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Geral

08/06/2018 19h47

Cochabamba 2018

Histórias de quem faz os megaeventos nos bastidores

Uma futura médica, uma ex-ginasta e um preparador físico: três voluntários entre os mais de 100 brasileiros que atuaram nos Jogos

Jogos Sul-Americanos Cochabamba 2018

A renúncia e a dedicação que um esporte de alto de rendimento exige afastou a mineira Sônia Regina Silva do sonho de ser ginasta. Ela começou na modalidade aos 12 anos e, aos 18, ingressou na faculdade de Educação Física com especialização em ginástica artística. Com pouco mais de 20 anos, casou-se, teve dois filhos e, em vez de saltos e piruetas, optou por prestar concurso para levar o esporte a crianças e adolescentes em sala de aula.

Depois que se divorciou, para garantir uma boa educação aos filhos, aumentou o ritmo de trabalho até o corpo sentir. Um esgotamento precoce a afastou da docência e obrigou Sônia a se aposentar. Como os filhos já estavam criados e formados, ela teve a chance de resgatar sonhos e projetos que tinham o esporte como inspiração.

Sônia Regina atuou na ginástica e também na vela, na Represa Corani. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br
"O que parei aos 20 anos, retomei de outra maneira aos 60. Na hora em que entrei com as seleções feminina e masculina do Brasil, chorei. Foram 40 anos de espera”
Sônia Regina

Aos 60 anos, ao se inscrever na seleção de voluntários para os Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia, reencontrou a ginástica. Os organizadores sabiam de sua história e ela, uma das 100 brasileiras entre os 3.800 voluntários que atuaram durante os 14 dias do evento, teve a oportunidade de conviver com os atletas de ponta. “Quando fui escalada para a ginástica artística, meu coração acelerou. O que eu parei aos 20 anos, retomei de outra maneira, aos 60. A hora em que entrei com as seleções feminina e masculina do Brasil, chorei. Foram 40 anos de espera”, conta.

O voluntariado teve início na vida de Sônia em 2013, na Copa das Confederações em Belo Horizonte. Na Copa do Mundo de 2014, atuou no atendimento ao público durante as partidas no Mineirão e lembra bem do 7 x 1 da Alemanha sobre o Brasil. Em 2015, inscreveu-se para os Jogos Rio 2016 e foi escalada para as cerimônias de abertura e encerramento. Mas, para ela, o momento mais marcante foi ser voluntária nos Jogos Paralímpicos 2016.

“Os atletas paralímpicos foram meus mestres. Depois dessa experiência, minha vida tomou outro sentido. Vi pessoas com dificuldades infinitamente maiores do que a minha quando tive esgotamento físico. Esses atletas dão o melhor, é muito mais alma do que corpo. Aprendi muito com eles”, conta.No horizonte de Sônia, a próxima missão é participar dos Jogos Olímpicos da Juventude, em Buenos Aires, na Argentina, em outubro.

Líder dos voluntários

O capixaba Roque Sartori Junior também é ligado ao esporte e tem experiência como voluntariado. Profissional de Educação Física, sempre que pode, participa de eventos esportivos. A primeira vez foi nos Jogos Rio 2016. Em Cochabamba, atuou como líder dos voluntários no cenário aquático.

“Eu ajudei na distribuição e logística das funções dos voluntários em todas atividades de piscina”, explica. Em Cochabamba, do total de voluntários, 42 eram líderes distribuídos por todas as modalidades.

Ana Carla foi capacitada para atuar na área médica. Foto: Rodolfo Vilela/rededoesporte.gov.br
"Na capacitação, fomos treinados para fazer atendimento nos primeiros socorros, além de simulados com helicóptero e ambulância"
Ana Carla Machado

“Prata da casa”

É a primeira vez que a mineira Ana Carla Machado atua como voluntária em um evento esportivo. A brasileira vive em Cochabamba e, junto com o marido, mudou-se para estudar Medicina. “Eu morava em Belo Horizonte e trabalhava como auditora, mas decidimos mudar de área. Primeiro fomos para a Argentina, mas aqui o custo de vida é mais baixo. Quando surgiu a oportunidade de ser voluntária nos Jogos Sul-Americanos, me inscrevi para a área médica. Na capacitação, somos treinados para fazer atendimento nos primeiros socorros, além de simulados com helicóptero e ambulância”, conta a voluntária, que atuou cenário de ginástica e taekwondo.

“Foi uma experiência ficar perto da seleção brasileira, ainda mais com tantas medalhas de ouro. Matei um pouco da saudade”. A futura médica, que também é enfermeira, já esteve na África e dentro da área dela planeja ir ainda mais longe: ela o marido sonham em participar da organização de ajuda humanitária Médico sem Fronteiras.

Processo seletivo

Normalmente, os interessados em se tornar voluntários se cadastram nos sites dos eventos, e passam por testes, entrevistas e preparações, a maioria de forma online. Em geral, quando os eventos são fora de seu país de origem, os deslocamentos e a hospedagem ficam são custeados pelo próprio voluntário. A organização do evento, muitas vezes, ajuda no acesso a passagens e locais de hospedagem com preços mais em conta, fornece alimentação nos dias em que o voluntário atua, cede os uniformes e ajuda em deslocamentos necessários para o evento. 

No caso de quem já tem experiência, a capacitação é feita de acordo com as vivências que a pessoa já teve. Em Cochabamba, por exemplo, Sônia foi técnica desportiva da ginástica, com atendimento aos atletas nas áreas de competições. “Geralmente, quem é voluntário pela primeira vez, fica no atendimento ao público e no auxílio a outros voluntários que têm mais tempo nessa função”. Além da ginástica, ela atuou na final do vôlei masculino entre Argentina e Chile e nas competições de vela.

Cristiane Rosa, de Cochabamba, na Bolívia - rededoesporte.gov.br