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Futebol

09/06/2019 16h17

Futebol feminino

Três gols de Cristiane mudam narrativa recente e renovam pretensões do Brasil na Copa

Equipe do técnico Vadão vinha de nove derrotas em sequência, mas conseguiu uma boa vitória por 3 x 0 na estreia, contra a Jamaica. Time volta a campo na quinta, contra a Austrália

A estreia da seleção feminina de futebol na Copa do Mundo da França, neste domingo (09.06), deu ao elenco nacional a possibilidade de sonhar com uma nova narrativa. Se o passado recente trazia uma incômoda sequência de nove derrotas seguidas entre amistosos e torneios preparatórios, sair de campo em Grenoble com vitória por 3 x 0 sobre a Jamaica, apresentando em alguns instantes um futebol envolvente e inspirado, trouxe uma injeção de ânimo às pretensões das comandadas de Vadão. Como tem sido praxe na edição francesa do Mundial da FIFA, um ótimo público de 17.668 torcedores acompanhou o jogo no Estádio dos Alpes. 

Na reta final de preparação para o Mundial, a comissão técnica optou por "se fechar". Evitou amistosos ou jogos-treino. Trabalhou parte tática e física de forma intensiva, por 15 dias, em Portimão, pequena cidade portuguesa. E, nesse primeiro compromisso, deu certo. Sem a atacante Marta, ainda na fase final de recuperação de lesão na coxa esquerda, coube a outra atleta experiente da delegação assumir o protagonismo. A atacante Cristiane, de 33 anos, foi a autora dos três gols da equipe. O time ainda saiu de campo com um pênalti desperdiçado por Andressa Alves no fim do primeiro tempo. 

"É importante começar com vitória e apresentando um futebol consistente, principalmente para tirar da memória esse histórico anterior. Temos agora alguns dias para ajustar detalhes para enfrentar a Austrália", afirmou o técnico Vadão, em referência à partida da próxima quinta-feira (13.06), a partir das 13h (de Brasília), em Montpellier.

Na ausência de Marta, Cristiane foi o grande destaque do Brasil, com três gols e bela atuação. Foto: CBF

Vadão ainda ainda não sabe se contará com Marta, maior artilheira da história das Copas do Mundo da FIFA feminina, com 15 gols, na partida que pode encaminhar a classificação da seleção para a segunda fase. "Essa é uma pergunta que cabe ao departamento médico. Esperamos que possamos ter ela à disposição", disse o treinador, em referência à atleta eleita seis vezes a melhor do mundo.

"É importante começar com vitória e apresentando um futebol consistente. Temos agora alguns dias para ajustar detalhes para enfrentar a Austrália"
Vadão, técnico da seleção brasileira

A Austrália, por sua vez, foi surpreendida na estreia. A equipe da Oceania perdeu de virada, por 2 x 1, para a Itália, em Valenciennes. Com isso, Brasil e Itália dividem o topo da tabela do Grupo C da competição, com três pontos, mas o Brasil figura em primeiro no saldo de gols. Austrália e Jamaica ficaram sem pontuar. A Austrália, embora derrotada na estreia, é uma equipe de tradição e que costuma criar problemas ao Brasil. Foi responsável, por exemplo, pela eliminação do Brasil no Mundial de 2015, no Canadá, nas oitavas.

Pelo regulamento do torneio, as quatro equipes de chave jogam entre si em turno único. Os dois primeiros seguem automaticamente para as oitavas de final, assim como os quatro melhores terceiros colocados levando em conta os seis grupos. São 24 equipes e um total de 52 jogos para definir o campeão, no dia 7 de julho, em Lyon.

Formiga e "hat trick" históricos

A estreia do Brasil na França trouxe duas outras marcas simbólicas para a seleção. Aos 41 anos, a volante Formiga se tornou a jogadora mais velha a atuar numa Copa do Mundo e a mais longeva participante do Mundial. Ela está em campo para sua sétima edição seguida. Uma história que teve início em 1995, na edição disputada na Suécia. Há tanto tempo que 150 atletas das 552 inscritas para o Mundial da França não haviam nem nascido, segundo estatística divulgada pela FIFA.

Os três gols de Cristiane na estreia também são históricos. Remontam a um outro início consistente do Brasil, no Mundial de 1999. Naquela ocasião, Sissi e Pretinha marcaram três vezes cada uma na goleada de 7 x 1 do Brasil sobre o México.

