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Geral

30/05/2016 03h22

Tour da Tocha

Maceió aposta na cultura e na gastronomia regionais para receber a tocha olímpica

Festival com comidas típicas e palcos para manifestações culturais em 16 pontos da capital alagoana foram os cartões de visita do revezamento, que percorreu 20,5km na cidade

A chuva não deu trégua neste domingo (29/05), em Maceió (AL), e trouxe um "ar londrino" à cidade nordestina que costuma ter um cenário tropical durante a maior parte do ano. Isso, porém, não alterou a condução da tocha olímpica nem o espírito da festa, que teve como componente um forte apelo cultural ao longo dos 20,5 km de revezamento da chama. Para valorizar suas tradições, a capital alagoana criou o Festival Cultural da Tocha Olímpica e 16 tablados foram estrategicamente posicionados nas ruas, abrindo espaço para artistas locais de todos os gêneros.

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Bianca Andrade, com currículo expressivo no bodyboard e no jiu-jitsu, foi a primeira condutora em Maceió. Foto: Ivo Lima/Brasil2016.gov.br/ME

O percurso no estado de Alagoas começou cedo. Depois de sair de Sergipe pela cidade de Propriá, a chama passou por São Sebastião, Arapiraca e São Miguel dos Campos, até chegar à capital, já à noite. Maceió é a 27ª cidade celebração do tour da tocha, presente nos 26 estados brasileiros, mais o Distrito Federal. A festa ainda terá muitas paradas: faltam 68 cidades celebrações. Nelas, shows e apresentações antecedem o acendimento da chama em uma pira, onde o fogo olímpico passa a noite para seguir viagem no dia seguinte.

Mesmo debaixo d'água em alguns momentos do revezamento, músicos e dançarinos cantaram e dançaram maracatu, jogaram capoeira e fizeram apresentações folclóricas, como o Bumba Meu Boi. Na plateia, as sombrinhas e guarda-chuvas ajudavam a dar cor às apresentações.

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Manifestações culturais diversas tiveram espaço durante a passagem da tocha pela capital alagoana. Foto: Ivo Lima/Brasil2016.gov.br

A cultura popular esteve presente desde os primeiros instantes da festa. Antes da largada, na Praça Multieventos, no bairro de Pajuçara, um grupo de músicos mostrava habilidade com pífanos - uma espécie de "primo" da flauta. Um deles era Washington da Anunciação, professor universitário e músico. Há 35 anos ele integra uma banda de pífanos com os irmãos. "A banda de pífano é a representação e a presença viva da identidade cultural de Maceió", disse o músico. O artista não descartou a possibilidade de continuar seguindo a chama Brasil afora, para divulgar o gênero musical a que se dedica.

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Cintia Albuquerque apresenta o arrumadinho, uma das iguarias de festival gastronômico que aproveitou o tour da tocha para divulgar a culinária regional. Foto: Mariana Moreira/Brasil2016.gov.br

Em outro ponto da cidade, o produtor cultural Elvis dos Santos Pereira ocupava um dos 16 tablados espalhados pelos bairros da cidade. Ele é criador do grupo de coco de roda Raízes Nordestinas, em atividade há cinco anos. Vestidos com roupas coloridas e saias rodadas, os integrantes batiam os pés, passo tradicional da dança de origem africana e ensaiavam, no meio da rua, circulando entre carros que diminuíam a velocidade para acompanhar a coreografia. "A tocha olímpica deu as mãos à cultura e ao esporte, dois elementos importantes no combate às desigualdades sociais", acredita Elvis.

Gastronomia

Durante o revezamento, a primeira condução ficou a cargo da oito vezes campeã mundial de jiu-jitsu e duas vezes campeã mundial de bodyboard, Bianca Andrade. Aos 43 anos, ela se orgulhava de representar as duas modalidades na cidade onde nasceu. "Para mim é importante e simbólico estar aqui. O esporte é fundamental na minha vida", comemorou.

