Você está aqui: Página Inicial / Notícias / Destaque nos EUA, Camilinha busca seguir passos de Marta e planeja futuro na Seleção Brasileira de futebol

Atletismo

11/04/2018 13h31

ENTREVISTA

Destaque nos EUA, Camilinha busca seguir passos de Marta e planeja futuro na Seleção Brasileira de futebol

Jogadora do Orlando Pride fala sobre a sua participação nos Jogos Rio 2016, a importância do Bolsa Atleta, a adaptação na Flórida e a Copa América

"Que minha coragem seja maior do que meu medo e minha força seja tão grande quanto a minha fé". A tatuagem no braço direito de Camila Martins, a Camilinha, diz muito sobre ela. A jogadora, que atualmente atua pelo Orlando Pride dos Estados Unidos, mesmo time da rainha Marta, desde muito pequena teve a coragem de se dedicar ao futebol e a força para seguir seus objetivos. "Eu tive que passar por vários obstáculos para chegar onde cheguei. Não desisti dos meus sonhos", diz Camila.

Sem poder atuar em seu clube e na Seleção Brasileira por conta de uma lesão no joelho, ela acompanha as partidas do Brasil na Copa América do Chile pela internet. "Estou acompanhando pelo computador. O Facebook é o único lugar que está transmitindo. É difícil não estar numa competição tão importante como essa", declarou.

Foto: Rafael Brais/ME

 

Os quase 8.500 quilômetros de distância entre Estados Unidos e Chile não impedem o apoio de Camilinha às meninas da Seleção. "Estou dando toda minha força e minha positividade para elas, mesmo de longe. Tenho certeza que elas trabalharam e treinaram para fazer um bom trabalho lá. Mas é difícil, claro que é difícil (não estar lá), mas vou trabalhar também aqui para ficar bem o mais rápido possível e para me juntar a elas o quanto antes", desejou.

» Acompanhe a Copa América de Futebol Feminino

 

Em Orlando, na Flórida, Camilinha mora em um apartamento alugado pelo seu clube, próximo ao centro de treinamento. Do condomínio até o Orlando City Stadium são 30 minutos de carro. Atualmente, a meia-atacante divide seu tempo entre a fisioterapia, para tratamento de grave lesão ocorrida ano passado – em outubro de 2017 a jogadora rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho –, aulas de inglês em casa, para as quais utiliza um quadro branco que fica na sala, e treinos físicos leves. Ela deve voltar aos gramados em maio. "Foi a lesão mais séria que tive. Estou sendo muito bem tratada e recebendo todo o suporte do clube", disse.

A atleta de 23 anos, que em 2017 foi eleita a novata do ano pela National Women's Soccer League (NWSL), recebeu a Rede do Esporte em sua casa em Orlando para uma entrevista. Ela fala sobre sua participação nos Jogos Olímpicos Rio 2016, a importância do Bolsa Atleta, o contato com Marta, a adaptação nos Estados Unidos, a Seleção Brasileira e outros assuntos.

A carreira no futebol

As primeiras experiências dentro de uma quadra de futsal aconteceram em sua cidade-natal, São Bento do Sul/SC. "Quando eu estava no jardim, na creche, eu só queria brincar de bola. No colégio, quando tinha o time das meninas mais velhas, eu tinha uns 8 ou 9 anos, e eu pedia para meu pai para ficar lá assistindo e correndo de um lado para outro com uma bola enquanto elas treinavam", contou, sempre destacando o quanto aquilo a deixava feliz. "Eu começava a admirar aquelas jogadoras e dizia que quando tivesse aquela idade, seria igual a elas. Aquele era meu mundo", comentou.

Depois, aos 13 anos, jogou um ano em Jaraguá do Sul, época em que fazia bate-e-volta de duas a três vezes na semana para treinar na equipe do Malwee. Para isso, sempre contou com o apoio incondicional do pai, o seu Edson. "Meu pai levava e, quando ele não podia, um amigo levava. Meu pai sempre me incentivou muito", disse.

Camilinha logo se destacou e foi convidada para jogar em Brusque, pelo Barateiro Futsal, onde atuou por três anos e chegou até a seleção catarinense. "Lá eu conheci o Edvaldo, que era técnico da seleção sub-17 de campo, a Andressinha e a Jenny, que já eram bem conhecidas no campo. Então eu tive vontade de jogar futebol de campo, ver como era", disse. Aceitou, então, o convite para jogar campo pelo Kindermann, da cidade de Caçador/SC, e, após dois anos, foi para a Ferroviária de Araraquara/SP. "Eu nunca tinha saído de Santa Catarina para jogar futebol", contou.

Foto: Rafael Brais/ME

Estados Unidos

Depois dos primeiros gols pelos gramados brasileiros, Camilinha foi jogar na forte liga feminina dos Estados Unidos em 2015, pelo Houston Dash. A primeira experiência internacional não foi exatamente como planejado. "Não me adaptei, não foi bom para mim. Morei com uma família mexicana no Texas e a adaptação acabou ficando mais com a família do que com as jogadoras do time", disse. "Foi uma experiência boa, mas dentro de campo foi muito ruim para mim e eu voltei para o Brasil", afirmou.

