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Geral

07/04/2016 16h35

Entrevista

Ministro detalha preparação olímpica do Brasil a correspondentes estrangeiros

Ricardo Leyser comentou o andamento das obras, a venda de ingressos, as metas do Brasil, os investimentos esportivos e respondeu questões sobre crise, saúde, segurança e mobilidade

Se o caldeirão que concentra os ingredientes dos Jogos Olímpicos de 2016 contempla, no Rio de Janeiro, uma reformulação urbanística e uma aposta em instalações economicamente racionais, a repercussão país afora é vista como chance de aprimorar a qualidade das estruturas e equipamentos em todas as regiões e de dar aos atletas de alto rendimento condições de preparação similares às das principais potências. Foi este o duplo conceito defendido pelo ministro do Esporte, Ricardo Leyser, durante entrevista com correspondentes internacionais de jornais de vários países, como Inglaterra, França, Holanda, Japão, Alemanha e Argentina na manhã desta quinta-feira (07.04), na capital fluminense.  

Leyser está ligado à pasta do Esporte desde sua criação como instituição independente de outras áreas, em 2003. Segundo ele, o país vive, desde meados dos anos 2000, um processo gradual de recuperação e construção de estruturas de prática esportiva que teve um impulso considerável em função dos megaeventos, que se sucedem desde os Jogos Sul-Americanos de 2002. “Com a desistência de Bogotá, assumimos a organização quatro meses antes. E fizemos em quatro cidades (São Paulo, Rio, Curitiba e Belém), porque nenhuma tinha instalações suficientes”, recorda Leyser. 

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Ministro Ricardo Leyser explicou conceitos da preparação olímpica brasileira e da Rede Nacional de Treinamento. Foto: Roberto Castro/ME

“Depois disso, o Pan de 2007 nos entregou 40% dos equipamentos dos Jogos Olímpicos. Os Jogos Mundiais Militares de 2011 complementaram. Ainda tivemos a Copa do Mundo que nos propiciou a reforma do Maracanã", lista o ministro. “Construímos uma estratégia racional ao longo de dez anos para dotar o Brasil dessa estrutura”, disse, em referência a investimentos não só no Rio de Janeiro, mas em centros de treinamento regionais e nacionais em vários cantos do país, aliados a entregas de equipamentos esportivos. Um conjunto de investimentos próximo a R$ 4 bilhões na consolidação da Rede Nacional de Treinamento que se soma, ainda, aos insumos dados diretamente a atletas e comissões técnicas por meio do Plano Brasil Medalhas, que reservou R$ 1 bilhão para o ciclo olímpico de 2012 a 2016.

Na conversa com os jornalistas, Leyser ainda abordou questões relativas a segurança, saúde, venda de ingressos e reforçou como factível a meta de o país terminar os Jogos Olímpicos entre os dez primeiros na contagem quantitativa de pódios. “Para isso, seria necessário, na nossa projeção, entre 23 e 30 medalhas. Em Londres, tivemos 17. É um desafio importante”, comenta.

Confira alguns dos principais trechos da conversa. 

Racionalização dos Jogos

Adotamos uma estratégia que nos parece adequada e economicamente racional. O custo de realizar os Jogos Olímpicos no Brasil será, ao que nos consta, inferior a Londres e a Tóquio, em 2020. Esse é um dado relevante, diminuir o custo e o gigantismo do evento para que mais gente possa participar dessa organização. À exceção da Austrália, o hemisfério Sul nunca teve Olimpíadas. Assim, esperamos abrir portas para outros, como África do Sul, Argentina, e outros países da Oceania, por exemplo. 

Conceitos essenciais  

Há dois eixos. A renovação urbana do Rio de Janeiro e a face esportiva. Nunca antes foram feitos tantos investimentos numa única cidade no Brasil. Temos aí mudanças no transporte coletivo, na reforma e revitalização da região portuária, na Marina da Glória. A prefeitura tem grande protagonismo na execução, e o governo federal é um grande financiador. No fim, é um grande pacote de melhorias numa cidade de muitas questões a serem enfrentadas. 

No eixo do esporte, temos uma estrutura de legado no Rio e um planejamento para transformar o esporte brasileiro, com investimentos em todo o Brasil pensado por modalidades, dentro do sistema esportivo. Um exemplo: tínhamos seis pistas de atletismo até a candidatura. Vamos nos aproximar de 50 no fim de 2016 e meados de 2017. Temos 17 já entregues. Mais cinco prontas. Isso nos ajuda a espalhar a prática esportiva por todo o Brasil. Não só na inclusão social, mas também no alto rendimento. 

