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Geral

31/05/2018 13h08

Cochabamba 2018

Nova geração da natação "inflaciona" concorrência e fecha campanha com 17 ouros

Para técnicos, dirigentes e atletas, base enviada à Bolívia é símbolo de uma promissora "virada de página" na capacidade de renovação qualificada da modalidade. Foram 31 pódios

Jogos Sul-Americanos Cochabamba 2018

Qual é o melhor termômetro para medir a renovação de uma equipe de natação? São os resultados? Em Cochabamba, os 20 integrantes do time júnior do Brasil acumularam 31 medalhas, 17 delas de ouro. Um domínio completo do quadro de medalhas da competição. O segundo lugar ficou com a Colômbia, que trouxe um time experiente e ficou com 23 pódios, sete de ouro.

A avaliação passa pela relevância dos atletas no cenário internacional? Quatro dos 20 conquistaram espaço na delegação absoluta convocada para o Pan Pacífico, que será disputado no Japão, em agosto. Outros quatro vão disputar os Jogos Olímpicos da Juventude, em Buenos Aires, em outubro.

A análise exige marcas representativas? O time que veio à Bolívia tem um recordista sul-americano, caso de Guilherme Costa, dono das melhores marcas do continente nos 800m e nos 1.500m. reúne talentos precoces, como Gabrielle Roncatto, dona de quatro ouros e uma prata em Cochabamba e que já teve o gosto de megaevento nos Jogos Rio 2016, aos 17 anos, no revezamento 4 x 200m livre.


O prisma exige variedade? A nova safra inclui representantes de destaque no time masculino e no feminino, em provas de velocidade e de fundo, e nos quatro estilos. É por enxergar avanços em todas essas frentes que os dirigentes não escondem o otimismo para definir a qualidade do elenco.

"Essa garotada vem para realmente dar uma virada de página no que alguns chamavam de falta de renovação. Mesmo muito jovens e inexperientes, chegaram aqui e demonstraram uma maturidade muito grande"
Gustavo Otsuka

"O objetivo é sempre aumentar a nossa base. E esse grupo é uma massa muito boa que temos, e inclui vários outros que não estiveram aqui e podem estar no time principal. Quanto mais abrirmos esse leque para dar experiência a atletas que mostram ambição de finais e de buscar medalhas em mundiais, pan e olimpíadas, é o que a gente quer", disse o técnico da seleção, Alberto Pinto da Silva.

"Minha avaliação é a melhor possível. Essa garotada vem para realmente dar uma virada de página no que alguns chamavam de falta de renovação. E isso me enche de orgulho, principalmente pelo fato de serem muito jovens e inexperientes. Mesmo assim, chegaram aqui e demonstraram uma maturidade muito grande, principalmente com as adversidades. A altitude influencia demais. Com toda a modéstia, acho que os resultados seriam ainda melhores se não fosse a altitude", afirmou Gustavo Otsuka, chefe da delegação de natação na Bolívia.  

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Os efeitos da altitude foram sentidos por muitos dos atletas na natação. Foto: Cochabamba2018.bo

Cadê o ar?

A altitude de fato foi uma barreira na natação em Cochabamba. A equipe de enfermeiros e voluntários precisou trabalhar bastante, principalmente em provas de média e longa distância. A final dos 400m medley, no último dia de competições, foi o principal exemplo. Dos sete que largaram, três precisavam de atendimento médico, com balão de oxigênio, transporte de atletas em macas, uso de cadeiras de roda e cobertores.

Um deles foi o brasileiro Bruce de Almeida. Depois de liderar com folga a prova nos dois primeiros estilos, nitidamente sentiu os efeitos da altitude, foi perdendo posições, chegou em quarto e precisou inclusive de atendimento hospitalar após a prova.

"Eles mostraram, acima de tudo, que são guerreiros, que não desistem, que insistem mesmo diante de grandes adversidades", afirmou Otsuka, que puxa um outro dado para enfatizar o que considera um novo período nos esportes aquáticos. "Nos nossos brasileiros infantis e juvenis, batemos recordes de inscrições. O infantil teve 700. No juvenil, 600. Isso mostra que a natação brasileira está se oxigenando novamente".

Novo baiano

"É essencial cultivar os novos talentos. Para nós, essa é uma oportunidade incrível para sonharmos com Olimpíadas em 2020, 2024, 2028"
Breno Correia

O baiano Breno Correia, de 19 anos, é um dos representantes dessa "oxigenação". Mesmo sentindo os efeitos da altitude, saiu da Bolívia com quatro medalhas na bagagem, duas delas conquistadas na última jornada de competições: um ouro nos 100m livre e uma prata no revezamento 4 x 100m livre.

"Foi uma ótima iniciativa levar os atletas novos para uma competição importante. É essencial cultivar os novos talentos. Para nós, essa é uma oportunidade incrível para sonharmos com Olimpíadas em 2020, 2024, 2028 e assim por diante", afirmou o atleta do Pinheiros (SP), que também foi ouro nos 4 x 200m livre e prata no 4 x 100m medley.

Breno Correia com o título dos 100m livre. Foto: Cochabamba2018.bo

Rumo a Buenos Aires

Outra que leva excesso de bagagem para casa é Rafaela Raurich, de 17 anos. Além da prata nos 200m livre, ela integrou todos os revezamentos nacionais que terminaram em primeiro (4 x 100m livre, 4 x 200m livre e 4 x 100m medley). Responsável por fechar a prova de quatro estilos no último dia de competições, ela saltou quase um segundo atrás da adversária colombiana e fez uma emocionante chegada para garantir o ouro de número 17 para a delegação nacional.

"Todas as meninas já tinham tido outras provas antes, então estava todo mundo cansado, e cada uma deu o melhor de si para conseguirmos pegar esse ouro", afirmou. Completaram o time brasileiro no revezamento Ana Carolina Vieira, Fernanda de Goeij e Clarissa Rodrigues. 

"Essa nova geração está vindo com tudo. Fiquei muito contente de representar o Brasil e tenho certeza de que ainda vamos ter muitas outras competições juntos", afirmou. Raurich é uma das quatro do grupo de Cochabamba que marcará presença nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Buenos Aires. As outras são suas companheiras de revezamento Ana Carolina Vieira e Fernanda Goeij, além de André Calvelo, que conquistou três medalhas nos Jogos Sul-Americanos

A impressão de Raurich tem respaldo no discurso do presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, Miguel Carlos Cagnoni. "A ideia foi justamente dar rodagem para a garotada. E foi uma competição boa porque eles tiveram de enfrentar dificuldades extras, caso da altitude, que dá uma canseira maior. Mesmo com outras equipes completas, eles foram muito bem. O objetivo era justamente fazer com que eles pegassem essa experiência e começassem a incomodar o pessoal de cima", disse. Dos 20 atletas da natação na Bolívia, 18 recebem a Bolsa Atleta, do Ministério do Esporte.

Gustavo Cunha, de Cochabamba, na Bolívia - rededoesporte.gov.br