O esporte se misturou ao tempero de um festival gastronômico no ponto de largada de Bianca. Exibindo a bandeja com Arrumadinho, Cintia Albuquerque se apressava em explicar os sabores do prato: carne de sol puxada na manteiga de garrafa, acompanhada de vinagrete e feijão tropeiro. "Como passa pelas diferentes localidades, a tocha ajuda a ressaltar ingredientes e folclores locais", afirmou. Para ela, a vocação turística da capital alagoana, que já era imensa, chegará a um novo patamar após a exposição gerada pela passagem da chama olímpica.

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Para a publicitária Mara Barros, a chama traz uma mensagem de união das pessoas. Foto: Ivo Lima

O estudante de Odontologia Victor Guimarães, de 24 anos, foi com dois amigos à praça da Praia de Pajuçara, uma das mais conhecidas de Maceió. Para ele, os Jogos Rio 2016 estarão longe do Nordeste brasileiro, mas Alagoas teve sua representação no maior evento esportivo do mundo. "Incluir Maceió na rota é incluir a cidade na rota das Olimpíadas".

Mara Barros, de 51 anos, é publicitária, mora em São Paulo, mas suas raízes nordestinas a levaram a conduzir a tocha na cidade onde seus pais nasceram. A alegria para ela já estava completa por ter sua família prestigiando a participação, que representou mais do que uma simples transição com o símbolo olímpico. "A chama traz para mim uma mensagem de união das pessoas e de que não vale a pena brigarmos com aqueles que amamos", defendeu.

Condutor mirim

Uma situação incomum é ver crianças conduzindo o fogo olímpico, mas algumas quebram o predomínio dos adultos. É o caso do tenista Gabriel Barbosa, de 12 anos. Segundo colocado no ranking brasileiro em sua categoria, ele encara o esporte com seriedade há três anos. Nos últimos dias, disputava um torneio em Porto Alegre, mas, ao ter seu nome confirmado como condutor, decidiu voltar para casa, mesmo sabendo que perderia a final de duplas do campeonato. "Carregar a tocha é mais importante que uma final de campeonato. É uma oportunidade única ", avaliou o atleta.

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Dalton Costa, último condutor do dia, acende a pira olímpica em Maceió. Pernambuco é o destino nesta segunda.Foto: Ivo Lima/Brasil2016.gov.br

Investimento

Em Maceió, 23 atletas de modalidades olímpicas residentes na cidade e sete de modalidades não olímpicas são patrocinados pelo Bolsa-Atleta, programa de apoio ao esporte do governo federal. Existem categorias diferentes de acordo com o desempenho. Outros quatro atletas que nasceram na capital alagoana fazem parte do Bolsa Pódio – voltado a atletas de alta performance com elevado índice de premiação.

Numa parceria com a Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o Ministério do Esporte empenhou R$ 9,1 milhões na construção de uma pista de atletismo. A pasta ainda descentralizou outros R$ 13,6 milhões para melhoria na infraestrutura esportiva da instituição. As obras contemplam a construção de um campo de futebol, uma quadra coberta, duas quadras de vôlei de praia e futebol de areia, a reforma do ginásio e da piscina.

Os equipamentos esportivos da cidade também receberam suporte de manutenção do governo federal. A Federação Alagoana de Judô, em Maceió, recebeu 144 placas de tatames e dois kits de placares e equipamentos do sistema de videomonitoramento (para replay). A equipagem é resultado de convênio com a Confederação Brasileira de Judô no total de R$ 3,8 milhões. Já a Federação Alagoana de Taekwondo recebeu investimentos como tatames e telões, fruto de convênio no valor global de R$ 3 milhões.

A Federação Aquática do Estado de Alagoas, em Maceió, recebeu um pórtico de chegada inflável, quatro boias náuticas, um GPS, três rádios a prova d'água, três cronômetros com impressoras, um termômetro digital infravermelho e duas câmeras filmadoras. A ação é resultado de convênio firmado com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos no valor total de R$ 1,1 milhão.

Nesta segunda-feira (30.05), a chama olímpica se despede de Alagoas por Murici e União dos Palmares, para então entrar no estado de Pernambuco por Garanhuns, percorrer Lajedo e chegar à noite em Caruaru - cidade que disputa com Campina Grande (PB) o título de maior São João do mundo.

Hédio Ferreira Júnior e Mariana Moreira, de Maceió - brasil2016.gov.br