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Geral

18/03/2018 02h43

Jogos Paralímpicos de Inverno

Em virada histórica, EUA conquistam o tri paralímpico no hóquei

"Talismã" de 20 anos, Declan Farmer empata a decisão contra o Canadá a 36 segundos do fim e marca o gol de ouro

Sim, o Canadá é tetracampeão mundial. Sim, chegou à decisão em PyeongChang com uma campanha impecável, com 42 gols marcados e nenhum sofrido. Sim, venceu o próprio time dos Estados Unidos ano passado, no mesmo ginásio de Gangneung, por 4 x 1, na final do Mundial. E sim, estiveram perto, muito perto, do sonhado título paralímpico na Coreia do Sul. Mais precisamente, ficaram a 36 segundos de celebrar.

Equipe americana celebra o ouro após o gol de ouro na prorrogação contra o Canadá. Foto: Bob Martin/OIS/IOC

Houve, contudo, um duplo fator a favor dos americanos no fim do duelo em três tempos de 15 minutos neste domingo (18.03). Primeiro, uma pitada de ousadia. O técnico Guy Gosselin partiu para o tudo ou nada quando faltava um minuto e meio e perdia por 1 x 0. Tirou o goleiro Steve Cash e deixou o time com seis na linha.

Na blitz final americana, o Canadá teve a chance de um contra-ataque claro para matar o jogo. Diante do gol vazio, o defensor Rob Armstrong avançou pela lateral direita e acertou o pé da trave. "É um lance que dói na alma. Vou remoer aquela jogada na minha cabeça por muito, muito tempo", lamentou Armstrong. 

Na sequência, o atacante americano Declan Farmer, de apenas 20 anos, começou a construir o improvável. Após um bate-rebate na frente da meta canadense, driblou um defensor e lançou alto para igualar o marcador. A partida foi para a prorrogação. Seriam 15 minutos, mas com gol de ouro. E coube novamente a Farmer, aos três minutos e meio, achar uma brecha na defesa canadense e acertar outro lance certeiro, o gol que encerrou a decisão e decretou o tricampeonato paralímpico em sequência para os Estados Unidos.

"É um sentimento incrível empatar e fazer o gol da vitória. É como um sonho de criança. Eu devia isso ao time porque perdi algumas chances. Eu tinha de fazer isso por eles"
Declan Farmer

"É um sentimento incrível empatar e fazer o gol da vitória. É como um sonho de criança. Eu devia isso ao time porque perdi algumas chances. Eu tinha de fazer por eles", afirmou o atleta. "Está tudo meio confuso agora, mas sei que vou me lembrar deste dia pelo resto da minha vida. Somos o melhor time do mundo e mostramos isso", completou.

O atleta nasceu com amputação bilateral das pernas, uma acima do joelho e outra abaixo do joelho. Aprendeu a andar com próteses aos nove anos. Começou a praticar hóquei em 2006. E tem um histórico de boas apresentações em competições importantes. No Mundial de 2017, mesmo perdendo a final para o Canadá, foi eleito o melhor atacante da competição. Esteve também na equipe americana que foi campeã quatro anos atrás, em Sochi, na Rússia. 

Confira o gol do título dos Estados Unidos

 

#USA win #Paraicehockey #Gold

A terrific goal in overtime from talisman Declan Farmer seals the win!!

It's agony for #CAN, but they played their part in this great final 👏#PyeongChang2018 #Paralympics pic.twitter.com/FFNx9IOT1w

— Para Ice Hockey (@paraicehockey) March 18, 2018

Outro atacante americano, Brody Roybal, destacou o sentimento de incredulidade que marcou o fim da partida e a virada inesperada. "Foi insano. Estou meio sem palavras. Não consigo nem me lembrar direito do gol da vitória. Declan (Farmer) foi mágico para nós", afirmou. 

O técnico canadense, Ken Babey, ainda tentava processar o resultado ao fim da partida. "Nós estávamos a 36 segundos do ouro. O disco estava  preso numa disputa, foi parar do outro lado e eles empataram. Acho que para muitos de nós foi um choque o jeito que ocorreu. Não conseguimos nos recuperar para a prorrogação", avaliou. 

