Você está aqui: Página Inicial / Notícias / Com Rio 2016 na memória, brasileiros já projetam Tóquio 2020

Geral

17/11/2016 15h38

Jogos Paralímpicos

Com Rio 2016 na memória, brasileiros já projetam Tóquio 2020

Representantes do país no atletismo, halterofilismo e natação comentam momentos marcantes, os dias de férias e como estão iniciando a preparação para o novo ciclo paralímpico

“Vida de atleta é assim.” A expressão não é em tom de lamento. Alguns dos desportistas paralímpicos brasileiros do atletismo, halterofilismo e natação, que há menos de dois meses estavam representando o país nos Jogos de 2016 e vivendo o maior sonho da carreira, voltaram às pistas, arenas e piscinas para competir pela Terceira Etapa Nacional do Circuito Loterias Caixa, no último fim de semana, no Centro de Treinamento em São Paulo. Eles já estão voltados para o ciclo de Tóquio 2020. As memórias das Paralimpíadas no Rio estão eternizadas, cada um guarda momentos marcantes, mas novos objetivos estão traçados. Então é começar tudo de novo.  

11172016_veronica.jpg
Foto: André Motta/Brasil2016.gov.br
"Atleta nunca pára. Felizmente para uns e infelizmente para outros, porque minha família e meu namorado já estão reclamando. Mas isso é o legal, a nossa vida nunca está parada"
Verônica Hipólito

“Estamos nos preparando para Tóquio, mas antes estamos nos preparando para o Mundial do ano que vem (em Londres, no mês de julho). O tempo está passando. Assim que acabaram os Jogos do Rio, a gente teve duas, três semanas de folga... treinando. Depende do que você considera folga”, comenta aos risos a velocista Verônica Hipólito, para prosseguir: “Indo na academia de leve, só para não perder o físico. Atleta nunca pára. Felizmente para uns e infelizmente para outros, porque minha família e meu namorado já estão reclamando. Mas isso é o legal, a nossa vida nunca está parada”, destaca a medalhista de prata nos 100m e bronze nos 400m na classe T38 nos Jogos Rio 2016.

Os dias de descanso são importantes, segundo o halterofilista Bruno Carra, quarto nos Jogos Rio 2016, para relaxar a mente e o corpo após um período intenso de preparação. “Não só pelo fator psicológico, mas nosso corpo não aguenta. A gente vive em dieta restrita, principalmente para os Jogos, abdica de muitas coisas, não pensa em nada que seja relacionado a problemas pessoais, coisas para fazer. Então, deixei tudo para depois dos Jogos. Fiquei meses sem ver amigos, sem sair, tudo para guardar energia. Treinava seis vezes na semana de forma intensa, aeróbico diário para manter o peso, então quando se prepara muito tem que dar um descanso”.

Mas nada que seja extravagante, afinal, se o atleta relaxa demais, depois o tempo para recuperar a forma física será grande. “Fui viajar com a minha esposa, mas logo após voltei à rotina de treinos e dieta, preparando agora direto para Tóquio. Nosso esporte não tem como tirar férias todo ano, porque quando tira perde muito tempo. Vamos supor, você está levantando 160Kg, se tira 15, 20 dias de férias, volta fazendo 130, 140kg, demora meses para voltar a ter a mesma performance de antes”, avalia Carra.

Os treinos mais leves, após alguns dias de descanso, também fazem parte da rotina de fim de ano do nadador Ítalo Pereira, bronze nos Jogos Rio 2016 nos 100m costas na classe S7. “A rotina pós-Jogos está tranquila, estamos entrando em ‘destreinamento’ para começar o novo ciclo. Os próximos anos vão ser puxados. Como será início de um novo ciclo, os treinos tendem a ser maiores para fazer uma boa base”, projeta, antes de revelar a maior dificuldade quando está de folga. “O principal problema é com a alimentação. Tanto que depois das férias fiquei um pouco ‘forte’ (risos). Faz parte, depois de um grande ciclo”, brincou.

