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Natação

20/02/2019 17h18

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Especialista no nado costas, Etiene Medeiros prioriza os 50m livre por Tóquio

Nadadora é tricampeã mundial nos 50m costas, mas prova não é olímpica. Para os Jogos de 2020, ela e o técnico Fernando Vanzella definiram a mudança de rumo

A pernambucana Etiene Medeiros construiu uma carreira na natação marcada pelo pioneirismo. Em 2014, em Doha, no Catar, durante o Mundial de Piscina Curta (25 metros, não olímpica), entrou para a história ao se tornar a primeira brasileira campeã mundial em provas individuais. O ouro, conquistado com 25s67, foi ainda mais espetacular porque Etiene quebrou o recorde mundial da prova, outro feito inédito para uma nadadora do país.

Um ano depois, nos Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015, venceu os 100m costas e tornou-se a primeira nadadora do país a conquistar um ouro no Pan. No fim de 2016, em Windsor, no Canadá, chegou ao bicampeonato nos 50m costas no Mundial de Piscina Curta e, em julho de 2017, sagrou-se campeã mundial da prova em piscina longa (50 metros) em Budapeste, na Hungria. No total, entre provas individuais e de revezamento, são oito pódios em Mundiais de piscina longa e curta: quatro ouros, duas pratas e dois bronzes.

A temporada de 2019, entretanto, trouxe um novo desafio para Etiene e seu técnico, Fernando Vanzella. Representantes do Sesi-SP, os dois vão priorizar, já visando aos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, a prova dos 50m livre, uma vez que os 50m costas não faz parte do programa nas Olimpíadas.

Etiene, durante treinamento realizado esta semana no Maria Lenk, no Rio de Janeiro. Foto: Igo Bione
"Ter nadado essa prova no ano passado no Mundial de Curta foi importante. Estar entre as primeiras com certeza me motivou para chegar neste ano e fazer algumas metas voltadas para 2020 nos 50m livre"
Etiene Medeiros

"Na verdade, essa é uma prova que tem uma história. Eu sou nadadora dos 50m livre há muito tempo. Vim de Recife nadando os 50m livre para o Rio e para São Paulo. Já tenho uma cadência boa", ressalta Etiene, que esta semana está, com seu treinador, Fernando Vanzella, treinando em um camping no CT Time Brasil, no Centro Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro. Além dos trabalhos na piscina, ela passa por uma bateria de exames e avaliações no Laboratório Olímpico do Comitê Olímpico do Brasil (COB), um dos legados dos Jogos Rio 2016.

"Venho progredindo. Fui a única finalista (do Brasil) nos Jogos Rio 2016 nessa prova e estou com foco total para 2020. Não quer dizer que eu vou deixar de nadar as outras provas, mas meu foco maior está sendo nas provas de velocidade de crawl, os 100m e 50m livres", reforça a nadadora.

No último Mundial de Piscina Curta, em dezembro de 2018, em Hangzhou, na China, Etiene errou na saída dos 50m costas e acabou fora do pódio. Em compensação, faturou o bronze nos 50m livre com 23s76, novo recorde das Américas. Etiene só ficou atrás das holandesas Ranomi Kromowidjojo (23s19), campeã olímpica dos 50m e 100m livre em Londres 2012, e Femke Heemskerk (23s67), ouro no revezamento 4 x 100m livre em Pequim 2008 e prata na mesma prova em Londres 2012.

"Ter nadado essa prova no ano passado no Mundial de Curta foi muito importante. Estar entre as primeiras com certeza me motivou para chegar neste ano e fazer algumas metas voltadas para 2020, principalmente nessa prova", conta Etiene.

Versatilidade

O técnico Fernando Vanzella afirma que o fato de ter uma atleta versátil em provas de velocidade tornou a decisão de priorizar os 50m livre para Tóquio 2020 mais fácil. "A Etiene é uma menina que tem uma versatilidade grande. As opções dela são várias. É campeã pan-americana dos 100m costas, é vice-campeã dos 50m livre, é campeã mundial dos 50m costas, que não é prova olímpica, e isso traz para a gente a necessidade de buscar uma prova olímpica para que ela tenha uma participação nos Jogos Olímpicos e Pan-Americanos em provas em que ela pode buscar uma medalha", explica.

"Ela foi finalista olímpica nos 50m livre e então o foco já vinha um pouco nessa prova no Rio 2016. Por ela ser velocista, por ser campeã mundial dos 50m costa, meio que na genética dela já existe essa característica. O velocista nada 50m e 100m. A gente sentou depois das Olimpíadas, conversamos um pouco, mas não tiramos o foco dos 50m costas, porque ela é campeã mundial. Ela foi campeã mundial nessa prova duas vezes em piscina curta, uma vez na longa, é recordista mundial, então não podemos esquecer. Mas temos essa preocupação de construir uma prova olímpica", detalha Vanzella.

