a Champions League, a Copa da Turquia e, com alguma frequência, o Mundial de Clubes.

Na expectativa de criar um antídoto para a perspectiva de intensa exigência física, a comissão técnica do Brasil arma uma operação para monitorar, mesmo a distância, as atletas. "A nossa ideia é estar em contato permanente com os treinadores e preparadores físicos para evitar desgastes excessivos. Vamos jogar na Turquia durante a Liga das Nações e já temos um bom relacionamento com os dois treinadores dos clubes, o Giovanni Guidetti e o Marco Aurélio. Fica mais fácil", comentou o treinador.

Velocímetro do saque

Enquanto aguarda o retorno de suas estrelas e trabalha nos bastidores para mantê-las em forma para o Pré-Olímpico e, principalmente, para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, o técnico, único no Brasil a ter três ouros olímpicos no currículo, tenta alcançar a melhor relação entre bloqueio e defesa e, principalmente, na qualidade dos serviços da seleção brasileira.

"A gente precisa evoluir nesses quesitos. Contra a República Dominicana, não conseguimos sacar acima de 65km/h. Isso é baixo. No treinamento, a gente busca 70km/h, 72km/h. Isso permite tentar criar algum problema na recepção adversária, coisa que não fizemos naquela ocasião. Isso dificulta para nós mesmos no sistema defensivo e permite às adversárias crescerem. É onde temos de crescer e evoluir", afirmou Zé Roberto.

Gabi: função de destaque no sistema de recepção e no ataque da seleção. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

Testes e experiências

A temporada de 2019, segundo o treinador, permite um número maior de avaliações de atletas mais jovens. Com Liga das Nações, Jogos Pan-Americanos, Sul-Americano e Pré-Olímpico no roteiro, há mais chances de dar "rodagem" aos novos valores. "Sempre depende da quantidade de torneios por ano. Quando tem dois, não há como dar chance. Este ano, conseguimos projetar uma gama maior de oportunidades. Esse é o ano para ver a maioria delas em ação", disse.

"Fico feliz quando tenho oportunidade de puxar a responsabilidade e sei que nos momentos decisivos serei acionada, mas a cara do Brasil é o conjunto, esse é o nosso diferencial"
Gabi, ponteira

A ideia da comissão técnica é levar ao Pan e ao Sul-Americano um time jovem, independentemente de resultado. "Para ganhar teríamos de mudar a estrutura e forçar jogadoras que não podem ser forçadas o tempo todo. Precisamos preservá-las. Se a gente desgastar a Gabi, a Natália, a Tandara, que hoje são um tripé importante, a gente não vai tê-las no momento mais crítico, em que vamos precisar", disse o técnico, em referência aos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.

No caminho para o Japão, a competição mais estratégica para José Roberto é o Pré-Olímpico, que será realizado em agosto. O Brasil está no Grupo D da competição, ao lado de República Dominicana, Azerbaijão e Camarões. Os times jogam em turno único e o vencedor carimba a vaga. "Tóquio é a prioridade, o momento crítico em que queremos todas 100%, mas primeiro temos de nos classificar", afirmou o treinador.

Laboratório e cautela

Até por esse cenário, a Liga das Nações é vista como um laboratório, em que Natália, Tandara e a central Carol Gattaz, também em fase final de recuperação de lesão, serão preparadas de forma cautelosa. "A Natália já fez a primeira movimentação com bola. Depois começamos a colocar ela para saltar e só lá na frente, para jogar. Quero ela pronta no Pré-Olímpico. A Tandara projetamos para a etapa da Turquia da Liga das Nações (quinta semana). Já está trabalhando com bola, deslocamentos e tudo o mais. Só não está saltando. A Carol é quem está mais avançada. Pode ser que apareça primeiro", listou o treinador.

Enquanto espera, a seleção embarca para a Europa para a segunda semana de confrontos. Em Apeldoorn, o Brasil jogará contra a anfitriã Holanda, além de Polônia e Bulgária, entre 28 e 30 de maio. "É um grupo do mesmo nível ou mais forte que esse primeiro. Depende de como eles vão encarar essa fase da Liga. Será que a Holanda vai com time completo? Quem está me surpreendendo é a Polônia. Já ganhou o torneio de Montreaux no último fim de semana e venceu dois jogos nessa fase que passou. É um time que vem embalado e confiante. E a Bulgária a gente sempre teve dificuldade de jogar contra, seja no masculino ou no feminino. Não sei te explicar o porquê".

RESULTADOS DA PRIMEIRA SEMANA

Brasil 3 x 0 China
Brasil 1 x 3 República Dominicana
Brasil 3 x 0 Rússia

PRÓXIMOS COMPROMISSOS

Holanda (Apeldoorn)

28 de maio - Holanda x Brasil - 14h30
29 de maio - Polônia x Brasil - 11h30
30 de maio - Brasil x Bulgária - 14h30

Estados Unidos (Lincoln)

4 de junho - Brasil x Alemanha - 18h30
5 de junho - Coreia do Sul x Brasil - 18h30
6 de junho - Estados Unidos x Brasil - 21h30

Japão (Tóquio)

11 de junho - Japão x Brasil - 7h10
12 de junho - Brasil x Tailândia - 3h40
13 de junho - Brasil x Sérvia - 3h40

Turquia (Ancara)

18 de junho - Brasil x Itália - 10h
19 de junho - Bélgica x Brasil - 10h
20 de junho - Turquia x Brasil - 13h

Gustavo Cunha - rededoesporte.gov.br