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Atletismo

25/05/2017 18h00

Surfe

“Índio voador”, Elivélton Santos lidera bateria em Biarritz e sonha com Tóquio-2020

Atleta de 20 anos já foi vice-campeão mundial júnior e espera integrar a primeira equipe olímpica da modalidade

Ao falar em surfe, automaticamente vêm à mente as imagens das enormes ondas do Havaí. No entanto, aqui mesmo, no Brasil, existe um lugar que, pelos frutos que já rendeu, foi apelidado de “Terra do Surfe Nordestino”. É a Baía da Traição, um município de menos de 9 mil habitantes – a maioria deles dentro de reservas indígenas – localizado a 92km de João Pessoa, no litoral da Paraíba. Da Aldeia Forte Potiguara, por exemplo, saiu Diana Cristina, a Tininha, destaque por vários anos no Circuito Brasileiro. E da mesma aldeia veio Elivélton Santos, o “Índio Voador”, uma das promessas do Brasil para a estreia do surfe nos Jogos Olímpicos, em 2020.

Aos 20 anos, Elivélton já foi vice-campeão mundial júnior e conquistou os quatro títulos da Confederação Brasileira de Surf (CBS): Sub 14, em 2010, sub 16, em 2012, sub 18 e Open, em 2014. Agora, o indígena é um dos destaques no ISA World Surfing Games, que ocorre em Biarritz, na França, até o próximo domingo (28.5). Na última quarta-feira (24), o atleta ficou com a melhor colocação na bateria e assegurou a vaga no Round 3 do torneio.

Elivélton está no Round 3 do evento mundial na França. Foto: Sean Evans/ISA

“O título da CBS foi muito importante para mim nas quatro etapas, e fico feliz em estar aqui com a equipe brasileira. Quero ter essa oportunidade nas Olimpíadas de 2020. Chegar lá vai ser uma honra para mim”, comenta o surfista. Para fazer jus ao apelido de “Índio Voador”, Elivélton apresentou seus aéreos nas ondas francesas e somou pontos para superar o sueco Timothy Latte, o chileno Maximiliano Cross e o suíço Luca Carlisle.

Em 2020, o surfe integrará o programa dos Jogos Olímpicos ao lado de skate, escalada, caratê, beisebol e softbol, e o paraibano já demonstra empolgação com a chance de representar o Brasil em Tóquio. “A Olimpíada vai ser uma oportunidade e tanto. Vai ser show, vai ser irado! O treinamento vai ser outro, vai ser o surfe profissional mais progressivo e mais radical”, adianta.

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Surfista sonha com a chance de representar o Brasil em Tóquio-2020. Foto: Sean Evans/ISA

A Associação Internacional de Surfe (ISA, na sigla em inglês) e o Comitê Olímpico Internacional (COI) ainda irão definir quais serão os critérios de convocação dos surfistas para o megaevento. A classificação terá início a partir de julho de 2018, sendo encerrada apenas um mês antes dos Jogos.

Além disso, o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, oficializou, em Biarritz, a intenção do Brasil em sediar o ISA World Surfing Games do ano que vem em Búzios (RJ). Outros três países também já demonstraram interesse em receber a competição. A torcida de Elivélton, no entanto, é para ter o evento em águas brasileiras.

“O campeonato no Brasil vai ser mais uma oportunidade para o público ver, para os atletas que estão correndo atrás, que estão em busca do sonho, e vai ser um sonho bem realizado ter esse evento mundial lá”, acredita. Para arcar com a participação da equipe brasileira na França, a CBS contou com um convênio com o Ministério do Esporte, no valor de R$ 223,6 mil.

Esporte indígena

“Sou índio legítimo mesmo”, conta Elivélton. Ainda vivendo na aldeia, o surfista conta que a paixão pelo esporte começou logo cedo. “Comecei a surfar aos sete anos de idade, com um pedaço de tábua. Ganhei uma prancha de um amigo meu que me incentivou a estar aqui hoje”, relembra. “Desde pequeno, meu pai, minha mãe, todos me incentivaram. Só tenho a agradecer por estar aqui com a equipe brasileira, tendo essa oportunidade mais uma vez, testando materiais de prancha, equipamentos, e acho que o surfe brasileiro tem muito a dar. Quero estar nas Olimpíadas. Essa oportunidade vai ser imensa, e vou agarrar com muita fé”, afirma.

Por meio da Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (SNELIS), o Ministério do Esporte incentiva e fomenta o esporte tradicional indígena. Em 2017, dois eventos esportivos tradicionais foram apoiados: a IX edição dos Jogos Indígenas Pataxó de Porto Seguro (BA), com 1.200 participantes, e a II Jornada Esportiva e Cultural Indígena (JECI 2017), com 225 participantes, da Prefeitura Municipal de Maricá (RJ), ambos realizados no último mês de abril.

Além disso, em 2015, o Brasil sediou, em Palmas (TO), a primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. O maior evento esportivo e cultural realizado na cidade reuniu, ao longo de nove dias, cerca de 1.800 atletas indígenas de diferentes etnias, sendo 24 brasileiras e 23 de outros países.

Foram realizadas disputas de arco e flecha, arremesso de lança, cabo de força, canoagem, corrida com tora, corrida de resistência (10km), corrida de velocidade (100m), futebol, lutas corporais e natação, além da demonstração de esportes e jogos tradicionais específicos de cada etnia. A segunda edição do evento será realizada em julho deste ano, no Canadá.

Considerado promessa, o Índio Voador começou a surfar com um pedaço de tábua. Foto: Sean Evans/ISA

Ana Cláudia Felizola – brasil2016.gov.br