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31/05/2016 07h09

Revezamento da Tocha

Caruaru, a cidade que surgiu das feiras de rua, recebe a tocha no agreste pernambucano

A cultura do barro transformado em artesanato, da música que embala a capital do forró e das feiras que originaram a cidade de Caruaru, em Pernambuco, se juntou à do esporte ao receber a tocha olímpica dos Jogos Rio 2016  nesta segunda-feira (30.05).

Representantes das principais categorias da cidade conduziram a chama por 7,5 quilômetros e foram assunto durante todo o dia até à chegada do símbolo olímpico, no fim da tarde. Ao todo, foram 31 pessoas entre a principal artesã de Caruaru, o autor de uma música imortalizada por Luiz Gonzaga e um blogueiro famoso, todos moradores da cidade que disputa com Campina Grande, na Paraíba, o título de Maior São João do Mundo.

Falar de Caruaru sem lembrar das feiras é deixar de lado umas das principais características do município pernambucano, movimentado pelo mercado atacadista. A região, ponto de passagem para quem seguia para Alagoas, Norte da Bahia e outras partes do estado, se formou por feiras para atender aos viajantes que passavam por ali. Caruaru nasceu há 159 anos e cresceu ao redor da feira, que hoje continua atraindo turistas de todo o país. Em dezembro, mês de maior movimentação, o mercado de feirantes movimenta cerca de R$ 120 milhões.

É também nessa época do ano que, todas as segundas-feiras, cerca de 100 mil pessoas passam pela Feira de Sulanca, onde um mundo de gente e manequins de plástico se misturam entre vendedores e compradores. "É uma honra para nós estar na rota do revezamento da tocha olímpica e espero que também seja para a organização dos Jogos Rio 2016 nos ter como palco dessa condução", comentou o diretor de Feiras e Mercados de Caruaru, Felipe Augusto Ramos, de 30 anos.

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O barro levou a artesã Marliete Rodrigues da Silva, de 58 anos, para muito além de Caruaru. Ainda criança, já produzia e vendia suas peças na cidade, arte que aprendeu com o pai, aprendiz do Mestre Vitalino. Marliete, porém, criou um estilo próprio. Segundo ela, são histórias do cotidiano do agreste que, a partir da experiência de conduzir a tocha olímpica, ganhará novos elementos. "Tudo o que estou vivendo aqui será registrado não apenas na minha memória, mas imortalizado no barro por meio da minha arte", anunciava.

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Severino administra o museu em homenagem ao Mestre Vitalino. Foto: Ivo Lima/ brasil2016.gov.br

Por todo canto, o nome do artesão Vitalino ecoa como prece. Em qualquer loja é possível encontrar réplicas das figuras que ele começou a fazer aos seis anos, com restos de barro que a avó, artesã fabricante de panelas, deixava para o menino brincar. "Meu pai criou um estilo de arte figurativa, foi o primeiro a mostrar, em suas esculturas, o cotidiano do homem do campo", destacou o filho do mestre, Severino Vitalino. É ele quem administra o museu em homenagem ao patriarca da família, instalado em uma casa de tijolo de barro, no bairro Alto do Moura. Ali criou-se, ao redor da lenda de Vitalino, um reduto de artesãos pernambucanos que adaptam estilos e vão renovam linguagens. O revezamento da tocha atraiu turistas, que passaram o dia visitando a casinha e fotografando as relíquias ali guardadas.

Foto: Ivo Lima/brasil2016.gov.br

A voz da cidade

Em Caruaru, ele é nome de rua, batiza posto de informação turística, ganhou busto em tamanho real em uma das entradas da feira de artesanato e qualquer pessoa na rua sabe contar sua história. Afinal, o músico Onildo de Almeida tem quase 600 composições, muitas gravadas por pilares da música popular brasileira, como Chico Buarque e Gilberto Gil. A mais célebre, no entanto, é a obra que ganhou o mundo com a interpretação de Luiz Gonzaga, chamada Feira de Caruaru.

"Essa música viaja o mundo. Foi lançada em 1956 e segue na preferência popular. Costumo dizer que toda feira é igual, mas a de Caruaru é diferente", acredita Onildo. Frequentador do mercado livre desde a infância, quando comprava cavalinhos de barro feitos pelo Mestre Vitalino, ele subiu ao palco emocionado para agradecer a escolha de seu nome para acender a pira olímpica em sua terra natal. "Carregar a tocha é uma coroa reluzente de sucesso para minha carreira".

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O compositor Onildo foi o responsável por acender a pira em Caruaru. Foto: Ivo Lima/ brasil2016.gov.br

Sônia Maria da Silva, de 46 anos, vende artesanato na feira há 18 anos e se entusiasma ao falar do espaço, e acrescente que, além dos mercados a céu aberto, outros aspectos movimentam a imagem da cidade, como a gastronomia, a música e a temporada de festas juninas, que terá início no próximo sábado. "É mesmo como cantava Luiz Gonzaga: em Caruaru tem de tudo para a gente ver", destacou. Para ela, a passagem do fogo olímpico pelo agreste é histórica. "Será uma oportunidade de dar visibilidade a pessoas importantes daqui", acredita.

Revezamento da Tocha - Caruaru PE

Nesta terça-feira (31.05), a chama olímpica fecha o mês de maio ainda em Pernambuco, programada para percorrer Gravatá, Jaboatão dos Guararapes e Recife.

Mariana Moreira e Hédio Ferreira Júnior, de Caruaru (PE) - brasil2016.gov.br