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Atletismo

14/03/2018 05h44

Jogos Paralímpicos de Inverno

Alta temperatura frustra expectativas de brasileiros no sprint do esqui cross- country

Com termômetros acima dos dez graus em PyeongChang, Cristian Ribera e Aline Rocha têm problemas de adaptação com a consistência da neve e não passam da fase classificatória

A temperatura de dez graus positivos costuma ser mais próxima de uma zona de conforto para a maioria dos brasileiros do que registros negativos no termômetro, mas o calor "excessivo" foi um protagonista impertinente para os atletas nacionais nesta quarta-feira (14.03), em PyeongChang. O aquecimento do ambiente externo expôs os brasileiros a um tipo de neve com o qual não estavam habituados, uma mistura de macia demais em alguns pontos e congelada, deslizante, em outros.

Cristian durante uma das curvas do circuito. Domar o trenó com a temperatura alta foi um desafio à parte. Foto: Daniel Basil/MPIX/CPB

"Para nós, brasileiros, a temperatura parece agradável, mas na pista isso não nos ajudou. Estava com muito gelo, o que dificultava nas curvas"
Cristian Ribera

"Para nós, brasileiros, a temperatura parece agradável, mas na pista isso não nos ajudou. Estava com muito gelo, o que dificultava nas curvas", afirmou Cristian Ribera. Ele terminou a prova de classificação em 3min17s36, o décimo quinto melhor tempo entre os 36 atletas, de 16 países, que largaram para cumprir a distância de 1,1km no Centro Esportivo de Alpensia. Com o resultado, Cristian ficou a dois segundos dos 12 melhores que seguiriam para a semifinal.

A história de Aline na chave feminina teve enredo similar. "Tive bastante dificuldade de fazer as curvas e retornos. Os pontos mais complicados para mim são as curvas fora de trilho, em que não tenho tanto controle em ficar em um esqui só. Acabo deslizando, derrapando bastante, virando de lado", explicou. Numa prova curta, em que detalhes significam a desclassificação, a paranaense terminou em vigésimo segundo entre os 25 atletas de 15 países que estavam inscritos.

"A verdade é que a gente acabou não atingindo as expectativas que tínhamos projetado. Eles sentiram bastante a neve lenta, em especial nas subidas. Já havíamos identificado que essa era uma questão. Focamos nisso e achávamos que havíamos solucionado", afirmou Fernando Orso, treinador da dupla. "A gente percebe que não atingimos a expectativa porque outros atletas, que em outras situações ficavam abaixo da gente, hoje foram melhores que nós", completou.

"Tive bastante dificuldade de fazer as curvas e retornos. Os pontos mais complicados para mim são as curvas fora de trilho, em que não tenho tanto controle em ficar em um esqui só
Aline Rocha

Perfeccionista, o treinador ainda buscava, ao fim do dia, outros fatores que poderiam ter sido decisivos. "Talvez tenhamos errado na escolha do esqui. Existe um para cada tipo de temperatura. Ontem o nosso preparador ficou mais de seis horas trabalhando para escolher o melhor. De qualquer forma, o resultado não veio", lamentou Orso. "Mas o jogo é esse e é para ser jogado. A neve estava ruim para todos, mas há atletas mais acostumados. Faz parte", disse. 

De fato, teve gente comemorando. Medalha de prata ao fim do dia, o bielorusso Dzmitry Loban pertencia ao time dos que curtiram as condições. "Para mim não foi uma novidade. Lá onde moro temos neve desse mesmo jeitinho em todas as primaveras", afirmou. 

A frustração nacional, contudo, já se transformou em retomada da preparação. No sábado, Cristian e Aline voltam para a pista de Alpensia para a últimas provas individuais da modalidade, o trajeto de média distância. São 5km no feminino e 7,5km no masculino. Como a previsão do tempo indica uma perspectiva de nevar na sexta-feira, Orso imagina um cenário mais promissor. "O Cristian teve uma performance sensacional nos 15km. É muito possível repetir algo parecido nos 7,5km numa condição climática mais favorável", avaliou Orso. "E a Aline tem uma boa chance de melhorar". Cristian, natural de Cerejeiras, em Rondônia, foi o sexto colocado na prova que é comparada à maratona no atletismo. O resultado foi o melhor da história de um brasileiro em Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno.

