Nathalie Moellhausen leva o Brasil ao primeiro título mundial de esgrima

Atualizada em 19.07

Aos 33 anos, Nathalie Moellhausen conduziu a esgrima brasileira a um patamar inédito nesta quinta-feira, 18.07. Numa competição com nada menos que 188 concorrentes de 73 países, a italiana naturalizada brasileira conquistou o título mundial da categoria espada, na competição disputada em Budapeste, na Hungria. É a primeira medalha do país na história da modalidade em mundiais adultos,

Nathalie: ouro em Budapeste é o primeiro da história da esgrima nacional em mundiais adultos. Foto: Flávio Florido/Exemplus/COB

"Eu acho que foi como uma mágica eu ter conquistado esse Mundial. Eu perdi meu pai ano passado e cheguei a pensar em parar com a esgrima. Ele sempre me disse que a vida é mágica. Sempre me dizia para nunca desistir. O que aconteceu aqui é que não desisti, em hora alguma, porque queria mostrar para ele que podia"

Nathalie Moellhausen, campeã mundial de esgrima 

A final, extremamente equilibrada, foi diante da chinesa Sheng Lin, 13ª no ranking mundial da Federação Internacional de Esgrima. A brasileira, que chegou à competição como a 22ª da listagem, abriu vantagem de dois pontos na primeira das três parciais de três minutos, mas a adversária igualou. O empate em 12/12 no tempo convencional levou a decisão ao ponto de desempate. Em menos de 20 segundos do tempo extra, Moellhausen saiu da postura defensiva para um contragolpe e fez o ponto que lhe valeu o ouro.

Pouco depois de conquistar o título, Nathalie concedeu uma entrevista emocionada. No ano passado, ela perdeu o pai, que sempre considerou uma referência importante em sua trajetória esportiva. "Eu acho que foi como uma mágica eu ter conquistado esse Mundial. Eu perdi meu pai ano passado e cheguei a pensar em parar com a esgrima. Ele sempre me disse que a vida é mágica. Sempre me dizia para nunca desistir. O que aconteceu aqui é que não desisti, em hora alguma, porque queria mostrar para ele que podia. Isso é para ele", disse.

Nathalie também citou uma motivação que tirou de uma mensagem do presidente da Federação Internacional de Esgrima, o russo Alisher Usmanov. "Ele me escreveu falando do segredo dele para ter sucesso. E esse segredo passava por confiança, modéstia, calma e paciência. Eu sou uma jogadora de cinco toques, por isso adicionei mais um segredo aqui, que é a coragem. Foi esse o meu segredo hoje".

A atleta citou, ainda, a relação com o Brasil e o quanto ela queria conquistar um título para selar a parceria. "O time brasileiro e os brasileiros em geral são os melhores torcedores. Nos Jogos Rio 2016, foi como se eu estivesse num estádio de futebol. Foi incrível. O time brasileiro é jovem e espero ajudar a desenvolver a esgrima no Brasil e ser um exemplo, uma referência", afirmou. "Eu não parei depois dos Jogos Olímpicos porque queria fazer um resultado para o Brasil, mostrar para o Brasil que estou aqui para eles, não para ter um caminho fácil para ganhar, como alguns chegaram a dizer", afirmou.

Pódio do Mundial de Budapeste, com Nathalie em primeiro lugar. Reprodução de TV

Maratona de 12 jogos

A caminhada da atleta canhota na competição foi uma verdadeira maratona que se estendeu desde a segunda-feira, 15.07. Nathalie iniciou a competição no Grupo 6 e deixou para trás as seis adversárias da chave: Eliana Lugo (Venezuela), Paria Mahrokh (Irã), Vladislava Andreyeva (Cazaquistão), Tamara Chwojnik (Argentina), Sin Yan Kaylin (Hong Kong) e Violetta Khrapina, da Rússia.

Classificada em primeiro lugar no Grupo 6, a brasileira chegou à chave principal, com as 64 melhores. Superou, na estreia do mata-mata, a polonesa Renata Knapik-Miazga, por 15/12. Já entre as 32 do mundo, ignorou que a chinesa Mingye Zhu entrou na competição como a nona melhor do mundo e fez 15/10.

Nas oitavas de final, duelo contra a italiana Albert Santuccio (29ª do ranking), e vitória pela diferença mínima: 15/14. Nas quartas de final, Nathalie superou a holandesa Lis Rottler-Fautsch por 11/10, no ponto de desempate.

Ali, a brasileira já havia feito história. Já tinha garantido a primeira medalha do Brasil em um Mundial adulto de esgrima. Mas Nathalie foi além. Na semifinal, eliminou a terceira colocada do ranking mundial: superou Vivian Man Wai Kong, de Hong Kong, por 15/11, e chegou à inédita decisão da competição para garantir o topo do pódio. Alem de vivian Man Wai, o outro bronze ficou com a ucraniana Olena Kryvytska.

Currículo expressivo

Nathalie Moellhausen é nascida na Itália, filha de mãe brasileira com pai alemão. Tem dupla cidadania e, antes de competir pelo Brasil, a partir de janeiro 2014, defendia a Itália. Experiente, Moellhausen já tinha no currículo uma medalha de ouro por equipes, quando defendeu a Itália no Mundial da Turquia, em 2009, e representou o país europeu nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.

Pelo Brasil, foi medalha de bronze no individual e por equipes nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em 2015, no Canadá, e representou o país nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Na ocasião, flertou com a medalha, ao ser derrotada nas quartas de final e terminar entre as oito melhores.

A esgrima é história antiga na vida de Nathalie. Os primeiros movimentos na modalidade foram aos cinco anos de idade, em Milão, na Itália, depois que integrantes da federação local fizeram uma demonstração em sua escola. A brincadeira ganhou ares de seriedade a partir dos nove anos, quando ingressou numa academia para treinar.  "Segure sua espada como você segura um passarinho. Não tão forte que sufoque ele, mas com a força suficiente para não deixar ele voar", cita em suas redes sociais, numa referência ao mestre de esgrima Lafaugere. 

Com fluência em italiano, inglês, francês, espanhol e português, Nathalie encara o esporte como a ponta de seu estilo de vida. "Eu uso a minha espada para tocar o mundo", escreve em seu perfil no Instagram. Artista, empresária e modelo fotográfico, está sempre a procura de dietas e treinamentos que ajudem no condicionamento mais apropriado de seu corpo para todas as atividades a que se dedica. 

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