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Geral

23/07/2016 13h33

Revezamento da Tocha

A chama olímpica encontra o Rei Pelé na passagem por Santos

O Rei do Futebol fez uma participação especial durante o revezamento da chama pela Baixada Santista nesta sexta-feira (22.07) e apareceu na sacada do museu que leva o seu nome

Há 60 anos, o Rei do Futebol chegava à Baixada Santista para fazer história no esporte mundial. Natural de Minas Gerais, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, começou sua carreira no Santos Futebol Clube aos 16 anos, quando também ingressou para a seleção brasileira. Nesta sexta-feira (22.07), o famoso soco no ar do Rei Pelé, imagem eternizada nas comemorações em mais de mil gols, ganhou companhia na galeria de momentos especiais. O ex-jogador quebrou o protocolo oficial do revezamento da tocha e segurou, por alguns minutos a chama olímpica na sacada do museu que guarda seu arquivo pessoal.

"O momento nunca é único, mas sempre o melhor", disse Pelé na chegada do museu. Pela segunda vez, Pelé conduziu a tocha olímpica: a primeira foi quando participou do revezamento dos Jogos de Atenas 2004. "Sem ter podido jogar uma Olimpíada, poder passar por um momento desse, é um presente de Deus", agradece. O Rei passou a chama para João Clarindo, filho de Claudio Clarindo, que era considerado um dos 10 melhores ultramaratonistas em bicicleta no mundo e morreu atropelado enquanto pedalava.

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Museu Pelé, em Santos. Foto: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.br

Os Jogos no Brasil representam tanto para o Rei do Futebol que ele chegou a escrever e gravar uma música em homenagem ao fato histórico. "Esperança" foi lançada no dia 16 de julho e fala sobre o sentimento de esperança e felicidade ao redor do mundo durante as Olimpíadas.

O ex-atleta permaneceu no Santos por quase duas décadas, até 1974, quando se despediu do time num último jogo na Vila Belmiro, num jogo contra a Ponte Preta. Substituído aos 21' do primeiro tempo, Pelé deu uma volta olímpica no campo emocionado.

Nesta sexta, o mesmo campo também recebeu vários atletas da cidade de Santos e jogadores da base do Peixe para acompanhar o Revezamento da Tocha e comemorar, antecipadamente, os 100 anos da Vila. Inaugurado em 12 de outubro de 1916, o Estádio Urbano Caldeira,  estava em festa quando José Osvaldo Marcelino, o Negrelli, entrou no gramado com o fogo. Ele começou jogando basquete, depois foi para o vôlei, os dois nas equipes de base do Santos. Ele passou a chama para o judoca Leandro Guilheiro.

Bronze em Atenas 2004 e Pequim 2008, Guilheiro diz que tudo o que envolve os ciclos olímpicos mexe com ele, por isso conduzir a chama é tão especial. "Sempre fui muito fissurado por Olimpíada desde que eu era garoto. Então, participar de um momento como esse, na cidade em que eu cresci e iniciei no esporte é uma emoção diferente, um momento único na minha vida", fala.

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Leandro Guilheiro. Foto: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.br

Radicado em Santos, o atleta teve as primeiras aulas com Rogério Sampaio, ouro em Barcelona-1992 e diz que o mestre foi inspiração antes mesmo de ser professor. "Eu vi ele ser campeão olímpico. Ele me mostrou que era um sonho tangível", admite. A parceria começou quando Guilheiro tinha 11 anos e foi até a primeira medalha do judoca, o bronze em Atenas. "Ele me ensinou muito, passou muita experiência e sempre acreditou muito em mim", agradece.

Rogério Sampaio também conduziu a chama olímpica na cidade e comentou da alegria de estar numa lista onde várias gerações se encontram e uma inspira a outra. "Estou muito feliz de fazer parte disso, correr ao lado de grandes atletas, como um ídolo para mim que é o Negrelli. Quando ele foi para as Olimpíadas, foi o ano que eu comecei a fazer judô e eu sempre escutava o nome dele! E o Guilheiro também, foi meu aluno.", conta.

Esta não foi a primeira vez que o ex-judoca participou de um revezamento. Ele esteve na de Atenas em 2004, quando a chama passou pelo Rio, e na do Pan-Americano de 2007 também em território carioca, mas agora o gostinho é especial. "Agora a chama em Santos, é uma emoção diferente, me faz lembrar de muita coisa. De quando eu era garoto, colocava a mochila nas costas e ia andando para a academia, todo dia para treinar e ficava treinando horas e horas, ninguém me conhecia... Quando fui campeão olímpico, a cidade parou. Estou todo arrepiado! É uma coisa que ultrapassa o limite de muitas emoções", conta.

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Rogério Sampaio em sua academia e no momento de receber o fogo olímpico em sua cidade. Fotos: Franciso Medeiros/ brasil2016.gov.br

Sampaio começou a fazer judô aos 4 anos. Aos 15 começou a ter um pouco mais de destaque e os títulos começaram a aparecer. Em 1992, em Barcelona, conquistou o título de campeão olímpico. No mesmo ano recebeu o título da Federação Internacional de Judô como melhor judoca do mundo. "O Brasil ainda estava construindo uma tradição de conquistas em campeonatos mundiais", explica. "Santos se colocou no cenário nacional e internacional de grande desenvolvimento no judô e a prova disso é a quantidade de equipes que vieram para se aclimatar na cidade", completa ao falar das sete delegações de judô (Índia, Uzbequistão, Emirados Árabes, Argélia, Catar, Tunísia e Egito) que já estão no Brasil se preparando para os jogos.

