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Tenis

08/06/2018 23h37

Tênis

Brasil fica órfão de Maria Esther Bueno, principal tenista da história do país

A paulistana morreu aos 78 anos, vítima de câncer. Em sua carreira, colecionou 19 títulos de Grand Slam, com direito a um tricampeonato em Wimbledon e a um tetra no US Open

Morreu nesta sexta-feira (08.06), aos 78 anos, Maria Esther Bueno, a maior tenista da história do Brasil. Ela estava internada, desde maio, no Hospital 9 de Julho, em São Paulo, para tratar um câncer que se espalhou no organismo. 

Paulista, Maria Esther Bueno começou a jogar tênis na infância. Junto com os pais e o irmão frequentou desde cedo o Clube Tietê, na capital paulista, onde o tênis era o principal passatempo da família.

Maria Esther Bueno venceu 19 Grand Slams ao longo da carreira. Foto: Agência Brasil

Maria Esther com a premiação de Wimbledon. Foto: Agência Pública

Aos 14 anos, se tornou campeã brasileira. E chamou a atenção do mundo ao conquistar o tradicional Torneio de Wimbledon em 1959, aos 19 anos. A vitória inédita de uma brasileira valeu desfile em carro aberto pelas ruas de São Paulo, homenagem do presidente Juscelino Kubitschek e um selo comemorativo dos Correios.

"Por vir do Brasil, onde só tínhamos quadras de saibro, não tínhamos tido a chance de jogar na grama. Então, vencer foi uma grande surpresa"
Maria Esther, sobre a primeira vitória em Wimbledon

Era só o início de uma trajetória avassaladora. Em 1960, se tornou a primeira tenista a vencer os quatro Grand Slams nas duplas. Ao todo, disputou 35 finais de torneios do Grand Slam e venceu 19, sete deles na simples, 11 nas duplas femininas e uma nas duplas mistas, feitos que a levaram ser considerada a melhor jogadora do mundo nos anos de 1959, 1960, 1964 e 1966, antes da criação do ranking mundial, em 1975.

Em seu perfil no Hall da Fama, Maria Esther destacou que o maior momento de sua carreira foi a primeira vitória em Wimbledon. "Foi um pouco inesperado, por eu ser muito nova. Por vir do Brasil, onde só tínhamos quadras de saibro, não tínhamos tido a chance de jogar na grama. Então, vencer foi uma grande surpresa." Na época em que ela se destacou no esporte, o tênis não era modalidade olímpica – saiu dos Jogos em 1924 e só retornou em 1988.

Repercussões

Atletas, dirigentes esportivos e autoridades se manifestaram sobre a perda de Maria Esther Bueno. O presidente da República, Michel Temer, usou o perfil no Twitter para lamentar a morte da tenista. "Com pesar recebemos a notícia da morte da tenista Maria Esther Bueno. Ídolo do esporte brasileiro, ficou conhecida como bailarina pela leveza e elegância nas quadras. Será sempre lembrada como a nº 1 do tênis no coração de todos os brasileiros".

O ministro do Esporte, Leandro Cruz, divulgou nota de pesar em que reforça a relevância dos feitos da atleta, em especial o tricampeonato em Wimbledon e o tetra no US Open. "Hoje é um dia triste para o esporte brasileiro. Nosso país perde uma de suas maiores legendas, após uma corajosa batalha contra o câncer, mas as lições de Maria Esther permanecem", afirmou. .

O Comitê Olímpico do Brasil também divulgou nota de pesar e exaltou os feitos esportivos da atleta e se solidarizou com familia. "Nesse momento de dor, o Comitê Olímpico do Brasil se solidariza aos familiares e amigos de Maria Esther Bueno, certo de que suas conquistas e legado estarão eternizados na história do esporte brasileiro".

A Confederação Brasileira de Tênis divulgou homenagem usando uma imagem da atleta seguida da frase: "Dia de luto para o tênis brasileiro. Descanse em paz, Bailarina".

A ex-atleta foi uma das condutoras da tocha no tour que antecedeu os Jogos Olímpicos Rio 2016. Foto: Rafael Brais/rededoesporte.gov.br

Pioneirismo

Em 1939, quando Maria Esther Bueno nasceu em São Paulo, apenas duas brasileiras tinham disputado uma Olimpíada, o futebol feminino era ilegal e a prática esportiva, de um modo geral, era marcada pelo machismo, que se maquiava com falsos argumentos médicos para limitar a participação das mulheres.

A primeira medalha olímpica feminina do Brasil chegaria quase 60 anos depois, em 1996, com o vôlei. As primeiras medalhas individuais demoraram ainda mais: quase 80 anos, e vieram com Ketleyn Quadros, do judô, e Maurren Maggi, em 2008.

A carreira que Maria Esther construiu, no entanto, é um marco na história esportiva de toda a América do Sul. No Hall da Fama Internacional do Tênis, além de Maria Esther, a única sul-americana homenageada é a argentina Gabriella Sabatini, quase 40 anos mais nova que a brasileira.

Ao olhar para trás, Maria Esther considera-se uma pioneira: "Mulher no esporte sempre teve, mas nunca com o destaque que era dado aos homens. Depois das conquistas que eu consegui, muitas mulheres se sobressaíram", disse ela, em entrevista à Agência Brasil. "Acho que abri um caminho, principalmente no tênis, na América Latina toda."

Parque Olímpico

Antes dos Jogos Rio 2016, a quadra central do Centro Olímpico de Tênis, no Parque Olímpico da Barra, foi batizada com o nome da tenista, que se emocionou com a homenagem. "Fico muito orgulhosa de ter representado bem o Brasil. Para a mulher brasileira, foi uma grande vitória, porque, em tudo, a gente tem que fazer o triplo do que fazem os homens", afirmou Maria Esther, que também foi uma das condutoras no revezamento da tocha para o megaevento brasileiro.

Rededoesporte.gov.br, com informações da Agência Brasil