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Tenis de mesa paralímpico

08/01/2019 12h09

Tênis de mesa

Cátia Oliveira tem escala em Lima para fazer da prata no Mundial um ouro em Tóquio

Mesatenista paulista prioriza na temporada 2019 o Parapan do Peru, que vale vaga direta nos Jogos Paralímpicos do Japão, em 2020

Cátia Oliveira é exceção no reino das atletas do tênis de mesa paralímpico. Mesmo integrando uma classe para cadeirantes com tetraplegia, ela adota um equipamento de padrão rápido, agressivo mas de difícil controle para quem joga sentado. As duas borrachas lisas de sua raquete aceleram as jogadas e exigem golpes mais precisos no efeito e no posicionamento. "Acho que na minha classe só eu e uma argentina fazemos isso. Quase todos usam pino (material que inverte o efeito ou cadencia a velocidade da bola). Vou falar que é difícil, mas é assim que gosto", afirmou a atleta brasileira de 27 anos.

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Campanha de prata na Eslovênia foi a melhor da história do tênis de mesa nacional. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br

"Quero muito esse ouro em Lima para chegar a Tóquio e, lá no Japão, tentar a tão sonhada medalha de ouro que escapou no Mundial"
Cátia Oliveira

A opção de Cátia tem se mostrado acertada. Em 2019, ela conquistou o resultado de maior expressão de um mesatenista brasileiro na história da modalidade. Chegou à final da Classe 2 no Mundial disputado em Celje, na Eslovênia, e terminou com a prata. Na volta ao Brasil, referendou a condição de favorita e levou o ouro no Brasileiro. Recebeu em dezembro o Prêmio Paralímpicos, do Comitê Paralímpico Brasileiro. "Foi um ano muito bom, né? Não foi 100% porque queria o ouro, mas só de estar numa final e conseguir uma medalha inédita para o Brasil foi maravilhoso", afirmou a atleta, integrante da categoria Pódio, a principal do programa Bolsa Atleta, da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.

Na temporada de 2019, Cátia será uma das 34 representantes do tênis de mesa brasileiro nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru. O megaevento prevê reunir 1.890 atletas, de 33 países, na disputa de 17 esportes. A competição é apenas no segundo semestre, de 23 de agosto a 1º de setembro, mas desde já o foco da paulista de Cerqueira César que treina em Bauru está voltado para a competição andina. Os medalhistas de ouro de cada classe se garantem nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, no Japão, em 2020.

"O trabalho com o tênis de mesa paralímpico tem sido muito bem feito. A modalidade cresceu bastante. Teremos mais de 30 pessoas em Lima. Traremos com certeza vários resultados maravilhosos. O Parapan vale vaga direta. Quero muito esse ouro para chegar a Tóquio e, lá no Japão, tentar a tão sonhada medalha de ouro que escapou por pouco no Mundial", afirmou Cátia.

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Cátia faz homenagem ao pai, Flávio Alves, no dia em que recebeu prêmio do Comitê Paralímpico. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

A temporada de 2018 de Cátia só não foi mais feliz porque, exatamente no dia em que conquistou a prata no Mundial, a atleta perdeu o pai, Flávio Alves, de 47 anos. Emocionado com a vitória da filha na semifinal e a conquista da vaga na decisão, Flávio passou mal, foi internado num hospital em Cerqueira César, mas não resistiu. Desde então, Cátia tem dedicado conquistas e prêmios ao pai, que sempre foi fã e incentivador. "Sei que onde quer que ele esteja vai seguir sempre torcendo por mim".

Retrospecto promissor

A Seleção Brasileira tem tradição de desempenhos expressivos em torneios continentais. No Parapan de Toronto, no Canadá, em 2015, a equipe nacional alcançou o melhor resultado do esporte na história da competição. Foram 31 medalhas, com 15 ouros, 10 pratas e seis bronzes. Entre os ouros, dez em chaves individuais, que valeram vagas diretas para os Jogos Rio 2016. Cátia foi a protagonista de um deles.

Na Paralimpíada disputada em solo nacional, os atletas da casa fizeram história. Foram quatro pódios. Uma prata na chave individual masculina da Classe 7, com Israel Stroh; um bronze no individual feminino da Classe 10, com Bruna Alexandre; além dos bronzes por equipes das Classes 1-2, com Aloisio Lima, Guilherme Costa e Iranildo Espíndola e nas Classes 6 a 10 feminina, com Jennyfer Parinos, Danielle Rauen e Bruna Alexandre. Cátia acabou eliminada na fase preliminar, com duas derrotas. Até por isso, enxerga em Tóquio a chance de ir muito além.

