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Judô

09/08/2016 21h13

Judô

Mariana Silva contraria estatísticas e coloca o Brasil pela primeira vez em uma disputa de medalha no meio-médio feminino

Atleta brigou pelo bronze, mas terminou com a quinta colocação após surpreender diante de adversárias com retrospecto superior. No masculino, Victor Penalber caiu nas oitavas
“Ganhei de atletas de quem nunca havia vencido e estava confiante. Eu vim para buscar a medalha, deixei tudo no tatame, mas infelizmente não foi o dia”
Mariana Silva

O bronze escapou por pouco, mas ainda assim a campanha de Mariana Silva nesta terça-feira (09.08) pode ser considerada histórica. Pela primeira vez, o Brasil teve uma representante disputando medalha nos Jogos Olímpicos pela categoria meio-médio feminina (-63kg). E, mesmo antes de chegar à luta que definiria o pódio, a judoca já era responsável por quebrar todas as estatísticas e previsões a seu respeito, superando adversárias com mais títulos, renome e que nunca tinham caído diante dela.

“Fiquei feliz pelo meu desempenho, apesar de não estar satisfeita. Ganhei de atletas de quem nunca havia vencido e estava confiante na competição. Eu vim para buscar a medalha, mas infelizmente não foi o dia”, lamenta a quinta colocada. Ao deixar o tatame, Mariana chorou por cerca de uma hora antes de respirar fundo e avaliar a trajetória. “Dei tudo o que tinha. Deixei tudo no tatame, mas não foi o suficiente para subir ao pódio”, acrescenta, ainda abalada.

Mariana superou a israelense Yarden Gerbi, campeão mundial em 2013 e vice em 2014. Foto: Roberto Castro/Brasil2016.gov.br

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Mariana se mostrou confiante e focada durante todo o dia de competição. Medalha escapou no detalhe. Foto: Roberto Castro/Brasil2016.gov.br

Antes de competir no Rio de Janeiro, a judoca nem figurava entre as referências de expectativas de medalha para a seleção brasileira. Ao lado de Maria Portela como as únicas da equipe feminina sem títulos expressivos – o único pódio em um mundial, ainda em 2009, remonta ao bronze em um torneio júnior –, a paulista viu ao longo da preparação todas as projeções apontarem apenas para as outras cinco integrantes do elenco. Mesmo na hora de conceder entrevistas, Mariana era menos disputada. 

Contudo, em uma edição olímpica em que Sarah Menezes e Érika Miranda já deixaram os tatames com rendimento abaixo das expectativas, a paulista foi na contramão e surpreendeu no desenrolar da chave. A primeira luta não poderia ser mais propícia para afastar de vez a lembrança da eliminação precoce na estreia em Londres. Szandra Szogedi, de Gana, durou 59 segundos nas mãos da brasileira, que venceu por estrangulamento. 

Até então, tudo dentro do planejado, mas a partir das oitavas de final teria início uma sequência de histórias que contrariaram as estatísticas:

Oitavas de final

MARTINA TRAJDOS (Alemanha) 
Confrontos antes dos Jogos: 7
Vitórias de Mariana antes dos Jogos: 0

Contra Martina Trajdos, da Alemanha, quatro minutos foram suficientes para mudar o histórico de sete derrotas em sete confrontos anteriores. Ao som da forte torcida verde e amarela, a rival, acuada, parecia não tomar conhecimento de que o retrospecto estava a seu favor. Fugindo do confronto e empurrando Mariana para fora da área, levou três punições e se viu derrotada pela primeira vez.

Quartas de final

YARDEN GERBI (Israel)
A israelense foi campeã mundial em 2013 e vice em 2014

A israelense Yarden Gerbi foi campeã mundial em 2013 e vice em 2014. Novamente, o histórico mostrava apenas derrotas para Mariana, que conseguiu levar a luta para um emocionante golden score. Foram necessários dois minutos do tempo extra para que um yuko sacramentasse a vaga brasileira na semifinal. De sorriso largo, nem a atleta parecia acreditar no próprio feito. 

Semifinal

TINA TRSTENJAK (Eslovênia)
Atual campeã mundial e europeia, além de líder do ranking da categoria

Com um currículo invejável, Tina Trstenjak, da Eslovênia, chegou ao Rio como atual campeã mundial e europeia, além de líder do ranking da categoria. As duas nunca tinham se enfrentado, mas dessa judoca não deu para vencer. Mesmo após levar um yuko, Mariana tentava driblar as investidas da rápida adversária, quando acabou imobilizada no último minuto de luta. No fim do dia, Tina sagrou-se campeã olímpica.

ANICKA VAN EMDEN (Holanda)
Dois bronzes em mundiais e 12 medalhas em Grand Slams

Disputa do bronze

Com dois bronzes em campeonatos mundiais e 12 medalhas em Grand Slams, a holandesa Anicka Van Emden (Holanda) trazia um currículo bem mais expressivo que o de Mariana para a disputa do bronze, mas apenas um yuko tirou da brasileira a medalha. A prata ficou com a francesa Clarisse Agbegnenou, e o outro bronze justamente com a israelense Yarden Gerbi, de quem Mariana venceu nas quartas de final. 

