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Atletismo

21/08/2016 22h12

Brasil conquista tri no vôlei masculino e coroa líbero Serginho

Vitória por 3 sets a 0 contra a Itália marca despedida do maior medalhista brasileiro em modalidades coletivas

Todos jogaram por ele e ele por todos, como repetiram os atletas em vários momentos durante a campanha nos Jogos Rio 2016. No último dia de disputas do vôlei masculino, neste domingo (21.08), a seleção brasileira subiu ao topo do pódio olímpico, na quarta final consecutiva e após 12 anos do bicampeonato em Atenas 2004, com um personagem que esteve em todas as decisões desde a edição na Grécia. Aos 40 anos, Serginho foi o mais festejado e era o mais emocionado no Maracanãzinho, após a vitória por 3 sets a 0 contra a Itália, com parciais de 25/22, 28/26 e 26/24, em 1h37min de partida. O bronze ficou com os Estados Unidos, que venceram a Rússia por 3 sets a 2.

Foto: Danilo Borges/Brasil2016.gov.br

As Olimpíadas em casa também marcaram a despedida do líbero, que quase “morreu” na caminhada rumo ao título, mas foi salvo pelos companheiros. O Brasil chegou à última rodada da fase de classificação precisando de uma vitória contra os franceses para avançar. “Quando a gente teve o jogo contra a França, eu falei para eles: 'Estou me sentindo como se estivesse na UTI.' E eu tinha perguntado para eles se já tinham visto alguém na UTI. Todos disseram que não. Eu disse que já tinha visto. Então falei para eles que nesta Olimpíada eu vou lutar pela minha vida e que eles iriam me tirar dessa UTI. E os caras entenderam. Porque era minha última Olimpíada, última tentativa de ser bicampeão. Eles têm outro ciclo e eu não vou ter mais essa chance”.

Serginho se tornou o maior medalhista olímpico do Brasil em modalidades coletivas, com os ouros de Atenas 2004 e Rio 2016, além das pratas em Pequim 2008 e Londres 2012. Ele é o décimo terceiro bicampeão brasileiro em Olimpíadas, se juntando aos parceiros de modalidade Maurício Lima e Giovane Gávio, campeões em Barcelona 1992 e Atenas 2004. “Passou um monte de coisas na cabeça, o ace do Marcelo Negrão em 1992 e eu saindo na rua da minha casa gritando, querendo ser ele. Não tinha nem chinelo. Depois em 2001 eu dividi quarto com Maurício e em 2004 ser campeão olímpico com ele e com o Giovane. Chorei, queria ser igual aos caras. Depois mais duas finais com duas pratas e agora conquistar... É ir para casa, tomar Tubaína, comer frango com pirão da minha mãe e bolo de chocolate”, disse o aliviado líbero.

Foto: Danilo Borges/Brasil2016.gov.br
“Passou um monte de coisas na cabeça: o ace do Marcelo Negrão em 1992 e eu saindo na rua da minha casa gritando, querendo ser ele. Não tinha nem chinelo. Depois em 2001 eu dividi quarto com Maurício e em 2004 ser campeão olímpico com ele e com o Giovane. Depois mais duas finais com duas pratas e agora conquistar... É ir para casa, tomar Tubaína, comer frango com pirão da minha mãe e bolo de chocolate”
Serginho

Quando o ataque da Itália parou no bloqueio do Brasil, decretando o tricampeonato olímpico do país, Serginho caiu no chão e chorou. Ele foi jogado para cima pelos companheiros e, já no pódio, com os olhos fechados, sentia a emoção de estar novamente no topo. “Mais do que um amigo e um irmão, ele é um exemplo, de suma importância para esta geração, não só pela experiência, mas pela alma que ele coloca em cada treino, em cada jogo. Isso agrega, incentiva”, descreveu o levantador Bruninho, que chegou à sua terceira final e ao primeiro ouro.

De 12 em 12

O vôlei entrou no programa olímpico na edição de Tóquio, em 1964. Foram 20 anos até a primeira medalha brasileira com a prata em Los Angeles, 1984. Geração que abriu caminho para o ouro de Barcelona 1992, com Tande no time. “Simplesmente vai passando de geração em geração e chega neste momento. Uma final olímpica no Brasil, uma equipe que estava quase fora e de repente voltou. Pareceu a campanha das meninas em 2012, que perderam dois jogos também, passaram e ganharam moral. Aqui chegaram na semifinal contra a Rússia e venceram. Na final foi a vitória da superação”, analisou.

Presente no Maracanãzinho, o atleta, que hoje é comentarista, esperava o início da partida imaginando como a equipe se preparava para a decisão contra a Itália. “O que eles estão fazendo naquele momento no vestiário? Brincando, conversando, outro mais sério, mais tenso, ao mesmo tempo esta superação”, conta Tande, que ao lado de outros ícones da primeira geração de ouro, como Giovane, Marcelo Negrão e Maurício, abriram portas para novos jogadores depois de vencerem a Holanda na decisão por 3 sets a 0.

