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Atletismo

10/08/2016 23h09

GINÁSTICA ARTÍSTICA

Com polêmica no último aparelho, Uchimura leva mais um ouro no individual geral na ginástica artística

Japonês hexacampeão mundial por pouco não foi superado pelo ucraniano Oleg Verniaiev. Sérgio Sasaki terminou em nono lugar e Arthur Nory, em 11º

A tarde de hoje (10.8) na Arena Olímpica do Rio, em tese, serviria apenas para confirmar a supremacia do japonês Kohei Uchimura, considerado o ginasta mais completo da atualidade. De fato, o hexacampeão mundial de individual geral ficou, mais uma vez, no topo do pódio, repetindo o título de Londres, em 2012. Contudo, o ouro só foi faturado no último aparelho e debaixo de certa polêmica.

Kohei Uchimura, considerado o ginasta mais completo da atualidade, provou seu valor mais uma vez e arrebatou mais um ouro no Rio. Foto: Roberto Castro/brasil2016.gov.br

Durante toda a final do individual geral, prova em que são somados os desempenhos dos atletas nos seis aparelhos (solo, cavalo com alça, barra fixa, barras paralelas, argolas e salto), quem liderou a disputa foi o ucraniano Oleg Verniaiev. Até a quinta rotação, o ginasta somava 77.466 pontos, contra 76.565 do favorito. Faltava apenas a apresentação na barra fixa. Uchimura foi primeiro e alcançou a incrível nota de 15.800. Para vencê-lo, o telão central mostrava que Verniaiev precisaria de 14.899 pontos. O ucraniano fez uma série consistente, apesar de menos elaborada, e comemorou a finalização até ver a nota: 14.800.

A insatisfação não foi só do atleta, que abriu os braços sem concordar com a pontuação. Das arquibancadas vieram vaias. Logo após a prova, no entanto, Verniaiev aliviou e disse que a avaliação dos juízes é justa. “Estou muito contente de ter conseguido deixar o Kohei Uchimura nervoso”, brincou ao ouvir do rival que a medalha de ouro desta quarta-feira foi a mais difícil de conquistar em sua carreira.

“Todo mundo sabe quem eles são (Usain Bolt e Michael Phelps), mas Kohein Uchimura? Quem é esse homem? Ninguém sabe, eu não sou bem conhecido no mundo”
Kohei Uchimura

O japonês venceu todos os mundiais dos dois últimos ciclos olímpicos. Ao todo, são 10 ouros na competição, além de cinco pratas e quatro bronzes. Nos Jogos, o bicampeonato significou a conquista da sétima medalha olímpica, sendo que, no Rio de Janeiro, Uchimura também já alcançou o ouro por equipes, o único que faltava ao seu currículo.

Questionado sobre um possível favorecimento da arbitragem na barra fixa, o japonês foi enfático. “Isso jamais aconteceria. Todos os atletas estão em igual situação nos olhares dos juízes. Não existe isso de juízes terem simpatia por um ou outro. Claro que eles são seres humanos e têm sentimento, mas eles são profissionais e não há espaço para esse tipo de sentimento pessoal”, afirma o ginasta, que avançou para a final em segundo lugar, justamente atrás do ucraniano.

Verniaiev foi campeão mundial nas barras paralelas em 2014 e vice no ano passado, quando terminou em quarto lugar no individual geral. Na edição olímpica de Londres 2012, o ginasta foi apenas o 11º colocado na somatória dos aparelhos. Diante da evolução dos oponentes, Uchimura ressalta que ainda não sabe se competirá novamente no individual geral nos Jogos de Tóquio, em 2020, quando terá 31 anos, ou se irá priorizar algum aparelho.

“Acho que ele não tem dúvidas sobre ele mesmo. Eu só quero que ele saiba que eu quero continuar a competir contra ele e ficar cada vez mais perto. Da próxima vez, vou tentar acrescentar uma nota a cada aparelho e correr atrás dele”, avisa o ucraniano, referindo-se ao oponente como uma lenda da modalidade.

O japonês, contudo, fez questão de afastar as comparações com Usain Bolt e Michael Phelps. “Todo mundo sabe quem eles são, mas Kohein Uchimura? Quem é esse homem? Ninguém sabe, eu não sou bem conhecido no mundo”, disse, desejando que a ginástica tenha a mesma fama de modalidades como natação e atletismo.