Desequilíbrio

Se em torno de Mariana Silva as expectativas não eram das maiores, Victor Penalber chegou para sua estreia olímpica como cabeça de chave, após se classificar como sétimo do mundo. Judoca que desbancou o duas vezes medalhista olímpico Leandro Guilheiro do posto de titular na seleção, na categoria -81kg, Penalber faturou o bronze no Mundial de Astana, no ano passado, seu primeiro pódio em uma das competições mais importantes do circuito.

Tudo deu certo no confronto inicial, diante de um adversário mais fraco, o moçambicano Marlon Acacio. O único encontro entre eles havia sido justamente em Astana e, a exemplo daquela ocasião, o brasileiro levou a melhor. Com um wazari seguido de imobilização, Penalber avançou na chave para encontrar Sergiu Toma, dos Emirados Árabes. O histórico entre eles, contudo, era mais acirrado. Em cinco confrontos antes do Rio 2016, o brasileiro tinha vencido dois e perdido três. Nesta terça, o rival ampliou a vantagem e eliminou Penalber dos Jogos Olímpicos.

Victor Penalber venceu o primeiro combate mas foi eliminado na segunda luta, diante de Sergiu Toma, dos Emirados Árabes. Foto: Roberto Castro/Brasil2016.gov.br
"Eu sabia que era uma luta difícil. Para mim já era uma final e entrei concentrado, mas ele foi mais rápido na pegada, acabei desequilibrando e tomando um wazari. Isso mudou a estratégia da luta, eu tive que me abrir"
Victor Penalber

“Eu sabia que era uma luta difícil. Para mim já era uma final e entrei concentrado, mas ele foi mais rápido na pegada. No momento em que tentei arrancar a pegada dele, acabei desequilibrando e tomando um wazari. Isso mudou a estratégia da luta, eu tive que me abrir”, explica o judoca, que chegou a pontuar um yuko em cima do rival, antes de levar outro wazari. “Quando saí do tatame e a torcida gritou meu nome, até me surpreendi. Não sabia o que pensar, estava até meio envergonhado. Só fico muito triste por não ter seguido na competição”, lamenta.

Penalber não foi o único candidato a pódio que desapontou. Atual campeão mundial, o japonês Takanori Nagase foi derrotado nas quartas de final pelo mesmo Sergiu Toma, mas seguiu para a repescagem e ficou com um dos bronzes. A categoria masculina foi vencida pelo russo Khasan Khalmurzaev, seguido pelo norte-americano Travis Stevens. Toma levou o outro bronze.

Revolta

O Brasil viu outro atleta da casa em ação nesta terça-feira. Nascido em Vitória (ES), o judoca Nacif Elias compete pelo Líbano desde 2013 e foi até o porta-bandeira do país na cerimônia de abertura dos Jogos. Logo na estreia olímpica contra o argentino Emmanuel Lucenti, contudo, o atual campeão asiático acabou desclassificado. Para a arbitragem, ele tentou aplicar uma chave de braço com o adversário ainda em pé, movimento proibido. 

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Nacif Elias não se conformou com a desclassificação por usar um golpe proibido. Foto: Roberto Castro/Brasil2016.gov.br

Muito revoltado, Elias brigou com a arbitragem e se recusou a deixar o tatame, só saindo Da área de luta, aos prantos, após muito tempo de confusão. O atleta foi levado a uma reunião com integrantes da Federação Internacional de Judô (IJF, na sigla em inglês) e reapareceu na arena antes das oitavas de final de Victor Penalber. Como um pedido de desculpas, retornou ao tatame e cumprimentou árbitro e público, que o apoiou desde o momento da desclassificação. 

Um pouco mais calmo, Nacif tentou se justificar. “Eu acato a decisão, mas espero que me entendam também. Foi um sentimento triste porque eu já tinha ganhado do argentino duas vezes e também do canadense que passou (Antoine Valois-Fortier). A chave estava se abrindo, eu via a medalha no meu peito. Estou treinado, nunca estive tão preparado, mas se foi dessa forma tenho que aceitar”, reclama, mandando um recado. “Se querem que eu desista, não vou desistir. Vou para Tóquio e meu objetivo agora é ganhar o próximo Mundial, mostrar que tenho capacidade e que poderia ter sido medalhista aqui.”

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Redenção

Nesta quarta-feira (10), será a vez de Tiago Camilo (-90kg) e Maria Portela (-70kg) competirem na Arena Carioca 2. Os dois atletas buscam um desempenho melhor do que o de Londres. Na ocasião, o veterano da seleção até brigou pelo bronze, mas foi derrotado pelo grego Ilias Iliadis e saiu sem repetir os pódios de Sydney e Atenas. Desta vez, em sua quarta edição olímpica, Camilo faz o confronto inicial contra o sul-africano Zack Piontek. Já Portela, eliminada na estreia em 2012, enfrenta Assmaa Niang, do Marrocos.

Ana Cláudia Felizola – brasil2016.gov.br