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Judô

14/11/2018 15h33

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Judoca refugiado no Brasil, Popole Misenga lutará o Grand Slam de Osaka

Congolês treina no Instituto Reação, no Rio de Janeiro, e participará de um dos eventos mais tradicionais do judô defendendo a bandeira do Refugee Olympic Team

A história de superação do judoca congolês Popole Misenga, refugiado no Brasil desde 2013, ganhará mais um capítulo inspirador nas próximas semanas. Dois anos depois de lutar os Jogos Olímpicos do Rio 2016 sob a bandeira do Refugee Olympic Team (ROT), o atleta do Instituto Reação foi convidado por Yasuhiro Yamashita, uma das maiores lendas vivas do judô e atual presidente da All Japan Judo Federation (Federação Japonesa de Judô), para treinar no Japão nesta semana e lutar o Grand Slam de Osaka, que será nos próximos dias 23, 24 e 25 de novembro.

A preparação final de Popole para a disputa será na Universidade de Tokai, treinando por duas semanas junto com os japoneses.

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Daniel Loureira, Kosei Inoue e Popole Misenga no dojô de Tokai, no Japão. Foto: CBJ/Divulgação

O convite da AJJF chegou à Confederação Brasileira de Judô (CBJ) por meio da técnica da seleção masculina do Brasil, a japonesa Yuko Fujii. E coube à CBJ realizar os trâmites de registro e inscrição de Popole no sistema Judo Base da Federação Internacional, já que ele não pode mais competir pelo Congo. No Japão, o meio-pesado lutará novamente sob a bandeira do ROT.

A competição é uma das etapas mais tradicionais do Circuito Mundial da Federação Internacional de Judô (IJF) e é realizada anualmente em Tóquio. Por conta dos preparativos para os Jogos Olímpicos de 2020, a edição deste ano do Grand Slam japonês será realizada na cidade vizinha, Osaka.

Popole está inscrito na categoria meio-pesado (100kg), onde poderá enfrentar os melhores judocas do mundo neste peso, como Guham Cho (KOR) e Varlam Liparteliani (GEO), atuais campeão e vice-campeão mundiais, além dos japoneses Aaron Wolf, campeão mundial em 2017, e Ryunosuke Haga, campeão mundial em 2015.

Presidente e idealizador do Instituto Reação, que acolheu Popole e sua compatriota também judoca Yolande Mabika em 2013, o medalhista olímpico Flavio Canto enalteceu a generosidade dos japoneses pelo convite e lembrou dos princípios de solidariedade na filosofia do judô.

"Coisas do esporte. Yamashita Sensei, Kosei Inoue e Federação Japonesa de Judô, muito obrigado por sua generosidade ao convidar Popole e nosso sensei, Daniel Loureiro, para essa experiência inesquecível. Jita Kyoei no seu melhor! Nos vemos em Tóquio 2020", escreveu o ex-atleta da seleção brasileira em seu perfil nas redes sociais.

Da guerra no Congo aos tatames olímpicos

Flavio lembrou também a história de sobrevivência do judoca à guerra civil que matou cerca de dois milhões de pessoas na República Democrática do Congo no período de 1998 a 2003.

"A mãe do Popole, nessa época ainda menino, entrou nessa lista e seus dois irmãos desapareceram. Cresceu num orfanato, aprendeu judô e, em 2013, depois do Mundial do Rio, foi abandonado à sorte na Cidade Maravilhosa. Passou a fazer parte do Reação junto com a companheira de equipe Yolande e, em 2016, integraram a primeira delegação de refugiados olímpicos da história", descreve Canto.

Na Rio 2016, Popole venceu uma luta, mas perdeu na segunda rodada para o campeão mundial Donghan Gwak, da Coreia do Sul. Mas, o resultado era o que menos importava. Ele saiu do tatame ovacionado pela torcida brasileira na Arena Carioca 2 e orgulhoso de onde o esporte o levou apesar de todas as dificuldades.

Fonte: Confederação Brasileira de Judô (CBJ)