Chegada mais do que emocionante na final. Diferença entre o ouro e o quarto lugar foi de 0,7 segundos. Foto: Thomas Lovelock/OIS/IOC

O ouro dos quases

O norte-americano Andrew Soule, de 37 anos, viveu um dia de fortes emoções. Na fase de classificação, foi o último dos qualificados. Por sete décimos de segundo não viu as suas pretensões paralímpicas serem encerradas precocemente. Ele cravou 3min15s27, contra 3min15s34 de Denis Petrenko do Cazaquistão, décimo terceiro e primeiro eliminado.

>> Confira os resultados completos do dia no esqui cross-country

Depois do grande susto, contudo, Soule se reinventou. Na semifinal, mostrou força e fez o melhor tempo entre os 12 remanescentes. Na decisão, novamente uma situação intensa. Na reta final de chegada, quatro atletas disputaram palmo a palmo as três posições no pódio. Os quatro cruzaram a linha final com uma diferença de sete décimos de segundo. Foi necessário o Photo Finish para definir que Soule deixaria a Coreia do Sul com o ouro. Completaram o pódio em PyeongChang o bielorusso Dzmitry Loban (prata) e o americano Daniel Cnossen.

"Essa chegada resume bem demais o que é o sprint. Você tem de trabalhar mentalmente como atacar cada trecho, cada curva e guardar energia para ter velocidade nos metros finais"
Andrew Soule

"Essa chegada resume bem demais o que é o sprint. É uma corrida muito tática. Você tem de trabalhar mentalmente como atacar cada trecho, cada curva e guardar um pouco de força e energia para ter resistência e velocidade nos metros finais", afirmou Soule, que já vinha namorando o topo do pódio no sprint em campeonatos mundiais. Foi prata em 2017 e bronze em 2015.

Militar de origem, ele teve as duas pernas amputadas acima do joelho em função da explosão de uma bomba em 2005, quando trabalhava no Afeganistão. O episódio custou ainda a vida de um colega dele. Exatamente por ser ligado ao Exército, Soule disputa também provas de biatlo no esqui cross-country, que incluem corrida e tiro esportivo. É dono de duas pratas em Mundiais e de um bronze Paralímpico, em Vancouver (2010). 

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Oksana consegiu abrir diferença sobre as adversárias na reta final da prova. Foto: Thomas Lovelock for OIS/IOC

Masters, a versátil

No feminino, a vitória ficou com a americana Oksana Masters, que alcançou a sua terceira medalha na Coreia do Sul, uma de cada cor. Ela já tinha uma prata no biatlo de 6km e um bronze na prova de 12km do esqui cross-country. Terminou a prova seguida desta quarta seguida por Andrea Eskau, da Alemanha, outra atleta de destaque em PyeongChang. Eskau soma um ouro nos 10km do duatlo e duas pratas no cross country: no sprint e na prova de 12km. Completou o pódio Marta Zainullina, atleta paralímpica da Rússia que também já havia subido ao pódio, nos 10km do duatlo.

"Eu me sinto nas nuvens agora. Eu vinha perseguindo essa medalha e esse sentimento há muito tempo"
Oksana Masters

"Eu me sinto nas nuvens agora. Eu vinha perseguindo essa medalha e esse sentimento há muito tempo. Eu não consigo acreditar ainda que esteja acontecendo agora. É a medalha mais incrível da minha carreira. Eu mal posso esperar para colocar no pescoço da minha mãe. Eu sempre disse a ela que o primeiro ouro seria dela, porque sem ela eu não seria nada", afirmou Oksana.

Na terça, a americana chegou a pensar que não poderia estar presente no sprint. Isso porque ela precisou abandonar a prova de meia distância do biatlo após uma queda que machucou seu cotovelo. "Eu literalmente não pensei que estaria pronta. Agradeço demais à equipe médica da delegação".

Oksana nasceu com uma má formação congênita chamada hemimelia tibial, que determinou diferentes comprimentos em sua perna, fez com que ela nascesse com seis dedos em cada pé e causou sérios problemas de saúde ao longo de sua vida. Acabou que ela precisou amputar as duas pernas acima do joelho. A limitação não impediu que se tornasse uma multiesportista. Esteve nos Jogos Rio 2016 no ciclismo de estrada. Adora remar. E, nos Jogos de Inverno, disputa o biatlo e o cross-country.

Gustavo Cunha, de PyeongChang, na Coreia do Sul - www.rededoesporte.gov.br