Desempenho no Rio 2016

Temos um planejamento para ficar entre os dez primeiros na quantidade de medalhas. Esse nos parece um indicativo importante. Para isso, temos investimentos em infraestrutura esportiva no Brasil inteiro, um pacote de quase R$ 4 bilhões. Praticamente todos os que praticam esporte hoje no Brasil têm melhor condição. E a linha ideológica inclui que todo investimento no Olímpico seja feito também no Paralímpico. Nesse sentido, temos pronto, em fase de contratação de equipamentos, um dos mais modernos centros paralímpicos do mundo, em São Paulo. Esse centro, mais Deodoro e o Parque Olímpico, ficarão como os principais polos do esporte olímpico e vão interligar os outros no que chamamos de Rede Nacional de Treinamento. Num país de dimensão continental, o caminho do atleta é o desafio. A chave é descobrir um talento no Norte, no Sul e no Nordeste e dar uma trilha para que ele se desenvolva. Muito se fala sobre a Jamaica e o atletismo, por exemplo, mas às vezes ser pequeno geograficamente é bom para construir essa trilha. Para nós o desafio é enorme.

Insumos para o “top ten" 

Pelas nossas projeções, seriam necessárias entre 23 e 30 medalhas para ficarmos entre os dez primeiros. Em Londres, tivemos 17, nosso melhor resultado. Para chegar à meta, fizemos uma análise com o Comitê Olímpico e as confederações. O diagnóstico foi de que deveríamos ampliar o leque em que tínhamos condições de pódio. Não podemos depender de poucas modalidades ou atletas. Raramente dá tudo certo. Eu sempre digo que, para ganhar muitas medalhas, é preciso perder muitas, ter um leque grande de chances. Foi nesse sentido que surgiu o Plano Brasil Medalhas. Esse plano do governo federal, com investimento de R$ 1 bilhão, mapeou os atletas com chances e oferecemos a todos condições padrão. Essa condição inclui locais de treinamento de qualidade e equipes multidisciplinares, com psicólogos, médicos, nutricionistas, fisioterapeutas. Além disso, os atletas participam de mais competições no exterior e ficam inseridos no calendário internacional. Trouxemos técnicos estrangeiros. Assim, crescemos muito. E já temos bons resultados. O Marcus Vinícius, do tiro com arco, é um deles. Começou com 12, 13 anos, num centro esportivo em Maricá (RJ). Aos 16 anos, conseguiu um vice campeonato mundial em categoria de base, com apoio de técnicos estrangeiros e condições de disputa. Outro bom exemplo é o Isaquías Queiroz, que começou na canoagem num programa social do Ministério do Esporte, passou por vários programas de incentivo federais e conquistou títulos mundiais.

Diego Hypolito e Fabiana Murer

Obviamente que gostaríamos que todos ganhassem medalhas, mas temos dois casos em especial que seriam muito comemorados porque nos parece uma questão de justiça. Uma é o Diego Hypolito, na ginástica. Ele é um campeão mundial, super atleta, mas que não conseguiu o pódio em duas olimpíadas. É uma medalha que gostaríamos de ver. Faria justiça a uma grande trajetória. Outra história semelhante é a da Fabiana Murer, no salto com vara, que não conseguiu ainda repetir nos Jogos as performances sensacionais que tem. Temos um carinho adicional por esses dois. Seria uma honra se eles conseguissem a medalha no Brasil como coroamento de histórias de sucesso. E, claro, falta um único grande título no futebol, que seria o ouro olímpico.

Andamento das obras

Hoje elas estão praticamente prontas. Há uma questão ou outra, como o velódromo, mas sem impacto na realização dos Jogos. Na verdade, já estamos nos movendo para fase da operação, que envolve planos operacionais de saúde, segurança, aeroportos. O Governo Federal tem papel importante nesses setores. Saúde animal também é uma operação complexa, em especial com o manejo de cavalos de vários locais do mundo. Assim, nosso principal foco de atenção já se volta da infraestrutura para a operação de serviços. 

Venda de ingressos

O Brasil tradicionalmente e culturalmente toma essas decisões próximo do evento. Não há tradição de compra antecipada. Termos vendido mais de 50% com antecedência para os Jogos Olímpicos é uma compra bem significativa. Mas me parece que, começando o percurso da tocha, a atenção do público vai aumentar muito e a venda deve crescer. Na Copa e no Pan de 2007 houve grande procura por ingressos. Por isso, nos parece mais uma questão de tempo do que de preocupação. Já para os Jogos Paralímpicos não há tradição grande no país de assistir ao vivo aos eventos. Por isso, estamos com estratégias sendo discutidas para acelerar a venda, que está um pouco mais baixa. E já faço um convite. Há uma expectativa grande com as cerimônias. Pelo que discutimos e assistimos, a cerimônia dos Jogos Paralímpicos será uma das mais belas e emocionantes da história.  

