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Atletismo

17/08/2016 01h32

Vôlei de praia

Épico: Ágatha e Bárbara vencem Walsh e Ross e estão na final

Brasil volta a uma decisão olímpica feminina de vôlei de praia após 12 anos. As adversárias, nesta quarta, serão as alemãs Laura Ludwig e Kira Walkenhorst, que eliminaram Larissa e Talita

Atualizada às 3h06

Foi preciso esperar até a madrugada desta terça (16.08) para mais um daqueles confrontos que reforçam o encanto do esporte: repleto de emoção, lances de tirar o fôlego, jogadas para levar a torcida ao delírio e, sobretudo, muita rivalidade. Em um jogo épico, Ágatha e Bárbara venceram as norte-americanas Kerri Walsh e April Ross por 2 sets a 0 (22/20 e 21/28) na Arena de Copacabana. 

Para Walsh, tricampeã olímpica ao lado de Misty May, ganhar significaria a quarta final consecutiva. Ross chegaria à sua segunda decisão, já que perdeu para as compatriotas em Londres 2012, junto com Jennifer Kessy. Em setembro de 2015, durante o evento-teste do vôlei de praia para o Rio 2016, Walsh afirmou que queria silenciar as arquibancadas na final olímpica. 

Ágatha e Bárbara comemoram ponto na partida histórica que levou a dupla brasileira à final olímpica. Foto: Getty Images

Só que, na semi, havia do outro lado da rede uma dupla  que, apesar de estreante em Jogos, traduziu o sonho de estar na decisão em atitude e foco. Que tinha a maior parte da arena a seu favor. Que não se diminuiu diante do currículo olímpico das oponentes. Pelo contrário. As atuais campeãs mundiais colocaram no histórico de Walsh a primeira derrota dela como jogadora do vôlei de praia em Olimpíadas, após 26 vitórias, e devolveram o Brasil a uma decisão feminina da modalidade após 12 anos.

"A gente ainda não realizou o feito que a gente fez, que foi criar uma derrota pra uma jogadora que nunca perdeu na Olimpíada. Mas a gente não focou nisso, nosso objetivo foi sempre focar em nós duas, porque a gente sabia que, se a gente entrasse  nesse favoritismo, a gente já começava perdendo, a gente ia criar um monstro do outro lado. Focamos no nosso, porque só assim a gente teria chance de ganhar. Isso foi a primeira coisa, para depois focar na tática, na técnica", conotou Ágatha.

A final será realizada às 23h59 desta quarta-feira (17.08) contra as alemãs Laura Ludwig e Kira Walkenhorst. Antes, às 22h, Walsh e Ross disputam o bronze contra Larissa e Talita. A rotina até chegar a decisão, de acordo com Ágatha, terá fisioterapia, horários controlados de alimentação, momentos para descontrair e uma boa dose de paciência até tarde da noite. Muito estudo também, acrescentou Bárbara.

"Já enfrentamos as alemãs, ganhamos e perdemos. Não tem essa de encaixar muito, e sim encaixar uma boa tática através do estudo, preparação e estatísticas, Antes de entrar em quadra, é preciso saber o que fazer", afirmou.

O clima na semifinal

A entrada das brasileiras já foi de arrepiar. Em noite de casa cheia, os gritos foram ensurdecedores para receber a dupla, mas dezenas de bandeiras dos Estados Unidos também estavam presentes nas arquibancadas. Walsh é um ícone de um esporte que é fortíssimo nos dois países. Só que, nesta noite, as vaias eram mais fortes para ela. Valia tudo para dar mais incentivo às donas da casa.

O primeiro passo

Com a canhota, Bárbara fez o primeiro ponto da partida. O alto nível do jogo das norte-americanas apareceu desde o início, mas as brasileiras também começaram bem e conseguiram fazer 6/4. O jogo prometia. Com um ace, Ágatha fez 7/4, mas errou o ataque no rali seguinte. Era só ir para o saque que as adversárias ouviam as vaias. 

