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Atletismo

12/01/2019 11h26

Skate

Kelvin Hoefler: de surfista deslocado a ídolo na prancha com rodinhas

Paulista do Guarujá até tentou manobras no mar, mas não curtia a água fria. No skate, virou referência e é um dos favoritos na final da Liga Mundial de Skate, neste domingo, no Rio

O surfe é um convite natural para muitos jovens nascidos no Guarujá, no litoral paulista. Com Kelvin Hoefler não foi diferente. Incentivado pelo pai, que lhe emprestava pranchas e indicava caminhos para as primeiras manobras, ele estava na praia com frequência. Estava, mas não se convencia. Sentia que aquele não era bem o seu lugar, assim como também se via deslocado na escolinha de futsal. Não achava exatamente um porquê nem um lugar certo na quadra.

Kelvin na Arena Carioca: ansiedade de quem só compete no último dia, na final da Liga Mundial. Foto: Breno Barros/rededoesporte.gov.br

"A verdade é que nunca gostei de água gelada, por isso era chato ir para a praia. Meu pai até tentou resolver isso me dando um John, aquelas roupas emborrachadas, mas o modelo era um pouco maior do que devia, entrou ar e água, eu quase me afoguei e fiquei meio traumatizado. No futebol, ninguém tocava a bola para mim. Eu não entendia muito aquilo", recordou, entre risos.

Sempre fui meio hiperativo. Com o skate podia andar em todo lugar. Na garagem, na rua, na praça. Era o que procurava"
Kelvin Hoefler

A solução ele encontrou numa terceira via, que lhe permitiu conjugar as manobras do surfe e a velocidade e o improviso dos dribles do futebol. Quando tinha nove anos, ganhou o primeiro skate do pai, que também arriscava a "prancha com rodinhas". "Comecei influenciado por ele. Peguei esse bastão. Sempre fui meio hiperativo. Com o skate podia andar em todo lugar. Na garagem, na rua, na praça. Era o que procurava".

A face estritamente lúdica dos primeiros anos mudou de figura logo nas primeiras competições em que se aventurou. "Lembro que a primeira vez que competi foi lá no Guarujá mesmo, e já fiquei em segundo. Senti aquela sensação boa de estar entre os melhores. E passei a investir de forma mais intensa no street".

Nessa caminhada, teve uma primeira passagem pelos Estados Unidos em 2011, numa etapa de torneio internacional. Lá, viu a efervescência da modalidade, com pistas de street em vários cantos e centenas de praticantes assíduos. "Decidi ali que queria me mudar para lá para investir na minha evolução. E foi isso. Eu me mudei para Los Angeles, na Califórnia, em 2014, e acho que consegui crescer bastante", disse Kelvin, hoje com 25 anos.

A própria descrição do currículo do atleta na página oficial da Liga Mundial de Skate indica o resultado dessa opção. "Em 2015 ele surpreendeu a comunidade do skate ao se tornar o primeiro calouro a chegar em todas as finais das etapas da Liga Mundial e ainda vencer a final", descreve o texto. "Em 2016, um acidente na etapa de Tampa o tirou de combate por quase um ano. Em 2017, retomou a forma e voltou a figurar no top 5 das competições que disputou".

Manobras em corrimãos estão entre as especialidades de Kelvin:

Ansiedade na Arena 1

É esse retorno de qualidade ao universo competitivo que permite a Kelvin estar numa posição alta no ranking e no seleto grupo de quatro atletas que se apresentam somente no último dia, na final da Liga Mundial neste domingo (12.01), na Arena Carioca 1 do Parque Olímpico da Barra. Kelvin e outros três atletas esperam outros quatro que serão definidos neste sábado, entre 30 skatistas que disputam a fase semifinal.

"Essa pista é longa, diferente das de outras etapas do Street League, que costumam ser mais compactas. Eu gosto bastante de andar em corrimãos e de andar rápido. No treino, curti"

"Estou ansioso. Muito ansioso. Meus pais e minhas duas irmãs chegam neste sábado. A arena vai estar lotada. A torcida deve apoiar a gente. Tomara que os gringos sintam a pressão", brincou o atleta, que tem por característica as manobras em corrimãos em alta velocidade, e por isso gostou da pista montada no Brasil.

"Essa pista é longa, diferente das de outras etapas do Street League, que costumam ser mais compactas. Eu gosto bastante de andar em corrimãos e de andar rápido. No treino, gostei do que vi. Vamos ver na competição", disse o atleta, integrante da categoria pódio da Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.

Palco do basquete nos Jogos Olímpicos Rio 2016, a Arena Carioca 1 terá capacidade para até cinco mil torcedores na final do skate. A instalação é administrada pela Autoridade de Governança do Legado Olímpico, a AGLO. No Parque Olímpico, a AGLO também é responsável pela gestão do Velódromo, do ginásio de tênis e pelas arenas cariocas 2 e 3.

Estrutura montada na Arena Carioca 1, no Parque Olímpico da Barra. Foto: Breno Barros/rededoesporte.gov.br

Projeção olímpica

Incluído pela primeira vez no programa olímpico para os Jogos de Tóquio, em 2020, o skate vai levar para o megaevento um estilo de vida meio diferente do ambiente ultra competitivo que costuma marcar os Jogos.

"O skate é competitivo, mas ao mesmo tempo é meio que uma grande família. Como não é comum existirem técnicos, um ajuda o outro"

"O skate é competitivo, mas ao mesmo tempo é meio que uma grande família mesmo. Um apoia o outro. Dá dicas. Fala sobre velocidade, distância, pontos para ajustar na manobra. Como não é comum existir técnicos, a relação é bem individual, um ajudando o outro. Acho que isso vai ser um choque para o mundo nas Olimpíadas".

Seja ou não um choque, Kelvin quer muito estar lá para conferir. "Eu sempre fui um cara competitivo, com postura de atleta mesmo. Não fumo, não bebo, sou ultra focado. Para alguns, o skate não é exatamente assim, mas estou acostumado a essa rotina. Representar o país numa Olimpíada seria uma pressão um pouco a mais, mas faz parte", disse. Segundo a regra determinada para os Jogos de Tóquio, haverá 40 atletas no skate, 20 no masculino e 20 no feminino, com um teto de três, no máximo, por país.

Gustavo Cunha, do Rio de Janeiro - rededoesporte.gov.br