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Pentatlo moderno

20/08/2016 00h20

PENTATLO MODERNO

“Já entrei para a história do esporte”, diz Yane Marques após o 23º lugar

Mesmo distante do pódio no Rio, a pernambucana que foi bronze em Londres comemorou a presença do público e o pioneirismo de sua história no país

“Ter conseguido lotar o Estádio Olímpico de Deodoro para o pentatlo moderno, que há até pouco tempo ninguém conhecia, eu tenho contribuição para isso. Eu estou feliz e realizada. Acho que tudo de que abri mão para chegar aqui já valeu a pena”, disse a pentatleta Yane Marques, após finalizar a prova do pentatlo moderno nesta sexta-feira (19.08) com a 23ª colocação, distante do bronze faturado há quatro anos.

Ainda na quinta-feira (18), Yane estreou na competição pela esgrima com um 21º lugar. Já ao meio-dia desta sexta, o termômetro do Centro Aquático de Deodoro registrava 28º C, mas nem o forte calor da Zona Oeste do Rio espantou os torcedores da disputa da natação, primeira prova do dia. “Eu curti e senti a energia da torcida o tempo todo e ela me impulsionou muito”, comemorou.

Yane comemorou a presença do público no Estádio de Deodoro. Foto: Getty Images

As 36 atletas foram divididas em seis baterias. Por volta das 12h30, já no penúltimo grupo da prova, a brasileira deu as primeiras braçadas na raia seis. Com o apoio de amigos, familiares e da torcida, a pernambucana fechou a natação em 2min14s30, na nona colocação.

“Fiz o meu melhor. Infelizmente não saí com uma medalha materializada no metal, mas levo uma medalha para a vida inteira. Eu tenho uma vida dedicada ao esporte, com muito esforço, comprometimento e responsabilidade. Não tenho motivo para estar triste"
Yane Marques

O tempo de recuperação foi curto e, pouco mais de uma hora depois, Yane estava de volta, desta vez para a esgrima bônus. Pela classificação do dia anterior, a brasileira enfrentou a polonesa Anna Maliszewska (22ª na véspera), mas acabou derrotada. No ranking geral da competição, caiu para o 16º lugar, com 494 pontos. Neste momento, a liderança era da também polonesa Oktawia Nowacka (554 pontos).

O resultado definiu a sequência da apresentação das atletas na prova seguinte: o hipismo. Yane foi a 21a saltadora na modalidade que decidiria o futuro da pernambucana nos Jogos Olímpicos. No hipismo do pentatlo, o atleta não conhece o cavalo. A escolha é feita por sorteio momentos antes da competição.

“Os cavalos são bons demais e difíceis. Quando eu fui montar, o dono falou que a rédea teria que ser justa. Quando saí, eu disse que o cavalo era bom demais para mim e que eu não estava acostumada a montar cavalos tão bons. Ele riu e me abraçou”, contou a brasileira, sorteada com o mesmo cavalo, o Harry Potter, do evento-teste realizado em março.

Durante o percurso de 13 obstáculos, duas falhas foram cometidas pela brasileira, que fechou a equitação na 17a colocação geral, com 780 pontos, se distanciando das líderes Oktawia (840) e Elodie Clouvel (835), da França.

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Na esgrima bônus, a brasileira acabou derrotada por Anna Maliszewska, da Polônia. Foto: Getty Images

Definição

A última prova do dia estava marcada para as 18h. Pela colocação até o momento, Yane largaria um minuto e sete segundos atrás da líder para o combinado entre tiro e corrida. Percorridos os 800 metros e as paradas para os disparos, ao longo das quatro voltas, a brasileira encerrou a competição olímpica em 23o lugar.

“Fiz o meu melhor. Infelizmente não saí com uma medalha materializada no metal, mas levo uma medalha para a vida inteira. Eu tenho uma vida dedicada ao esporte, com muito esforço, comprometimento e responsabilidade. Abri mão da família para estar aqui. Não tenho motivo para estar triste. Tudo valeu a pena. Eu já sou medalhista olímpica”, afirmou. “Deixa elas serem campeãs, hoje não era meu dia. Eu fiz tudo da melhor forma. Não vou ficar triste porque fiz um resultado ruim”, ensinou.

No topo do pódio ficou a australiana Chloe Esposito, que finalizou com 1.372 pontos, seguida pela francesa Elodie (1.356) e pela polonesa Oktawia (1.349), que liderou quase toda a prova, mas não se saiu bem na última parada do tiro e perdeu posições. Até hoje, nenhuma atleta conseguiu repetir um pódio no pentatlo moderno feminino em Jogos Olímpicos.

Planos para o futuro

Yane Marques nasceu na cidade de Afogados da Ingazeira, no interior de Pernambuco. A atleta deu os primeiros passos no esporte aos 12 anos e fez sua estreia olímpica em Pequim, quatro anos antes do pódio na edição britânica. Após os Jogos do Rio, ela participa, já no próximo mês, do Mundial Militar. Só então terá uma temporada de descanso e reflexão sobre o futuro.

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Yane durante a prova de natação olímpica. Início dela no esporte foi aos 12 anos: duas décadas de dedicação. Foto: Washington Alves/Exemplus/COB

“Já são 20 anos de treinos. Isso significa não ter um fim de semana, não poder dormir tarde, ter que acordar cedo e ter uma alimentação regrada. É muita coisa que faz você pensar se consegue encarar isso novamente. Ir para Tóquio só por ir, para dizer que fui atleta olímpica quatro vezes, eu não vou”, disse Yane.

“Ano que vem eu vou fazer a temporada e competir. A gente não pode sair do zero para o dez. Não dá para dormir atleta e acordar sedentária”, argumenta. “O ano de 2017 vai ser um teste para mim. Vou sentir realmente se tenho condições para Tóquio. Se eu perceber que a magia não tem mais o mesmo sentimento, eu paro. Acho que o legado que eu deixei para a modalidade já valeu a pena”, avaliou a atleta, que é formada em Educação Física e, após a aposentadoria, pretende continuar na área.

Legado

A brasileira tem orgulho de dizer que foi a pioneira do pentatlo no país. Ela levou o nome da modalidade para a imprensa e ajudou a tornar o esporte mais conhecido. “Eu sou eternamente medalhista olímpica e esse legado ninguém tira de mim. Já escrevi o meu nome em um monte de páginas da história do esporte”, destaca a porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura dos Jogos.

“Foi mais uma conquista. São emoções diferentes ser porta-bandeira e conquistar uma medalha. Em uma situação eu treinei muito pelo resultado e na outra eu mereci. Se fui escolhida é porque mereci, não é?”, brincou.

Forças Armadas

O pentatlo moderno tem uma história diretamente ligada ao militarismo. Na Grécia Antiga, a modalidade era utilizada para selecionar os soldados mais completos e versáteis. Apesar de ser um esporte milenar, a categoria feminina só foi inserida no programa olímpico nas Olimpíadas de Sydney-2000.

Além do benefício da Bolsa Pódio do Ministério do Esporte, Yane também integra as Forças Armadas. “Entrei para o Exército em 2009 em um momento oportuno na minha carreira e foi ótimo. Minha equipe técnica é toda formada por militares e o Exército foi fundamental para a minha preparação”, completa. 

Michelle Abílio – brasil2016.gov.br