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06/02/2015 13h30

Anfitriões de ouro: velejadora espanhola relembra vitória em 1992

Série do brasil2016.gov.br resgata histórias de quem subiu ao pódio disputando Olimpíadas em casa, como Theresa Zabell. Em 2016 a chance será dos brasileiros

Elas vinham numa maré mais do que favorável, com títulos europeu e mundial no currículo em 1992. Os Jogos Olímpicos de Barcelona se aproximavam e, com eles, a sensação de que o ouro em casa seria viável. Mas o otimismo da ex-velejadora Theresa Zabell e de sua dupla na classe 470, Patricia Guerra, sofreu um golpe na primeira regata olímpica.

“No primeiro dia de competições, nos desqualificaram por estarmos fora de linha (queimar a largada) e tudo ficou complicado. Se, naquele primeiro dia, alguém tivesse dito: ‘vocês assinam aqui pela medalha de bronze’? Teríamos assinado”, disse.

Só que a oportunidade era boa demais para ser desperdiçada. Quando poderia ser campeã olímpica outra vez, diante dos compatriotas? Não havia pressão ou obstáculo que fosse mais forte que a determinação da atleta. “Era o momento de tirar forças físicas e mentais não importa de onde e sobrepor as dificuldades para não falhar, por nós e pelo nosso país”, contou Theresa Zabell.

Imagens: http://www.tzabell.org
Imagens: http://www.tzabell.org#Acima, Theresa (E) ao lado de Patricia Guerra nos Jogos de Barcelona e o carinho dos espanhóis. Abaixo, o inesquecível topo do pódio em casa.
Acima, Theresa (E) ao lado de Patricia Guerra nos Jogos de Barcelona e o carinho dos espanhóis. Abaixo, o inesquecível topo do pódio em casa.

Deu certo: ela e Patricia ganharam o ouro pela Espanha, e Theresa ainda foi bicampeã na mesma classe em Atlanta 1996, desta vez ao lado de Begoña Vía Dufresne. Mas nada se compara ao que viveu em Barcelona. “Por mais medalhas que pudesse ganhar, a sensação não é igual à de ganhar em seu país, diante do seu povo, da sua família. É uma imensa satisfação por um lado e, por outro, um alívio, porque não falhei. As pessoas acreditaram em mim e correspondi”, disse.

O currículo da ex-velejadora espanhola de origem britânica – nasceu no Reino Unido mas chegou a Málaga quando ainda era bebê – tem , além dos dois ouros olímpicos, três campeonatos europeus, cinco mundiais, quatro lideranças no ranking e várias outras conquistas. A ex-atleta, que deixou a vice-presidência do Comitê Olímpico Espanhol em setembro do ano passado, atualmente se dedica à presidência da Fundação Ecomar, instituição fundada por ela que desenvolve atividades náuticas para a conscientização de crianças sobre a importância da preservação do meio ambiente.  Entre uma atividade e outra, Zabell concedeu entrevista ao brasil2016.gov.br

Foto: www.tzabell.org
Foto: www.tzabell.org#Atualmente, Theresa se dedica a atividades náuticas para conscientização de crianças sobre a importância da preservação do meio ambiente
Atualmente, Theresa se dedica a atividades náuticas para conscientização de crianças sobre a importância da preservação do meio ambiente

Ambiente em 1992

Antes dos jogos, a expectativa era boa, mas as pessoas não estavam acreditando no que iria acontecer, isso só mudou na cerimônia de abertura. Os espanhóis e, sobretudo os moradores de Barcelona, só se deram conta da magnitude dos Jogos Olímpicos quando a Espanha desfilou. Foi naquele momento que perceberam que se iniciava um momento histórico e que era importante fazer parte dele.

Currículo promissor

Eu e Patricia queríamos fazer algo grande. Um ano antes dos Jogos, ganhamos o campeonato europeu. Estávamos conquistando grandes resultados em todos os eventos internacionais e já começávamos a sonhar que poderíamos estar no pódio em Barcelona. Ganhamos o mundial em março/abril de 1992 e voltamos a ganhar o europeu um mês e meio antes dos Jogos. Nas semanas olímpicas internacionais quase sempre estávamos entre as três melhores. Pensávamos: se estamos tão bem até aqui, não podemos falhar no nosso evento, na nossa casa.

