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Tenis de mesa paralímpico

20/10/2018 09h21

Celje 2018

Prata de Catia Oliveira é o melhor resultado do país em Mundiais de tênis de mesa

Brasileira foi superada na final pela sul-coreana Su Yeon Seo, número 1 do ranking. Premiação foi marcada por tristeza pela morte do pai de Catia, horas depois da decisão do Mundial

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O Brasil disputou, neste sábado (20.10), na cidade de Celje, na Eslovênia, uma partida que foi histórica para o tênis de mesa paralímpico nacional. Pela primeira vez um representante do país jogou uma final individual de um Mundial na modalidade. A paulista Catia Oliveira, 27 anos, foi a protagonista da façanha.

Após vencer nas quartas de final a russa Nadejda Pushpasheva, número 3 do mundo na classe 02, para atletas cadeirantes com baixa mobilidade, e derrotar na semifinal a italiana Giada Rossi, número 2 do ranking, Catia chegou à final para um reencontro com a coreana Su Yeon Seo.

Catia Oliveira, na final contra a coreana Su Yeon Seo. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br
"Não consegui fazer direito a minha estratégia, fiquei um pouco mais nervosa do que ontem, mas acho que é normal, porque era uma final de um Mundial. Ela é a número 1 do mundo, é muito experiente e muito forte, tanto tecnicamente quanto fisicamente"
Catia Oliveira, mesatenista

Número 1 do mundo, a rival de 32 anos já tinha no currículo prata em simples e bronze por equipes no Rio 2016 e era dona de três medalhas em Mundiais (prata em simples em 2014 e bronze por equipes em 2013 e 2014). As duas já tinham se enfrentado na primeira partida da fase de grupos, na quarta-feira (17.10), que terminou com vitória por 3 x 1 para a coreana. Na final na Eslovênia, Su Yeon Seo venceu novamente: 3 x 0.

A decisão começou com a rival impondo um ritmo muito forte no primeiro set e não permitindo nenhum tempo de jogo para Catia Oliveira. O resultado foi um placar elástico, de 11/3.

A partir daí, o duelo ficou equilibrado. Catia passou a atuar com mais consistência na segunda parcial e chegou aos 10/10 depois de salvar um set point e com o placar podendo pender para qualquer lado. Su Yeon Seo, entretanto, venceu o ponto seguinte e fechou o set por 12/10.

Na última etapa, a brasileira teve duas oportunidades para ganhar o set, no 10/9 e no 11/10, mas Su Yeon Seo conseguiu o empate e, depois do segundo set point defendido, fechou a partida em 13/11.

Com a prata conquistada na Eslovênia, Catia Oliveira superou a campanha de Bruna Alexandre no Mundial de 2014, em Pequim, quando a jogadora da classe 10, para jogadores com deficiências motoras leves ou amputação de membros superiores, ficou com o bronze no individual, até então a única medalha no individual conquistada pelo Brasil em Campeonatos Mundiais.

"Estou chateada, é claro, porque ninguém gosta de perder", lamentou Catia. "Mas não entrei muito bem no jogo. Não consegui fazer direito a minha estratégia, fiquei um pouco mais nervosa do que ontem, mas acho que é normal, porque era uma final de Mundial. Ela é a número 1 do mundo, é experiente e forte, tanto tecnicamente quanto fisicamente", prosseguiu a mesatenista.

"Queria mais uma vez agradecer primeiro a Deus por eu estar viva e com saúde, e, depois, à minha família, ao pessoal da seleção brasileira, a todos da minha equipe em Bauru, à Tainá, que cuida de tudo na minha carreira, e ao Adilson, meu técnico em Bauru, e ao Paulo Molitor (coordenador-técnico da seleção no Mundial da Eslovênia, que acompanhou Cátia nas partidas)", enumerou a jogadora. A cerimônia de entrega das medalhas só será realizada na noite deste sábado em Celje.

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Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br

Emoção 11 anos após a tragédia

Mais do que um resultado expressivo para seu currículo no tênis de mesa, a prata no Mundial da Eslovênia é uma recompensa para uma atleta que se viu obrigada a reinventar a vida e após sofrer um terrível revés em 2007.

No dia 15 de outubro daquele ano, Catia de Oliveira, nascida em Cerqueira César, no interior de São Paulo, voltava de carro com duas amigas de Piracicaba em direção a Bauru quando um acidente transformou sua vida.

"Eu estava no hospital quando, às 17h, saiu a minha convocação para a Seleção Brasileira. Eu iria disputar o Mundial Sub-17 no Chile. Era meu maior sonho e para mim aquilo tudo foi difícil demais. Mas eu superei e hoje estou aqui, vivendo essa emoção e conquistando uma medalha em um Mundial"

 O carro onde ela estava se chocou contra a traseira de um outro veículo. Catia dormia no banco traseiro sem cinto de segurança e, com o impacto, sofreu uma lesão medular cervical que lhe tirou os movimentos das pernas.

"Foi um acidente leve. Minhas amigas estavam com cinto e só ficaram com a marca. O carro bateu por volta das 11h e nem foi com força, mas como eu estava deitada e sem o cinto, deu uma chicotada na minha coluna e pronto. Cinco minutos antes da batida eu estava acordada. Eu deitei e batemos. Tinha que ser...", recordou. Antes do acidente, Catia, que tinha 17 anos à época, jogava futebol. E no dia da tragédia, realizou o maior sonho de sua vida, que acabou não podendo ser concretizado pela lesão na coluna.

