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Natacao paralímpica

07/09/2017 00h05

Um ano dos Jogos Paralímpicos

Multicampeão paralímpico, Daniel Dias busca motivação em servir de referência para a nova geração

Mais do que ampliar o quadro das 24 medalhas, nadador sonha em ser exemplo para um número cada vez maior de pessoas
“Hoje o que me motiva a continuar é, claro, ser um atleta melhor, mas também difundir o esporte paralímpico e ajudar a descobrir novos talentos. Acredito que ainda há muitos trancados em casa”
Daniel Dias

O ano era 2004. Um garoto, nascido em Campinas (SP) com má formação dos membros superiores e da perna direita, acompanhava pela televisão os Jogos Paralímpicos de Atenas. Lá estava Clodoaldo Silva, nadador brasileiro que, na ocasião, conquistou nada menos que seis medalhas de ouro e uma de prata. Quatro anos depois, inspirado pelo exemplo, Daniel Dias já mergulhava na piscina de Pequim para faturar as nove primeiras das suas 24 medalhas em edições paralímpicas. Hoje, um ano após viver a grande expectativa pela disputa do Rio 2016 e tendo se tornado o maior medalhista masculino da história da natação paralímpica, Daniel alimenta sonhos para além das braçadas competitivas.

“Desde que fiquei sabendo que os Jogos seriam no Brasil, tornei aquilo como o grande sonho”, relembra. Sonho concretizado com louvor. No Estádio Olímpico de Esportes Aquáticos, no Parque Olímpico da Barra, o brasileiro subiu nove vezes ao pódio, para receber quatro ouros, três pratas e dois bronzes. Depois de tantos títulos, a motivação para um novo e completo ciclo, até a próxima edição do megaevento, ganhou novo contorno. “Hoje o que me motiva a continuar é, claro, ser um atleta melhor, mas também continuar difundindo o esporte paralímpico e ajudando a descobrir novos talentos. Eu acredito que ainda há muitos trancados em casa”, explica.

 

Com 24 medalhas dos Jogos Paralímpicos na coleção, Daniel comemora a oportunidade de ser referência para novos talentos. Foto: Washington Alves/MPIX/CPB

 

Com esse intuito de se tornar uma espécie de embaixador do movimento paralímpico, Daniel Dias fundou um instituto que leva o seu nome em Bragança (SP). “A cada dia surge um deficiente novo lá, então o meu papel agora mudou. Eu tinha aquele sonho do Rio, mas agora tenho o sonho de difundir ainda mais o esporte paralímpico e dar oportunidade a essas pessoas”, comenta.

E o posto de inspiração não para por aí. Em maio deste ano, o multimedalhista foi homenageado pela Federação Aquática Paulista com a realização de um campeonato estadual de natação adaptada, batizado como Troféu Daniel Dias. “Fico extremamente feliz com isso. Eu sempre falei que, quando comecei, tive uma grande inspiração que foi o Clodoaldo. Pude nadar ao lado dele, ganhar medalha com ele nos Jogos em casa (prata no revezamento 4x50m livre 20 pontos), e isso foi importante para a minha carreira”, relata.

“Hoje fico feliz de dar continuidade a essa história do esporte paralímpico, de ser exemplo para muitos que talvez estejam começando agora. Quem sabe em Tóquio estejamos juntos, nadando em um revezamento e até mesmo ganhando uma medalha juntos”, projeta, pensando também em um benefício maior. “Acredito muito na ferramenta esporte. Quando digo que, com o instituto, quero dar oportunidade, é para que o deficiente entenda que ele pode ser um campeão na vida. Vai além do esporte”, pondera Daniel.

 

Clodoaldo e Daniel: ídolo e fã nadaram juntos no revezamento que conquistou a prata no Rio. Fotos: Washington Alves/MPIX/CPB

 

Mudanças

Além da maior quantidade de atletas interessados no esporte paralímpico, Daniel Dias constatou outra mudança motivada pela realização dos Jogos Rio 2016. “A gente pensa muito no legado de estruturas, mas o legado também é o respeito que passei a adquirir após as minhas conquistas. As pessoas passam a respeitar mais o esporte paralímpico após o que foi feito no Rio, a ver com bons olhos e, dessa maneira, a gente consegue descobrir novos talentos”, analisa.

