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Tenis de mesa

25/04/2019 11h50

Budapeste 2019

No Mundial das zebras, Ma Long não dá brechas e elimina Calderano nas oitavas

Atual bicampeão mundial e ouro olímpico, chinês mostrou diante do brasileiro a versatilidade que faz dele um ídolo da modalidade

Mundial de Tênis de Mesa 2019

Hugo Calderano fez tudo o que estava no script. Sacou a maioria das vezes no posicionamento adequado. Usou seu forte backhand na paralela o quanto pôde. Saiu para a trocação de ataques com a habilidade de sempre. Incomodou o adversário com sua conhecida recepção de backhand com jeito de ataque (batizada de Chiquita no jargão do tênis de mesa) ou então com saídas bem curtas. Ganhou o primeiro set por 11/8 e pressionou muito o rival na segunda parcial até o placar de 8/8.

A partir daquele instante, no entanto, apareceu na arena central do Hungexpo a versatilidade do adversário. Do outro lado da mesa nas oitavas de final do Mundial de Tênis de Mesa de Budapeste, na Hungria, estava o chinês Ma Long. Depois de fechar com dificuldade a segunda parcial em 11/8 e igualar os sets em 1 x 1, ele ligou o que os atletas chamam de "Modo Hard".

Ma Long se prepara para o saque: Calderano segurou bem o chinês nos dois primeiros sets. Foto: Abelardo Mendes Jr./ rededoesporte.gov.br

Atual bicampeão mundial individual, ouro nos Jogos Olímpicos Rio 2016, vencedor de mais de 25 etapas do circuito internacional e soberano na liderança do ranking entre março de 2015 e fevereiro de 2018, Ma Long adotou uma postura "sufocante". Tudo o que Hugo tentava tinha resposta com intensidade ainda maior, fosse no forehand ou no backhand, no ataque ou no contra-ataque. Com isso, Ma Long fechou a terceira parcial em 11/1, a quarta em 11/3 e selou o resultado com 11/8, em 45 minutos de jogo.

"Foi um jogo difícil. Consegui jogar muito bem nos dois primeiros sets, botei um pouco de pressão nele, mas ele é um jogador muito forte. Quase não comete erros. Quando ele ganhou o segundo set, acho que relaxou um pouco e aí o nível dele cresceu bastante. A exigência necessária para eu manter esse tipo de nível é muito grande e não consegui me manter no mesmo patamar. Mas acho que foi um bom jogo e uma boa competição para mim", avaliou Calderano.

 Consegui jogar muito bem nos dois primeiros sets, botei um pouco de pressão nele, mas ele é um jogador muito forte. Quase não comete erros. Quando ele ganhou o segundo set, acho que relaxou um pouco e aí o nível dele cresceu bastante
Hugo Calderano

A análise de Hugo é similar à de seu técnico, o francês Jean-René Mounie. "O Ma Long é o melhor jogador do mundo e, provavelmente, o melhor de todos os tempos. Não ganhou duas vezes o Mundial e foi ouro nos Jogos Olímpicos à toa, mas acredito que o Hugo conseguiu fazer dois sets de muito alto nível. Foi uma briga tática boa. O Hugo resolveu bem o jogo com bolas curtas e a esquerda dele na paralela atrapalhou bastante o Ma Long. O problema é que ele fez 200% de esforço nesses dois sets enquanto o Ma Long fez 100%. Isso faz diferença. Quando passou essa fase, ele mal conseguia respirar com a intensidade que o Ma Long impôs, mas fico satisfeito pelo jeito que começou bem o jogo e conseguiu fechar", disse.

A campanha de Calderano foi superlativa. Em sua quarta edição de um Mundial individual, o atleta carioca, de 22 anos, chegou pela primeira vez à fase de oitavas de final. No caminho até o encontro com Ma Long, deixou para trás o argentino Horacio Cifuentes (100º do ranking), o japonês Kazuhiro Yoshimura (50º) e o indiano Sathiyan Gnanasekaran (28º).

Atual número sete do ranking da ITTF, ele quebrou um jejum de 32 anos sem atletas brasileiros entre os 16 melhores no torneio. Antes dele, apenas Claudio Kano, em 1987, na Índia, e Ubiraci Rodrigues da Costa, o Biriba, na China, em 1961, haviam chegado ao mesmo patamar. 

"Não posso dizer que fico satisfeito, porque eu sempre quero ir além, mas foi uma boa competição. Sei que tenho capacidade de enfrentar os melhores. Só é muito difícil, ainda, manter a regularidade e a consistência. Tenho de melhorar bastante nesse aspecto", afirmou o brasileiro.