As brasileiras administravam uma pequena vantagem, que as americanas tiraram ao chegar 9/9 com o paredão de Walsh. Empates consecutivos, típicos de um jogo equilibrado, foram ocorrendo a partir daí. Cada ponto do Brasil significava uma vibração intensa e um abraço da dupla. Ágatha e Bárbara estavam focadas: a única forma de vencer uma dupla tão forte seria assim. Explorando o bloqueio de Walsh, Ágatha manteve o placar apertado (15/15). Era ponto a ponto. No detalhe. Ross pegou uma bola quase perdida e atacou bem para abrir vantagem de dois pontos 16/18 em um momento perigoso.

Bárbara fez um ace crucial para empatar de novo em 18/18. Foi uma largadinha da canhota que deu o primeiro set point ao Brasil (20/19), mas as americanas salvaram. Bárbara trouxe a vantagem novamente para as anfitriãs, e ela mesmo sacou direto no chão da quadra adversária pra fechar a parcial em 22/20 num ace. O primeiro passo havia sido dado.

O passaporte 

Bárbara estava em um dia iluminado. Pegava tudo e ainda atacava de forma inteligente. Sacando quase sempre em Walsh, Ágatha completou o bom começo com um ace: 3/1.

"Foi tática mesmo. A gente estudou as duas, a gente viu, de acordo com o nosso time, que ia ser melhor sacar nela, que a gente ia conseguir defender melhor. Foi totalmente estratégia", contou Ágatha.

Só que uma tricampeã olímpica não desiste fácil. Com raiva, ela cravou. Bárbara, de novo ela, atacou na diagonal curta para manter a vantagem (4/2). Não é um esporte coletivo? Ali na frente, Ágatha fechava a rede: com dois bloqueios consecutivos, o placar foi para 6/2. Walsh e Ross passavam longe de sucumbir: mantinham a calma e tentavam diminuir a diferença. Elas conseguiram empatar em 8/8, com um ataque brasileiro para fora. Fácil não seria. No tempo técnico, o jogo estava  em 11/10.

“É hoje o dia... da alegria”, cantavam os torcedores. Até que essa profecia se concretizasse, entretanto, ainda havia muito jogo. Bárbara pegou mais uma, atacou sem bloqueio e coube a Ágatha convocar ainda mais a torcida. O placar marcava 13/11.

"Eu só escutava a torcida na hora em que a gente fazia o ponto, porque o nível de concentração foi muito alto. Eu só conseguia pensar na tática. Quando o ponto era nosso, aí eu me virava e conseguia sentir a torcida", explicou.

É repetitivo, mas é preciso lembrar: era Walsh. Ela impedia que a vantagem se alargasse, com a categoria que lhe é peculiar. Canhotas sabem atacar na paralela como ninguém, e Bárbara fez mais um assim (16/14). O paredão de Ágatha apareceu outra vez para o 17º ponto. Já estava ficando difícil escrever o texto do jogo, porque a tribuna de imprensa tremia com a vibração da torcida, que estava de pé para assistir ao final épico. Bárbara viu o espaço e deu uma largadinha para se aproximar ainda mais do sonho: 19/16. Chegou o match point (20/17), mas Walsh estragou a primeira chance. Nunca a tricampeã olímpica deve ter sido tão vaiada como em seu último saque e coube à Ágatha soltar o braço, com toda a energia de quem queria fazer história: 21/18. A decisão olímpica virou realidade.

"Não escutei uma vaia que seja. Não sabia o que estava acontecendo, apenas senti a energia e isso é positivo. São fãs do esporte, eu apenas queria ter vencido. O sentimento (da primeira derrota em Olimpíadas) é terrível", afirmou Walsh.

Ágatha e Bárbara não esconderam a felicidade com o jogo histórico, mas sabem que controlar a euforia é necessário. O campeonato ainda não acabou. "Temos de virar a chave e se preparar muito porque as alemãs formam um time muito perigoso, principalmente, por terem derrotado outro time do Brasil, apontado como um dos melhores do mundo.Temos de estar muito atentas", disse Bárbara. "Não tem essa de prata garantida. Queremos é o ouro", avisou Ágatha.

Carol Delmazo, brasil2016.gov.br