Crise política

É verdade que temos votações importantes no curto prazo, mas a estrutura do Estado brasileiro está toda de pé para os Jogos Olímpicos. O principal efeito negativo dessa discussão é dificultar que as pessoas vejam que a organização dos Jogos está bem, que as instalações estão prontas, que são mais baratas. As pessoas não estão conseguindo ver isso. Na verdade, não há impacto sobre a organização, mas sobre a comunicação. Torna mais difícil mostrar o trabalho que vem sendo feito pelo governo federal, pela prefeitura, pelo governo do estado e pelo comitê organizador. É uma experiência boa. Os Jogos têm impacto importante sobre a economia. Contribuem com a reativação econômica. A quantidade de voos internacionais já previstos reflete uma demanda grande. 

Virus Zika

Na área de saúde, o Brasil tem um sistema de acompanhamento efetivo e moderno. A Organização Mundial de Saúde reconheceu as medidas que tomamos no caso do vírus Zika. Estamos alinhados com as melhores práticas e com as medidas adequadas. Há transparência com as questões. Ninguém virá ao Brasil sem ter as informações necessárias. E não estamos vendo nada preocupante para os Jogos.  

Metrô da Barra 

O trajeto importante para a ligação entre a Zona Sul e a Barra está praticamente pronto. E tivemos alguns trechos de complicação técnica importante, com solo instável, uma areia que não permitia escavação rápida. Mas, de acordo com as informações que temos do Governo do Estado, vai funcionar para os Jogos. 

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Após a entrevista, ministro visitou a Marina da Glória, revitalizada com recursos privados para os Jogos Rio 2016. Foto: Roberto Castro/ME

Instalações no pós Jogos 

Temos uma situação diferente de países da Europa e da América do Norte. Temos carência de equipamentos esportivos. A utilização de estrutura é um problema quando você já tem muitas. Por isso, por exemplo, Londres tem dificuldade de lidar com o Estádio Olímpico. No Brasil, não temos quantidade razoável desses equipamentos. Temos um planejamento para os equipamentos do Rio em dois blocos. Todos vão compor a Rede Nacional de Treinamento. Alguns pequenos, ginásios comunitários, serão mais voltados à população. E há os de alto rendimento. Na região de Deodoro já existe parceria entre Ministério do Esporte e Defesa. Temos um programa grande de parceria. Vamos atender a comunidade local. Já temos inclusive um legado do Pan: 50% dos atletas brasileiros do pentatlo vieram da comunidade de Deodoro, que reúne instalações para hipismo, piscina, esgrima, tiro, uma estrutura mais pesada. São mais de 100 jovens nesse programa. Um pedaço do Parque Olímpico de Deodoro, do BMX, canoagem slalom e mountain bike, vai virar um parque público voltado para lazer. A canoagem terá uso misto, para lazer e alto rendimento. Na Barra, há uma parceria para virar centro de treinamento. Algumas instalações serão desmontadas. Há escola com vocação esportiva e até ginásios para receber grandes eventos esportivos. 

Manifestações e investimentos

Vivemos no Brasil um momento de dificuldade com informação. Há uma quantidade grande de informações passadas para a população de forma truncada, parcial. Durante a Copa, houve gente nas manifestações dizendo que queria para a saúde os mesmos recursos do Esporte, e o Esporte tem muitas e muitas vezes menos recursos. Vendeu-se durante a Copa que recursos para estádios saíram da Saúde e da Educação, o que também não faz sentido. E nas Olimpíadas ainda temos uma participação sensacional da iniciativa privada. Temos benefícios econômicos, sociais, turísticos. Só em contratação para alimentação nos Jogos há oito mil vagas. Isso para um item. 

Terrorismo e segurança

Essa é uma questão que preocupa o mundo. Houve uma mudança na lógica, inclusive com atentados que se baseiam em locais de diversão, que é cada vez mais cruel. Mas podemos, ao mesmo tempo, dizer que o Rio de Janeiro é a única cidade que teve seis grandes eventos de preparação das Forças Policiais num passado recente. Fizemos o Pan de 2007 sem incidentes. Tivemos os Jogos Mundiais Militares, a Copa das Confederações em 2013, a Copa de 2014, a  Rio +20 e a Jornada Mundial da Juventude. Todos com grande visibilidade e grande risco. E todos operados com sucesso. Dessa forma, o Rio é uma das cidades mais preparadas do mundo pela quantidade de eventos em sequência. Há uma grande integração com sistemas de inteligência de vários países. Um grau de cooperação elevadíssimo. O tema é objeto de atenção permanente nossa, mas nunca tivemos ataques terroristas, não faz parte de nossa história.

Gustavo Cunha - Brasil2016.gov.br