Em nono, Sérgio Sasaki superou o 10º lugar conquistado em Londres 2012 e foi o responsável pelo melhor resultado do país na prova. Foto: Roberto Castro/brasil2016.gov.br

Superação

Uchimura somou 92.365 pontos para ficar com mais um ouro olímpico, enquanto Verniaiev totalizou 92.266. O bronze ficou com o britânico Max Whitlock (90.641). Um pouco mais abaixo na tabela do resultado final aparecem os brasileiros Sérgio Sasaki e Arthur Nory, que terminaram com o 9º e o 11º lugares, respectivamente. Até então, o melhor resultado do país na prova havia sido uma 10ª colocação, em Londres, conquistada pelo próprio Sasaki.

“A posição foi boa, mas o mais importante foi que hoje eu consegui fazer exatamente o que eu treinei. Isso que me deixa mais feliz”, comenta o ginasta, que no ano passado sofreu com lesões e duas cirurgias, ficando afastado de treinos e competições importantes, como os Jogos Pan-Americanos de Toronto e o Mundial. “Eu sempre soube que estaria aqui. Com a perna pendurada ou não”, acrescenta.

“A posição foi boa, mas o mais importante foi que hoje eu consegui fazer exatamente o que eu treinei. Isso que me deixa mais feliz”
Sérgio Sasaki

Mesmo assim, Sasaki relembrou os momentos de sofrimento durante as lesões. “O mais difícil era saber que eu estava dias, meses atrás dos outros. Saber que as pessoas estavam evoluindo e eu estava parado no tempo, isso me consumia, me incomodava, me deixava mal. Não gosto nem de pensar. Foi um ano muito ruim, o pior da minha carreira”, admite o atleta, que precisará passar por novos exames no joelho direito após sentir dores no Rio de Janeiro. Um salto novo que seria executado na final foi retirado para poupar o ginasta.

Sasaki abriu a competição com 14.766 no cavalo com alças, antes de seguir para os 14.433 das argolas. No salto, mesmo com um elemento mais simples, somou 15.200. Na segunda metade da competição, recebeu 14.966 nas barras paralelas, 15.000 na barra fixa e 14.833 no solo, totalizando 89.198 e melhorando os 88.898 da classificatória, quando avançou em oitavo lugar.

Já o estreante Arthur Nory manteve a mesma colocação das eliminatórias, mas somou menos pontos: 87.331 na final contra os 88.465 de antes. O pior aparelho foi o cavalo com alças, na primeira rotação, em que o atleta recebeu apenas 13.400. “Eu sei que poderia ter ido um pouco melhor. Não fui muito bem no cavalo, estava um pouco nervoso porque fui o primeiro, mas passei bem e sem queda. Estou muito satisfeito com a minha competição”, analisa.

Acompanhe as imagens da final do individual geral no Rio 2016

Rio 2016 - Ginástica - 10/08/2016

 

Nory ainda recebeu 14.133 nas argolas e 14.766 no salto. Após a primeira metade da prova, estava apenas em 21º lugar. Depois dos 14.633 nas paralelas, o brasileiro subiu para a barra fixa disposto a compensar o mau desempenho nas classificatórias, quando deixou escapar a vaga para a final do aparelho que rendeu a ele a quarta colocação no Mundial do ano passado.

“Eu sabia que tinha total condições de disputar uma final olímpica. Vim muito focado na barra, dificultei a minha série este ano para isso, mas eu falhei no primeiro dia e em Olimpíada não dá para falhar”, reconhece. “Hoje subi pensando em mostrar que esse é o meu aparelho, que eu sou bom na barra e que ia tirar uma boa nota”, conta. Nory se apresentou, vibrou na saída e foi recompensado: 15.266. O atleta ainda teve um bom desempenho no solo, somando 15.133.

É justamente no solo que ele ainda fará uma última final, ao lado de Diego Hypolito, no próximo dia 14. Para esse momento, a dificuldade da série ainda poderá ser aumentada, pensando em uma chance de medalha. Depois desse dia, por sua vez, Arthur Nory já sabe bem o que deseja. “Não vejo a hora de sair para comer pizza e churrasco”, diverte-se.

Nesta quinta-feira (11.8), a Arena Olímpica do Rio recebe a final feminina do individual geral, a partir das 16h, com grandes expectativas para a apresentação da norte-americana Simone Biles, dona de 14 medalhas em mundiais, sendo 10 de ouro.

Ana Cláudia Felizola – brasil2016.gov.br