Formiga: soberana à frente do meio campo do Brasil em Copas do Mundo desde 1995. Foto: CBF

Título inédito

Mesmo presente a todas as edições da Copa do Mundo da FIFA, o Brasil ainda persegue o título mundial. Em 2007, a equipe bateu na trave. Chegou à final da competição, mas acabou vencida pela Alemanha por 2 x 0. Em 1999, a equipe também subiu ao pódio, na terceira posição. Em Jogos Olímpicos, a equipe bateu na trave duas vezes, nos Jogos de 2004, na Grécia, e de 2008, na China. Na última edição do megaevento, no Rio de Janeiro, em 2016, a seleção parou na semifinal e acabou na quarta colocação.

Andressa, a maestra

Com a bola rolando, o Brasil mostrou superioridade não só no placar, mas também nas estatísticas. Foram 56% de posse de bola contra 44% das jamaicanas. Dezoito tentativas de chute contra 13 das adversárias, e seis chutes com endereço certo, contra três das rivais da estreia.

Embora Cristiane saia naturalmente com os holofotes, a atuação de Andressa Alves foi digna de uma articuladora de qualidade. Sempre com boa visão, foi autora de lançamentos importantes e de assistências que colocaram as colegas em boas condições de finalização. Nem a perda do pênalti arranhou a performance.

"Acho que foi uma boa estreia, importante demais para a gente. Fiquei com pena de ter perdido o pênalti porque sou a cobradora oficial, e nos treinos vinha com ótimo aproveitamento. Mas que bom que a Cristiane compensou com três gols, e que consegui ajudar com assistências e saímos com essa vitória, jogando bem e com confiança", disse a meia.

Andressa foi a regente do meio-campo brasileiro, com bela visão de jogo e boas assistências. Foto: CBF

Os gols

O domínio nacional ficou retratado desde os primeiros minutos. Aos sete, Andressa Alves deu ótimo passe para Debinha, que avançou e tentou driblar Schneider. A goleira, uma das grandes atletas da partida, com três defesas difíceis, salvou a Jamaica já nessa primeira vez. 

A pressão nacional seguiu e, aos 15, veio o primeiro gol. Andressa Alves cruzou na medida para Cristiane cabecear no canto: 1 x 0. O Brasil queria mais. Aos 24, Debinha recebeu de Andressa e chutou forte, vendo a goleira adversária fazer boa defesa. Depois foi a vez de Bárbara mostrar segurança no gol. Shaw arrancou pela direita e soltou uma bomba de pé direito, que a arqueira brasileira pegou com firmeza.

Na volta do intervalo, o segundo gol veio logo aos quatro minutos. Andressa Alves cruzou na pequena área e a bola sobrou para Cristiane, livre, escorar e fazer 2 x 0. A artilheira estava com o faro aguçado e deixou mais um. Aos 18, a camisa 11 cobrou falta com categoria e viu a bola bater no travessão antes de cruzar a linha de gol: 3 x 0.

Investimento

O Governo Federal é um dos principais patrocinadores do futebol feminino no Brasil. Dezoito das 23 convocadas pelo técnico Vadão para a Copa do Mundo são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento nelas é de R$ 576,3 mil por ano.

Do grupo, 14 são integrantes da categoria Olímpica, uma da internacional e três da Nacional. Ao todo, o futebol feminino tem 103 atletas atualmente contempladas no edital de 2018 do Bolsa Atleta, com R$ 1,7 milhão em investimento por ano. Numa perspectiva histórica, desde 2005 foram concedidas 1.103 bolsas para 450 jogadoras, num aporte federal de mais de R$ 18 milhões.

Resultados e programação do Brasil na primeira fase

09.06, em Grenoble
Brasil 3 x 0 Jamaica

13.06, em Montpellier
Brasil x Austrália, a partir das 13h (de Brasília)

18.06, em Valenciennes
Brasil x Itália, a partir das 16h (de Brasília)

Todos os campeões da Copa do Mundo de futebol feminino

1991 - Estados Unidos
1995 - Noruega
1999 - Estados Unidos
2003 - Alemanha
2007 - Alemanha
2011 - Japão
2015 - Estados Unidos

Gustavo Cunha - rededoesporte.gov.br, com informações da FIFA e da CBF