No entanto, há desportistas mais radicais, que prefeririam nem tirar férias. É o caso de Alessandro Silva, ouro e recordista no lançamento de disco na classe F11 nos Jogos Rio 2016. “Eu sou uma pessoa que não gosta de férias. Acho que férias é quando morre. O descanso faz parte para que o atleta evolua, mas é difícil pôr isso na cabeça, por mim eu treinava 24 horas, mas precisa pausar, faz parte da recuperação do músculo”.

Susana disse que viveu um 'luto' com o fim da Rio 2016 mas já voltou as atenções para o ciclo até o Japão

Lembranças

A torcida brasileira, em boa parte pela primeira vez assistindo a competições de grande dimensão, ficou com uma sensação de vazio após um ciclo de megaeventos que teve início em 2013 e foi encerrado nas Paralimpíadas. Momentos inesquecíveis também para os atletas, que pela primeira vez tiveram uma edição do evento em casa. “Como atleta acho que não vou vivenciar uma competição tão única, emocionante, algo que nem nós, digo Clodoaldo (Silva), Daniel (Dias), Terezinha (Guilhermina), atletas que vem fazendo história no esporte paralímpico, vai ter no nosso país de novo, com a torcida que fala a sua língua, torce pela sua nação, que entende que ali não são pessoas com deficiência e sim atletas”, disse André Brasil, dono de 14 medalhas paralímpicas. Para ele, mais do que saudade, os Jogos Rio representaram uma oportunidade. “Quero que isso seja o ponto de partida para a transformação do esporte”, disse, em referência às arenas sempre repletas de torcedores.

O ciclo de preparação intensa e a expectativa de competir diante da torcida despertou sentimentos novos nos atletas. “Não diria saudade, mas gratidão pelo que aconteceu nos Jogos. Sou muito grato por ter conseguido uma medalha e ter sido retribuído pelo trabalho”, opina Ítalo Pereira.

“Não diria saudade, mas gratidão pelo que aconteceu nos Jogos. Sou muito grato por ter conseguido uma medalha e ter sido retribuído pelo trabalho”
Ítalo Pereira

A sensação e similar à de Alessandro Silva. “A memória acho que vai ser eterna, foi a primeira medalha para deficientes visuais na categoria F11, em lançamento de disco, e a primeira de ouro, junto com o recorde paralímpico. A família estava lá no Rio, então ficou marcado”, recorda.

Outro feito inédito marcou a passagem de Evânio Rodrigues pelo Rio. Ele conquistou em sua estreia em Jogos a primeira e única medalha do halterofilismo em Paralimpíadas, com a prata na categoria até 88Kg. “No momento que o moço colocou a medalha no meu peito passou um filme na minha cabeça, que não foi de um ou dois anos, mas de todas as dificuldades que tive de superar”, comenta o baiano de Cícero Dantas, que teve o apoio da família nas arquibancadas pela primeira vez. “Foi sensacional vê-los torcendo. Eles ficaram emocionados também, porque sabem que não é fácil sair do interior, ainda mais com deficiência (para tentar a carreira de atleta). No começo eles tinham medo de eu ir para o mundo”.

No Rio 2016, a nadadora Susana Schnarndorf realizou o sonho de conquistar uma medalha paralímpica ao levar a prata no revezamento 4x50m misto - 20 pontos, ao lado de Daniel Dias, Clodoaldo Silva e Joana Silva. Em um primeiro momento, a expressão parece ser de nostalgia: “Acabaram os Jogos e parece que deu um luto. A gente esperou tanto e foi tão legal que a gente fica meio triste quando acaba. Esperou tanto e passa voando”. Mas na sequência, o espírito de competidor volta à tona. “Não consigo parar, já fico na piscina para treinar de novo. A gente tem o Mundial no ano que vem. Agora é rumo a 2020”. 

Gabriel Fialho – Brasil2016.gov.br