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Vela

23/06/2016 11h34

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Com Beta de amuleto, Fernanda e Ana Barbachan "lapidam" o pódio olímpico

Dupla da classe 470 esteve entre as três melhores em cinco de seis provas disputadas em 2016. Na “bagagem” desde os dois meses de vida, a filha de Fernanda é integrante informal do time

Fernanda Oliveira e Ana Luiza Barbachan já não podem mais ser chamadas de dupla. Com o nascimento de Roberta, filha de Fernanda, a equipe ganhou uma nova integrante, que estreou em aeroportos internacionais com dois meses e meio de vida. “Beta” é a companheira inseparável da dupla gaúcha de velejadoras da classe 470.

“Ela praticamente saiu da barriga com o passaporte. A Beta viaja comigo desde março de 2014 para todos os campeonatos. Tenho que organizar cada viagem, ver onde ela vai dormir, tenho que levar uma pessoa para ajudar. Isso é um desafio, mas graças a Deus tenho um apoio gigantesco da Ana e da equipe toda. A Ana dá banho, escova dente, conta história para dormir...”, conta Fernanda.

Fernanda Oliveira e Ana Luiza Barbachan, com a “mascote” Roberta: “Ela praticamente saiu da barriga com o passaporte. A Beta viaja comigo desde março de 2014 para todos os campeonatos”, conta Fernanda. Foto: Arquivo pessoal

Ana decidiu adiar os planos da maternidade quando percebeu, na prática, como é trabalhoso cuidar de um bebê. Mas se derrete em elogios à criança, que já tem papel na equipe. “Vi o quanto é difícil e olha que a Beta é uma criança muito tranquila, feliz, não faz birra, não incomoda. A função dela é divertir. Ela é muito inteligente e curiosa”, afirma.

Com Roberta, Fernanda tem menos tempo para o treino físico, mas se considera mais forte emocionalmente. “Ela me ajudou a ter mais equilíbrio, a ter uma plenitude, uma tranquilidade maior, a dar valor para os pequenos momentos e a digerir melhor os dias de competição. Esqueço do meu mundo e deixo a coisa mais leve. Antigamente, ficava remoendo o resultado se não fosse bom, ficava me culpando até o último minuto daquele dia, dormia de mau humor. E com ela melhora. Ela até pergunta: ‘Mamãe tá feliz?’”, narra a velejadora.

Fernanda e “Beta”, festa entre os treinos e competições. Foto: Arquivo pessoal

Saindo do “quase pódio”

Se fora da água a dupla conta com a energia positiva de Roberta, nas regatas os bons resultados são atribuídos ao amadurecimento da parceria, que começou em 2009.  Nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, elas ficaram em sexto lugar. No ciclo rumo ao Rio, o “quase pódio” passou a virar medalhas.

“No primeiro ciclo, a gente circulou muito entre as cinco primeiras. No segundo, a gente conseguiu subir um degrau, posicionando numa zona de pódio. Isso só confirmou que nosso caminho estava certo e nos presenteou com a possibilidade de estar nos Jogos do Rio”, avalia Fernanda, que disputará a quinta edição de Jogos Olímpicos e tem a única medalha da vela feminina Brasileira em Olimpíadas: o bronze em Pequim 2008, junto com Isabel Swan, também na classe 470.

Outro “upgrade” do último ciclo ocorreu na comissão técnica: o treinador espanhol Eneko Fernández passou a trabalhar com a dupla, atuando em conjunto com técnico Paulo Roberto Ribeiro, o Paulinho.

“A equipe sempre esteve muito aberta. A gente trabalha junto há muito tempo: eu e o Paulinho desde 2005, e com a Ana desde 2009. Foi interessante abrir essa porta, ouvir uma opinião diferente. É tipo uma consultoria para saber se nosso caminho estava certo. Ele e o Paulinho se dão super bem. Não trouxe nada de mágico, foi um complemento”, explica Fernanda.

Também neste ciclo, um antigo inimigo passou a não ser mais temido. “A gente tinha uma facilidade maior com ventos fracos, por velejar mais vezes onde há menos vento, e tínhamos resultados melhores com vento fraco. Mas hoje não se pode dizer mais isso. Temos tido provas de resultado muito positivo em condições de vento forte também e isso nos dá uma tranquilidade maior para enfrentar o que vier”, afirma Fernanda, a timoneira da equipe, com 35 anos. Ana, a proeira, completará 27 anos durante os Jogos do Rio.

Fernanda Oliveira e Ana Barbachan em ação: Depois do sexto lugar nos Jogos Olímpicos de Londres, a dupla sonha com o pódio no Rio 2016. Fotos: Jesus Renedo Sailing Energy / Fred Hoffmann-CBvela / Getty Images

Os resultados do ano olímpico aumentam a tranquilidade da dupla. Em seis campeonatos disputados em 2016, Fernanda e Ana estiveram em cinco pódios, com destaque para o bronze na etapa de Miami (EUA) e a prata na etapa de Hyères (França) da Copa do Mundo. No Mundial da classe 470, ficaram em quarto lugar.

“A gente merece um bom resultado, tem apresentado bons resultados, tecnicamente tem condições de fazer um bom resultado, e espero que a gente realmente consiga executar o nosso melhor naquela semana dos Jogos e chegar ao pódio”, diz Fernanda.

O combustível

Os treinos no Rio de Janeiro se intensificaram na reta final. Velejar mais na Baía de Guanabara é parte importante da estratégia, mas o descanso às margens do rio Guaíba também é.

“Por perfil nosso, a gente gosta muito de estar em casa. A gente precisa desse ‘combutivelzinho’. Se a gente tiver três dias de folga, a gente vai preferir pegar um avião aqui e ir para Porto Alegre do que pegar um carro e passar o fim de semana em Búzios. Hoje nos nutre mais. A gente chega ao Rio mais animada depois para treinar do que se tivesse ficado aqui na beira da praia”, explica Fernanda.

Fernanda Oliveira e Ana Barbachan. Foto: Gabriel Heusi/brasil2016.gov.br

Em junho, foram seis dias em Porto Alegre. No dia 30, elas retornam à capital gaúcha para uma nova temporada de mais oito ou nove dias. O meio de julho será de treinos no Rio de Janeiro, mas, no dia 22, a passagem já está marcada para o Sul. A dupla se une à Seleção Brasileira de Vela no Rio de Janeiro em 1º de agosto em definitivo para os Jogos Olímpicos.

”A gente volta para casa, fica uma semana lá, esquecendo um pouco as coisas, saindo desse burburinho”, diz Fernanda. “Fico ‘no ninho’, com minha mãe, com minha irmã, com meu namorado e aproveito para descansar mesmo, para chegar aqui com gás”, complementa Ana. E se houver um jogo do Internacional, é bem possível que as duas estejam no estádio. Ou melhor, as três, porque Roberta não fica de fora.

Carol Delmazo – brasil2016.gov.br