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Borrachas lisas no forehand e no backhand: agressividade dos tempos de meia-atacante no futebol. Fotos: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br
"Eu gostava de estar com a bola no pé, de fazer gol. No tênis de mesa, trago um pouco disso. Tenho um quê de atacante, que gosta de bola rápida, forte. Por isso as borrachas lisas"

Faro de gol importado

Originalmente, a relação de Cátia era com uma bola bem maior que a de tênis de mesa. Meia-atacante habilidosa do futebol feminino, ela viveu seu melhor momento em 2007, com a convocação para a Seleção Brasileira que disputaria o Mundial Sub-17, no Chile. Um acidente de trânsito exatamente no dia da convocação, contudo, mudou a trajetória da atleta. Em 15 de outubro daquele ano, Cátia voltava de carro com duas amigas de Piracicaba em direção a Bauru, no interior de São Paulo. O carro onde estava se chocou com a traseira de outro veículo. Catia dormia no banco traseiro sem cinto de segurança e, com o impacto, sofreu uma lesão medular cervical que lhe tirou os movimentos das pernas.

"Eu estava no hospital quando, às 17h, saiu a convocação para a Seleção. Eu iria disputar o Mundial Sub-17 no Chile. Era meu maior sonho. Para mim, aquilo foi difícil demais", recordou. "Foi um acidente leve. Minhas amigas estavam com cinto e só ficaram com a marca. Como estava deitada e sem cinto, deu uma chicotada na minha coluna e pronto. Cinco minutos antes da batida eu estava acordada. Deitei e batemos. Tinha de ser".

Vencidos o luto pessoal e a fase de reabilitação, a migração para o tênis de mesa veio seis anos depois. E, se não podia mais atuar como meia-atacante, "importou" a agressividade dos gramados para o novo esporte. "Eu gostava de estar com a bola no pé, de fazer gol de vez em quando. Agora, no tênis de mesa, trago um pouco disso. Tenho um quê de atacante, que gosta de bola rápida, forte. Por isso uso as borrachas lisas", afirmou.

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Conheça os 34 atletas que vão representar o Brasil no Parapan de Lima, no Peru

FEMININO

» Classe 2

Cátia Oliveira (vice-campeã mundial na Eslovênia) e Carla Maia (Seletiva)

» Classe 3
Marliane Santos (Seletiva) e Thais Severo (critério técnico)

» Classe 4
Joyce Quinzote (Seletiva)

» Classe 5 Feminino
Maria Luiza Passos (Seletiva)

» Classes 6-7
Millena França (pontuação pelo ranking nacional Sub-23) e Aline Ferreira (Seletiva)

» Classes 8-10
Danielle Rauen, Jennyfer Parinos (Seletiva) e Lethícia Lacerda (critério técnico)

» Classe 11
Ana Paula Cordeiro (Seletiva)

MASCULINO

» 
Classe 1

Conrado Contessi (pontuação pelo ranking nacional) e Aloísio Lima (Seletiva)

» 
Classe 2
Iranildo Espíndola e Guilherme Costa (Seletiva)

» Classe 3
Welder Knaf (Seletiva) e David Freitas (critério técnico)

» Classe 4
Ecildo Lopes (pontuação pelo ranking nacional), Alexandre Ank (Seletiva) e Eziquiel Babes (critério
técnico)

» Classe 5
Claudiomiro Segatto (Seletiva)

» 
Classe 6
Goutier Rodrigues (Seletiva)

» Classe 7
Paulo Salmin e Israel Stroh (Seletiva)

» Classe 8
Luiz Filipe Manara (Seletiva) e Francisco Wellington (pontuação pelo ranking nacional)

» Classe 9
Lucas Carvalho (pontuação pelo ranking nacional Sub-23), Guilherme Ifanger e Ramon Colombo (Seletiva)

» Classe 10
Claudio Massad (pontuação pelo ranking nacional), Carlos Carbinatti e Diego Moreira (Seletiva)

» Classe 11
Lucas Hansen (Seletiva)

Gustavo Cunha - rededoesporte.gov.br