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Natação

29/07/2016 09h19

Natação

Banho de luz, óculos escuros de noite, luva de gelo: as estratégias de aclimatação da natação brasileira

Meta é atrasar em três horas o relógio biológico, em preparação para as inéditas finais a partir das 22h. Sede da fase final de ajustes, Centro de Treinamento Paralímpico recebe elogios

Thiago Pereira com o óculos que emite luz verde. Ferramenta tem a função de atrasar o relógio biológico dos atletas para que eles estejam ativos no horário das finais. Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Em um dia comum, João Gomes Júnior estaria no “terceiro sono” às 22h. Mas, durante os Jogos Olímpicos Rio 2016, este é o horário mínimo em que o nadador entrará na piscina caso chegue às finais na disputa dos 100m peito e no revezamento 4x100m medley. Não só pra ele, mas para todos os atletas da modalidade, as provas tarde da noite representam um desafio. Na delegação brasileira, ele está sendo enfrentado com tecnologia e mudança de hábito já na aclimatação, realizada no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, até 2 de agosto.

Não se assuste se encontrar os 33 nadadores – a maior equipe brasileira da história em Olimpíadas – chegando de óculos escuros à noite no hotel. Ou se vê-los com um outro modelo, que emite luzes verdes, antes do treino noturno. São técnicas que fazem parte da clínica do sono coordenada pelo fisiologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais Marco Túlio de Mello, com o objetivo de atrasar o relógio biológico dos atletas em três horas. 

“O que estamos fazendo (com os óculos) é dar um banho de luz, para que a curva de temperatura do corpo fique mais alta até por volta das 0h, 0h30. O banho de luz é no início da noite, por volta das 19h, durante meia-hora.  E, após o treino, eles começam a usar óculos escuros, para mostrar para o organismo que a noite chegou e é preciso dormir rápido”, explica o professor.

Nicolas Oliveira é um dos atletas que mais tem necessidade de mudar o relógio biológico, porque vai competir em quase todos os dias da natação olímpica. Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Tudo mais tarde

Horários para dormir, acordar e para alimentação também foram atrasados em três horas desde segunda-feira (25.07).Os óculos do banho de luz foram introduzidos na quarta (27.07). 

“É meio estranho, você fica olhando para as luzinhas verdes. No início dá um pouquinho de dor de cabeça, depois você vai se acostumando e nem percebe. Depois que você tira, você fica com o olho mais aberto”, descreve João Gomes Júnior, que também narra  a experiência com os óculos escuros.

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A atleta Jhennifer Conceição com a luva de gelo. Ideia é baixar a temperatura do corpo rapidamente após as provas noturnas para garantir que os nadadores não demorem a dormir. Foto: Carol Delmazo/Brasil2016.gov.br

“É até meio engraçado sair da piscina com tudo escuro, entrar no ônibus totalmente escuro usando óculos escuros. É mais para induzir o sono, e acaba baixando a temperatura do corpo. Você não vê nenhum ponto de luz e acaba quase dormindo”.

Para Nicolas Oliveira, que está classificado para quatro provas  (100m e 200m livre, revezamentos 4x100m e 4x200m livre) e deve nadar quase todos os dias – mesmo com o plano de desistir dos 200m -, a experiência é diferente, mas necessária.

“Acho que sou o atleta que mais vai estar nadando provas. Para mim é muito importante a questão de acabar um dia, conseguir recuperar, dormir para a outra prova. Quem vai nadar só uma prova pode estar mais tranquilo, mas quem vai estar nesses oito dias de competição, igual o meu caso, tem que prestar bastante atenção”, avalia.

Ele explica que é um pouco estranho usar os óculos – tanto o tecnológico quanto o escuro comum, à noite -, mas que o atraso nos horários chega a ser uma volta no tempo.  “A sensação é igual quando a gente era moleque, podendo dormir tarde e acordar tarde. Está sendo aquele sonho de criança, acordar 11h, vai almoçar 15h, jantar às 23h30. Pra mim está sendo uma adaptação bem tranquila”, explica.

Há ainda há o recurso das luvas. “Logo depois do treinamento, em especial para os que têm dificuldade de dormir ou que vão ter provas no dia seguinte, vamos ter uma luva gelada na mão, que é para o efeito oposto ao dos óculos de luz, tirando o calor do corpo, para que possam dormir depois da prova”, diz Marco Túlio.

Os banhos de luz e demais técnicas serão usadas com os nadadores até a véspera de suas competições.  Segundo o fisiologista, com a seleção de handebol será feito, a partir desta sexta-feira (29.07), o trabalho inverso, para acostumar o organismo a jogar mais cedo: algumas partidas estão marcadas para 9h30 da manhã. Há ainda a proposta de usar a técnica das luvas de gelo com as equipes de voleibol, para que consigam dormir logo depois das partidas realizadas após as 22h.

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Estrutura do Centro de Treinamento Paralímpico de São Paulo foi considerada ideal pelos nadadores olímpicos. Foto: Carol Delmazo/Brasil2016.gov.br

Elogios ao CT

Entregue em maio deste ano, o Centro de Treinamento Paralímpico recebeu diversos elogios dos nadadores olímpicos brasileiros. “Estava conversamos com os meninos, estava na piscina de 25m e teve um momento em que até esqueci que estava no Brasil. Eles estão de parabéns. Tive a oportunidade de dar uma volta na estrutura, não só a parte da natação, está fora de série”, avalia Nicolas Oliveira.

“Daria pra morar aqui dentro, achei fantástico. Aqui dentro é tudo perfeito, a piscina tem o espaço que a gente quer, a dez metros você tem uma outra piscina de 25m, tem tudo que a gente precisa”, complementa João Gomes Jr.

Com obras iniciadas em dezembro de 2013, o CT fica no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga e é um dos pontos principais da Rede Nacional de Treinamento. Construída seguindo parâmetros de acessibilidade, com rampas de acesso e elevadores, a estrutura conta com 86 alojamentos e áreas para o treinamento de 15 modalidades paralímpicas. O empreendimento recebeu investimento de R$ 305 milhões, sendo R$ 187 milhões do Ministério do Esporte.

Carol Delmazo, brasil2016.gov.br