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28/06/2016 12h11

Tour da Tocha

Presidente Prudente reforça vocação para formar velocistas no tour da tocha

Medalhistas olímpicos, Claudinei Quirino e André Domingos foram homenageados na passagem do revezamento pela cidade do interior paulista

Presidente Prudente ganhou mais um capítulo na história dos Jogos Olímpicos. Após ter sua bandeira nas mãos do velocista Claudinei Quirino em Sydney-2000, quando o Brasil surpreendeu o mundo com a prata no revezamento 4x100m, a cidade do interior paulista recebeu nesta terça-feira (27.06) o revezamento da tocha. Quirino e André Domingos reviveram o momento de 16 anos atrás da forma que mais gostam: correndo. Desta vez trocaram o bastão pela chama olímpica na cidade que escolheram viver.

O revezamento começou aos pés do Cristo Redentor, na entrada da capital do Oeste Paulista, com o atleta de badminton Enzo Azai. E foi o garoto de 13 anos que passou a chama para Claudinei Quirino. "Nem consegui dormir direito. Parece que hoje estou numa final de Olimpíada. Você levanta cedo, fica se preparando, faz aquele ritual todo", disse Quirino. 

Segundo o velocista, em Sydney os brasileiros não eram favoritos e se classificaram mal no dia anterior para a final. "Serviu para vermos que não podíamos errar. Eu me lembro na final peguei o bastão do André, olhei para o lado esquerdo e vi Freddy Mayola (o cubano). No lado direito, vi o campeão do mundo Maurice Greene, o cara mais rápido do planeta na época. Foquei no cubano, encostei do lado dele e consegui passar um pouquinho. Não me lembro um dia tão feliz como esse", recorda. "Tinhámos um técnico muito bom, que era nosso cérebro. Ele dizia que deveríamos primeiro treinar e depois reclamar", comenta ao descrever a pista da época, com piso inapropriado e gasto. Por isso, costumavam treinar num espaço usado para festas de peão na cidade vizinha, Alvares Machado.

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Medalhista olímpico no revezamento em Sydney (2000), Claudinei Quirino conduz a tocha na cidade que adotou para viver com a família. Foto: Francisco Medeiros/ME

As adversidades fizeram parte da história do menino de Lençóis Paulista, que morou em um orfanato até os 17 anos e mudou para Presidente Prudente em 1992. "Quando cheguei na cidade, morava no ginásio. Eu sonhava crescer e já em 1995 fui para o campeonato mundial. Os meus maiores feitos foram aqui em Prudente", afirma, ao justificar porque optou por continuar na região. "Desde quando morava no orfanato, eu queria uma família e aqui consegui: casei e tenho meus filhos", completa. Não tão longe das pistas, Claudinei trabalha hoje no projeto social Talentos Olímpicos, com foco em democratizar e popularizar a prática esportiva, especialmente o atletismo. Atualmente, cerca de 850 crianças e jovens de bairros da periferia são atendidos pelo programa.

Parceiro do Claudiei na conquista da prata em Sydney, André Domingos encerrou o revezamento do dia com o acendimento da pira no Parque do Povo. "Tem muita gente que vai conduzir a tocha que eu não conhecia e isso é muito legal. São pessoas anônimas, com histórias incríveis, que hoje vão passar a ser conhecidas por causa dessa chama", afirma.

Arquiteto de formação, o ex-atleta diz que continua ativo no atletismo por meio do projeto André Domingos Velozes em Ação, e que o fogo sagrado vem para reforçar a mensagem que passam diariamente para as crianças. "Espero delas que sejam grandes campeãs na vida. A chama tem que estar inserida dentro de cada um". Para André, o esporte é um instrumento de superação e usa a própria vida como exemplo. "Passei fome, pedi esmola e ajudava minha mãe, que trabalhava em três empregos. Eu tive as portas abertas para entrar no mundo da criminalidade, mas não fui porque o esporte me deu essa oportunidade".

Bronze no 4 x 100m em 1996, em Atlanta, André diz que o esforço valeu a pena. "Eu consigo lembrar a emoção quando ganhei as medalhas, mas não consigo descrever. Você treina tanto, se machuca, faz de tudo para se recuperar. De repente está nos Jogos Olímpicos com muitos países e sobe no pódio. É uma sensação louca". Natural de Santo André, o medalhista participou pela primeira vez de uma Olimpíada em Barcelona, em 1992. André recebeu a chama olímpica das mãos de outro grande nome do atletismo brasileiro, Eronildes Araújo, especialista em provas de 400m e recordista sul-americano nos 400m com barreiras.

