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Tenis paralímpico

17/09/2016 15h08

Jogos Paralímpicos

Com emoção e “torcida em quadra”, tênis de mesa conquista o bronze por equipes das classes 6-10

É a terceira medalha brasileira na modalidade no Rio 2016. Bruna Alexandre, Danielle Rauen e Jennyfer Parinos venceram a equipe da Austrália e consolidaram a campanha histórica

O confronto não havia acabado, mas o grito veio das arquibancadas: “Aha, uhu, esse bronze é nosso”. A torcida já tinha certeza do que viria minutos depois. O público incentivou e ajudou a colocar Bruna Alexandre, Danielle Rauen e Jennyfer Parinos no pódio da disputa por equipes das classes 6-10 (andantes), neste sábado (17.09), no Pavilhão 3 do Riocentro. O Brasil venceu a Austrália nas duplas por 3 sets a 2 (11-13, 11-9, 11-4, 11-13 e 11-2) e Bruna superou Melissa Tapper no individual por  3 sets a 0 (11-7, 11-9 e 11-8). Quando fez o último ponto, jogou-se no chão e ganhou um forte abraço do técnico Paulo Camargo, que invadiu a área de jogo com as duas outras atletas do time. A medalha estava assegurada. O ouro ficou com a Polônia, e a prata foi para a China.

“Dever cumprido. Nós acertamos na escalação, a Bruna jogou na sequência com a Melissa, que é mais forte, depois a Dani poderia fechar. E tudo é na dupla. O objetivo era ganhar a dupla. Teve muita tensão, com uma jogadora defensiva da Austrália, e a Melissa mais agressiva. O jogo foi equilibrado, mas a gente entrou com uma tática bem definida e deu resultado”, avaliou o treinador.

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Bruna, Jennyfer e Danielle no pódio. Bandeira brasileira hasteada pela terceira vez na histórica campanha do tênis de mesa paralímpico. Foto: Francisco Medeiros/ME

O papel da torcida foi reconhecido pelas jogadoras. E o carinho foi retribuído. Bruna jogou bolinhas e borrachas da raquete para a arquibancada, tirou selfie com o público, em cena semelhante à protagonizada por Hugo Calderano no torneio olímpico, quando garantiu vaga nas oitavas de final.

“A gente  fez história nessas Paralimpíadas. É fruto de um trabalho intenso, diário, com treinamento em dois períodos, seis horas por dia. A gente foi galgando degraus no Circuito Mundial e, definitivamente, o Brasil se tornou uma potência paralímpica”
Paulo Camargo

“A torcida ajudou bastante. Quando a gente estava perdendo, ela nos empolgou muito. Isso fez toda a diferença. A torcida brasileira é muito gostosa. Tem hora que a gente quer sacar e eles ainda estão falando. Então eu espero um pouco acabar o gás”, contou Bruna. “(A foto) eu vou guardar para o resto da vida, vou colocar na tela principal do celular”.

"Teve umas bolas que eu acho que elas erraram porque a torcida gritou muito. Elas ficaram nervosas, não é normal ter torcida no tênis de mesa", acrescentou Danielle.

Bruna, de 21 anos, fez história como a única brasileira a ter duas medalhas paralímpicas no tênis de mesa -  ela também faturou o bronze no individual (classe 10) no Rio 2016. “É resultado do trabalho diário que eu faço hoje em São Caetano do Sul. Eu treino com a seleção olímpica, com a Caroline Kumahara, o Hugo Calderano, acho que isso faz toda diferença. Eu só tenho a crescer trabalhando e melhorando meu físico”, disse.

Intrusos na tabela

A modalidade como um todo tem muito o que comemorar.  Até o Rio, a única medalha nacional era a prata conquistada por Welder Knaf e Luiz Algacir na disputa por equipes em Pequim 2008. Na atual edição, além dos dois bronzes (Bruna e por equipes 6-10), Israel Stroh ficou com a prata na Classe 7 na chave de simples. A campanha faz o continente americano figurar como intruso entre os 25 países que conquistaram medalhas no Rio 2016. Com exceção da Austrália, que tem uma prata, os outros 23 países são europeus ou asiáticos.

