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Atletismo

11/06/2017 16h24

Troféu Brasil

Márcio Teles conquista vaga no Mundial e derruba recorde histórico nos 400m com barreira

Tempo de 48s94 supera melhor marca do torneio, que durava quase 17 anos e pertencia ao tricampeão Pan-americano Eronilde Araújo

Até meados de 2012, Márcio Soares Teles nem sonhava com atletismo. A vida esportiva tinha mais a ver com as função de meia-atacante e lateral-esquerdo em times de futebol de Seropédica-RJ, onde vivia. A virada de chave viria na edição de 2012 dos Jogos da Baixada. Com problema de documentação, ficou sem vaga em campo, mas foi indicado pelo irmão para ajudar o time de atletismo. "Fui só para completar, mas ganhei os 100m e fiquei em segundo nos 200m correndo com chuteira de futebol society", recorda.

Descoberto o talento, começou a lapidar a técnica no ano seguinte e descobriu que tinha fôlego para os 400m, uma das prova mais desgastante do altetismo, por ser uma distância longa que precisa ser corrida com pegada de velocista. Com a orientação de Antônio Euzébio Dias Ferreira, especialista na distância e nos 400m com barreira, passou a tentar a versão com obstáculos da prova. Achou, ali, um nicho.

Márcio Teles supera uma das barreiras na prova dos 400m: marca histórica. Foto: Osvaldo F./B3 Atletismo

Neste domingo, no Troféu Brasil de Atletismo, chegou à quarta final em quatro edições do Troféu Brasil e conquistou o bicampeonato, com 48s94. O resultado teve várias simbologias. Primeiro, valeu o índice para o Mundial de Londres, que exigia 49s35. Segundo, representou a melhor marca pessoal de Márcio. Terceiro, valeu o recorde do torneio, que durava quase 17 anos (agosto de 2000) e pertencia a um ícone dos 400m com barreira no país: Eronilde Araújo, ouro pelo Brasil nos Pans de 1991, 1995 e 1999.

"Eu pensava que ia quebrar esse recorde e ainda quero bater o sul-americano dele, que é de 48s04. Eu ficava vendo vídeos e sabia que era possível. Hoje vou deitar sabendo que consegui"
Márcio Teles, sobre Eronilde Araújo

O esforço para alcançar a marca estava evidente no pós-prova. Márcio, especialista em chegadas fortes, sentia dores em todo o corpo e mal conseguia ficar de pé. Vomitou um bocado, como é comum em atletas que deixam tudo na pista nos 400m. Bebeu água, respirou, e só então conseguiu conversar. "Foi muito duro, difícil mesmo, mas saiu. Quando se corre bem, as pernas caem mesmo", brincou, para em seguida elogiar Eronilde.

"Ele é uma das minhas inspirações. Eu pensava que ia quebrar esse recorde e ainda quero bater o sul-americano dele, que é de 48s04. Eu ficava vendo vídeos e sabia que era possível. Hoje vou deitar sabendo que consegui", afirmou Márcio, que também tem como ídolo Félix Sanchez, dominicano que foi bicampeão olímpico da prova (2004 e 2012), o segundo título quando já tinha 34 anos, nos Jogos de Londres, em 2012.

A prova do Troféu Brasil foi tão forte que o segundo colocado, Hederson Alves, do Pinheiros-SP, também conquistou índice para o Mundial de Londres, com 49s13. "Eu treino mais para os 400m rasos, mas a barreira é o que mais gosto. É diversão. Parece que não tenho responsabilidade e os resultados saem. Sei que ainda não estou acertando a prova. Na semifinal e na final perdi velocidade e tropecei na última barreira. Por isso, sei que posso ir além", afirmou Hederson. Mikael de Jesus (Fecam), com 50s41, ficou com o bronze.

Virada de chave

O técnico de Márcio na B3 Atletismo, Evandro Lázari, entende a marca como uma mudança importante de patamar. "Agora ele subiu de nível. Passou a correr em 48s. Está numa briga com os melhores do mundo. É continuar o trabalho e melhorar. Ele diz que vai correr a distância em 47s até os próximos Jogos Olímpicos. Quem sabe, né?", celebrou Lázari, reiterando o fato de que Márcio tem apenas quatro anos de atletismo.

Na trilha para o Mundial, Márcio vai disputar ainda o Sul-Americano de Assunção, no Paraguai, e uma etapa da Diamond League, em Lausanne, na Suíça. "A ideia é fazer uma temporada lá fora e pegar o ritmo antes do Mundial", afirmou o barreirista.

Gustavo Cunha, brasil2016.gov.br