A partir do terceiro set, ataques de Ma Long tiveram efeito devastador. Foto: Abelardo Mendes Jr./ rededoesporte.gov.br

Para o treinador do atleta, a principal qualidade de Hugo foi ser capaz de apresentar performances cada vez melhores diante de adversários mais qualificados. "O Hugo começou a competição sem conseguir propor o melhor, teve vários erros em relação ao ritmo do jogo. Mas o que gostei bastante é que, quanto maior o nível, melhor ele jogou. Isso para mim é um sinal importante. São poucos os jogadores que têm essa capacidade. Hoje o nível do Ma Long ainda é melhor que o do Hugo. Temos de voltar para casa e trabalhar, trabalhar e trabalhar", disse Jean-René.

Um trabalho que já tem várias escalas na agenda de médio prazo. Hugo pretende tirar alguns dias para descansar, mas, já em 25 de maio, disputa a final da Bundesliga, a concorrida Liga Alemã. A equipe dele, o Ochsenhausen, está na decisão contra o Saarbrucken. Este ano, com protagonismo de Hugo, o clube já levou o título da Copa da Alemanha. "Depois disso, vou ter um período na Ásia, nos abertos da China, Japão e Austrália. Em seguida, os Jogos Pan-Americanos", afirmou Hugo, em referência ao megaevento esportivo de Lima, que será disputado de 26 de julho a 11 de agosto. 

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O sul-coreano An Jaehyun veio do qualifying, é o número 157 do ranking, eliminou três top 30 e está entre os oito melhores. Foto: Abelardo Mendes Jr. /rededoesporte.gov.br
"O que gostei bastante é que, quanto maior o nível do jogo, melhor ele jogou. Isso para mim é um sinal importante. São poucos os jogadores que têm essa capacidade"
Jean-René Mounie, técnico de Hugo

Zebras em profusão

Ma Long não deu espaço para o talento de Calderano, mas o Mundial de Budapeste chega à fase de quartas de final repleto de surpresas. Se na quarta-feira (24.04) o número 2 do mundo, o chinês Xu Xin, caiu diante do francês Simon Gauzy, 34º, nesta quinta-feira (25.04) foi a vez de o número 1 do ranking, Fan Zhendong, atual vice-campeão mundial, ser eliminado pelo compatriota chinês Liang Jingkun, 9º da listagem. Na sequência, o sul-coreano Lee Sangsu, número seis do mundo e bronze no Mundial de 2017, foi batido pelo sueco Mattias Falck, 16º.

E, numa das eliminações mais sentidas pela imprensa japonesa, o fenômeno Tomokazu Harimoto, número quatro do mundo aos 16 anos e cotado para o pódio nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão, caiu diante do sul-coreano An Jaehyun, de 18 anos, apenas o número 156º no ranking. A campanha de An Jaehyun no Mundial é digna de nota. Ele veio do qualifying, em que ganhou três partidas até chegar à chave principal. Estreou no Mundial contra o número 14 do ranking, Wong Chun Ting, de Hong Kong, e venceu por 4 a 0. Deixou para trás o talentoso Truls Moregard, da Suécia, por 4 a 2 na segunda rodada. Bateu o austríaco Daniel Habehson (29º) na sequência e, nas oitavas, superou Harimoto por 4 sets a 2.

"Acho que isso é muito bom para o tênis de mesa mundial. É uma abertura para que outros atletas e países possam chegar também às fases finais. Teremos pela primeira vez uma final com um não chinês depois de 16 anos. Isso é muito bom para o esporte e mostra como a concorrência é alta. Mesmo os melhores têm problemas para chegar às finais", disse Calderano.

O filtro que definiu os oito melhores deixou a disputa restrita ao eixo Europa e Ásia, com três chineses, dois sul-coreanos, um japonês, um francês e um sueco. Ma Long, que venceu Hugo, encara o compatriota Lin Gaoyuan, atual número três do mundo, por uma vaga na semifinal. Quem triunfar duela contra o vencedor do confronto entre Liang Jingkun e o japonês Koki Niwa. Ma Long ocupa atualmente a 11º posição do ranking porque no ano passado deixou o circuito por um tempo por lesões e para assumir a função de pai. No outro lado da chave, os sul-coreanos An Jaehyun e Jan Woojin fazem outra disputa doméstica para encarar, na semifinal, o vencedor do duelo entre o sueco Mattias Falck e o francês Simon Gauzy.

Ao todo, o Brasil trouxe oito atletas para o Mundial de Budapeste e saiu da competição com algumas marcas importantes. Sete dos oito integrantes da delegação chegaram à primeira rodada da chave principal, um marco inédito para o país. Além disso, na chave principal masculina, o Brasil integrou um seleto grupo de países com cinco atletas, ao lado de China, Japão, Alemanha, Coreia do Sul e Suécia.

Galeria de fotos (imagens disponíveis para download em alta resolução e uso editorial gratuito. Crédito: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br)

Mundial de Tênis de Mesa 2019

 

Gustavo Cunha, de Budapeste, na Hungria - rededoesporte.gov.br