Novamente em terras brasileiras, Camilinha foi jogar pelo Corinthians antes de passar a integrar a Seleção Feminina permanente, que se concentrava de forma diferenciada para os Jogos Olímpicos Rio 2016. Em 2017, teve outra oportunidade de ir para os Estados Unidos para jogar no recém-criado Orlando Pride. Desta vez, uma adaptação rápida e com sucesso: além de novata do ano, teve alguns de seus gols eleitos como os mais bonitos das rodadas. "Cheguei com uma cabeça totalmente diferente do que aquele primeiro ano (no Houston), querendo melhorar meu futebol e crescer como atleta e pessoa", relembrou. "A adaptação foi rápida. Tive ajuda da (jogadora brasileira) Mônica e fui muito bem recebida. Foi como um segundo Brasil", comparou.

Apesar de estar no "mundo encantado da Disney", a catarinense revela que foi poucas vezes aos parques de diversão. "Sempre quis vir para cá para conhecer a Disney. Saí de casa falando que iria conhecer os parques, que sempre foi meu sonho. Eu iria unir o útil ao agradável e aproveitar demais", explicou. Mas, a vida corrida nos Estados Unidos e a rotina de jogos, treinos mudou seus planos. "Ano passado eu fui em apenas três parques. Não conheci o famoso castelo (no Parque Magic Kingdom). Porque é diferente: você treina todos os dias, viaja, joga...essa é a rotina e você acaba ficando cansada. Então, você acaba querendo descansar o corpo e a mente para estar pronta para o próximo dia", comentou.

"Apesar o futebol feminino não ter o incentivo que merecia, a gente viu ali que o Brasil é sim o país do futebol. Rio 2016 é uma coisa que ficará marcada e eu vou poder contar para meus filhos e netos. Foi uma coisa muito marcante na minha vida"

Marta

Depois de alguns meses atuando pelo Pride, Camilinha ouviu boatos sobre a ida da rainha Marta para o time de Orlando. Pouco tempo depois, estiveram juntas em uma convocação, mas a melhor jogadora do mundo por cinco vezes desconversou sobre seu futuro. Mais tarde, em outra convocação, Marta confirmou a negociação. "Fiquei muito animada. Você estar com ela na seleção é uma coisa. Agora aqui (Orlando Pride), eu treino e jogo sempre ao lado dela", afirmou. "É uma atleta que vi na televisão, ficava admirada, e hoje eu estar do lado dela, ver como ela lida com o futebol feminino, é muito bom. Isso só te faz crescer. Nossa convivência é muito boa".

Jogos Olímpicos Rio 2016

Camilinha integrou a Seleção Brasileira Feminina que esteve nos Jogos Olímpicos Rio 2016. "Foi incrível. Eu estava como suplente, mas mesmo assim foi muito mágico. Você estar numa Olímpiadas, no seu país", disse, relembrando o envolvimento do povo brasileiro com as meninas do Brasil e o quanto foi emocionante ver o carinho dos torcedores nas ruas e estádios. "A gente só queria aproveitar aquele momento, sentir cada arrepio", disse. "Apesar o futebol feminino não ter o incentivo que merecia, a gente viu ali que o Brasil é sim o país do futebol. É uma coisa que ficará marcada e eu vou poder contar para meus filhos e netos. Foi uma coisa muito marcante na minha vida".

A oportunidade olímpica só reforçou suas pretensões e seu orgulho em viver momentos especiais com a Seleção Brasileira. "Todo mundo quer representar seu país, vestir a camisa da seleção. Eu tenho o orgulho de dizer que estive lá", explicou.

Bolsa Atleta

A jogadora do Orlando Pride e da Seleção Brasileira é integrante do Bolsa Atleta do Ministério do Espore. O programa investe R$ 2,4 milhões no ano com benefícios para 154 jogadoras brasileiras de futebol. Camilinha já teve a Bolsa Atleta na categoria Internacional e, agora, recebe a Olímpica. "É muito importante porque a atleta tem uma ajuda de custo para continuar o seu investimento no futebol. É um incentivo para quem está longe de casa, jogando, trabalhando. E tem ajudado muitas meninas, muitas mesmo", agradeceu.

Com apenas 23 anos e com o objetivo de jogar na Europa, Camilinha mandou um recado para todas as meninas que estão começando no futebol: não desistir dos sonhos. "Eu tive que passar por vários obstáculos para chegar onde cheguei. Pensei em desistir? Pensei. Passa na cabeça de todo mundo, mas só que é o que você gosta de fazer, não desista", incentivou. "Aos que estão começando ou já estão no caminho: batalhe, persista. Continuem porque, sim, os sonhos podem se realizar", completou.

De Orlando, Rafael Brais - rededoesporte.gov.br