"Eu estava no hospital quando, às 17h, saiu a convocação para a Seleção Brasileira. Eu iria disputar o Mundial Sub-17 no Chile. Era meu maior sonho e para mim aquilo tudo foi difícil demais. Mas superei e hoje estou aqui, vivendo essa emoção e conquistando uma medalha em um Mundial", disse Catia, que começou a praticar tênis de mesa em 2013, seis anos depois do acidente.

Luto

O fim de tarde em Celje e a cerimônia de premiação foram marcados por muita tristeza por uma tragédia familiar vivida por Catia Oliveira. Algumas horas depois de disputar a decisão,  a brasileira foi informada, já no hotel, que seu pai, Flávio Alves, 47 anos, havia falecido na cidade de Cerqueira César, no interior de São Paulo, onde Catia nasceu.

Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br

O pai da mesatenista, emocionado com a vitória da filha na semifinal e a consequente conquista da vaga para a decisão do Mundial, passou mal na sexta-feira. Ele foi internado, mas, infelizmente, neste sábado Flávio não resistiu.

A classe 02 feminina foi a primeira a receber a premiação na noite deste sábado e a organização prestou um minuto de silêncio no início da cerimônia em homenagem ao pai de Catia.

Muito emocionada durante a premiação, a brasileira recebeu a medalha de prata aos prantos e, ao final, dedicou o prêmio a seu pai. "Queria dedicar essa vitória a ele. Meu pai era o meu maior fã e foi o meu maior incentivador. Eu sei que onde quer que ele esteja agora ele vai estar torcendo por mim", declarou Catia.

Neste domingo, a vice-campeã mundial, acompanhada de toda a delegação brasileira, embarca no final da noite de Paris para São Paulo. A chegada está prevista para a segunda-feira pela manhã.

Em nota, o ministro do Esporte, Leandro Cruz, lamentou a perda de Catia Oliveira e, em nome da pasta, prestou sua solidariedade à jogadora e a seus familiares e amigos.

 Balanço positivo

Coordenador-técnico das seleções masculina e feminina no Mundial da Eslovênia, Paulo Molitor, antes de saber da trágica notícia da morte do pai de Catia, fez uma avaliação do desempenho do Brasil em Celje. Para ele, a prata de Catia e o desempenho do time, no geral, são indicativos de que a modalidade caminha para uma bela campanha nas Paralimpíadas de Tóquio 2020.

Paulo Molitor. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br
"Esse é um momento muito importante para o tênis de mesa brasileiro. Todos os nossos jogadores estiveram tecnicamente muito fortes. Jogamos de igual para igual com os melhores do mundo e a tendência é que para Tóquio possamos ter um desempenho ainda melhor do que o que tivemos no Rio 2016"
Paulo Molitor, coordenador-técnico da seleção brasileira

"Nós tivemos uma prata com a Catia, mas chegamos com vários atletas às quartas de final, que com mais uma vitória já teriam chegado ao pódio", ressaltou Molitor, referindo-se ao desempenho de Bruna Alexandre (classe 10), de Danielle Rauen e Jennyfer Parinos (classe 09) e Paulo Salmin (classe 07), que avançaram às quartas de final na Eslovênia.

"Esse é um momento importante para o tênis de mesa brasileiro. Todos os nossos jogadores estiveram tecnicamente fortes. Jogamos de igual para igual com os melhores do mundo e a tendência é que para Tóquio possamos ter um desempenho ainda melhor do que o que tivemos no Rio", projetou o treinador.

No Rio 2016, o Brasil faturou quatro medalhas. No feminino, Bruna Alexandre ficou com o bronze na classe 10 individual feminino e o país faturou o bronze por equipes na classe 6-10, com Bruna Alexandre, Danielle Rauen e Jennyfer Parinos. No masculino, Israel Stroh foi prata no individual na classe 07 e Iranildo Espíndola, Guilherme Costa e Aloísio Lima ficaram com o bronze por equipes na classe 1 e 2.

"Se fizermos uma análise de nosso retrospecto nos últimos anos, vamos notar uma coisa bacana: no Mundial de 2014 (em Pequim), ganhamos o bronze com a Bruna Alexandre, na classe 10, o bronze por equipes no feminino da classe 8-10 (com Bruna Alexandre, Jennyfer Parinos e Jane Rodrigues) e o bronze no masculino da classe 1, com Aloísio Lima e Bruno Braga. Em 2016, foram quatro medalhas nas Paralimpíadas e, em 2017, no Mundial (em Bratislava), ganhamos um ouro por equipes (com Bruna Alexandre, Jennyfer Parinos e Danielle Rauen)", lembrou Molitor.

"O Brasil está conseguindo chegar ao pódio em várias classes. O patamar do tênis de mesa paralímpico está melhorando a cada grande competição e nosso leque de opções de pódio está se ampliando em várias classes. Estamos no caminho certo", encerrou o treinador.

Luiz Roberto Magalhães, de Celje, na Eslovênia - rededoesporte.gov.br