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18/04/2017 16h16

Gestão Esportiva

Mesa redonda debate situação da CBDA e enfatiza participação de atletas em decisões

Reunião da Comissão do Esporte da Câmara contou com representantes do Ministério do Esporte, do TCU, dos Correios e da nova administração da confederação

A reformulação da administração da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) foi tema de mesa redonda promovida pela Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (18.4). O encontro teve o objetivo de debater como falhas ocorridas podem ser evitadas no futuro para assegurar transparência na gestão de recursos e evitar prejuízos aos atletas e às próximas gerações.

"O esporte é um bem público, e não privado. Nós tivemos nos últimos anos um aporte grande de recursos públicos nas confederações, e o principal beneficiado é o atleta, mas esse atleta muitas vezes não é ouvido", afirmou, em sua participação por vídeo, o secretário nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Luiz Lima, representado no encontro por Daniel Chierighini, chefe de gabinete.

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Evento reuniu dirigentes, atletas e parlamentares. Foto: Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados

Ambos reforçaram a importância de que os atletas tenham direito de participar das eleições dos presidentes das confederações brasileiras. "Desde que a nova gestão do Ministério do Esporte assumiu, a profissionalização das entidades nacionais de administração do desporto tem sido uma preocupação", acrescentou Chierighini.

A nadadora Joanna Maranhão reforçou que o momento é ideal para mudanças. "Nunca tivemos direito a voz. Agora chegou o momento", opinou. "A gente quer mudança e tem o direito de saber quanto de dinheiro entra na confederação. Estou emocionada porque esperei muito tempo por isso", disse.

Para o atleta olímpico de saltos ornamentais Hugo Parisi, a eleição de um representante pelos atletas ainda encontra barreira de representatividade dentro da confederação, responsável pelas modalidades de natação, saltos ornamentais, nado sincronizado, polo aquático e maratonas aquáticas.

"Por mais que os atletas votem, o presidente sempre vai ser um representante da natação. Os saltos ornamentais são um esporte pequeno. A minha proposta é que a confederação se divida. Nós ganharíamos autonomia", sugeriu. "Nunca crescemos porque sempre estaremos abaixo da natação, e ficamos apagados. Se dividirmos, os recursos do Governo Federal e do COB também serão divididos, e a fiscalização e transparência serão melhores. É a chance de cada esporte tomar o seu rumo e suas decisões", opinou.

Atual interventor da CBDA, Gustavo Licks destacou a necessidade de uma renovação para assegurar o futuro das modalidades. "Ter um órgão de fiscalização eficiente e uma oxigenação maior dos dirigentes é a base para a gente ter uma estrutura mais sólida no futuro", ressaltou, apontando ainda o papel dos recursos aportados. "O esporte evoluiu muito nos últimos anos, mas ocorreram falhas. Não podemos apagá-las. No meu ponto de vista, elas têm muito a ver com o aspecto financeiro. O investimento é essencial, é um investimento na nossa sociedade e nos nossos jovens", afirmou.

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A nadadora Joanna Maranhão durante a discussão na Câmara. Foto: Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados

Apoio

Patrocinador oficial da CBDA, os Correios tiveram uma redução significativa nos recursos aportados à entidade e às demais modalidades beneficiadas pelo órgão (tênis, handebol e rúgbi). Segundo o presidente Guilherme Campos, o orçamento saiu de R$ 106,5 milhões em 2016 para uma previsão de R$ 17 milhões em 2017, redução de 84%.

"É uma participação para não perdermos o histórico construído há tanto tempo", definiu. "A transparência nos facilita a continuidade desses patrocínios. Precisamos ter essa tranquilidade para que o recurso aportado esteja acima de qualquer suspeita", acrescentou. Os Correios, responsáveis pela logística dos Jogos Olímpicos, investiram R$ 300 milhões no evento entre 2014 e 2017.

Para tranquilizar os atletas em relação ao calendário de eventos, a gerente geral de Planejamento e Relacionamento com as Confederações do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Adriana Behar, assegurou que o Mundial deste ano e o Troféu Maria Lenk não sofrerão impacto. "Estamos trabalhando com a CBDA para que todos os atletas possam continuar com seus treinamentos e ter a certeza de que essas competições estarão garantidas", disse, reafirmando a necessidade dos investimentos no alto rendimento.

"O alto nível necessita de muito investimento para que o atleta possa superar limites e competir de igual para igual com qualquer outro país. Um dos objetivos do COB é dar todo o suporte para as seleções e equipes de alto rendimento", analisou.

Fiscalização

A CBDA não é a única entidade auditada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) com questões a serem apuradas. Segundo Ismar Barbosa Cruz, secretário de Controle Externo da Educação, Cultura e do Desporto do TCU, o órgão analisou, ao todo, 10 confederações nacionais, além do COB, do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e da Confederação Brasileira de Clubes (CBC), e as falhas apontadas na CBDA foram identificadas em outras entidades.

"Nós tentamos investigar uma série de questões importantes, todas relacionadas à gestão dos recursos", explicou. "Quando o TCU aplica uma sanção, é porque considera a gravidade da situação detectada. As irregularidades mais preocupantes dizem respeito às contratações realizadas pela CBDA", completou o secretário, acrescentando que o objetivo da fiscalização é permitir que o esporte brasileiro chegue a um novo patamar não apenas em resultados, mas também nas práticas administrativas.

O chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento do Ministério do Esporte (SNEAR), Daniel Chierighini, reforçou que a pasta está à disposição dos órgãos de fiscalização. "Estamos contribuindo tanto com os órgãos de controle interno quanto externo para elucidação de todas as questões", ressaltou.

Memória

No fim de março, o então presidente da CBDA, Coaracy Nunes, à frente da entidade desde 1988, foi afastado após decisão da Justiça Federal de São Paulo, a pedido do Ministério Público Federal, ao lado dos dirigentes Sérgio Alvarenga, Ricardo de Moura e Ricardo Gomes Cabral, sob acusação de improbidade administrativa. Em abril, os quatro dirigentes foram detidos por ação da Polícia Federal, em operação denominada Águas Claras. Para a administração provisória da entidade, foi nomeado o advogado e contador Gustavo Licks.

Ana Cláudia Felizola – Ministério do Esporte