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Geral

28/06/2017 16h40

ANTIDOPAGEM

ABCD incentiva o debate sobre controle de dopagem nas faculdades de educação física

Encontro no Ministério do Esporte reúne atletas, autoridades governamentais e representantes de universidades para incentivar a adoção do tema nas grades curriculares

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Para Rogério Sampaio, a inclusão do tema nas universidades traria muitos ganhos para a luta contra a dopagem. Foto: Francisco Medeiros/ME

Inserir nas universidades a discussão sobre os malefícios do uso de substâncias proibidas no esporte, a fim de ampliar o acesso às informações e propagar o jogo limpo. Essa foi a missão do 1º Encontro de Faculdades de Educação Física do Brasil, promovido nesta quarta-feira (28.6) pelo Ministério do Esporte, por meio da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD).

Com participação de cerca de 200 pessoas, entre atletas, representantes de faculdades, confederações e Conselhos Regionais de Educação Física (CREF), o evento ressaltou os valores éticos do esporte e o trabalho desenvolvido pelo Brasil na luta contra a dopagem, sobretudo a partir da realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.

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“Precisamos que o tema do controle de doping faça parte da grade curricular dos cursos de educação física no Brasil. Seria um avanço enorme no exercício da profissão. Os professores formados precisam saber os malefícios para a saúde do atleta quando uma substância proibida é consumida”, destacou o secretário nacional da ABCD, Rogério Sampaio.

Diretora do Escritório Regional da América Latina da Agência Mundial Antidopagem (Wada, na sigla em inglês), María José Pesce Cutri destacou a importância da prevenção na educação. “Jogo limpo é uma questão de valores e respeito às normas não é questão exclusiva da antidopagem ou da Wada, mas da sociedade. Então estamos educando cidadãos melhores”, ressaltou. “Entendemos que a ética, a cooperação, a solidariedade e todos os valores que o esporte promove são questões transversais na educação das pessoas. É importante que as faculdades considerem a melhor maneira de incluir esse tema na grade curricular”, opinou.

“Jogo limpo é uma questão de valores e respeito às normas, não é questão exclusiva da antidopagem ou da Wada, mas da sociedade"
María José Pesce Cutri, diretora do escritório regional da Wada na América Latina

Segundo a diretora, a realização do encontro com instituições de ensino já representa um avanço importante nos trabalhos desenvolvidos pelo Brasil para combater a dopagem no esporte. “No ano passado, essa parte de educação e valores era somente uma ideia. Agora já está sendo concretizada”, comparou

O ministro do Esporte, Leonardo Picciani, confirmou que o Brasil tem alcançado progressos significativos no controle antidopagem. “A Wada é bastante rigorosa nas cobranças que faz e temos mantido uma relação diária para atender a essas exigências”, afirmou. “O enfrentamento à dopagem deve ser algo que cada vez mais se interioriza nos nossos valores do esporte. O jogo limpo faz parte da justiça do esporte e faz com que as pessoas consigam se superar por méritos próprios”, acrescentou.

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O ministro do Esporte, Leonardo Picciani, destacou os avanços do Brasil na estruturação do controle de dopagem. Foto: Francisco Medeiros/ME

Riscos à saúde

Para o presidente do Conselho Federal de Educação Física (Confef), Jorge Steinhilber, a luta contra o doping deve se estender para além do esporte de alto rendimento. “Precisamos ter uma concepção maior. O doping do alto rendimento está regulado. Tem normais, leis, e está muito bem estruturado”, avaliou o dirigente, acrescentando que apenas um pequeno percentual da população pratica esportes com foco em competição, enquanto um número bem maior de pessoas praticam atividades físicas no dia a dia e também precisam conhecer os riscos de substâncias que possam ser prejudiciais à saúde. “Temos que preparar os profissionais de educação física para que desde as crianças já percebam não só a importância do jogo limpo enquanto uma questão moral e de valores, mas também o que isso pode prejudicar na saúde delas no futuro. É um trabalho educacional”, apontou.

“Não existe caminho mais curto. O caminho é longo, dolorido. Tem que ter dedicação e perseverança, de forma ética, para que venha o resultado”
Luciano Corrêa, campeão mundial de judô

“A gente não pode pensar só no atleta de alto rendimento, mas temos que pensar nas crianças e nos valores de respeito, ética, disciplina, perseverança. A gente sabe que a nossa vida de atleta passa, mas levamos esses valores para outros desafios da vida”, acrescentou o judoca Luciano Corrêa, que comanda um projeto social com cerca de 130 alunos, de oito a 14 anos. “Não existe caminho mais curto. O caminho é longo, dolorido. Tem que ter dedicação e perseverança, de forma ética, para que venha o resultado”, ensinou o atleta.

Gerente geral de planejamento esportivo do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Adriana Behar participou do encontro e, ao final, frisou a importância da iniciativa. “O COB destaca a importância da informação, da disseminação e do controle de doping no ambiente esportivo e entende que eventos como esse, nos quais você traz faculdades e agentes esportivos, reforça ainda mais a importância desse tipo de ação, não só no controle, no combate e na punição, mas, principalmente, na informação”, declarou.