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Como de praxe, o revezamento mobilizou a população também em Presidente Prudente. Foto: Francisco Medeiros/ME

Nova Geração

Dezesseis anos depois da prata em 2000, Presidente Prudente segue como referência para velocistas. Fã de André Domingos, Bruno Lins treina na mesma pista e com o técnico da grande conquista do atletismo brasileiro de velocidade. A pacata cidade do interior paulista já recebeu nada menos que 26 atletas olímpicos durante sua história e o número tem aumentado com a proximidade dos Jogos Rio 2016.

Bruno conquistou índice nos 200m e também se classificou com o time do revezamento 4x100m. O atleta acredita que os resultados inspiram os demais jovens. "A cidade é um celeiro por vários fatores, a começar por Claudinei Quirino e André Domingos. Não tenho nem o que falar da história deles. Acredito que mais gente continua vindo para cá por se espelhar nisso e devem se perguntar o que Prudente tem que esses caras correm tão bem".

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A equipe brasileira do revezamento 4x100 de Pequim-2008 deve herdar o bronze após confirmação de doping do jamaicano Nesta Carter. "Dos quatro atletas do revezamento titulares na China, todos treinavam aqui. Isso mostra a força do atletismo na cidade", completa Bruno, que recebe a Bolsa Pódio do Ministério do Esporte.

Com a troca de colocação do quarto lugar para o bronze, a cidade terá a terceira medalha olímpica. Mas a maior glória do atletismo brasileiro de velocidade aconteceu com o atual treinador de Bruno. Jayme Netto conquistou além do bronze no 4x100m em Atlanta-96, a prata em Sydney-2000 ao lado de Edson Luciano, Vicente Lenilson, Claudinei Quirino e André Domingos. Jayme se tornou treinador depois de uma lesão grave aos 19 anos. "Tive a oportunidade de captar talentos e fui a cinco Olimpíadas. O Claudinei e o André fizeram parte dessa história, pois vieram meninos para cá e conseguimos um grande feito para o atletismo", lembra..

O quarteto de prata de 2000 ainda têm a expectativa que a medalha mude de cor. O ex-velocista americano Tim Montgomery confessou a uma emissora de TV dos EUA que se dopou. "Estamos esperando a troca até hoje', revelou André. Jayme acredita que o esforço dos atletas e o estudo da comissão técnica foi a marca da conquista. "Acho que a excelência veio por conta do modelo universidade-esporte que quase não tem no Brasil e deu muito certo".

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Enzo Azai, atleta do badminton, foi o primeiro condutor em Presidente Prudente. Foto: Francisco Medeiros/ME

Revezamento

Antes de entrar em Presidente Prudente, a chama olímpica passou pelo Santuário Morada de Deus, na cidade vizinha de Álvares Machado. Ao longo percurso, celebridades e conduziram a chama, como o apresentador Rodrigo Faro e o ex-bbb Rogério Padovan.

Em uma cidade com grande tradição universitária, professores e projetos acadêmicos foram, ainda, passaporte para alguns condutores, como o professor Ricardo Oliveira. Ele criou, em 2014, a Caneta Gabarito. A invenção ajuda na hora de preencher os cartões em provas. Outro condutor inovador foi o professor Eli Cândido Júnior. Desafiado a criar algo novo para os alunos do curso de Sistema de Informação, ele criou uma competição de futebol com rôbos. "Eu sempre penso que a gente pode fazer algo mais. O campeonato é uma disputa entre dois rôbos, via aplicativo no celular", explica.

Nesta terça-feira (28.06), a tocha passa por Paraguaçu Paulista, Marília e Assis, em São Paulo, e entra no Paraná por Londrina, cidade celebração. Durante o dia, serão percorridos 430 quilômetros, com 120 condutores. Na Região Sul, o comboio passará por 72 cidades e o deslocamento total será de mais de 5 mil quilômetros.

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Crianças esperam a passagem do tour, banda marcial foi convocada para animar a festa e o apresentador Rodrigo Faro, um dos condutores. Fotos: Francisco Medeiros/ME

Lilian Amaral e Lorena Castro - Brasil2016.gov.br