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18/11/2016 12h13

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CT de São Paulo reforça integração no esporte paralímpico

Durante etapa do circuito de atletismo, halterofilismo e natação, atletas se mostram satisfeitos com a estrutura de ponta da instalação

O Brasil bateu o recorde de medalhas e ampliou o número de modalidades que subiram ao pódio nas Paralimpíadas do Rio 2016. Foram 72 conquistas (14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes) em 13 esportes, algumas inéditas como no halterofilismo, na canoagem, no vôlei sentado e no ciclismo. A projeção agora é melhorar o desempenho no rumo a Tóquio 2020, a partir desta base consolidada. Para isso, o maior legado em infraestrutura esportiva dos Jogos, o Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, é visto como principal aliado.

“É um sonho realizado. Todos os países que estão à nossa frente no quadro de medalhas têm os seus centros de diferentes modelos e aqui a gente conseguiu fazer, com os nossos parceiros, um local fundamental. Vamos tirar muitos frutos daqui, de forma perene”, afirmou Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). “O Brasil que pensa em um quinto, um sexto lugar no quadro de medalhas, ouro em novas modalidades, tem toda essa estratégia passando aqui pelo Centro de Treinamento”.

Estrutura e arquitetura do CT permitem interação entre atletas de várias modalidades paralímpicas. Foto: André Motta/Brasil2016.gov.br

Os atletas têm chamado o local de “Disneylândia do esporte”, encantamento traduzido nas opiniões de competidores experientes e que já viram outras estruturas de ponta pelo mundo, como o corredor Yohansson Nascimento, que coleciona um ouro, três pratas e dois bronzes em Paralimpíadas desde Pequim 2008. No Rio, ele conquistou um bronze nos 100m rasos T45/46/47 e uma prata no revezamento 4 x 100m T42-47.

“Eu digo que uma medalha que o Brasil ganhou foi a construção desse CT. Ele dá condições para os atletas que estão em alto nível continuarem no mesmo patamar para Tóquio 2020 e para a descoberta de talentos, trazer jovens promissores para treinar aqui e pegar experiência com os atletas que estão competindo há bastante tempo. O Brasil ganha a oportunidade de continuar o que o esporte paralímpico tem feito ao longo dos anos”, projeta.

“O CT dá condições para os atletas que estão em alto nível continuarem no mesmo patamar para Tóquio 2020 e para a descoberta de talentos, trazer jovens promissores para treinar aqui e pegar experiência"
Yohansson Nascimento

“A estrutura é excelente, não deixa nada a desejar para qualquer centro paralímpico e olímpico que já fui pelo mundo. Tanto a parte de reabilitação, de fisioterapia, vários tipos de piscina para recuperação, toda a infraestrutura para os treinos, espaço para alimentação, hospedagem. É excelente”, elogia Bruno Carra, halterofilista que ficou na quarta posição nos Jogos Rio 2016, perdendo o bronze nos critérios de desempate (peso corporal).

Uma das vantagens do CT, inaugurado no início deste ano, é a capacidade de concentrar em um mesmo local 15 modalidades, com a possibilidade de o número crescer a partir da adaptação de estruturas multimodais. “A idéia é ter essa força de conjunto. Você tem toda essa interdisciplinaridade, com profissionais de diversas áreas, de modalidades distintas, não só os atletas, mas todos os profissionais interagindo, com intercâmbio de conhecimento e de pesquisa. O objetivo é que aqui a gente atenda ao atleta como um todo, a parte psicológica, nutricional, física, e que o atleta possa passar o dia aqui”, destaca Parsons.   

Bruno Carra ressalta o potencial de desenvolvimento conjunto das modalidades, pois o CT oferece as condições para reunir profissionais com maior expertise em algum aspecto da ciência do esporte junto a especialistas de outras áreas. “Além do fator psicológico, de motivação, você ver atletas de outros esportes que são medalhistas, o que eles fazem, conviver junto, tem essa troca de conhecimento. Vamos supor, na natação tem um preparador físico muito bom que pode passar informações úteis no halterofilismo e vice-versa. Temos um conhecimento maior desta parte de musculação, de hipertrofia muscular, podemos oferecer algumas coisas para as pessoas de outras modalidades”, exemplifica.