“Quanto mais informação e mais conhecimento os professores, os alunos, os atletas, os técnicos e os profissionais da educação física tiverem sobre esse tema, menos questões de doping, menos punições e um trabalho muito mais bem feito em prol do jogo limpo nós teremos e o esporte estará bem mais protegido e seguindo o caminho correto e ético que se trata dentro do ambiente esportivo”, completa a representante do COB.

Atletas

O evento contou ainda com a presença do nadador paralímpico Daniel Dias, da ex-ginasta Luisa Parente e da ex-jogadora de handebol Lucila Silva, que participaram de um debate e destacaram o maior acesso que hoje existe às informações sobre controle de dopagem. “Quando comecei no esporte, a gente ia passar um creme e ficava em dúvida se podia ou não. Não tinha informação. Hoje está tudo mais fácil”, relembrou o multimedalhista Daniel Dias.

“Fico extremamente feliz por ter 24 medalhas em Jogos Paralímpicos com a consciência tranquila e por saber que valeu a pena o esforço para cada medalha. Abdiquei sim de muitas coisas, mas isso é o esporte. Escolhemos ser atletas, então temos que ser éticos com os nossos adversários. Eles podem ganhar de mim, o que não vai ser fácil (risos), mas estarei limpo”.

Em mesa-redonda, atletas reforçaram que a ética e a sensação de conquistar resultados com esforço e sem optar por atalhos é gratificante. Foto: Abelardo Mendes Jr./ME

Instituições

Os representantes das faculdades de educação física igualmente ressaltaram a importância do encontro e do debate no meio acadêmico. “Acho fundamental esse tipo de iniciativa. Na nossa faculdade temos uma linha de pesquisa que a gente está desenvolvendo com alunos de extensão, tanto de ensino médio e fundamental, quanto dos atletas com os quais a gente trabalha sobre essa questão do doping, pois temos visto que ultimamente não só atletas, mas praticantes de atividades físicas em geral têm utilizado muito e de forma descomunal. Esse encontro é importante e estamos à disposição da ABCD e do ministério para contribuir”, afirmou Henrique Castro, coordenador do curso de educação física da Estácio Brasília.

“Temos no nosso convívio atletas e alunos que, de um dia para o outro, tomam um porte físico muito diferente do que a gente sabe que o esporte proporciona. Então, esse encontro é louvável”
Letícia Ecard, coordenadora da Universidade de Iguaçu

Coordenadora acadêmica da Universidade de Iguaçu – UNIG, do interior fluminense, Letícia Ecard destacou a relevância do encontro. “Sou ex-atleta e na minha época a gente não tinha acesso a essas informações”, lembrou. “Hoje, que estou à frente de uma instituição de ensino, vejo esse encontro com satisfação, pois temos no nosso convívio muitos atletas e alunos que, de um dia para o outro, tomam um porte físico muito diferente do que a gente sabe que o esporte nos proporciona através dos treinamentos. Então, esse encontro é muito louvável”.

Legado

Além do incentivo à educação antidopagem, o Brasil tem demonstrado preocupação crescente na promoção do jogo limpo. No início deste ano, foi criado o Tribunal de Justiça Antidopagem (TJAD), que será responsável por receber as denúncias de uso de substâncias ilícitas apuradas pela ABCD. “Em julho, o tribunal começa a julgar os primeiros casos. Antes, os casos eram julgados nos tribunais desportivos das confederações. Eles continuam existindo, mas agora com a missão de fazer julgamento dos casos disciplinares”, explicou Rogério Sampaio.

Outro legado da evolução da antidopagem no Brasil e da realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 foi a criação do Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “É um laboratório extremamente moderno e que realizou todas as análises do controle de doping dos Jogos. Hoje é o único da América do Sul credenciado pela Agência Mundial Antidopagem”, ressaltou o secretário.

Na avaliação do diretor do Departamento de Informação e Educação da ABCD, professor Luiz Celso Giacomini, o encontro foi bem-sucedido e atingiu seu objetivo. “Temos que avaliar sob dois aspectos, a quantidade e a qualidade. Nós tínhamos uma expectativa inicial de 40 faculdade participando e nós tivemos mais de 100 faculdades, 15 CREFs (Conselhos Regionais de Educação Física), além do Comitê Olímpico do Brasil e de outras entidades esportivas. Isso nos deu a certeza de que o evento realmente teve um aporte fundamental e interessante para as instituições de ensino”.

“Qualitativamente, eu fiquei extremamente satisfeito com as palestras. Foram todas de alto nível e que levaram realmente a mensagem que queríamos passar. Tenho que ressaltar também a presença dos atletas, que deram um enfoque interessante. Foram opiniões valiosas e de pessoas que viveram e que vivem nesse meio e que trouxeram suas preocupações, ansiedades e angústias com relação a esse tema, que assola não só os brasileiros como o esporte mundial. Então, o Departamento de Informação e Educação da ABCD está extremamente satisfeito e tem a consciência de que fez uma organização de um evento de alto nível”, finalizou o professor Celso Giacomini.

Vídeos com a íntegra do encontro

Parte 1

 

Parte 2

 

Parte 3

 

Ana Cláudia Felizola, Gustavo Cunha e Luiz Roberto Magalhães – brasil2016.gov.br