Foram 12 anos até o ouro seguinte, em Atenas. Ainda estavam na equipe Giovane e Maurício, passando experiência a jovens talentosos como Giba e Dante. Na final, os mesmos adversários desta tarde, a Itália, que perdeu por 3 sets a 1. “Lembrei (de 2004), chorei, me emocionei. As Olimpíadas aqui no Brasil são especiais, vendo a minha modalidade ser campeã, vendo o Serginho largar a seleção. Enfim, um filme que passou na minha cabeça. Fiquei muito feliz por ouvir o Hino Nacional de novo”, revela Giba, que se despediu da seleção após os Jogos de Londres.

Serginho e Giba na final contra a Itália em Atenas 2004. Fotos: Getty Images

“Todo mundo perguntou e eu disse: ‘Olha, esse jogo é 3 x 0’. Esse era o resultado que deveríamos ter feito há quatro anos. No terceiro set eu tenho certeza que eles lembraram de Londres, mas jogaram concentrados em busca da vitória, como deveríamos ter feito. Me senti de alma lavada”, comemora Dante.

Foram outros 12 anos, com duas pratas consecutivas, para vir outra geração que levou o país ao topo do pódio olímpico. O fio condutor de um ouro a outro foi Serginho, que sente que o tempo passou rápido. “Do nada você acha que o Giba está ao lado e você vai ver não está, está o Lipe. Mas eles tiveram uma grande postura, o Lipe parecia o Giba, o Lucarelli parecia o Dante. O Bruninho, o que ele jogou hoje... O que o Wallace fez nesta Olimpíada... O grupo como um todo. Foi uma vitória de um grupo que merecia, que ganhou tudo e faltava o ouro olímpico”, afirmou o líbero.

Rio 2016 - Vôlei de Quadra - 21/08/2016

"Talvez a gente não tenha sido uma geração virtuosa como a que passou, show o tempo todo, mas a gente trabalhou duro, no sentido de lutar por um objetivo em comum"
William

Nova Geração

Somente o líbero Serginho, o levantador Bruninho, o oposto Wallace e o central Lucão tiveram experiência olímpica anterior aos Jogos Rio 2016. Os outros oito jogadores são estreantes. Uma nova geração que chegou às Olimpíadas sob o trauma da decisão contra a Rússia em 2012. Um dos mais jovens do time, Lucarelli acompanhou pela TV a final de Londres, quando o Brasil levou uma virada inesperada, após dois match points, quando vencia por 2 sets a 0. “Quando a gente fez 2 sets a 0 e estava no finalzinho do terceiro, eu comecei a pensar um pouco em Londres e a pedir para que não acontecesse de novo”.

Mais experiente pela idade, 37 anos, mas também estreante olímpico, o levantador William se emociona com o sonho concretizado. “Olimpíada é sonho de criança. Em 1992, eu pensava 'Os caras são campeões', hoje sou eu”, disse. “Talvez a gente não tenha sido uma geração virtuosa como a que passou, show o tempo todo, mas a gente trabalhou duro, no sentido de lutar por um objetivo em comum. Ser vice não é demérito, brasileiro é um pouco mal acostumado em relação a isso. O vôlei ganha faz dez anos e a cobrança é normal, mas tenho orgulho dos vices na Liga Mundial, no Mundial. Eu guardo estas medalhas com a maior honra e a de ouro tem sabor especial. É o fim de um trabalho longo com um resultado excepcional”.

Foto: Danilo Borges/Brasil2016.gov.br

Um time jovem, que obrigou o técnico Bernardinho, característico por sua maneira enérgica de comandar à beira da quadra, a mudar de postura. “Foi um ciclo difícil, após uma derrota em 2012, da forma como ela veio, sofrida, dura. É uma geração que substitui grandes jogadores. É uma geração que não deveria sofrer mais pressão do que já sofria, da minha parte. Tentei ser um Bernardo diferente para os jogadores”, revelou o treinador, que não sabe se continua à frente do cargo que ocupa desde 2001. Agora, ele tem seis medalhas em sequência, somando os dois bronzes com a seleção feminina (Atlanta 1996 e Sydney 2000). No entanto, ele garante que a nova geração manterá o alto nível do Brasil na modalidade. Está provado.

CAMPANHA

Primeira fase

Brasil 3 x 1 México
Brasil 3 x 1 Canadá
Brasil 1 x 3 EUA
Brasil 1 x 3 Itália
Brasil 3 x 1 França

Quartas de final

Brasil 3 x 1 Argentina

Semifinal

Brasil 3 x 0 Rússia

Final

Brasil 3 x 0 Itália

Gabriel Fialho - Brasil2016.gov.br