“A gente  fez história nessas Paralimpíadas. É fruto de um trabalho muito intenso, diário, com treinamento em dois períodos, seis horas por dia. A gente foi galgando degraus no Circuito Mundial. A gente já está competindo de igual para igual, até mesmo aqueles que ficaram na primeira fase aqui. O Diego Moreira (Classe 9), que jogou com o sétimo do mundo, perdeu no tiebreak, o (Carlos) Carbinatti (Classe 10) perdeu de 3 x 2 para o medalhista de bronze, o Paulo Salmin (Classe 8) também perdeu de 3 x 2 para o quinto do mundo. Definitivamente, o Brasil se tornou uma potência paralímpica”, afirmou Paulo Camargo. O Brasil ainda tem uma disputa de bronze por equipes, classes 1-2, a partir das 16h30 deste sábado, contra a Eslováquia.

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Jogo de duplas, essencial para garantir a vantagem na disputa paralímpica por equipes: vitória brasileira por 3 sets a 2. Foto: Francisco Medeiros/ME

O jogo de duplas

As brasileiras demoraram a entrar no jogo de duplas. Danielle, de 18 anos, errava muito, estranhando o jogo de McDonnell que, por ironia, usa o mesmo tipo de borracha que ela na raquete. “Eu vi o tanto que é ruim jogar comigo mesma. Pensei: ‘Ou jogo agora ou nunca mais, é meu último jogo’. Fiz uma campanha boa, me dediquei tanto, deixei minha família e amigos. Agora é minha hora’. Não foi no individual, porque eu perdi a disputa de bronze, tinha que ser hoje”, disse Danielle.

“A torcida ajudou bastante. Quando a gente estava perdendo, ela nos empolgou. Isso fez toda a diferença. A torcida brasileira é muito gostosa”
Bruna Alexandre

Na primeira parcial, as australianas abriram 3-9, mas as anfitriãs recuperaram-se e conseguiram até virar (10-9). A torcida cresceu, a disputa ficou emocionante, mas as australianas fecharam o primeiro set em 11-13. Na segunda parcial, Bruna conseguiu responder melhor ao saque da experiente McDonnell, de 56 anos, e o set ficou com as donas da casa: 11-9.  Melissa cometeu vários erros no início da terceira parcial e as brasileiras abriram 5-0. Em mais uma falha de Melissa, o Brasil chegou a 10-4 e não deu chances para reação: 11-4.

A Austrália voltou concentrada para o quarto set e os erros trocaram de lado: quem abriu vantagem (0-6) foram as adversárias. Quando estava 8-8, Mc Donnell errou duas vezes e o match point caiu no colo do Brasil: 10-8. A Austrália se recuperou e, em erro de saque de Bruna, fechou em 11-13.  No tie-break, o Brasil abriu 5-2 e as equipes trocaram de lado, mas a Austrália não fez mais nada: as brasileiras fecharam em 11-2 o set, e o jogo em 3 sets a 2. Um alívio e um sinal de amadurecimento após o fraco jogo realizado contra a Polônia na semifinal.

“Naquele dia eu estava louca para matar ela (a Danielle), estava muito brava, ela se desconcentrou muito. Mas o técnico conversou conosco, tivemos muitas reuniões, e isso fez a união melhorar”, contou Bruna.  “Se for só um não adianta, tem que ser as três. E a união que a gente teve foi esse resultado. A gente arrumou o que tinha que arrumar”, afirmou Dani.

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O técnico Paulo Camargo, Danielle e Jennifer invadem a área de jogo após a vitória de Bruna sobre Melissa Tapper: bronze garantido. Foto: Francisco Medeiros/ME

Bruna x Melissa

Bruna começou bem o primeiro set contra Melissa Tapper, mas a australiana se recuperou e virou: 3-4.  Bruna não ia entregar o jogo fácil: após belo rali, conseguiu o set point, 10-6. Melissa salvou uma bola, mas a parcial foi fechada em 11-7. No segundo set, Bruna de novo estava na frente. Melissa chegou a assustar a torcida brasileira ao abrir 6-8, mas foi Bruna quem chegou ao primeiro set point e não desperdiçou: 11-9.

No terceiro set,  a brasileira abriu 5-2 e a Austrália pediu tempo. “Este bronze é nosso”, gritaram os torcedores. O fim do set foi equilibrado, mas Bruna fez o que a torcida queria e fechou em 11-8. O bronze era, de fato, do Brasil.

Tênis de mesa 17.09

Carol Delmazo, brasil2016.gov.br