Improvável volta por cima

Foi muito mais difícil do que imaginamos. No primeiro dia, nos desqualificaram da regata por estarmos fora de linha (queimar a largada) e tudo ficou muito complicado. Se, naquele primeiro dia, alguém tivesse dito: ‘vocês assinam aqui pela uma medalha de bronze?’ Teríamos assinado. Mas fomos capazes de superar isso. Foi passo a passo, dia a dia, e chegamos ao ouro. Foi uma espécie de milagre, porque ganhar o ouro com uma desqualificação na primeira prova é improvável. Ninguém havia feito isso antes.

Sem chance de repetição

Nós nos preparamos muito. Era um evento histórico, único, o sonho de qualquer atleta. Poderíamos pensar que talvez tivéssemos a sorte de participar de outra edição dos Jogos, mas jamais voltaríamos a disputá-los no nosso país. Era o momento de tirar forças físicas e mentais não importa de onde fosse e sobrepor as dificuldades para não falhar, por nós e pelo nosso país. Era um momento que não se repetiria.

Foto: www.tzabell.org
Foto: www.tzabell.org#Bandeira espanhola hasteada mais alto nos Jogos da Espanha: brasileiros podem viver isso em 2016
Bandeira espanhola hasteada mais alto nos Jogos da Espanha: brasileiros podem viver isso em 2016

Sensação de pertencimento

Por mais medalhas que pudesse ganhar – e tive a felicidade de repetir aquele momento quatro anos mais tarde em Atlanta – a sensação não é igual à de ganhar em seu país, diante do seu povo, da sua família. É uma imensa satisfação por um lado e, por outro, um alívio, porque não falhei. As pessoas acreditaram e correspondi. Não tive que encará-los e dizer: desculpem-me.

Estratégias contra a pressão

Você tem que se concentrar no que está fazendo e esquecer o que está ao redor para fazer seu papel da melhor forma.  Você não pode deixar a pressão ser mais forte que você, porque é um momento extremamente importante para que você se permita falhar por causa de pressão.

Incentivos especiais

O apoio dos espanhóis foi essencial. Muitas empresas espanholas apostaram em nós, o banco “La Caixa” criou um fundo de pensão para quem ganhasse medalha de ouro, houve uma série de estímulos que fizeram com que nos sentíssemos especiais, reconhecidos de uma forma inédita como atletas.

Espanha em novo patamar

Há um “antes” e um “depois” no esporte espanhol com Barcelona. O interessante é que ficou claro que não foi um investimento em 1992, mas no modelo esportivo espanhol. Em Los Angeles 1984, ganhamos apenas uma medalha de ouro (cinco no total), em Seul 1988, uma de ouro também (quatro no total). Em Barcelona, ganhamos 13 ouros, sendo 22 medalhas ao todo. Em Atlanta foram 17 no total. Diminuiu um pouco, mas mantivemos o nível. Em Sidney 2000 houve queda para 11, mas logo voltamos a 19 em Atenas 2004, e seguimos por aí. Há um novo patamar. A mudança é significativa quando analisamos a Espanha antes de Barcelona e a partir de 1992.

Barcelona no mapa turístico

Atualmente não vivo em Barcelona, moro em Madri, mas posso dizer tranquilamente que vivi a transformação da cidade. Os jogos colocaram Barcelona no mapa. A Espanha também praticamente não estava no mapa turístico. Hoje Barcelona vive em grande parte do turismo e isso é algo que muitas cidades procuram.

Esperanças espanholas para 2016

Acredito que são muitos os esportes que podem levar a Espanha ao pódio no Rio. Muitos atletas estão fazendo um trabalho incrível, com destaque para as mulheres. O esporte espanhol feminino está vivendo uma época dourada e temos vários exemplos:  a equipe de polo aquático feminina, a equipe de handebol feminina, a de basquete. Nos esportes individuais, posso citar a (nadadora) Mireia Belmonte, também Ona Carbonell e o nado sincronizado. Entre os homens, tem o Javier Noya no triatlo, o handebol masculino, que acaba de ficar em quarto no Mundial e continua sendo um forte candidato ao pódio. Há muitos, felizmente.

Mais do que instalações

Os Jogos são uma oportunidade que se tem uma vez na vida e marcam a história do país. E precisam ser vividos não só dentro das instalações. Os atletas passeiam pelas ruas, aproveitam a cidade, a praia, vivem o ambiente da sede e das sub-sedes. Que os brasileiros aproveitem da forma como são: alegres e simpáticos. Assim vão causar uma excelente impressão em toda a família olímpica e todos vão gostar muito.

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Carol Delmazo – brasil2016.gov.br