Além disso, a vocação do CT vai além do esporte de alto rendimento e passa pelo desenvolvimento de atletas de base. “O interessante, primeiro, é que o CPB conseguiu centralizar o processo e dar um atendimento melhor aos atletas, otimizar recursos, com profissionais de diversas áreas e avaliações sendo feitas no mesmo lugar. Ao mesmo tempo, para os atletas, aqui acaba sendo um fator de motivação, de encantamento. Isso vai ajudar o esporte brasileiro a evoluir, os atletas trocando informações entre eles e, agora, na Paralimpíada Escolar, tudo acontecendo aqui, de repente a gente vai descobrir um menino que está no goalball mas poderia ser melhor no atletismo, então temos que aproveitar essa ferramenta para potencializar o esporte brasileiro para 2020, 2024”, explica Ciro Winckler, coordenador de ciência esportiva do CPB.

Alguns atletas da seleção, como os do atletismo e da natação, já treinam diariamente no CT. Os clubes paulistas usam constantemente a estrutura e, inclusive, disputaram no fim de semana torneio de basquete em cadeira de rodas promovido pela Federação Paulista, dividindo o complexo com os atletas que competiram no Circuito Caixa de atletismo, halterofilismo e natação. No fim do mês, o local recebe os Jogos Paralímpicos Escolares.

Centro de Treinamento Paraolímpico Brasileiro - 13.11.16

Unidade

Os atletas costumam dizer que fazem parte de uma família, pela cumplicidade entre eles com o objetivo comum de fortalecer o movimento paralímpico. A concentração das seleções no Centro de Treinamento de São Paulo aumentou essa proximidade e está fazendo com que os desportistas de algumas modalidades até se arrisquem em outras, como é o caso da corredora Verônica Hipólito, prata nos 100m e bronze nos 400m na classe T38.

"Eu sou absurdamente curiosa, ou estou na pista de atletismo no meu treino, ou nas outras modalidades vendo. Cada um tem o seu espaço, mas todo mundo considera o centro nosso. A gente senta, conversa, brinca, troca experiências"
Verônica Hipólito

“Eu sou absurdamente curiosa, ou estou na pista de atletismo no meu treino, ou nas outras modalidades vendo. A gente brinca de bocha, às vezes vai na natação brincar com o pessoal, somos uma família. Às vezes as pessoas ficam achando que é cada um no seu espaço. Cada um tem o seu espaço, mas todo mundo considera o centro nosso. A gente senta, conversa, brinca, troca experiências...”, revela a atleta, que aproveita para adquirir conhecimentos em outras modalidades, que, segundo ela, vão lhe ajudar a ganhar experiência e a popularizar o esporte.

“Eu acabei de sair da minha primeira Paralimpíada, eu não tinha noção de mundo ainda. Eu falo com o Yohansson e a Terezinha que são do atletismo, mas falo com o Daniel Dias, com o Clodoaldo sobre ele se aposentar, falo com o Dirceu e o Maciel (bocha), com o Jefinho, o Ricardinho (futebol de cinco), é muito legal isso. E além do mais, eu amo o movimento paralímpico e quero mostrar para todo mundo. Agora eu consigo falar pelo menos o básico de tudo e sempre vai vir mais alguém que vai olhar e se apaixonar”, afirma Hipólito.

A sensação é compartilhada pelo nadador André Brasil, que coleciona 14 pódios em Paralimpíadas, sendo sete ouros, cinco pratas e dois bronzes. Por competir em diversos estilos e provas, ele não teve tempo durante as três edições dos Jogos em que participou (Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016) de acompanhar outras modalidades. Agora é diferente. “Você reunir em um único espaço diversas modalidades só fortalece a família que temos. Estou treinando aqui (na piscina), vou ali em cima (na pista de atletismo) e está a Verônica com o Yohansson. Ás vezes ali em baixo está o pessoal do vôlei sentado, ou outra vez que vi o pessoal da bocha, é sempre uma curiosidade. Eu nunca cheguei tão perto de outras modalidades e a gente nunca pôde partilhar de sentimentos diferentes”.

Ele também aproveita a proximidade para passar uma força para os colegas e receber energia positiva. “Não é todo dia que a gente está bem. Imagina você sai daqui feliz com seu treino, passa ali e, sei lá, vê alguém do tênis em cadeira de rodas, já cansado, com treino estressante, você chega ali na quadra e dá uma força. O quão bacana pode ser para a pessoa ou para si mesmo estar partilhando essas emoções? Integração é a melhor forma de fortificar essa família que a gente tem, criar laços e vínculos. Ter isso aqui transforma muitas coisas no seu dia a dia. Eu fico lisonjeado em fazer parte. Desde 2005, quando comecei no esporte paralímpico, essa transformação vem anualmente mudando a vida de muita gente”, diz André, que inclui neste leque os profissionais das diversas áreas do esporte.

Gabriel Fialho – brasil2016.gov.br