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Novatas buscam espaço na seleção que defende o título mundial de handebol
Enquanto Alexandra Nascimento, Duda Amorim, Fabiana Diniz e companhia conquistavam o inédito título mundial para o Brasil, em 2013, na Sérvia, outras atletas estavam bem longe, em casa, acompanhando pela televisão. “Na final, eu colocava o travesseiro na cara. Quando acabou o jogo, eu gritava, chorava, senti como se estivesse lá com elas”, recorda Tamires Araújo. “Só de olhar pela TV já dava nervosismo, imagina estando lá”, compara Bruna Almeida.
As duas fazem parte da nova remessa de atletas que agora integram a seleção feminina de handebol e que estão convocadas para o Mundial da Dinamarca, no próximo mês. Das 16 que buscarão o bicampeonato para o Brasil entre os dias 5 e 20 de dezembro, seis não estavam na conquista de dois anos atrás.
Em Brasília para a disputa do Torneio Quatro Nações, último preparatório para o Mundial, Bruna vive apenas a segunda fase de treinos com a seleção adulta. “Minha primeira convocação foi em 9 de agosto”, conta, de cor. Aos 19 anos, ela é a mais nova da equipe. Foi em 2011 que teve início a ascensão meteórica da jovem de Campestre (MG), antes destaque nos campeonatos mineiros e escolares. Ainda com 14 anos, a menina foi vista por um técnico de São José, que quis apostar no potencial da jogadora.
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“Foi quando comecei a ver o handebol com outros olhos, como profissão, que eu tinha que levar mais a sério porque não era só lazer”, explica a armadora direita. Para migrar para a nova cidade e se dedicar ainda mais ao esporte, Bruna recebeu apoio dentro de casa. “Minha mãe gostou desde o início que eu jogasse porque em Campestre não tinha muito o que fazer”, relembra. Assim, o handebol tornou-se o caminho para que a adolescente ficasse longe das ruas e ainda auxiliasse a família financeiramente.
Bruna tem quatro irmãs e sua mãe trabalha em colheitas de café. “Ela trabalha por temporadas, na época do café, então acabo sustentando. Se não jogasse handebol, provavelmente estaria na rua ou trabalhando com ela na colheita, mas ela sempre me apoiou a estudar e ser alguém na vida”, conta a jogadora, que hoje recebe salário pelo time de São José e a Bolsa-Atleta, do governo federal, além de pagamentos pelos períodos com a seleção brasileira.
Atuando pela equipe paulista, a atleta ganhou visibilidade, conseguiu um lugar na seleção brasileira juvenil e disputou importantes competições, como os Jogos Olímpicos da Juventude, na China, e o Mundial Juvenil, na Macedônia, no ano passado. Aos poucos, atraiu a atenção de Morten Soubak, técnico da equipe adulta, que a levou para o time mesmo sem que Bruna passasse antes pela seleção júnior.
Ainda impressionada com a convocação e em disputar o próximo Mundial, a jovem não esconde a emoção e o nervosismo. “É uma sensação muito boa, vai ser uma experiência que vou levar para o resto da vida. Dá um frio na barriga só de pensar em estar lá”.
Sonho adiado
Apenas dois anos mais velha do que Bruna, Tamires Araújo, de 21, também comemorou muito ao ser escolhida para seu primeiro Mundial. “Eu estava esperando a convocação e achando que não ia sair nunca. O coração já estava a mil. Quando fui chamada, parecia que tinha saído um peso das costas. Senti como se já estivesse na Dinamarca”, conta. A pivô fez os primeiros treinamentos com a equipe adulta em 2012 e, no ano seguinte, participou do Sul-Americano.
O sonho da vaga para o Mundial da Sérvia, no entanto, foi interrompido por uma fratura na mão esquerda durante um amistoso. Operada e afastada das quadras por três meses, Tamires acabou sem a convocação. Mesmo assim, depois da final que rendeu o título ao Brasil, ela teve uma certeza. “Assim que o juiz apitou, eu falei: ‘Vou estar no próximo’.”
Com o elenco principal, a jogadora viveu ainda o deslumbramento de jogar ao lado de suas referências no esporte. “Era tudo muito novo, estar com as meninas que eram e ainda são um exemplo para mim. Hoje faço parte disso com elas”, comemora. “Elas me apoiaram muito, me passaram tudo aquilo que elas também receberam quando chegaram. Às vezes com puxão de orelha ou uma fala mais dura, mas sempre pensando na minha evolução”, analisa Tamires.
Depois de disputar o Mundial da Dinamarca, a jogadora, que atualmente defende o Györi Audi ETO KC, na Hungria, já terá outro foco. “As Olimpíadas são um sonho. Só vão 14, geralmente duas por posição, mas esse é meu objetivo maior”, avisa. Além do salário do clube, Tamires recebe a Bolsa-Atleta e integra o Programa de Alto Rendimento da Força Aérea Brasileira (FAB).
Mescla de talentos
Com peças tão jovens e outras já experientes na seleção, o técnico Morten Soubak analisa como irá compor o time a cada partida no Mundial. “Temos que pensar em colocar todo mundo na quadra porque vai ser um torneio longo”, explica. “Elas estão aqui porque merecem. O trabalho é integrar as mais novas da melhor forma possível. Claro que não dá para esperar a mesma performance de quem entrou agora, como a Bruna, que está em sua segunda fase. Vamos devagar, com paciência, mas ela vai ter o tempo dela também”, avalia.
A seleção não teve descanso durante a semana de treinos em Brasília. “Está sendo fisicamente puxado e duro. Não demos folga. Está sendo desgastante, mas vamos entrar para o torneio desta sexta para colocar em prática um ano inteiro de planejamento”, afirma o treinador. O Brasil estreia no Torneio Quatro Nações às 19h15 desta sexta-feira, contra a Eslovênia. No sábado, o adversário será a Argentina, antes da partida contra a Sérvia, no domingo. Os jogos serão no ginásio Nilson Nelson, em Brasília.
Programação – Torneio Quatro Nações
Sexta-feira (27)
19h15 - Brasil x Eslovênia
21h - Sérvia x Argentina
Sábado (28)
13h50 - Brasil x Argentina
15h50 - Sérvia x Eslovênia
Domingo (29)
10h - Argentina x Eslovênia
12h - Brasil x Sérvia
Local: Ginásio Nilson Nelson
Endereço: Setor SRPN - trecho 1 - Brasília (DF)
Ingressos: As entradas são trocadas por 1kg de alimento não perecível na bilheteria do ginásio, das 10h às 18h, sujeito a disponibilidade. O limite de troca é de cinco ingressos por pessoa para cada rodada.
Ana Cláudia Felizola – brasil2016.gov.br