“A gente pensa muito no legado de estruturas, mas o legado também é o respeito maior ao esporte paralímpico, aos atletas. Muitos educadores tinham receio de trabalhar com o esporte paralímpico e hoje estão nos procurando, querendo fazer cursos”
Daniel Dias

Segundo ele, hoje há até mesmo mais profissionais interessados em trabalhar com atletas com deficiência. “A gente percebe muitos educadores que tinham receio de trabalhar com o esporte paralímpico e que hoje estão nos procurando, procurando o CT Paralímpico e querendo conhecer a estrutura, saber como funciona o esporte, querendo fazer o curso na Academia Paralímpica. Isso é muito legal”.

A construção do Centro Paralímpico, em São Paulo, mais um legado dos Jogos por meio da Rede Nacional do Esporte, também facilitou em muito a vida dos atletas. “Alguns não tinham onde treinar, ou tinham só uma piscina de 12,5m ou de 15m. Hoje treinam em uma piscina de 50m, uma das melhores do mundo. Isso é algo incrível. Você poder pegar um jovem, tirar de um lugar onde não teria essa oportunidade e dar a ele as melhores estruturas para que ele possa chegar a Tóquio muito bem”, elogia o nadador, que hoje divide os treinos entre Bragança e o novo CT.

“Eu tive que viajar muito para fora do país para fazer uma boa preparação para os Jogos do Rio. Hoje, não. Este ano, só viajei para competir, mas para treinamento e estrutura tenho tudo ali no Centro Paralímpico. Sempre que preciso fazer um teste, uma avaliação, consigo ter ali”, conta, já imaginando a repercussão do investimento em 2020. “Não tenho dúvidas de que em Tóquio a gente vai chegar muito bem porque ter a preparação em casa é muito mais confortável”, acredita.

 

Nadador ainda sonha com mais participações nos Jogos Paralímpicos. Foto: Cleber Mendes/MPIX/CPB

 

Próximos passos

Aliado ao interesse em ser exemplo para novos atletas, Daniel Dias também não esconde o objetivo de estar presente em mais edições dos Jogos e aumentar a lista de conquistas. “Eu confesso que hoje não me vejo sem o esporte, não imagino o que fazer. Tóquio é certeza, e também quero estar em 2024. Aí vai depender se vão me deixar ir, né?”, diverte-se. “Quero batalhar para que isso aconteça, sem dúvida. É um grande sonho e não tenho dúvidas de que, se eu tiver mais conquistas, o esporte paralímpico vai ser mais divulgado e o Brasil vai crescer com isso”, considera.

Hoje mais dedicado aos estilos livre e costas, o nadador, contudo, não imagina que nadará poucas provas no Japão. “A princípio reduzimos para dois estilos, para focar bem, mas não necessariamente será só isso em Tóquio. Quem sabe no próximo ano a gente mantenha o crawl e coloque outro estilo, para que, aos poucos, a gente consiga fazer uma excelente preparação e, quem sabe, nadar tudo novamente em Tóquio”, afirma o atleta, que neste ano já disputou o Open de Natação, o Circuito Caixa e etapas da World Series, sempre acumulando mais medalhas douradas.

“O início de ciclo está sendo muito bom. Já pude nadar muito próximo das minhas melhores marcas, e vejo que o descanso após os Jogos foi bom para mim. Pude aproveitar a família, descansar a mente, voltar com força e foco totais para mais um ciclo. São quatro anos para que a gente possa chegar muito forte em Tóquio e ir atrás de recorde mundial”, avisa.

Entre 30 de setembro e 6 de outubro, Daniel e outros 17 brasileiros disputam a competição mais importante do ano, o Mundial de Natação Paralímpica, no México. Daniel nadará quatro provas individuais (50m, 100m e 200m livre e 50m costas), além de integrar revezamentos com a equipe brasileira.

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Ana Cláudia Felizola e Gustavo Cunha – rededoesporte.gov.br