Farmer observa a bola superar a meta de Dominic Larocque no gol de ouro. Foto: Joel Marklund/OIS/IOC

Ficou no quase

O Canadá abriu o marcador com um gol do atacante Billy Bridges, aos 12min06s do primeiro tempo, que foi de amplo domínio canadense, com cinco chutes a gol contra nenhum dos americanos. Com o 1 x 0, a história se inverteu na segunda parcial, com seis chutes a gol americanos e três dos canadenses. Em dois instantes, brilhou o goleiro Dominic Larocque, com defesas incríveis, justificando o fato de a equipe não ter sofrido gols durante toda a competição.

No início do terceiro tempo, Billy Bridges sofreu uma penalização de dois minutos e deixou o time com quatro na linha. A equipe americana pediu tempo. Durante dois minutos, se impôs no ataque e teve duas ótima chances, mas não conseguiu a igualdade. A partida foi ficando tensa, com lances violentos dos dois lados, e um equilíbrio impressionante. Faltando 6min50s, cada equipe havia chutado 8 vezes a gol e o goleiro Steve Cash, dos EUA, entrou para a lista dos milagreiros: salvou duas belas tentativas canadenses. No fim, a bola na trave que fez falta e os milagres de Farmer mudaram completamente a narrativa. 

No caminho até a decisão, as duas equipes passearam em PyeongChang. O Canadá havia feito 42 gols e não tinha sofrido nenhum, em duelos diante de Suécia, Itália, Noruega e Coreia do Sul, este último na semifinal. Os Estados Unidos já tinham 38 gols marcados e apenas um sofrido, diante da Itália. 

Festa coreana em Gangneung: bronze após vitória por 1 x 0 sobre a Itália. Foto: Joel Marklund/OIS/IOC

Bronze histórico

"Minhas lágrimas? Elas significam um obrigado aos jogadores por treinarem duro e chegarem preparados para nos proporcionar isso"
Seo Kwang Suk, técnico da Coreia do Sul

Uma das cenas mais marcantes da modalidade foi na disputa do bronze, no sábado (17.03), entre Coreia do Sul e Itália. Numa partida incrivelmente equilibrada, os coreanos conseguiram a vitória pela diferença mínima: 1 x 0, com um gol do defensor Jang Dong Shin aos 11min42 do terceiro e último tempo. O bronze foi intensamente comemorado pelos 6.534 torcedores que encheram a Arena de Gangneung para assistir ao duelo. No momento mais tocante, todos cantaram o hino coreano como se o bronze tivesse o peso de ouro. Vários dos jogadores se emocionaram e choraram.

"Minhas lágrimas? Elas significam um obrigado aos jogadores por treinarem duro e chegarem preparados para nos proporcionar isso", afirmou o técnico Seo Kwang Suk. "É um sentimento impressionante, inacreditável", resumiu o atacante Lee Ju Seung.

Modo de jogo

O hóquei paralímpico é um jogo rápido, altamente físico e jogado por homens e mulheres com deficiência na parte inferior do corpo. As regras são basicamente as mesmas da Federação Internacional de Hóquei sobre o Gelo, com algumas adaptações. Em vez de patins, os atletas usam trenós baixinhos, com duas lâminas com espaço suficiente para que o disco passe por baixo. Em vez de um taco, os atletas usam duas varas. Em uma das pontas, elas servem para deslocamento. Na outra, são maiores, para passar e lançar o disco. O disco é feito de borracha vulcanizada e mede 7,62cm de diâmetro, 2,54cm de altura e pesa entre 156g e 170 gramas. O gol tem 1,83m de largura e 1,22m de altura.

As partidas são disputadas em três períodos de 15 minutos. As equipes jogam com cinco atletas na linha mais o goleiro. O time completo reúne 13 jogadores e dois goleiros. As posições em campo normalmente se dividem entre três atacantes, dois defensores e um goleiro. Em função da natureza mais física do jogo, os jogadores usam proteções para o rosto, para o pescoço e para o corpo. O goleiro tem uma proteção ainda mais reforçada, até porque os "chutes" levam o disco a até 100km/h.

Campanhas dos finalistas

Canadá 17 x 0 Suécia
Canadá 10 x 0 Itália
Canadá 8 x 0 Noruega
Canadá 7 x 0 Coreia do Sul (Semifinal)
Canadá 1 x 2 Estados Unidos (Final)

Estados Unidos 10 x 0 Japão
Estados Unidos 10 x 0 República Tcheca
Estados Unidos 8 x 0 Coreia do Sul
Estados Unidos 10 x 1 Itália (Semifinal)
Estados Unidos 2 x 1 Canadá (Final)

Gustavo Cunha, de PyeongChang, na Coreia do Sul - rededoesporte.gov.br