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08/06/2016 09h37

Revezamento da Tocha

Capital do Humor fala sobre coisa séria durante a passagem da chama olímpica

Fortaleza recebeu a tocha nesta terça. Com a presença da Maria da Penha, a cidade reconheceu a força da mulher e a coragem do povo nordestino

Conhecido mundialmente pelas belas praias e nacionalmente pelo bom humor do povo, o Ceará recebeu o fogo sagrado pela primeira vez nesta terça-feira (07.06). O dia do comboio se encerrou em Fortaleza, mas não terminou com nenhuma piada típica dos humoristas cearenses. A cidade reconheceu a força da mulher e a coragem do povo nordestino, que se assemelham ao espírito olímpico, e contou com a presença da Maria da Penha no acendimento da pira na Praia de Iracema.

A chama, que se despediu do Rio Grande do Norte após uma cerimônia em Mossoró, entrou no Ceará por Aracati e seguiu para Aquiraz, a primeira capital do estado. A Cacique Pequena, primeira chefe mulher de uma etnia na América Latina, foi uma das condutoras em Aquiraz, que tem nome de origem tupi-guarani. Conhecida como guardiã da memória, a índia já anunciava que o dia do revezamento traria histórias de superação e pioneirismo.

Maria da Penha

Símbolo nacional da luta contra a violência às mulheres, Maria da Penha foi escolhida para o momento mais importante da chama Fortaleza: o acendimento da pira, no momento de celebração da tocha na cidade. Violentada pelo marido e paraplégica por causa de agressões, ela usou o sentimento de injustiça para começar a fazer história e deu nome à Lei nº 11.340, que, no mesmo mês de abertura dos Jogos Rio 2016, completará dez anos. "É um momento muito importante para dar visibilidade a nossa causa. O esporte pode ser um instrumento para ajudar muitas mulheres a terem conhecimento dos seus direitos", afirmou.

Maria da Penha batizou a lei brasileira que virou símbolo da luta contra a violência contra as mulheres. Foto: Rafael Brais/ brasil2016.gov.br

Maria explicou que a Lei não é contra os homens, mas sim contra os agressores e que a mudança só é possível com educação cidadã. Para ela, esta é uma responsabilidade do gestor público e das vivências em família. "Trazemos conosco experiências da infância. A cultura de paz que tanto sonho começa dentro de casa", reforçou.

Ela também falou da luta das pessoas com deficiência e lembrou do tempo que praticava esportes. "Na universidade eu jogava volêi. Depois que fiquei paraplégica passei a competir em tênis de mesa. Só parei por conta da agenda. E é essa a mensagem que deixo. A tocha leva de Fortaleza um grande espetáculo e a conscientização de superação", completa.

Maria da Penha recebeu a chama da jornalista Juliana de Faria, a nova geração na luta pelos direitos da mulher. "A palavra que me vem na cabeça é coragem e estar rodeada por mulheres que a coragem permeiou a vida com tanta força, como a Maria da Penha, é uma grande honra", diz. Natural de São Paulo, Juliana é uma das fundadoras da organização Think Olga, com foco no empoderamento feminino por meio da informação.

Lição de vida

Antes de Juliana, o condutor da chama foi Cícero Cruz. Nascido em Barbalha, também no Ceará, o educador físico começou a vida como cortador de cana. Em busca dos sonhos se mudou para a capital Fortaleza. Trabalhou em vários ramos até virar marceneiro. Aproveitou o tempo livre para treinar kung fu e se tornou mestre. Várias crianças começaram a procurá-lo para treinar a modalidade. "De uma hora para outra eu já tinha quase 50 alunos. Todos os dias a gente tirava as máquinas da minha marcenaria e dava aula de graça", lembra Cícero, que foi voluntário na Copa do Mundo 2014.

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Cícero Cruz (D). Foto: Rafael Brais/ brasil2016.gov.br

Pouco depois ele recebeu uma doação de equipamentos usados e os alunos o ajudaram a construir sua própria academia. Empolgado, Cícero quis realizar mais um sonho. "Resolvi estudar educação física à noite. Pegava seis ônibus diariamente até a cidade vizinha Caucaia", conta.

O esforço foi recompensado. Hoje Cícero lidera o ABC Cajueiro Torto, projeto social que atende cerca de 2 mil pessoas em vulnerabilidade social no bairro Santa Fé e Castelão e outras seis cidades do Ceará - nessas com a direção de ex-alunos. "Já se passaram 20 anos e minha família só aumenta. Nosso projeto vive de doação e da comunidade", sorri.

Sobre a emoção de conduzir a tocha no seu estado, Cícero revela que tudo é fruto do amor pelo trabalho. "Postei na rede social que fui escolhido para conduzir a tocha e teve mais de 5 mil comentários das pessoas dizendo que foi o trabalho que a gente fez no passado que está sendo reconhecido hoje. A emoção que senti foi toda amor pelo o que eu faço", concluiu.

Revezamento

Cícero, Juliana e Maria foram os últimos condutores e levaram a chama olímpica ao Aterro da Praia de Iracema. O show de encerramento ficou por conta do cantor Tiaguinho e da banda Aviões do Forró, que também conduziu a chama.