Após parar de lutar com 31 anos, Rogério deu continuidade à carreira de outra forma, como treinador. "Final da carreira é um momento difícil porque você fez aquilo a vida inteira, mas é um processo de transição", explica. Agora, ele comemora as conquistas com os alunos. "Desde que comecei com a academia tenho alguém nos representando em Jogos Olímpicos, inclusive com medalhas, como o próprio Guilheiro", orgulha-se. Para os Jogos no Rio, a aposta também é de sucesso. "Este ano vamos ter a Maria Suelen Altheman, que em Londres deixou o bronze escorrer pelos dedos, mas estará no Rio e a gente acredita muito que ela pode ganhar uma medalha, inclusive de ouro", espera.

Continuando o ciclo de novas fases, Rogério assumiu recentemente a coordenação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD). "É um grande desafio e o primeiro está aí, os Jogos no Rio. Com a vinda dos Jogos Olímpicos o país passa a ter um desenvolvimento do esporte num outro padrão, outro nível", afirma. O órgão é responsável pelos testes surpresas nas equipes que estão fazendo aclimação no país.

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O judoca foi o penúltimo condutor do dia e passou a chama para os ex-jogadores Caio Ribeiro e José Macia, o Pepe. Também conhecido como Canhão da Vila, coube ao veterano acender a pira olímpica no palco montado na Praça da Bandeira. "Uma das maiores emoções da minha vida!", disse o segundo maior artilheiro do Santos, com 405 gols, atrás apenas do Pelé.

Revezamento

Com uma extensa programação pela Baixada Santista, a chama começou o dia em Praia Grande, passou por São Vicente e chegou em Santos ainda pela manhã, onde percorreu cerca de sete quilômetros e seguiu para o Guarujá, retornando ao município santista no fim da tarde. Ao todo, foram 116 condutores que percorreram 24 quilômetros numa rota que passou pelos principais pontos turísticos da região e levou a população para as ruas numa linda festa.

O percurso na cidade começou no fim da manhã, no Parque Roberto Mário Santini, com apresentações de patinação artística e sobrevôos de paramotor. O publicitário Rodrigo Terra recebeu a missão de acender a primeira tocha na cidade e dar sequência ao revezamento que foi recheado de surpresas e histórias de superação como a do surfista Paulo Aagaard, o Pauê.

Após um grave acidente, quando foi atropelado por um trem ao atravessar uma linha desativada em São Vicente, o atleta perdeu parte das pernas. Surfista desde criança, Pauê queria voltar para as ondas, por isso buscou na natação e na musculação um meio de acelerar o processo de reabilitação. A determinação fez dele o primeiro e único surfista bi-amputado do mundo. "É uma emoção muito grande estar aqui hoje. Um incentivo a mais para eu continuar minha luta", comemora.

Atletas e personalidades conhecidas se emocionaram e contagiaram o público, como o jornalista Milton Leite e os ex-atletas Carlos Honorato e Alcídio Pereira, o Cidão, que correram na orla do Gonzaga. Elizabeth Gomes foi a responsável pelos últimos 200m da manhã. Em virtude da esclerose múltipla, Beth perdeu os movimentos das pernas e descobriu no esporte a vitória para a doença. A atleta foi recordista brasileira e sul-americana no lançamento de disco e arremesso de peso F54 e também integrou a seleção de basquete sobre rodas em Pequim 2008. Ela conduziu a tocha até chegar no Aquário Municipal de Santos, de onde a chama saiu para o Guarujá nas mãos do surfista Mineirinho.

A tarde, a chama retornou para Santos pelas mãos do ex-atleta Fábio Pereira, ainda no Aquário. Fábio foi o primeiro campeão brasileiro de canoagem do país, além de ter introduzido a canoagem havaiana no Brasil. "Um dia eu imaginei que a gente pudesse ver nossa cidade colorida, como a gente vê hoje, respirando canoagem, canoa havaiana, stand up. Então eu queria dividir esse momento com todos os remadores que estavam aqui hoje", comemora. Da orla, a chama seguiu para o centro histórico, onde andou de bondinho, passou pela Rua XV de Novembro e pousou para fotos em frente à Bolsa e Museu do Café, até chegar ao palco da celebração na Praça das Bandeiras.

Foto: Francisco Medeiros/brasil2016.gov.br

História da cidade

A história de Santos se confunde com a do país e os primeiros relatos datam dois anos após o descobrimento oficial do Brasil, com a expedição André Gonçalves para o reconhecimento da costa brasileira. Com a criação da Alfândega de Santos, em 1550, a cidade passa a crescer em torno do porto, o que foi responsável pelo desenvolvimento da região, como explica o coordenador do Museu do Porto, Antônio Carlos Mata Barreto. "O Porto de Santos passou a ser uma porta aberta, não só a imigração, mas também para a concentração do mercado marítimo, que por um longo tempo era o único", diz. Atualmente, o porto é o maior da América Latina tanto pelo local estratégico dentro do próprio país como pela natureza, com águas calmas e profundas, o que facilita a navegabilidade.

Rota deste sábado

A chama olímpica se aproxima da capital paulista neste sábado (23.07), quando o revezamento da tocha passa por Guarulhos, São Caetano do Sul e Santo André e encerrando o dia em São Bernardo do Campo. Serão 192 condutores e 86 quilômetros.


Lilian Amaral - brasil2016.gov.br