Foto: Igo Bione
"Comparando a Etiene com as principais adversárias nos 50m livre, o final, os últimos 10 metros, é um trecho no qual ela é um pouco mais lenta. Então, a gente tem trabalhado a resistência e a velocidade para que ela consiga manter a velocidade que tem, que é boa, por mais tempo"
Fernando Vanzella, técnico

Para o técnico, o horizonte é até mais amplo. "Como treinador dela e tendo uma experiência de 30 anos na borda da piscina, consigo enxergar nela possibilidades nos 100m costas e nos 100m livre, não apenas nos 50m livre", adianta. "Mas a ideia é, sim, ter uma prova principal, que seria os 50m livre, sem deixar de enxergar os 100m livre e os 100m costas, provas em que os tempos dela são bons. Ela foi semifinalista nos 100m livre nas Olimpíadas (Rio 2016), os 100m costas ela já foi finalista em Mundial. Se a gente tem uma atleta com potencial e versatilidade, não podemos focar só em um momento. Para buscar a medalha, ela vai priorizar os 50m livre, mas sem esquecer as outras", frisa o treinador.

Impacto 

Vanzella diz que a decisão de focar nos 50m livre trouxe alguns reflexos nos treinos de Etiene, que precisará ganhar mais força até os Jogos de Tóquio. "Como ela já vinha focando nos 50m costas e é uma prova de velocidade, teoricamente o trabalho físico é parecido. A gente mudou algumas coisas na preparação física para que ela fique mais forte. Não que ganhe músculo, mas, sim, que o músculo seja mais eficiente", relata o treinador.

Além dos trabalhos de força, ajustes finos vêm sendo feitos em diversos aspectos. "A gente tem focado em uma periodização que chamamos de ondulatória, onde uma semana é mais de volume e na outra semana é mais de intensidade. Isso vai se alternando nessa fase de preparação. Na parte técnica, a gente está investindo muito na saída dela no nado de crawl, já que ela não tem a mesma potência que tem no costas. Temos um biomecânico, o Fabiano, que trabalha comigo no Sesi e estamos investigando passo a passo, desde força, posição no bloco, movimentação inicial, reflexo, voo, entrada na água, os primeiros 15 metros...", enumera Vanzella.

O estudo já os permitiu observar características que precisam ser trabalhadas. "Comparando a Etiene com as principais nadadoras olímpicas nos 50m livre, o final, os últimos 10 metros, é um trecho no qual ela é um pouco mais lenta que as outras meninas. Então, a gente tem trabalhado a resistência e a velocidade para que ela consiga manter a velocidade que tem, que é boa, por mais tempo. Se conseguirmos trabalhar nesse sentido, na velocidade, na resistência e na saída, a gente acredita que isso vai tirar um pouquinho de cada trecho e com isso ela vai ser ainda mais competitiva", prossegue.

Etiene e Fernando Vanzella: trabalho duro em busca da evolução nos 50m livre. Fotos: Igo Bione

Calendário

Para a natação brasileira, a temporada de 2019 não é estratégica apenas por ser um ano pré-olímpico. Para todos os que aspiram defender o país em Tóquio 2020, duas competições estão na mira: o Mundial de Desportos Aquáticos, entre 12 e 28 de julho, em Gwangju, na Coreia do Sul, e os Jogos Pan-Americanos de Lima, entre 26 de julho e 11 de agosto. Até lá, contudo, é preciso brigar por vaga na seleção brasileira de natação.

"Primeiro, nossa meta é o Troféu Brasil, que vai definir qual vai ser a seleção brasileira, tanto para a Coreia quanto para o Peru", lembra Etiene. Pelas regras da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), haverá uma seletiva única para a formação das equipes para o Mundial e o Pan: o Troféu Brasil/Maria Lenk, disputado entre 16 e 21 de abril, no Parque Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro.

"Meu foco total vai ser nadar bem, seja nas duas competições ou em uma, a gente ainda não sabe. Eu quero as duas. Vai ser difícil pelo fato de ter um intervalo curto, mas é um ano em que você tem de mostrar a sua cara", continua a pernambucana. Mundial e Pan à parte, a temporada reserva outros desafios. Antes do Troféu Brasil, Etiene competirá, no dia 22 de março, no Meeting International FFN Golden Tour, em Marseille, na França.

Em maio, ela ainda deve competir na Hungria e nos Estados Unidos e, em junho, na Itália. "A ideia é dar o máximo possível de oportunidades para ela poder competir no alto rendimento. Estamos na primeira fase. Começamos em 2 de janeiro a temporada e a ideia é chegarmos na seletiva competitivos, já fazendo bons resultados e, depois, aproveitar ao máximo essa preparação e levá-la o mais bem preparada possível até o Mundial e o Pan-Americano. Depois, vamos dar um break de uns dez dias, para ela dar uma respirada e descansar, e aí começa o ciclo da Olimpíada", encerra Vanzella.

Luiz Roberto Magalhães – rededoesporte.gov.br