O percurso de 35 quilômetros na capital cearense foi dividido em três rotas e começou dentro de um dos maiores símbolos esportivos na cidade e palco de muitos clássicos, a Arena Castelão. Após presenciar os jogos da Copa das Confederações FIFA 2013 e da Copa do Mundo FIFA 2014, foi a vez do estádio testemunhar o primeiro beijo da tocha em Fortaleza com Carlos Maciel, campeão brasileiro paralímpico da natação - classe SB8 - e o lutador de jiu-jitsu Relter Filho.

Carlos Maciel e Relter Filho iniciaram o revezamento em Fortaleza, a partir do Castelão. Fotos: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.br

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Norton Lima e Ana Paula. Foto: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.br

O primeiro trecho percorreu os bairros residenciais de Boa Vista, Lagoa Sapiranga e Edson Queiroz, com direito a celebridades, como a ex-BBB Ana Paula Renault, que recebeu o beijo da tocha do portador do síndrome de down, Norton Lima em frente ao Centro de Formação Olímpica (CFO), instalação esportiva integrante da Rede Nacional de Treinamento, do Ministério do Esporte. "Estou lisonjeada em participar do revezamento da tocha, o esporte também é o futuro do Brasil", disse momentos antes de carregar a chama.

Logo depois, próximo ao Centro de Eventos do Ceará, foi a vez da Solange Almeida e Xand, vocalistas dos Aviões do Forró que deram até palhinha antes do revezamento. "Quem no mundo não gostaria de carregar essa tocha, estamos muito felizes", afirmou a dupla.

A tocha passou, ainda, pelo centro histórico de Fortaleza e visitou os principais pontos, como o Teatro José de Alencar, a Praça do Ferreira, a Catedral Metropolitana, o Mercado Central e o Centro Cultural Dragão do Mar. A avenida Beira Mar e a Feirinha de Artesanato também estiveram na rota, assim como o porto do Mucuripe.

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Adriana e Shelda. Foto: Rafael Brais/ brasil2016.gov.br

Dupla medalhista

Inesquecível dupla do vôlei de praia, a cearense Shelda e a carioca Adriana Behar estiverem juntas no revezamento da tocha em Fortaleza. Como nos tempos das areias, Adriana passou a chama olímpica para a parceira Shelda. "Sentimento inédito conduzir a tocha. É o símbolo mais importante dos Jogos e fazer parte do revezamento no Brasil e com a Shelda é emocionante", explica Adriana que ao lado da cearense conquistou duas medalhas de prata, uma Jogos de Sydney-2000 e outra em Atenas-2004.

Adriana revelou que não poderia estar em outro lugar para conduzir a tocha. "Tudo que conquistei foi com a Shelda, ela é referência para o Ceará e no esporte mundial. Mas antes de tudo é minha referencia no esporte e na vida, além de ser a minha melhor amiga. Eu tinha que estar aqui hoje com ela", disse emocionada ao homenagear a companheira por 12 anos no vôlei de praia. A dupla que tem mais de mil vitórias e 114 títulos conquistou ainda seis vezes o Circuito Mundial, dois Mundiais e nove vezes o Circuito Brasileiro. Exemplo de superação, Shelda recorda os tempos de menina. "Minha vó sempre falava para mim ter força, coragem e vencer. Então fui à luta porque eu sabia que queria ser atleta. A gente tem que acreditar nos nossos sonhos. Querer é poder".

Revezamento da Tocha - Fortalea

Legado esportivo

O Ceará sempre esteve presente no cenário esportivo nacional, fosse pelos times de futebol (Ceará, Fortaleza e Ferroviário) ou por atletas de alto rendimento, como o Márcio Araújo e Shelda do vôlei de praia. Entretanto, o estado ganhou projeção mundial ao sediar jogos da Copa do Mundo FIFA 2014. Como legado olímpico, Fortaleza firmou parcerias importantes o que resultou em construções de novas instalações esportivas e investimento em diversas modalidades.

O Centro de Formação Olímpica do Nordeste (CFO), uma das estruturas mais modernas do mundo para treinamentos e competições de 26 modalidades olímpicas e paralímpicas, é um exemplo. Parte da Rede Nacional de Treinamento, o centro é fruto de uma parceria entre governos federal e estadual e teve investimento total de R$ 250 milhões. O Ceará também foi contemplado com 14 Centros de Iniciação ao Esporte (CIEs) e só em Fortaleza serão três.

No estado, o investimento anual em atletas é R$ 1,2 milhão, com 89 de modalidades olímpicas/paralímpicas do estado. Da parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) foi feito investimento na construção de pista oficial em Fortaleza, ainda em obras, e a Universidade de Fortaleza (Unifor) foi contemplada com equipamentos para estruturação de um centro de treinamento de atletismo, em virtude de convênio com a CBAt.

Rota

A chama olímpica continua no Ceará nesta quarta-feira (08.06) e passa por Caucaia, Itapajé, Irauçuba e Forquilha até chegar em Sobral, cidade celebração. Serão 112 condutores durante o dia e um total de 276 quilômetros, incluindo os deslocamentos do comboio.

Lilian Amaral, Lorena Castro e Rafael Brais - brasil2016